Não esqueça de colocá-los em sua obra.
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14 belas mulheres que tiveram influência na música dos Rolling Stones
Os Rolling Stones são famosos por seus casos amorosos. Embora muitas de suas mulheres tenham convivido pouco tempo com a banda ou com integrantes dela, várias tiveram influência a produção de canções. Seja como inspiração, seja como co-autoras. Retirada daqui, a matéria foi alterada e ampliada.
1. Chrissie Shrimpton: Com Mick Jagger entre 1963 e 1966. Para ela, foram compostas Under My Thumb e Yesterday’s Papers.
2. Christa Paffgen: Também conhecida como Nico, do Velvet Underground. Foi namorada de Brian Jones em 1967.
3. Anita Pallenberg: De férias em Marrocos, Anita Pallenberg troucou Brian Jones por Keith Richards. Permaneceu com Richards entre 1967 e 1979, mas Keith afirma que ela também passou algumas noites com Jagger. Pallenberg tinha enorme influência sobre os Stones — faixas foram remixadas a seu pedido e ela foi a inspiração para as canções You Got The Silver e Happy. Ela também fez backing vocal em Sympathy for the Devil.
4. Marianne Faithfull: O lindíssimo vendaval Faithfull permaneceu quatro anos com Jagger. Ela o apresentou às drogas. Durante uma batida policial na fazenda de Richard, Faithfull foi encontrada pelos homens da lei vestindo apenas um tapete. Eles ficaram perturbados. Confessadamente, várias faixas, incluindo Sympathy for the Devil e You Can’t Always Get What You Want foram compostas a respeito dela, que também co-escreveu Sister Morphine.
5. Anna Wohlin: Anna Wohlin era namorada de Brian Jones, no momento de sua morte. Foi ela quem arrastou seu corpo da piscina naquele trágico dia em 1969. Recentemente, Anna contestou o veredicto de que Jones morreu afogado devido a uma overdose. Ela agora afirma que ele foi morto em uma briga com Frank Thorogood, um empregado que Jones despediu alguns dias antes.
6. Marsha Hunt: A cantora norte-americana Marsha Hunt deu à luz a filha de Mick Jagger em 1970, mas Jagger se recusou a admitir que era o pai da criança até uma década mais tarde. Boatos dão conta que, quando Mick conheceu Marsha, ficou obcecado com ela, usando-a como inspiração para Brown Sugar.
7. Bianca Jagger: Junto com Faithfull, a mais bela. Bianca Pérez-Mora Macias casou com Jagger em 1971, quando estava grávida de quatro meses. Abaixo, ela cavalga no Studio 54 durante seu aniversário em 1977. Um ano mais tarde, Bianca pediu o divórcio devido ao adultério de Jagger com Jerry Hall. Mais tarde, ela disse: “Meu casamento acabou no dia do meu casamento”. Foi inspiração para Luxury e Respectable.
8. Jerry Hall: Jerry Hall começou a sair com Mick Jagger em 1977 e casou-se com ele em uma cerimônia hindu em 1990. Eles tiveram quatro filhos antes de ela descobrir que Luciana Gimenez estava grávida de Jagger. O casamento foi anulado em 1999. Miss You foi escrita para Hall.
9. Patti Hansen: Modelo e atriz norte-americana, Patti Hansen casou-se com Keith Richards no quadragésimo aniversário deste. Eles se conheceram em Studio 54 e Keith escreveu logo depois, “Ela é o mais belo espécime humano no mundo. Mas não é só isso! Ela tem enorme alegria e acha que esse viciado aqui é o cara que ela ama”.
10. Bebe Buell: Buell foi playmate do mês em novembro de 1974. Foi uma famosa groupie, namorada de Mick Jagger e Steven Tyler.
11. Uschi Obermaier: Obermaier foi uma modelo alemã que tinha conhecida ligação com o grupo Baader-Meinhof. Em 1975, ela viajou para os Stones numa turnê, tendo casos com Jagger e Richards .
12. Mandy Smith: Em 1989, aos 18 anos, Mandy Smith casou-se com o baixista Bill Wyman. Ele tinha 47. Eles estavam namorando desde que Mandy tinha apenas 13 anos Deste modo, sem surpresa nenhuma, a relação entre ambos atraía considerável atenção da mídia. Em 1993, o filho Stephen Wyman se envolveu com a mãe de Mandy.
13. Angela Bowie: Reza a lenda que Mick Jagger escreveu Angie a fim de acalmá-la depois que ela o pegou com David Bowie na cama.
14. Luciana Gimenez: Ela conheceu Mick Jagger em uma festa organizada por um empresário brasileiro. Durante uma noite eles ficaram hospedados no Hotel Copacabana Palace. O curto caso resultou em Lucas, filho brasileiro de Jagger. Na época, Jagger era casado com a modelo Jerry Hall (desde 1990), que em 1999 anulou o casamento após contestar a validade da cerimônia hindu.
A Casa das Belas Adormecidas, de Yasunari Kawabata
Surpreendente livro de 1961. Uma extraordinária novela sobre erotismo e morte, velhice e sensualidade. Mas acho melhor colocar logo um verbo nesta resenha… Esta clássica e notável obra do Prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata (1899-1972) adentra, com grande sensibilidade e delicadeza, o complicado e praticamente ignorado tema do erotismo na idade da impotência ou, para sermos elegantes, da busca pela felicidade após a juventude. Esta obra serviu de inspiração a Gabriel García Márquez para o seu Memória de Minhas Putas Tristes (2004), bem como para a peça de 1983 The House of Sleeping Beauties, de David Henry Hwang. Kawabata criou um estranho estabelecimento. Uma espécie de puteiro onde homens de idade avançada podem passar as noites com jovens mulheres despidas, adormecidas. Sob forte medicação, elas jamais acordam e eles podem examinar cada detalhe de seus corpos, passar-lhes a mão, apalpar seus seios, beijar seus corpos, observar seus dentes, seus ressonares, hálitos e sonhar, relembrando seus passados com mulheres. São mulheres anônimas, escolhidas pela dona da casa e os velhos nunca concretizam o ato sexual, até devido à falta de vigor físico. Eram tempos pré-Viagra e a relação quase contemplativa permite ao autor elaborar densas e poéticas metáforas a respeito da finitude e do caminhar pra a morte. Afinal, a beleza e a juventude não obtêm serem roubadas pelo velho Eguchi, protagonista da novela, mas o contato com elas é consolador e sugestivo, apesar das vontades do velho. Eguchi vai à casa em cinco noites não consecutivas e o que lhe passa pela cabeça é esplêndida e poeticamente descrito por Kawabata, assim como cada gesto e movimento das moças durante seus sonos. Um livro curioso e pervertido, de doce e indecente poesia. Tudo na medida certa, com perfeito bom gosto. Recomendo muito.
Livro comprado na Ladeira Livros.
Bom dia, Argel (com os gols e as leis de Santos 3 x 1 Inter)
Argel tentou passar por cima de duas Leis Pétreas do Futebol. Sem sucesso, é claro. A de Bielsa e a de Andrade. Foi como lutar contra a gravidade. Vejamos. Reza a Lei de Bielsa:
O time que abdica de jogar com a bola, multiplica o número de bolas que o adversário terá.
Claro, se você não está nunca com a bola e se você defende-se dando chutões para qualquer lado, você está dando a bola e argumentos para que o adversário volte e volte e volte a atacá-lo. Avise Paulão a respeito, Argel. Ensine a todos sobre esta importante Lei do Futebol.
Porém, como se não bastasse, nosso time fora de forma física ignorou outra Lei Pétrea, a Lei de Andrade. O ex-grande jogador e treinador do Flamengo dizia:
O time que está sem a bola corre o dobro.
Há também uma Lei de Cruyff, que diz:
Tem apenas uma bola em campo, então você precisa tê-la.
Então, por mais desfalcado que esteja o teu time, ele não pode errar os passes que erra, nem dar os chutões que dá, nem dar o campo que dá ao adversário. Argel, tu treinas o Internacional de Porto Alegre, não o Figueira. Temos que jogar mais.
Há algo de muito errado no Beira-Rio. Ah, Argel, criei uma Lei pra ti, a Lei de Advertência a Argel :
Todo treinador será cobrado de acordo com a grandeza do seu clube.
E aí tu te ferras, porque a diretoria do clube desmanchou o grupo e tu não tens quase nada nas mãos. Sobre o jogo de ontem, para que falar mais? Ver Wellington onde antes estava Aránguiz… Parabéns, Píffero.
Agora, sirvam três façanhas de nossa direção anterior de modelo a toda terra. Lembra o Euclides Bitelo que Ricardo Goulart foi um dos melhores jogadores do Brasileiro de 2014 e que Lucas Lima é um dos melhores de 2015. O que eles têm em comum? Os dois foram doados pelo Inter como inaproveitáveis. E lembro eu que o autor do primeiro gol do Santos, Marquinhos Gabriel, também.
Parabéns, Luigi.
Após sobrevivermos (mal) à gestão Luigi, veio o Píffero e…
https://youtu.be/gFTfPN4vYUM
Beethoven: Sonatas Primavera e Kreutzer com Anne Sophie Mutter e Lambert Orkis
Porque hoje é sábado, Kate Winslet
Kate Winslet tem todos os motivos para rir à toa.
Bonita e talentosa, é presença obrigatória em qualquer conversa onde se fale em grandes atrizes.
O pessoal do Oscar — prêmio que me interessa apenas medianamente — …
… já lhe deu 5 indicações antes dos 30 anos, e agora vai fazê-la concorrer…
… com outra grande atriz, Meryl Streep. A vencedora? Tanto faz. Mas o lobby de Kate é fraco. Nunca ganhou.
Kate Winslet mantém a longa e imperturbável tradição inglesa de invadir Hollywood com seus bons atores.
Vocês não precisam acreditar, tá?, mas quando a vi fazendo Ofelia, em Hamlet de Kenneth Brannagh, …
… aos 21 anos, sua atuação me chamou tanto a atenção quanto a diminuta participação da maravilhosa Julie Christie.
Depois, vocês sabem. Vieram Razão e Sentimento, Titanic, Fogo sagrado e o excelente ..
… Brilho eterno de uma mente sem lembranças, de Michel Gondry.
Após o bom Pecados íntimos, ela reaparece agora nos cinemas com dois filmes: …
… O Leitor, que verei hoje à noite (escrevo este post na sexta-feira à tarde), e …
… Foi Apenas Um Sonho, do maridão Sam Mendes. Acho que o segundo tem mais chances.
Melhor um filme triste sobre a falta de perspectivas de um casal suburbano norte-americano,
… do que mais uma obra sobre o holocausto.
Vi e, com efeito, Foi Apenas Um Sonho é um tremendo filme.
Bom, vou tratar de melhorar o humor revendo as fotos de Kate. Pg Up, por favor.
Postado em 7 de fevereiro de 2009
Porque hoje é sábado, Lindsey Pelas
Às vezes, há boas surpresas no meu e-mail do Sul21. Entre dezenas de releases, centenas de propostas de publicação de textos e milhares de sugestões de pauta, além dos milhões de lixos, teve um muito especial hoje à tarde (sexta-feira, 25). O título era:
PARA O PHES, URGENTE!!!!
E o texto do e-mail não era nada longo:
Sou o Nro. 1 dos teus sete leitores. Leio o MR desde 2003, no blogspot, quando nem existia o Sul21. Não leio só o PHES, mas tudo o que tu publica. É simples como Jânio Quadros: leio quando são letras; quando são imagens, olho. Gosto muito. Te mando a colaboração em anexo. 23 fotos de uma mulher incrível, Lindsey Pelas. Acho que faz falta à coluna. Os seios são naturais, nada de enchimentos. O texto é contigo. Não tenho talento. Atenciosa e respeitosamente, Maurício Diniz.
.oOo.
OK, Maurício, muito obrigado. Vou tentar ser digno da confiança do amigo.
Assim como fizemos com Laetitia Casta, não faremos trocadilhos
com o nome de Lindsey Pelas. Nem mesmo usando a segunda do singular.
Seria muito fácil e, pior, de mau gosto.
Apesar de que meu filho acaba de me dizer que jogou uma pelada em Berlim,
onde se encontra estudando, e que marcou três gols.
O primeiro chute foi na trave (o que ele considerou de mau agouro).
Mas depois virou um Lewandowski.
Maurício, meu amigo, estou sem tempo nesta sexta-feira, porém,
admirando os olhos de Lindsey,
lembrei do poema Mulheres, de Sophia de Mello Breyner Andresen:
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens…
Há mulheres que são maré em noites de tardes
e calma
Obs. final: Apesar de que não imagino muita calma com Lindsey por perto.
Um texto bem bobo como o amor
O dia 25 de setembro — assim como o 4 de janeiro, Bernardo — é uma superdata. É a data de nascimento de minha filha Bárbara. Sou um sujeito como quase todo mundo, então tenho um amor incondicional e oceânico por meus filhos. Mas meus contatos com eles foram drasticamente reduzidos nos últimos meses. O Bernardo está em Berlim e meus encontros pessoais com ele em 2015 ficaram reduzido quase a zero. O Skype não vale. A Bárbara hoje não mora mais comigo e entrou naquela idade maluca em que se trabalha mais do que os pais. Há a faculdade, o estágio, o namorado, as festas, o mundo e o tempo que sobra é pequeno. É a prova de que, mesmo que a biologia pense diferentemente, não fazemos os filhos para nós. Mas creio que o vínculo amoroso permaneça intacto.
Que eu lembre, nunca comentamos a respeito, mas, quando morávamos juntos, éramos uma dupla bastante original. Temos tendência a permanecermos silenciosos e assim ficávamos por horas. Lembro de passarmos finais de semana na mesma casa, apenas conversando na hora das refeições. E era tudo muito leve e agradável. Lembro de nossa viagem para a Europa. Passamos 20 dias juntos sem nenhuma altercação, desentendimento, nada. É claro que não foi por ficarmos quietos. Conversamos muito e recordo do momento em que chegamos a Camden Town, Londres, e eu caí inteiramente no ritmo dela, entrando onde ela queria entrar e fazendo o que ela desejava. Ela subitamente virou-se para mim e disse que estava curtindo muito, mas que a viagem não era só dela, era minha também. Eu assenti em silêncio, feliz, mas segui pensando que a viagem era dela. E era.
2013 foi um grande ano para mim. Além de ter sido o ano em que a Elena entrou na minha vida, foi o ano desta coisa que eu sugiro a todo pai fazer: uma longa viagem com um filho(a). Pode ser para qualquer lugar, não precisa ser necessariamente para paraísos caros. Bem, se a relação for tensa, talvez seja melhor esquecer. Eu e Bárbara aproveitamos aquela que talvez tenha sido nossa última chance. Com os 18 anos que ela tinha em fevereiro de 2013, ainda era possível. Agora, em dezembro, ela voltará à Europa numa viagem que envolve o irmão, mas também o namorado, um calendário mais apertado, etc. Enfim, acho que aquela foi a última oportunidade de pai e filha viajarem sozinhos.
Tenho uma lembrança bobíssima, que certamente só eu acho emocionante. Num dia de nossa viagem, a gente estava mais ou menos próximo do monumento acima, na entrada do Josefov, o bairro judaico de Praga. O Monumento à Franz Kafka foi inspirado em um dos contos de Kafka, Descrição de uma Luta. É Kafka nos ombros de um gigante destituído de cabeça e mãos, representação de uma das cenas da história. No bairro há um monte de sinagogas. Tem a Sinagoga Pinkas, a Velha Nova Sinagoga, a Alta Sinagoga, a Prefeitura judaica, o Antigo Cemitério judaico, etc. E precisávamos comprar ingressos para ver tudo isso. Fui comprá-los e notei que a atendente estava olhando para alguma coisa às minhas costas. Pedi nossos ingressos e a senhora nem me ouviu, continuou olhando. Fui ver o que estava acontecendo e observei que Bárbara girava lentamente sobre si mesma, olhando para o alto e sorrindo. Na hora achei estranho, ela não costuma deslumbrar-se facilmente, que ataque era aquele? O que não sabia é que aquela imagem ficaria gravada tão fortemente em meu cérebro.
A senhora voltou a me dar atenção e me disse em inglês, sorrindo:
— Ela nunca viu a neve… De onde vocês são?
Só então me dei conta de que (1) tinha começado a nevar e (2) que a Bárbara nunca tinha visto aquilo e estava encantada.
Por alguma razão, toda vez que lembro de minha filha e certamente quando lembro daquela viagem, me vem a imagem da Babi girando. Não tirei fotos daquele momento. Se o fizesse, talvez não lembrasse tão bem. Depois veio mais neve.
e muito mais neve.
E veio a zombeteira.
Antes que me torne sentimental e aborrecido, é melhor parar. Feliz aniversário, Babi! Dizem que a gente é parecido, mas eu te acho parecida é com minha irmã. Quando tu te irritas ou logo que acordas, bá, ficas igual. É aquela coisinha intratável. Até bem pouco tempo, eu te acordava com um Nescau no quarto, mas tu ficavas louca da vida quando eu entrava cantando romanticamente Moon river. Então eu mudei para o estribilho de Geni e o Zeppelin. Também sei que não podes ouvir outra canção do Chico Buarque, Cala a boca, Bárbara, música com a qual eu te ninava quando eras bebê. Sim, acho que fui um pai insuportável, mas o resultado comprova que não fui tão mal assim, ao menos te passei metade de uma carga genética bem legalzinha. Por dentro e por fora. (Vê-se e sente-se que a outra metade também é muito boa).
E jamais esqueça que hoje é também o aniversário de meus ídolos Dmitri Dmitrievich Shostakovich e William Faulkner. Naquele domingo à tarde, tudo foi preparado para que nascesses em boa companhia, viu?
Bom dia, Argel (com os gols e melhores lances de Inter 1 x 1 Palmeiras)
Estamos fora da Copa do Brasil, é minha opinião. Aliás, ontem à noite, eu e o professor Luís Augusto Farinatti acertamos tudo o que dissemos no Beira-Rio. Vocês poderão conferir alguns itens de nossa desalentada conversa particular de torcedores abaixo. Iniciamos melhor do que o Palmeiras. Nossa primeira constatação foi a de que tínhamos que fazer logo os gols, pois não temos preparo físico para mais de 70 minutos, herança do preparador físico de Diego Aguirre.
Iniciamos pressionando muito: Nilton quase marcou de cabeça, Alex obrigou Fernando Prass a uma defesa impossível — a bola passou por baixo do corpo do goleiro, mas tocou em seu corpo de tal forma que subiu e passou sobre o gol — e Nilton novamente criou e perdeu um gol feito.
Depois teve o pênalti defendido por Alisson, um outro gol incrível perdido por Valdívia de dentro da pequena área após jogada genial de Vitinho e, finalmente, o golaço de Alex. Eram 8 minutos do segundo tempo. Sabíamos que a logo logo o Inter se desmancharia. E não deu outra. O bom Ernando — nosso melhor zagueiro, nosso melhor lateral — foi o primeiro a morrer, seguido por Dourado, que jogou muito mal toda a partida. Ambos foram substituídos. O gol do Palmeiras veio de um erro defensivo de… Valdívia, que não se deu conta de que um cruzamento da esquerda atravessaria toda a área chegando até Lucas, o lateral que ele deveria acompanhar. Ele não viu Lucas num primeiro momento. É normal, acontece. Só que o palmeirense pegou a bola livre, cruzou, e Rafael Marques empatou o jogo.
Outras constatações: em nossa conversa na arquibancada do Beira-Rio, lamentamos a falta de armadores no time. Alex era o único. Ele fez uma bela partida, mas não pode ficar sozinho na função ao lado da barata tonta e recuada do Wellington. William merece uma conversa ou uma temporada fora do time para pensar na vida, Vitinho é craque, Nilton confirma-se com bom jogador, Valdívia é ótimo, Réver está voltando a ser Réver — o que é ótimo — e Paulão foi Paulão por todo o tempo ontem — o que é péssimo. O problema é que nada se mantém. Precisamos de mais gás ou de virar os jogos ganhando por dois a zero. Ao final da partida, Valdívia estava sem velocidade e Vitinho, quando voltava para marcar, chegava tarde (e mancando, o que preocupa ainda mais) ao ataque.
2015 foi um ano jogado fora. O time está no bagaço, sem centroavantes e, para piorar, o tornozelo de Sasha foi operado e D`Alessandro para por tempo indeterminado em razão de uma hérnia de disco. Dá pena ver o Inter em campo, ainda mais contra o Palmeiras, que terminou o jogo correndo e voando como começou. Em fevereiro, Élio Carravetta alertou a diretoria sobre a estratégia equivocada do preparador físico uruguaio. Nada foi feito. Aí está. Provavelmente, perderemos mais jogadores por lesões musculares.
Nosso futuro na Copa do Brasil deverá ser a desclassificação. Poucos notaram, mas o Farinatti logo disse: este cartão do Vitinho é o terceiro. Ele levou cartão em todos os jogos da Copa do Brasil. Então, iremos a São Paulo sem D`Ale, Sasha e Vitinho, isto é, sem ataque… E sem preparo físico.
Nossa única possibilidade é uma bola milagrosa lá na frente — a zaga deles é uma porcaria — e o Alisson operando milagres e mais milagres lá atrás, pois o ataque do Palmeiras é efetivo pacas. Ou seja, é muito improvável que voltemos de lá com a vaga nas semifinais.
https://youtu.be/a3NVudrxLMY
Palestra de Gustavo Dudamel quando recebeu a Medalha Nacional de Artes 2015 e Medalha Nacional de Humanidades
Em Washington, no dia 22 de setembro de 2015.
“A música é minha língua. Neste língua posso conduzir uma ópera ou uma sinfonia de cor … ou pelo menos é o que eles dizem. Mas hoje eu não sou antes da minha orquestra, por isso espero que este distinto público vai me perdoar por leitura.
Eu acredito que a primeira palavra deve-se aprender em qualquer língua é a palavra “obrigado”. Então, eu gostaria de começar por agradecer por esta grande honra. Sinto-me muito humilde e grato por estar rodeado esta noite por um grupo tão especial de criadores, artistas, humanistas, e convidados de honra.
Mas eu sinto que eu não deveria dar graças apenas em meu nome. Eu gostaria de dizer obrigado pela oportunidade de dirigir-lhe esta noite em nome dos milhões de latinos que fizeram os Estados Unidos da América sua casa.
Eu gostaria de começar por compartilhar com vocês uma anedota – simples, embora imensamente simbólico para mim.
Mesmo antes de começar a conduzir a Orquestra Filarmônica de Los Angeles, eu promoveu a criação de uma orquestra de jovens chamado YOLA, Orquestra Juvenil de Los Angeles. Um dos primeiros grupos Yola foi formada em South Central Los Angeles, um dos bairros mais problemáticos da cidade.
Foi lá que eu conheci um rapaz de 12 anos chamado Adam. Adam morava com a mãe Tracey, em uma área altamente perigoso. Quando Adão soube que eles estavam fazendo audições para orquestra infantil, ele apareceu com sua mãe, que nos disse que o sonho de vida de Adão era para se tornar o percussionista da Los Angeles Philharmonic.
Adam e eu vim de lugares muito diferentes, mas tínhamos algo em comum: nós compartilhamos o mesmo sonho.
Adão – e YOLA de – primeiro concerto teve lugar alguns meses mais tarde, um concerto gratuito para a comunidade em um local alguns de vocês podem estar familiarizados com – é chamado de Hollywood Bowl. John Williams, Quincy Jones e 18.000 espectadores estavam presentes.
Esse foi, também, o meu primeiro concerto como Diretor Musical da Filarmônica de Los Angeles, então eu estava tão aterrorizada como Adão … Por favor, entenda, não é fácil estar no mesmo palco onde existiu Leonard Bernstein, Van Cliburn, Jimi Hendrix, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong … mesmo que Adam tinha nenhum indício que essas lendas foram.
Para a maioria na platéia, atingindo a bacia tinha sido mais uma caminhada dentro da sua rotina diária. As 11 milhas Adam tinham viajado de casa deve ter sido o mais importante viagem da sua vida. Simplificando: o menino que deixou South Central naquela tarde não era a mesma pessoa em seu retorno.
Nossa Ulysses, o nosso herói pint-sized, tinha tomado suas baquetas e tinha partiu em uma viagem só de ida para a esperança.
Hoje à noite, nesta sala maravilhosa está cheio de almas compassivas empáticas, que sabem muito bem o que quero dizer quando digo que o menino tímido que eu conhecera meses antes não era o mesmo rapaz que estava diante de mim naquela noite, jogando com intensidade, moldando o seu vida própria a cada batida, tocando os corações de 18.000 seres humanos – incluindo a minha.
Meu mentor, Maestro José Antonio Abreu, disse uma vez que o pior crime cometido no mundo moderno tem sido a de tirar as crianças do acesso a beleza e inspiração.
Obviamente, vivemos em tempos difíceis. Depois de qualquer crise financeira que abala o mundo inteiro, as escolas têm orçamentos menores. Os primeiros programas para obter corte são arte e música, porque eles não são considerados “essenciais”.
Eu acredito que é errado.
Algumas pessoas pensam que a arte é um luxo e devem ser reduzidos em tempos de crise. Essas pessoas devem entender que precisamente durante tempos de crise o pecado imperdoável é cortar o acesso à arte.
Na minha casa amada da Venezuela tal crise está acontecendo agora. As pessoas estão gastando seus dias à procura de comida, remédios e as necessidades da vida.
Existem os mesmos argumentos – como podemos financiar música – as artes – quando as necessidades básicas não estão sendo atendidas? Um artigo recente colocou a questão: “Pode El Sistema salvar Venezuela?” Para mim, a pergunta mais apropriada é: “Pode Venezuela salvar El Sistema?” – Que é agora mais importante do que nunca para o povo da Venezuela e à sua esperança. Eu trabalho todos os dias para garantir que uma vez que a Venezuela se move para além desta crise atual, El Sistema vai continuar a subir e capacitar aqueles que de outra forma não teria sonhos.
Arte é o alimento da alma. Nossos filhos vão aprender arquitetura para projetar as pontes que nos ligam com o nosso futuro, eles vão se destacar em matemática para calcular as suas fundações. Muitos dos nossos filhos vão melhorar a humanidade por meio da ciência, e todos devem fortalecer-se, aprendendo os limites de seus corpos através do esporte. As artes são igualmente vital. Aqueles que cortar programas de arte deve entender que sem arte, o espírito humano embota.
Das cavernas de Altamira para Jackson Pollock, e da sumeriana Hino à letra orientado a batida, valentes e assombrando de Lin-Manuel Miranda em Hamilton (que por sinal eu ainda não ter sido capaz de encontrar bilhetes para), a arte tem sido o principal parceiro de viagem do espírito humano.
Eu acredito que a saúde espiritual deve ter o mesmo peso que a saúde física. Se todos nós reconhecemos que é tão importante manter uma psique saudável e alma, pois é para manter um corpo saudável, em seguida, até mesmo as companhias de seguros iria dar bilhetes gratuitos para concertos, museus e galerias. Talvez isso poderia até ser uma nova disposição de Obamacare!
A minha vocação é música, mas a minha missão é crianças, especialmente, como podemos ensiná-los. E para ter certeza que as maiores expressões da nossa humanidade são repassados para a nossa próxima geração.
Queremos preparar os nossos filhos para o futuro, mas aqui está o problema – neste mundo acelerado em que vivemos, não sabemos exatamente o que o futuro trará. Nós assumimos que irá envolver matemática – há sempre a matemática! E sim, devemos educar a mente. Mas uma criança não é apenas uma mente – ela é uma alma. E também devemos nutrir a alma também.
Nós, todos nesta sala, deve encontrar uma maneira de criar e apoiar a arte no nosso futuro, por isso convido-vos a investir nos sonhos e espíritos de crianças como Adam em Los Angeles, e os milhões de crianças que gostam dele estão procurando um vislumbre de esperança e beleza. Convido-vos a ouvir as palavras de Schiller, que disse que a beleza é a única forma de comunicação que pode unir a sociedade “, pois diz respeito ao que é comum a todos.”
Desde que se tornou humano e começou a pintar nas paredes das cavernas, nós somos hard-wired para a expressão. Eu não sei o que as tecnologias que ainda estará usando no futuro, que mudanças nos confrontam. Eu não sei o Facebook, Pokémon Go ou o Twitter vai ser assim. Eu não sei se os computadores vão desaparecer ou se eles vão se tornar algo completamente diferente. Qualquer coisa e tudo é possível.
Mas não importa o que o futuro traz – teremos de expressar o que sentimos: e que é arte.
A arte é futuro.
Vamos ter certeza de que criar um ambiente que cultiva, abraça e capacita as artes.
Cabe a nós para garantir que nossos filhos estão prontos.
Muchas gracias “.
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“Music is my language. In this language I can conduct an opera or symphony by heart…or at least that’s what they say. But tonight I am not before my orchestra, so I hope this distinguished audience will forgive me for reading.
I believe that the first word one must learn in any language is the word “thanks.” So I would like to start by thanking you for this great honor. I feel quite humbled and grateful to be surrounded this evening by such a special group of creators, artists, humanists, and honored guests.
But I feel that I shouldn’t give thanks only in my name. I would like to say thank you for the opportunity of addressing you tonight in the name of the millions of Latinos who have made the United States of America their home.
I wish to start by sharing with you an anecdote – simple, though immensely symbolic for me.
Even before I started conducting the Los Angeles Philharmonic Orchestra, I promoted the creation of a youth orchestra called YOLA, Youth Orchestra of Los Angeles. One of the first YOLA groups was formed in South Central Los Angeles, one of the most troubled neighborhoods in the city.
It was there that I met a 12-year-old boy called Adam. Adam lived with his mother Tracey, in a highly dangerous area. When Adam learned they were holding auditions for a children’s orchestra, he showed up with his mom, who told us that Adam’s life dream was to become the percussionist of the Los Angeles Philharmonic.
Adam and I came from very different places, but we had something in common: we shared the same dream.
Adam’s – and YOLA’s – first concert took place a few months later, a free concert for the community at a venue some of you might be familiar with – it’s called the Hollywood Bowl. John Williams, Quincy Jones and 18,000 spectators were in attendance.
That was, also, my first concert as the Los Angeles Philharmonic’s Music Director, so I was as terrified as Adam…Please, understand, it’s not easy to stand on the same stage where once stood Leonard Bernstein, Van Cliburn, Jimi Hendrix, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald and Louis Armstrong…even if Adam had no clue who those legends were.
For most in the audience, reaching the Bowl had been one more trek within their daily routine. The 11 miles Adam had traveled from home must have been the most important trip of his life. Simply put: the boy who left South Central that afternoon was not the same person upon his return.
Our Ulysses, our pint-sized hero, had taken his drumsticks and had set out on a one-way trip toward hope.
Tonight, this wonderful hall is full of empathetic, compassionate souls, who know full well what I mean when I say that the shy boy I had met months before was not the same boy that stood before me that evening, playing with intensity, shaping his own life with each beat, touching the hearts of 18,000 human beings – including MINE.
My mentor, Maestro José Antonio Abreu, said once that the worst crime committed in the modern world has been to take away from children the access to beauty and inspiration.
Obviously, we live in difficult times. After any financial crisis that shakes the whole world, schools have smaller budgets. The first programs to get cut are Art and Music, because they are not considered “essential.”
I believe that is wrong.
Some people think that art is a luxury and must be cut back in times of crisis. These people must understand that precisely during times of crisis the unforgivable sin is to cut access to art.
In my beloved home of Venezuela such a crisis is happening right now. People are spending their days looking for food, medicine and the necessities of life.
The same arguments exist — how can we fund music — the arts — when basic needs are not being met? A recent article posed the question: “Can El Sistema save Venezuela?” To me, the more appropriate question is, “Can Venezuela save El Sistema?” – which is now more important than ever to the people of Venezuela and to their hope. I work every day to ensure that once Venezuela moves beyond this current crisis, El Sistema will continue to rise and empower those who otherwise would have no dreams.
Art is the nourishment of the soul. Our children will learn architecture to design the bridges that will connect us with our future, they will excel in math to calculate their foundations. Many of our children will better humanity through science, and ALL must strengthen themselves, learning the limits of their bodies through sports. The ARTS are equally vital. Those who cut back art programs must understand that without art, the human spirit dulls.
From the Altamira caves to Jackson Pollock, and from the Sumerian Hymn to the rap-driven, brave and haunting lyrics of Lin-Manuel Miranda in Hamilton (which by the way I still haven’t been able to find tickets to), art has been the main travel partner of the human spirit.
I believe spiritual health should have the same weight as physical health. If we all recognized that it’s just as important to keep a healthy psyche and soul as it is to keep a healthy body, then even insurance companies would give out free tickets to concerts, museums and galleries. Maybe this could even be a new provision of Obamacare!
My vocation is music, but my mission is children, especially, how we teach them. And to make sure that the greatest expressions of our humanity are passed along to our next generation.
We want to prepare our children for the future, but here’s the problem – in this fast-paced world we live in, we don’t know exactly what the future will bring. We assume it will involve math – there is always math! And yes, we must educate the mind. But a child is not just a mind – she is a soul. And we must also nourish the soul as well.
We, everybody in this room, must find a way to create and support art in our future, so I invite you to invest in the dreams and spirits of kids like Adam in Los Angeles, and the millions of kids that like him are searching for a glimpse of hope and beauty. I invite you to listen to the words of Schiller, who said that beauty is the only form of communication that can unite society “since it relates to that which is common to all.”
Since we became human and started painting on cave walls, we are hard-wired for expression. I don’t know what technologies we still will be using in the future, what changes will confront us. I don’t know what Facebook, Pokémon Go or Twitter will be like. I don’t know if computers will disappear or if they will become something completely different. Anything and everything is possible.
But no matter what the future brings – we will have to express what we feel: and that is art.
Art is future.
Let’s make sure we create an environment that cultivates, embraces and empowers the arts.
It’s up to us to make sure our children are ready.
Muchas gracias.”
Doações de empresas para campanhas eleitorais, será que acabaram mesmo?
O STF julgou inconstitucional a doação de empresas para as campanhas eleitorais, porém, se Dilma Rousseff sancionar sem vetos a contra-reforma eleitoral aprovada pelo Congresso, que cria um limite máximo de R$ 20 milhões (!) para doações empresariais, tudo volta ao normal. Ou ao anormal. Por quê? Ora, se Dilma sancionar o monstrengo, a lei será posterior à decisão da corte e passará a valer. A decisão do Supremo passaria a valer “para trás”. Como toda lei aprovada tem presunção de constitucionalidade, a lei do Cunha, se sancionada, valeria sim para 2016.
Otimista, o deputado Wadih Damous diz que, caso seja aprovada e sancionada a PEC 182/2007, ela será considerada inconstitucional pelo Supremo porque este entendeu que o financiamento de empresas fere cláusulas pétreas. “Se for aprovada, a PEC cairá”, prevê o deputado Damous. Bem, segundo Millôr Fernandes, o otimista é apenas um mal-informado. Se lei for sancionada, o STF precisará ser provocado para dizer se a nova lei é inconstitucional também. Isso precisa acontecer em 2015 para valer no pleito municipal de 2016. E se cair na mão de Gilmar Mendes? E se alguém pedir vistas? E se o esperto Eduardo Cunha, que disse que “o grande problema é que as eleições de 2016 vão ficar em uma zona de sombra, em um limbo de dúvida”? E, sabemos, suas manobras demoníacas são apenas e simplesmente política, feitas nas barbas de todos.
Nas últimas eleições, segundo o Instituto Ethos, 1% das empresas que fizeram doações (200 empresas) foram responsáveis por 60% do financiamento. Mas não tenho certeza se o impedimento de doações de empresas mudará muita coisa. O país campeão de sonegação deve conhecer caminhos para eleger seus queridinhos.
O fato é que, cada vez mais, somos obrigados a confiar mais nos ministros do STF do que nesse Congresso lamentável. É a judicialização do estado, filha de um Congresso absolutamente medíocre, infestado de religiosos conservadores, e neta do voto obrigatório, que elege uma massa de pessoas despreparadas.
(Ontem, por exemplo, na votação do aumento do ICMS proposto pelo governo Sartori, quem acabou decidindo? Ora, Jardel, um deputado com sérios problemas de entendimento e que jamais estaria onde está não fosse o voto de pessoas que passam quatro anos sem pensar em política, mas que votam como quem se preocupa. Votaram no ex-artilheiro do Grêmio… Que foi decisivo).
Mas tergiverso.
Anteontem à noite, dia 21, num jantar com líderes do PCdoB com presença do diabo Cunha, Dilma Rousseff teria avisado a ele que não irá enfrentar a decisão do Supremo Tribunal Federal, que considerou inconstitucionais as doações de empresas. Dilma, segundo notícia de duas horas atrás do site amigo Brasil 247: “Eu disse ao Eduardo Cunha que nem eu nem ele podemos fazer um enfrentamento com o Judiciário”. Aguardemos. Porque às vezes ela se atrapalha.
Lições de vida de Keith Richards
1. “Durante dez anos, fui o primeiro da lista de quem seria o próximo a morrer. Fiquei decepcionado quando caí no ranking. (…) Um médico me disse que me restavam 6 meses de vida, mas fui ao enterro dele. Os obituários me interessam muito ultimamente. Mas não confio nos médicos. Não digo que não haja alguns bons, mas em geral não confio neles.”
2. “O trabalho mais difícil de todos é ser vagabundo. Mas não se pode fazer da preguiça uma profissão; é preciso trabalhar nisso de verdade.”
3. “Para ser sincero, eu nunca tive problema com as drogas; só com a polícia”.
4. “Se você vai dar uma porrada na cara da autoridade, melhor que seja com os dois pés”.
5. “Só há uma doença fatal: a hipocondria. Fora essa, eu tenho todas as outras”.
6. “Plantei um carvalho inglês enorme para espalhar as cinzas do meu pai em volta. Quando estava abrindo a tampa da caixa, uma nuvem de cinzas muito leve foi parar em cima da mesa. Não podia afastá-la sem mais, então recolhi com o dedo e cheirei o resto. Pó é de pai para filho”.
7. “A música é uma necessidade. Depois da comida, do ar, da água e do calor, a música é a próxima necessidade da vida”.
8. “Nunca tive uma overdose no banheiro de outra pessoa. Acho que é o cúmulo da falta de educação”.
9. “Os amigos de verdade são difíceis de encontrar; mas você não procura, eles te acham. Um cresce dentro do outro. (…) A maior parte dos caras que conheço são uns babacas. Tenho vários bons amigos que também são, mas esse não é o caso. A amizade não tem nada a ver com isso. Dá pra ficar e conversar sem a sensação de distância? A amizade diminui a distância entre as pessoas. Para mim, é uma das coisas mais importantes do mundo”.
10. “Sou sagitário: metade homem, metade cavalo. Tenho licença para cagar na rua.”
11. “Uma das melhores coisas da minha infância foi ser escoteiro. (…) Queria saber como me localizar no meio do mato, como cozinhar no chão… Por alguma razão, precisava aprender habilidades de sobrevivência. Como depenar uma ave. Como estripar e limpar vários bichos. E sobretudo era uma oportunidade para sair por aí correndo com uma faca na cinta, mas só depois de ganhar várias insígnias. No fim de não mais do que 3 ou 4 meses me fizeram líder da patrulha. Tinha a camisa cheia de insígnias! (…) Um ano ganhamos a competição de construir pontes: nessa noite tomamos uísque até cair e acabamos brigando na barraca. Foi ali que quebrei meu primeiro osso”.
12. “As grandes regras das brigas de navalha são: a) não tente fazer em casa, b) o importante é jamais utilizar a lâmina. Ela está lá para distrair seu oponente. Enquanto ele olha para o aço reluzente, chute as bolas dele e acabou. Esse é o meu conselho”.
13. “Dei uma navegada na internet e li algumas entrevistas, mas prefiro deixar isso para os meus filhos. Simplesmente, não estou interessado no que pensam outros babacas do outro lado do mundo. Fora isso, não faz bem para o corpo nem para os olhos ficar sentado na frente do computador o dia inteiro.”
14. “Quando você está crescendo há dois locais institucionais que te afetam mais do que qualquer outro: a igreja, que pertence a Deus, e a biblioteca pública, que pode pertencer a você.”
15. “Se você quer ser guitarrista, comece por um violão e aprenda bem até chegar na guitarra. Primeiro é preciso conhecer essa vadia. Ir para a cama com ela. Se não tiver uma garota por perto, durma com ela. Tem a forma perfeita”.
16. “Ficar velho é um assunto fascinante. Quanto mais velho você fica, mais velho quer ficar.”
17. “Aprendi a vomitar do jeito certo. Primeiro, se for possível, encontre um recipiente. Essa é a regra número um. Daí você despeja em cascata, como um bocejo Technicolor. Ao mesmo tempo, pode ser que você esteja dando uma cagada. O que é bem difícil. Se for capaz de fazer os dois ao mesmo tempo, vou te colocar no Cirque du Soleil.”
18. “Quando eu me drogava, tomava a melhor coisa que conseguia. Se fosse ópio, seria um bom ópio tailandês. Se fosse cavalo, seria heroína pura de verdade, nada dessa merda da rua. Sempre escolhi, exceto quando estava desesperado.”
19. “John Lennon parecia estar concorrendo comigo no que se refere a drogas, e nunca entendi essa atitude.”
20. “As grandes músicas são escritas a sós. Elas te arrastam pelo nariz ou pelas orelhas. É importante não interferir demais nisso. Ignore a inteligência, ignore tudo; só siga-a onde ela te levar.”
21. “Eu diria ao gênio da lâmpada que fizesse alguma coisa pelos outros. Ajude os africanos, ajude quem se odeia entre si. Ajude-os a superar seu ódio. Eu não preciso de nada. Tenho o suficiente! Use o que você desejaria a mim com os outros.”
22. “As pessoas não mudam. Mick Jagger mudou pouco ao longo dos anos. Bem, talvez sua roupa de baixo. Três vezes.”
23. “Para mim, a heroína é a grande questão. É uma droguinha muito impertinente. Pode te pegar pelo rabo antes de você notar. É realmente democrática: sou um puta superstar, mas, quando quero encrenca, estou na roda com todos os demais. Sua vida inteira se transforma em esperar o pico e falar com os caras sobre a qualidade da merda: ‘Não é tão boa quanto a última, né? Então não vou pagar!’. Mas os caras te apontam armas: ‘Me dá tudo!’, e tal. Você vira uma ruína. E é bem desagradável, de certa forma, mas, ao mesmo tempo, não posso dizer que me arrependo.”
24. “Aconteceu na Suíça. Alguém colocou estricnina na minha droga. Eu estava em coma, mas totalmente acordado. Conseguia ouvir todo mundo e diziam: ‘Está morto! Está morto!’. Mas não estava.”
25. “Se as garotas ainda gritam para mim no meio da apresentação? Sim, é verdade. Mas não quando estou no palco, e sim no meio da apresentação.”
26. “Você sabe por que o cachorro lambe o próprio saco? Porque consegue.”
27. “Na noite em que Patti [Hansen, atual mulher de Keith] me apresentou a sua família, peguei a guitarra e toquei um pouco de Malagueña. Uma de suas irmãs me disse: ‘Acho que você bebeu demais para tocar isso’. Quebrou o clima, falei ‘chega!’ e quebrei a guitarra na mesa. Mas o surpreendente dessa família é que não se ofenderam. Pode ser que tenham ficado um pouco desconcertados, mas todo mundo estava um pouco alto.”
28. “Não acredito que os compositores de rock and roll tenham de se preocupar com a arte. Boa parte é só acaso, improvisação… No que me diz respeito, Art é só o diminutivo de Arthur.”
29. “No banco de trás daquele Bentley, em algum lugar entre Barcelona e Valência, Anita [Pallenberg, então noiva do guitarrista Brian Jones] e eu nos olhamos. A pressão foi tão bizarra que do nada ela começou a me chupar. A pressão acabou e de repente estávamos juntos.”
30. “As pessoas me perguntam, têm uma inquietação constante, como faço, por que faço. Mas eu digo, e você, que vai para o escritório todo dia? Comparado a isso, meu trabalho é simples.”
P. S. — O comentário de Keith sobre a versão de “Candle in the Wind” (E. John/B. Taupin), escrita originalmente para Marilyn Monroe e adaptada para o funeral da princesa Diana: “Ele continua fazendo música para loiras mortas”.
P. P. S. — “O medo é algo muito útil, é graças a ele que você não se atira da janela de um apartamento.”
A CPMF é um imposto justo… O aumento do ICMS não prejudica os pobres… Conta outra!
Como disse o Charlles Campos, Charles Dickens é uma das razões pelas quais a vida merece ser vivida. O escritor inglês tinha uma receita de felicidade, nascida certamente do fato de, na Inglaterra vitoriana, haver uma lei que podia levar à prisão quem tivesse dívidas. Tal lei fez o pai de Dickens sofrer muito. A citação-receita é a que segue.:
Annual income twenty pounds, annual expenditure nineteen [pounds] nineteen [shillings] and six [pence], result happiness. Annual income twenty pounds, annual expenditure twenty pounds ought and six, result misery.
Mr. Micawber em David Copperfield, de Charles Dickens
Esta citação está enorme numa das paredes do Charles Dickens Museum. Ela é o maior argumento de que a CPMF — imposto que de “contribuição” não tem nada –, é desigual e injusta. Na citação, o cara ganha 20 pounds por ano. Se gasta menos no período, é feliz; se gasta mais, é miserável. É verdade. Posso comprovar, afinal, sou jornalista. Se gasto mais do que ganho, posso passar meses recuperando a perda. Meus ganhos me obrigam a ser financeiramente contido. Deste modo, gasto o estritamente necessário. Tenho uma planilha do Excel onde anoto cada centavo que entra e sai. Sei que se deixasse a coisa se descontrolar, teria graves problemas. A CPMF virá para mexer um pouco neste equilíbrio, pois a inflação que gerará vai atingir a todos.
Ela pode ser maravilhosa na opinião de quem está singrando os mares num transatlântico ou num iate, porém para nós, que vamos num barco a remo, qualquer marolinha pode nos deixar de cabeça para baixo.
A inflação oficial dos últimos 12 meses é de menos de 10%. O IBGE fala em 9,88%. Mas a Inflação-Milton, por exemplo, é de mais de 20% no mesmo período. A faculdade da filha, o supermercado e os serviços de autônomos — ah, os vazamentos… — garantem o aumento. E a CPMF virá só para piorar a situação. Aposto que os comerciantes vão meter a mão em muito mais do que os 0,20% anunciados.
Seria até boa uma CPMF bem pequena, com muitos zeros após a vírgula. Não pela arrecadação, mas como mecanismo para monitorar as movimentações financeiras com a finalidade de combater a sonegação.
Hoje pela manhã, o “Sonegômetro”, do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, batia em R$ 374,5 bilhões desde janeiro de 2015. Como o “Impostômetro”, mantido pela da Associação Comercial de São Paulo está em 1,439 trilhão, temos que a sonegação corresponde a mais de 25% do que é arrecadado e é sete vezes mais do que a corrupção calculada no país. Mas só se fala em corrupção. A sonegação é coisa de quem ganha muito, coisa de empresas, coisa de quem paga publicidade, então é melhor ficar quieto.
Correr atrás da sonegação cansa nossos governantes. Então, eles preferem aumentar os impostos. É chato brigar com quem financiou a campanha… Nossos impostos aumentam para pagar o que devem os sonegadores, mas ninguém protesta contra eles.
Amanhã, será votado o aumento do ICMS aqui no RS. Vai passar, claro, e vai aumentar tudo, os impostos dos bens rurais e industriais. E tudo virá sobre a nossa cabeça. A sonegação de ICMS no estado é enorme, basta ver a quantidade de vendas sem nota — uma comprovação bobinha e visual –, só com o ticket do Cartão de Crédito, como tentaram fazer comigo na semana passada.
Nesta onda de aumentar impostos, Dilma e Sartori querem ver minhas planilhas pintadas de vermelho. E eu fodido. Ir atrás da sonegação, ah, isso ninguém quer.
Bom dia, Argel (com os gols do ridículo empate contra o Figueirense)
É complicado ter de ganhar uma partida de futebol com Rafael Moura e Wellington Martins, não, Argel? E, se acrescentarmos o Alex e o Lisandro López de sábado… Aí mesmo é que não acontece nada.
Foi uma partida deprimente. Durante o jogo, deu para filosofar bastante a respeito de como esses caras foram parar no Inter. (Ah, também deu para organizar a agenda da semana e pensar no livro que estou lendo). Alex tem uma história rica no clube, mas deixou de jogar bola logo após a renovação de contrato. Rafael Moura fez uma belíssima temporada no Goiás e vive dela até hoje. Depois de sair do clube goiano, ornamentou o banco do Fluminense. Por artes luigianas, passou a enfeitar o nosso como reserva de Damião. O problema é que o fato de ele estar no banco representa o perigo de uma eventual entrada e há as lesões dos titulares, que têm o condão de escalá-lo nos inícios dos jogos. Foi o que ocorreu sábado. Pesado e sem graça, não jogou nada. Aquele lance no segundo tempo em que a bola sobra para ele, que tenta o arremate de perna esquerda, demonstra que ele tem aspirações ao craquismo, que deseja meter a bola colocada de-curva-no-ângulo, ou seja, que é doido varrido.
Há jogadores que têm lampejos e fazem deles suas carreiras. Anderson e os Aflitos talvez seja um caso. Moura e o Goiás é certamente o caso. Espero que seu contrato acabe no final do ano. Mas não tenho certeza se receberemos esta bênção.
Wellington Martins passou o jogo tomando mijadas de Réver e Dourado. Estava sempre fora do lugar. Espero que seu lugar seja no São Paulo em 2016. O empréstimo dele terminará no fim do ano.
Lisandro López iniciou bem, mas foi caindo, caindo e agora propõe que se abra um alçapão no fundo do poço. Ele é o único que tem o benefício da dúvida. É centroavante, mas o escalam com armador. Deveria estar lá na frente, mas lá está Rafael Moura, né Argel?
Meu deus, quem joga no ataque do Inter B, Argel? Este ano, tivemos a entrada de uns meninos bem bons no time: William, Dourado, Valdívia, Arthur, etc. Acho que as saídas de Juan (pela idade), Moura, Wellington e talvez de Lisandro, serão muito boas para diminuir a folha de pagamento e para abrir espaço para os jovens. Ah, Vitinho tem que ficar!
Sobre o jogo… O que posso dizer para nossos sete leitores sobre aquela merda, Argel?
https://youtu.be/BC6e9xaqVQw
A marcenaria de Cantando na Chuva
Deixo aqui no blog um registro do melhor momento do dia de ontem. A edição especial de O Divã e a Tela, dedicada aos 50 anos do livro de Enéas de Souza, Trajetórias do Cinema Moderno, foi uma bela lição de cinema. Enéas e seu parceiro Robson Pereira receberam a visita de Ivonete Pinto e o trio deu um show de informações, contextualizações e interpretações acerca de Cantando na Chuva, um filme que eu, assim como muita gente da plateia, considerava menor.
A escolha de Cantando em uma comemoração dessas ficou inteiramente justificada. Não vou me alongar procurando repetir as falas do trio — o fato é que saí de lá muito feliz e com alguns centímetros a mais. Da altura de Cyd Charisse de salto alto, por assim dizer, já que temos os mesmos 1,71m.
O filme foi girado na mão de cada um dos palestrantes de forma a que o víssemos sob várias e novas perspectivas. Dizem que isso é cultura. Só me resta agradecer à generosidade de gente que faz isso há dez anos sem ganhar nada que não sejam as nossas caras e palavras de admiração.
Porque hoje é sábado, Veja
Fui mostrar a Veja para a Juliette Binoche e a Kristin Scott Thomas. Vejam o que aconteceu.
Então procurei Juliette em particular. Déjà vu. Veja, Ju!
Mas ela não quis olhar e demonstrou de um jeitinho todo seu. Amei-a ainda mais.
Então, invadi o quarto da Kristin a qual me disse, tapando o nariz, que Veja fedia.
A politizada e inteligente Vanessa Redgrave simplesmente virou o rosto e nem viu a Veja.
A shakespeariana Kate Winslet demonstrou cansaço de Veja. “Prefiro a mídia alternativa”, suspirou cansada.
Fui embora da hostil Inglaterra indo para a mui gentil França. Irène Jacob tirou a roupa quando falei em Veja — entendera outra coisa — mas, quando soube de minha intenção, fechou os olhos, agastada.
Fiz o mesmo com Emmanuelle Béart. Ela me dispensou, horrorizada.
Pensei que a juventude sem preocupações de Laetitia Casta aceitaria ler a revista, mas ela ficou nessa posição lânguida e declarou que eu era velho demais. Fiquei ofendido.
Na Espanha, Penélope Cruz alegou dor de cabeça.
Dirigi-me à Itália, contudo Sara Tommasi não aceitou a Veja nem como revista de cabeleireiro.
Sophia Loren foi curta e grossa: “Mostre a Veja para a Alessandra Mussolini!”.
La Bellucci jogou mel nos olhos e, bem, tive de limpá-la. Gosto de mel.
Passando pela Sérvia, Ana Ivanovic mostrou-me o que faria se eu insistisse com Veja. Mal-educada!!!
Fui aos EUA em busca de gente republicana, mas Kim Basinger atalhou: “Não quero ficar mais deprimida ainda”.
Quando mostrei a Veja para a Gene Tierney, ela começou a recitar uns mantras esquisitos sobre paz e equilíbrio e seus seguranças me enxotaram.
Desci para Venezuela. Aida Yespica quis saber o que havia sobre Chávez na Veja. Observei seus seguranças atentos e nem mostrei a coisa para ela.
Sônia Braga deu-me as costas.
Voltei à Inglaterra e Helena Bonham Carter fez furos na revista com seu cigarro, enquanto eu ia ao banheiro. Desisti.
Post publicado originalmente em 15 de março de 2008
Porque hoje é sábado, Sara Tommasi
Pensaram me ofender chamando-me de machadiano
Disseram que eu só mostrava belas clavículas, narizes contra a luz e sombras
Uns braços
Que queria só arte
Mas, apesar de eu gostar de ser assim chamado, isso é uma mentira
Afinal, neste balcão
Gosta-se da arte e da carne
E gosta-se também da alma sob a carne
Pois não há como não gostar
Das gotas de suor que brotam da pele
Vindas sabe-se lá de onde
Se amamos a pele
A vida nos chega agrupada
em múltiplas consistências e significados.
Post publicado originalmente em 1º de março de 2008
Enéas de Souza: “O cinema foi minha verdadeira educação”
Enéas de Souza é tão multifacetado que precisamos alertar que esta entrevista não é sobre economia, nem filosofia, nem psicanálise. É sobre cinema. Porém, todas as faces que formam este grande humanista são inseparáveis. Suas críticas cinematográficas jamais deixam de lado o economista, filósofo e psicanalista. Então, o leitor deve reformular o início deste parágrafo. O cinema é apenas o ponto de partida.
Conversar com Enéas de Souza faz o tempo passar rápido. Muito culto, de trato fácil e gentilíssimo, ele fez com que nosso encontro ao final da tarde de quarta-feira fluísse de tal forma que o diálogo foi finalizado, sem que notássemos, em plena escuridão. O pretexto era o cinquentenário de seu livro Trajetórias do Cinema Moderno, publicado pela primeira vez em 1965 e que recebeu várias edições, revisões e ampliações nestas cinco décadas.
Eu possuía a edição original do livro. Enéas viu meu pequeno volume, foi à biblioteca e me presenteou com a última edição. Ela tem o dobro do tamanho do original.
Os leitores do Sul21, acostumados ao colunista Enéas de Souza, talvez estranhem o que seria um lado B do grande economista. Tentei preservar o tom coloquial que mantivemos na sala cheia de livros e DVDs do apartamento do entrevistado.
Sul21 — Como surgiu o livro Trajetórias do Cinema Moderno?
Enéas de Souza — De tanto ver filmes. Na época era assim. Passava um filme. Se tu não o visses duas, três, dez vezes na primeira semana, talvez nunca mais o visses. Às vezes, dois ou três anos depois, vinha uma reprise, mas não era garantido. É curioso, há muitos autores que eu adorava, mas que não estão nesse livro porque eu não tinha condições de revê-los. Hitchcock é um exemplo. Quando o Ruy Carlos Ostermann me convidou pra escrever o livro, eu tinha na cabeça alguns filmes que tinha visto recentemente. Outros não. Por exemplo: o cinema americano – que é uma filmografia de que gosto bastante — não tinha. Como é que eu ia escrever sobre Raoul Walsh, se não conseguia ver muitas vezes seus filmes? Então, era muito difícil escrever alguma coisa. Claro, a grande novidade que o livro possui é a de falar longamente sobre o cinema brasileiro. Na época, escrevia-se muito pouco a respeito. Por exemplo, sobre o Joaquim Pedro de Andrade, que eu gosto muito, não pude escrever porque tinha visto só uma ou duas vezes. Tudo o que é citado no livro veio de memória. Hoje, tu sentas e vê vinte vezes o mesmo filme em todos os detalhes. Na época não dava.
Sul21 – Aos 27 anos tu escreveste o Trajetórias. Eu queria que tu falasses um pouco da tua formação. Me conta como chegaste a ele.
Enéas de Souza — Na verdade eu sempre vi muito cinema, desde pequeno. Minha mãe me levava no cinema quando eu era guri. Meu pai gostava bastante de cinema também. A gente ia junto. Naquela época, as famílias iam juntas ao cinema. Meu pai gostava muito de música, adorava Chopin. Eu lembro que tinha um filme, À noite sonhamos... É uma cinebiografia de Chopin. Acho que o vimos um monte de vezes, porque ele nos levava sempre. A minha avó tocava no cinema mudo, era pianista. Então havia uma cultura cinematográfica na minha família. E eu era um grande vagabundo. Eu não queria fazer grande coisa. E cheguei à conclusão que seria uma boa ideia fazer Filosofia, pois a partir dela poderia pensar tudo, até o cinema. Aí fiz vestibular, passei e logo vi que era mesmo o melhor para mim. A primeira coisa que me inquietou muito foi o fato de que, na época, se dizia que o único pensar era a Filosofia. E eu combatia esta ideia. A obra de arte pensa, a música pensa e, obviamente, o cinema também pensa. Na época, muita gente dizia que cinema não era arte, por incrível que pareça. Foi aí que eu comecei a vincular meu passado histórico de ver cinema, a minha capacidade de poder de interpretar o cinema, à filosofia. Isso me possibilitou ver o cinema de uma forma um pouco diferente. O cinema era uma forma de pensar.
Sul21 — E a crítica?
Enéas de Souza — A critica de cinema em Porto Alegre da minha geração tinha uma presença muito forte nas publicações e na cultura do RS. Tem uma coisa importante nessa realidade: nós, no Brasil, tanto os cineastas quanto os críticos, viemos da literatura. Essa passagem da literatura para o cinema se fez por uma verdadeira pedagogia prática da cinematografia. A gente discutia e debatia muito. A Rua da Praia era um grande teatro de discussão, era a nossa ágora grega de Porto Alegre. A gente discutia no Matheus e na frente do relógio, na esquina da Ladeira com a Rua da Praia. O cinema tinha horários fixos – 14, 16, 18, 20 e 22h – era fácil de se encontrar. Saíamos do cinema e pronto. Eram 6, 7 ou 8 estreias na semana. Nós víamos todos os filmes. Então existia um ambiente cultural muito forte em termos cinematográficos. O Hélio Nascimento escrevia diariamente em jornais, o P. F. Gastal também. Eu escrevia na Revista do Globo. O Gastal abria espaço para nós escrevermos no Correio do Povo e depois na Folha da Manhã. Os outros eram o Goida, o Zé Onofre e outros. A gente vivia de cinema. Era um amor fantástico.
Sul21 – E a economia, como ela entrou na tua vida?
Enéas de Souza — Bem, isso foi muito depois. Na verdade esse período cinematográfico entra 1964 adentro. A derrota das forças políticas de esquerda e a ditadura transformaram a crônica cinematográfica. Ficou muito difícil escrever. Tínhamos muitos filmes que refletiam o movimento mundial de repensar o capitalismo. Descrever isso era um problema. Para tentar entender o que aconteceu com o Brasil, eu fui fazer Economia. Quando eu estava na Filosofia, comecei a ler textos do Celso Furtado. Foi ele quem me abriu as portas desta área. Então eu fiz Economia aqui na UFRGS e depois na Unicamp. Lá na Unicamp eu peguei a ‘’nata’’ dos economistas da época: a Maria da Conceição Tavares, o Beluzzo, o Antonio Barros de Castro e uma série de outros economistas importantes. O próprio Serra foi meu professor. A Unicamp era uma universidade que aproximava alunos e professores, sobretudo quando os professores moravam em Campinas. A gente ia na casa deles. Eu nunca estudei com tanto entusiasmo como nessa época. Fui para Campinas em 77. Em 79, voltei pra cá.
Sul21 – E a psicanálise?
Enéas de Souza — A psicanálise vem ainda depois. A questão da subjetividade não era incorporada nessas análises de economia. Mas me interessavam. Qual era a natureza do sujeito? E a sua expressão? Nada mais próximo da psicanálise do que a expressão, a palavra, o desejo… Todas essas coisas se misturaram, mas eu continuava sempre atento ao cinema, apesar de ter parado um tempo de escrever sobre ele.
Sul21 – Mas, com tantas atividades, a psicanálise não veio como diletantismo, não chegaste lá como autodidata?
Enéas de Souza — Essa é uma história muito curiosa. Eu fui pro Rio de Janeiro porque fora escolhido como diretor da Finep, financiadora de estudos e projetos, que é um órgão que apoia as universidades, a pesquisa universitária e também empresas que fazem renovação em pesquisas tecnológicas. Eu me interessava pela psicanálise, mas não tinha muito tempo nem sequer de ler. Acontece que eu passava tanto tempo em aeroportos, que comecei a ler os livros de Lacan. Quando fui a Paris nos anos 70, conheci Lacan. Eu era um cara da filosofia que gostava dele. Os outros meus colegas o achavam abominável. Assisti as aulas dele por um determinado período lá e achei o cara espetacular, de ideias interessantíssimas. Este amálgama todo me suscitou uma série de questões. Creio que a pessoa que se dedica à filosofia, deve se preocupar com todas as coisas. O movimento em direção à psicanálise e à política foi natural. Eu fui Secretário de Tecnologia, Sub-secretário de Desenvolvimento, mas, olha, te garanto que o cinema foi a verdadeira educação, uma possibilidade imensa de refletir sobre os valores do mundo, sobre as pessoas, sobre as relações humanas, sobre tudo.
Sul21 – Qual é a diferença do teu entusiasmo com cinema nos anos 60 e o que veio depois?
Enéas de Souza — Olha, o cinema tem um olhar e um pensamento muito fortes sobre a realidade contemporânea. Nunca perdi meu entusiasmo, porque através do cinema tu consegues enxergar as tendências que a sociedade está desenvolvendo, o nível das relações humanas, o nível das relações sociais e seus valores, de como eles vão se desenvolvendo. Digamos que o entusiasmo foi variando mas nunca diminuiu. Eu tive uma formação absolutamente singular, porque a minha formação foi Filosofia, mas aí o que é que eu fazia: eu começava a me preocupar sobre o que quer dizer o filme. Lia sempre o Cahiers du Cinéma. Lembro de um filme que me motivou uma grande reflexão, que foi A Marca da Maldade, do Orson Welles. Na revista tinha uma grande quantidade de trabalhos a respeito do filme, aquilo foi extraordinário. Na época em que nós começamos a discutir o cinema, acontecia o seguinte: os filmes levavam seis meses para chegar aqui. Então eu via o filme e eu lia o Cahiers depois. Lendo o Bazin e o Cahiers era inevitável criar uma metodologia de análise. O Cahiers foi a grande fonte. O Bazin foi um critico excepcional, ele tinha uma formação existencialista muito forte e a revista também tinha outros autores, que depois se tornaram grandes gênios do cinema, como Godard, Truffaut, Rivette, etc. Além disso, tinha um companheiro de geração um pouco mais velho que eles, que era o Resnais. Logo saiu o Hiroshima mon amour, que foi um sucesso. Eu lembro que o vi no cinema Ópera, entre a rua Uruguai e a Ladeira. O Hiroshima foi uma coisa de imenso impacto. Tinha uma utilização muito forte da palavra, com aqueles versos recitativos. Para tu imaginares o impacto disso, tens que considerar o contexto: havia filmes de detetive, de faroeste, tudo com muita ação e de repente aparece um cinema altamente poético, com as pessoas verbalizando versos líricos. Nós passamos dias discutindo Hiroshima.
Sul21 – O cinema é ideal como material de discussão. Por exemplo: uma pessoa média leva mais ou menos uma semana pra ler um livro. Um filme tem uma duração determinada e bem mais curta. É mais fácil de eu conhecer um filme em comum contigo do que um livro.
Enéas de Souza — Esta é outra vantagem, claro, a possibilidade de tu veres um filme em duas horas e de teus colegas terem visto mais ou menos ao mesmo tempo. Vimos o Hiroshima, saímos para a rua e havia pessoas discutindo a respeito. Agora, o filme que mais rendeu discussões e debates foi O ano passado em Marienbad, que era geométrico, matemático, cheio de dificuldades. Eu me lembro que, quando terminou o filme, eram mais de 50 pessoas no meio da rua em pequenos grupos. Os mais velhos estavam furiosos dizendo que aquilo era um absurdo. Nós, jovens, entendendo ou não o filme, adoramos.
Sul21 – Tu disseste uma vez que um filme exige muito mais que um romance ou artes plásticas.
Enéas de Souza — Provavelmente, o que eu queria dizer é que o filme tem múltiplas dimensões. Em primeiro lugar, ele é imagem visual. Para tu leres uma imagem visual, para decodificá-la, entender o que está escrito, tu tens que pegar muitos aspectos. A direção, as escolhas, a encenação, a montagem, os cortes. Então é bem complicado. Um filme é roteiro, encenação, filmagem e montagem. Além disso é sonoro, é imagem sonora. E no som tu tens o ruído, as vozes e a música. Ora, para tu captares tudo isso em movimento, a dificuldade é muito grande. Quer dizer: as pessoas muitas vezes se surpreendem quando eu digo que vi dez vezes um filme. Mas como tu viste dez vezes? Não encheu o saco? Eu digo que não, porque eu estou vendo outras coisas no filme. Ou seja, um filme é tão complexo que tu tens que ver várias vezes para entender cada uma de suas dimensões. A apreensão e a inteligibilidade dos filmes são difíceis de assimilar porque o filme passa rapidamente e muitas vezes tu não consegues captar tudo. Quando tu vês pela quinta ou sexta vez, já sabes o que os caras falaram e vês mais diretamente o filme. Então, o que eu estava querendo dizer com isso é que há muitos itens envolvidos, o que distingue o cinema da literatura e das artes plásticas.
Sul21 – O Robson Pereira diz que tu és um sujeito muito musical, mas, nas tuas análises, a música ocupa muito pouco espaço.
Enéas de Souza — Eu sou muito musical na generosidade dele. Voltando ao que eu disse antes: o cinema é imagem visual e imagem sonora, isso tudo ao mesmo tempo. Ele forma um bloco de sensações. Há, no entanto, uma prioridade sensível, que é a imagem visual. O que tu vês é o que te toca mais e a música entra sobretudo para acentuar ou dar o clima. Eu gosto muito de música, mas não tenho capacidade de perceber a música em todos os seus sentidos.
Sul21 – Um critico precisa ver quantas vezes um filme?
Enéas de Souza — Bom, aí é que está. Se tu és um crítico diário, terás uma dificuldade muito grande, porque tu vês uma vez e tem que escrever. O texto será quase um esboço de uma conceitualização. Tu estás no primeiro impacto, o qual é sempre muito forte. Por outro lado, tu não viste tudo. O Sartre dizia uma coisa extraordinária: ‘’A percepção é global e ao mesmo tempo individualizada”. Ou seja, nós apreendemos a cena como um todo e fazemos análises pontuais, só que essas análises pontuais são infinitas, porque vamos discriminando cada questão da imagem. Cada ponto da imagem tem centenas de perspectivas. Quando tu é um critico diário, tu tens somente a ideia principal do filme.
Sul21 – A crítica atual é muito baseada na sinopse, não?
Enéas de Souza — Sim, hoje, os caras descrevem o filme através de sua sinopse. Quanto tu vês um filme, vês o pensamento do autor na forma de imagem sobre determinada ideia, que pode ser a vingança, a saudade, a luta, a morte, o ódio, enfim, todas as temáticas humanas e ontológicas. Cada um fará isso de uma forma diferente. É importante referir-se sobre como essas coisas são mostradas. Como é que as ideias foram desenhadas, figuradas, expressas, encenadas, montadas. Para mim, montagem não é tu cortares o filme, pra mim ela já começa quando tu fazes a escolha do ângulo. A montagem é uma seleção. Eu seleciono o teu rosto, seleciono um objeto. O discurso narrativo em imagem e o som trazem a ideia. Um diretor botou uns ovos na cena… Bem, mas o que significam os ovos? E ele respondeu: não sei, botei porque senti necessidade de colocá-los ali naquela cena. E o que é a critica? A critica é tu desmontares essa máquina e ir além do que o cara pensou racionalmente, porque ele fez aquilo num impulso artístico. A grande virtude do crítico para o artista, é a de iluminar aquelas zonas das quais o artista não tem plena consciência de seus motivos. A mesma função tem o crítico para os espectadores. Tu vais ver um filme, tu sentiste o filme. Tu gostaste, não gostaste, não importa. Mas tu sentiste o filme. Mas tu não sabes muitas vezes teus motivos e o crítico pode te ajudar a dizer: olha, eu gostei por causa disso.
Sul21 – Tu gostas muito de cinema francês, não?
Enéas de Souza — Eu gosto do cinema que acho de boa qualidade. Eu não tenho uma prioridade nacional. Obviamente, eu gosto do cinema brasileiro. Nosso cinema tem nossa maneira de sentir o mundo, traz nossos valores. Por exemplo, um filme como Tatuagem é tremendamente sarcástico, extremamente zombeteiro, debochado e é extraordinário como cinema. Claro, provavelmente ele me toca desse jeito porque sou brasileiro, mas não quer dizer que não seja bom. É excelente. Sobre o cinema francês: Godard me toca muito. É um artista que está permanentemente refazendo ou ampliando o que fez. Seu último filme, Histórias do Cinema, me deixou embasbacado. O filme é feito em vídeo e nele é repensada toda a história do cinema, assim como a história do século XX. São oito divisões onde ele faz uma revisão do cinema e diz que o cinema é ressurreição. Há um momento extraordinário quando ele mostra o filme de King Vidor Duelo ao Sol. Este filme tem uma cena final em que é mostrada a incompatibilidade total dos dois personagens, que ao mesmo tempo se amam e se odeiam. E eles morrem amando-se. Godard pega a cena e corta e corta. Então a cena dá saltos, numa imagem cinematograficamente diferente da que criou Vidor. E, ao mesmo tempo, ele acrescenta uma cor mais vermelha, de paixão, de sangue. Há uma ressurreição na imagem que é reinventada.
Sul21 – Tu falaste no cinema brasileiro. O que tu tens a dizer a respeito desses filmes nordestinos que vieram agora e que de certa forma, na minha opinião, contrapõem-se ao estilo da Globo Filmes. Me fala um pouco sobre isso.
Enéas de Souza — É, eu acho que o cinema pernambucano está em grande movimentação e tem grande presença no Brasil. Eles têm a capacidade de fazer filmes diferentes, filmes distintos, que mostram grande pujança. Por exemplo, o caso do filme Som ao Redor. O filme é absolutamente extraordinário. Ele mostra a transformação da sociedade pernambucana a partir de uma determinada situação numa rua do Recife onde a expansão do capital imobiliário é fortíssima. E aquela rua começa a ter problema de assaltos. Os caras não são donos do capital imobiliário, estão a reboque do mesmo. E, na verdade, são as pessoas que vieram do engenho. O filme vai fazendo a desmontagem da gênese pernambucana do engenho. É o que Gilberto Freyre escreveu. E tu vais moldando a compreensão do que é Pernambuco. E isso se contrapõe à Globo no seguinte sentido: a Globo tenta uma estética, vamos dizer assim, bonita. Ali o Brasil é um país maravilhoso, cheio de pequenos melodramas, mas no fim todos somos felizes, somos todos vencedores.
Sul21 – Tu viste ‘’Que horas ela volta?’’
Enéas de Souza — Ah, pois é. Tem tudo a ver. Vi sim e gostei bastante. Não gostei da história, que é muito ‘’dilmista’’. Ela defende a ideologia que se aplicou recentemente: a de que os pobres que melhoraram de vida são classe média. Isso é uma mentira. Não existe isso. Agora, o trabalho da diretora é espetacular, tanto pictórica quanto cinematograficamente. Mas a história não me tocou de jeito nenhum. Gostei do trabalho de direção. A produção também é complicada. Por exemplo, os quartos: tu nunca vês as coisas completas, é tudo fragmentado. Qual é o tamanho dessa sala? Eu posso fazê-la pequena ou grande, eu posso fechar o plano, abrir o plano. Os personagens dizem suíte, mas a gente não vê a suíte.
Sul21 – Tu vais ao cinema ou vês filmes preferencialmente em casa? Como é que tu te relaciona com o DVD, o Netflix, etc.
Enéas de Souza — Para mim, cinema é tela grande e sala escura. Esse é o princípio geral. Agora, eu não tenho nenhum problema de ver em casa. Às vezes tu tens que ver em casa porque tu não tens condições de ir ao cinema ou o filme não chegou ao cinema. É claro que tu tens que ter uma capacidade de imaginação além do filme para sentir o impacto do trabalho. Me lembro que a primeira vez que eu vi em DVD aquele filme do Kubrick, 2001: Uma Odisseia no Espaço… Lembrava muito bem dos sentimentos que eu tive vendo aquele inicio com a música de Richard Strauss e todo aquele balé. Mas quando eu o vi na televisão, fiquei demolido. Felizmente eu percebi que era por causa da tela, não por causa do filme. Então tu tens que recompor o filme, pensar em qual o impacto que o diretor quis dar. Uma vez, eu tive uma discussão com o Goida. Ele era hostil aos VHS naquela época. Porque, além de tudo, o VHS deformava a cor e eu dizia para ele que preferia VHS – em que pelo menos tinha um vislumbre do que era o filme. Tem uma história que eu acho fantástica. Um escritor adorava uma cena de um filme de Fritz Lang. Aí foi ao cinema e a cena não existia. Ou seja, ele construiu outro filme. Nós reconstruímos filmes. As imagens vão ficando na cabeça da gente e… Assim como tu reconstróis o teu passado, tu reconstróis também os filmes que não consegues rever, que tu não viste há muito tempo. Quando ele escreveu isso, eu já tinha meio que percebido, mas não tinha conseguido transformar em palavras. Depois que eu li, pensei: pô, é isso mesmo! Então, é melhor tu teres um filme em DVD do que não teres. Mesmo antigamente, eu preferia ver o VHS do que ficar imaginando o filme. É mais fácil tu imaginares como o filme era a partir do esboço que aparece na tela do que simplesmente imaginar. A memória vai deformando. São raras as pessoas que têm essa memória com precisão.
Sul21 – A primeira vez que eu vi o filme ‘’O Cavalo de Turim’’ foi em DVD. Achei um filme menor. Depois quando eu vi lá na sala P.F. Gastal mudou tudo. Ele tinha todo um ritmo que me escapara.
Enéas de Souza — É, claro. E acontece o contrário, se tu viste muitas vezes o filme no cinema e depois vês novamente em DVD, é necessário recompor aquela imagem geral. Mas eu acho isso que é um problema da nossa geração, porque essa nova geração não vê muitos filmes em cinema, eles veem ou em DVD ou baixam o filme. Por exemplo: tu pegas um celular. Claro, ali tem a imagem, mas o tamanho da imagem é fundamental no cinema. Mesmo que o celular reproduzisse proporcionalmente o tamanho da tela, o impacto daquela fração do espaço da imagem em ti é diferente quando tu vês num celular ou quando tu vês num cinema. Além do mais tem a coisa do ritual. As pessoas mais velhas têm essa experiência. Uma cena de sexo, uma cena de guerra… Há emoções que tu só sentes literalmente quando estás no cinema. E também há a emoção de quem está a teu lado. Ela se transmite. O cinema é outra realidade, outro mundo.
Sul21 – Posso te fazer uma sacanagem? Se tu fosses para uma ilha deserta, o que tu levarias? Eu serei um carcereiro bonzinho, vou te dar uma sala de cinema particular e tu vais poder levar bastante coisa.
Enéas de Souza — É, isso é complicado. Com direito a me arrepender, eu levaria… Bem, levaria filmes de vários autores. Por exemplo, o Hitchcock tem vários filmes maravilhosos, mas pra mim o Vertigo [Um Corpo que Cai] é excepcional. Eu levaria uns quatro ou cinco dele, mas, se tivesse que levar um, levaria Vertigo. Eu levaria Hiroshima, mon amour. Talvez a nova geração não goste muito dele, mas para minha geração foi uma marca extraordinária. É um pensamento de uma realidade que eu vivi e foi maravilhosa. Eu levaria. Acho que, levaria algum filme do Tarantino. Seja Django ou Kill Bill, que acho um belíssimo filme. Do cinema brasileiro eu levaria o Glauber, Terra em Transe, um filme fundamental para a minha geração. É o único filme do Glauber de que eu gosto muito, porque marca exatamente o que se passou na época do golpe. Todo aquele movimento, aquela pouca inteligibilidade, aquele não entendimento entre os diversos grupos sociais. E, ao mesmo tempo, o fracasso das relações humanas, a dispersão social, enfim, esse filme é extraordinário. Eu levaria Histórias do Cinema, de Godard. Também A Estrada Perdida, de David Lynch. Um que tu deves amar é Don Giovanni, de Joseph Losey, baseado na ópera de Mozart, um filmaço.
Sul21 – E O Criado?
Enéas de Souza — É mesmo! Eu vi esse filme em Paris e logo fui visitar a Inglaterra. Casualmente, entrei num restaurante e percebi como é que funcionavam as coisas na Inglaterra. Um senhor chamou um garçom para pedir um cigarro, deu dinheiro para o cara. Nesse restaurante tinha um quiosque, mas o garçom demorou a entregar a encomenda. Eu estava bem na frente no comprador e consegui ver todos os gestos do cara. Depois de uns 10, 15 minutos, ele começou a procurar o garçom com os olhos e este, que estava longe, percebeu. Então ele se apressou, foi ao quiosque, comprou o cigarro e veio trazer para o cara que estava inquieto. Ele chegou perto do comprador, fez um gesto super gentil, da mais alta classe, abriu uma caixa, botou um cigarro para fora e disse uma frase gentilíssima. É o filme do Losey. O garçom, na verdade, é quem manda e organiza as coisas, se quiser. Ou seja, eu tinha visto o filme ontem e fui para a Inglaterra. Quando cheguei lá, o filme se repetiu.
Sul21 – Voltemos à lista.
Enéas de Souza — Bem, Bergman. Sarabanda é um filme notável. Persona eu acho muito bom. Para dizer a verdade, eu gosto de quase tudo do Bergman. Um grande filme é O Circo, que é uma das obras que mais me impactaram. Mas levaria Persona. E quase todos os outros. [risadas] Eisenstein, apesar de eu achar que é um cinema muito elitista, também é um cinema com um trabalho formal absolutamente notável. Ele é brilhante. Eu levaria também algo do Howard Hawks. O cinema americano tem um lado negro, a questão da justiça. Como é que se impõe a lei. O Tarantino pega um pouco disso. Django é um exemplo. Este filme pergunta: como é que se instaura a lei numa terra sem lei, onde a violência e a prepotência mandam.
Sul21 – Nem entramos na França e na Itália…
Enéas de Souza — Alguns filmes do Truffaut… Eu acho Jules et Jim admirável. Visconti… Morte em Veneza é genial. Eu vi o “making of” dele. São pequenos detalhes que transformam o filme, tornando-o brilhante. Do Fellini… A Doce Vida e Oito e Meio são filmes que eu certamente levaria.
Sul21 – Meu deus, e Antonioni?
Enéas de Souza — Eu sou vidrado no Antonioni. A Aventura é um dos maiores filmes que vi. A cena final entre a Monica Vicci e o personagem masculino é brilhantérrima, porque o cinema se faz com pequenos gestos e ali são os gestos que vão construindo a narrativa. Tu vais sendo envolvido por aquela dimensão sensível que te emociona profundamente. Aquela cena final é brilhante. Gosto muito de A Noite e de O Eclipse. Antonioni foi um tremendo cineasta. Gosto também do Bertolucci. Os Sonhadores é muito interessante e Beleza Roubada é muito bom também. A relação de um cara que tem AIDS e de uma menina que busca saber a sua origem. Manoel de Oliveira… Acho esplêndido o Cinema Falado. A carta também. Mas, voltando para o Brasil… Gosto do João Moreira Sales, do Eduardo Coutinho. O Moreira Sales tem dois filmes extraordinários, que é Nelson Freire e Santiago, que é um filmaço. Do Coutinho, o Edificio Master é muito bom. Eu levaria este ou o Cabra, que também é muito bom. A capacidade que o Coutinho tem de pensar o cinema, as relações entre diretor e entrevistado, é impressionante. E como ele tem empatia e, ao mesmo tempo, uma certa distância para com os personagens. O Últimas Conversas tem aquela cena final com a menina. De repente brota alguma coisa entre os dois. O Coutinho estava enfadado daqueles adolescentes e a menina altera completamente o contexto. Ela é altamente espontânea e o final é brilhante, porque ele vai se despedir dela com um aperto de mão e ela bate na palma da mão dele como no esporte. Aquilo é completamente imprevisto. Surge dali uma dimensão poética emocional lúdica, algo surpreendente e eles seguem. Ele tem essa capacidade de captar um instante e aproveitar isso. Então eu gosto muito dessa cena, sobretudo.
Sul21 – O que faz o crítico em meio a toda esta opulência cinematográfica – falo de qualidade e quantidade.
Enéas de Souza — A dificuldade do critico do cinema é que tu não consegues ver tudo de todas as filmografias. Por exemplo: sei muito pouco do cinema africano, do cinema asiático idem. E mesmo do cinema latino-americano! Eu me lembro da primeira vez que fui à França, no final dos anos 60. Eu vi um monte de filmes que eu jamais tinha ideia que existiam, era o cinema do leste europeu. Havia filmes fantásticos dos quais eu não tinha nenhum conhecimento. Tem uma coisa que o Borges diz que acho curiosa e que, bem, quem sabe?: “Provavelmente o grande escritor do século XX seja alguém do meio da África que nós nem sabemos quem é e que refletiu melhor o século XX do que nós fizemos até hoje”. Hoje eu vejo alguns filmes notáveis e penso se não serão eles os grandes filmes que vão marcar nossa época.
Sul21 – As mudanças de suporte podem criar outros clássicos com rapidez nunca vista.
Enéas de Souza — O cinema é tecnologia e essas transformações tecnológicas mudam completamente a realidade do cinema. Hoje há essa capacidade de ver cinema no youtube, no celular, é tudo diferente. Há uma dispersão na reprodução. A questão do cinema é MUITO mais do que a encenação, é o que significam as imagens. Nós estamos em uma época muito complexa – e que ficará ainda mais dispersa e complicada – e é difícil imaginar o que vai atravessar nossa época. Lembro que achava alguns filmes maravilhosos, mas, com o passar do tempo, eles foram esquecidos, não sei se para sempre.
Bom dia, Argel (com os melhores lances de Inter 2 x 1 Corinthians)
Argel, quem não sabe que o futebol é assim, que nem sempre o melhor ganha? O Corinthians é mais time do que o Inter e ainda tem, sistematicamente, o auxílio da arbitragem. Estava invicto há 17 jogos, só que ontem perdeu para um Inter dedicadíssimo e atento. Para fechar imediatamente o triste capítulo do árbitro, é só dizer que o homem não deu um pênalti claro em nossa primeira chance de gol no jogo (veja abaixo nos melhores lances).
INTERMEZZO
O Corinthians é melhor que o Inter apesar de ter uma folha de pagamento menor.
FIM DO INTERMEZZO
Apesar de termos jogado muito bem, foi um jogo com fortes indicações de derrota para o Inter. Era o esperado. Os paulistas saíram na frente com um gol de Malcom e, logo depois, começaram a tomar conta da partida com seu toque de bola muito mais qualificado que o nosso. Então — corajosamente, pois o time estava desfalcadíssimo –, tu, Argel, tiraste Wellington Martins para colocar Lisandro Lopez. E conseguimos ficar mais ofensivos num jogo de muita marcação e poucas oportunidades.
Seria um exagero culpar Paulão pelo gol. A bola bateu nele e enganou Allison, mas o zagueiro estava no lugar correto, tentando impedir a passagem da bola.
Tua palavra no vestiário, Argel, faz efeito. Entramos no primeiro e no segundo tempo em cima do Corinthians. E jogamos bem, nunca saímos do bom nível, com atuações monstruosas de Nilton e Dourado, Alex e Valdívia, Réver e Ernando, este fora de sua posição. Até Paulão jogou bem. No segundo gol, baixou um ponta direita das antigas nele. Ele simplesmente deu uma meia-lua no atarantado Edílson, foi à linha de fundo e cruzou para a bomba libertadora de Valdívia.
Destaque absoluto para a nossa bola aérea. Com tantos caras grandes, temos mesmo que explorá-la e tu não tens preguiça de treinar, o que é uma novidade no Beira-Rio. Siga assim, por favor. Há muitas faltas pelos lado do campo e a gente tem que fazer valer nosso centímetros a mais. Parabéns, Argel. Foi uma convincente vitória sobre o líder.
https://youtu.be/8hv3Faq7K3A
O dia em que meu avô enfrentou a ditadura
Para meus filhos Bárbara e Bernardo Ribeiro
Da minha perspectiva, meu avô João Cunha, pai de minha mãe, sempre foi um homem muito velho. Nascido em 1888, tornou-se pai de minha progenitora em idade madura, aos 39 anos. Eu, por exemplo, já tinha dois filhos aos 39. Quando nasci, ele já ia pelos 69. Viveu até os 81 anos, idade suficiente para que eu mantivesse bastante contato com seu Mal de Alzheimer. Porém, em 1º de abril de 1964, aos 76 anos, o velho João Nepomuceno Cunha teve uma dessas janelas de lucidez que ocorrem aos que não estão no estágio terminal da doença. Naquele dia, ele compreendeu perfeitamente que o país fora vítima de um Golpe Militar. E resolveu agir para impedi-lo.
Vestido de pijamas, saiu de casa sem que minha vó notasse e dirigiu-se ao quartel mais próximo. Importante dizer que a família de minha mãe é de Cruz Alta e que, a algumas quadras da casa de meus avós, havia um enorme quartel, ao menos na minha ótica infantil. Para lá foi meu avô. Então, com gestos enérgicos, iniciou aos berros um violento discurso. Chamou os militares à ordem com as palavras fortes que fazem parte do folclore familiar e que iniciavam assim:
— Parasitas da nação!
E depois passou a desafiar os milicos, sempre aos gritos. O pessoal do quartel ficou em dúvida se deveria prender meu avô. Na verdade, prendê-lo era complicado. Em primeiro lugar, por ser um velho doente; depois, por ser uma figura muito conhecida e respeitada na cidade. Além de ser o construtor de muitíssimas das casas de açorianos da cidade, ele fora um importante maçom, tendo chegado ao mais alto grau na organização. E, na época, ser maçom era dispor de uma inesgotável reserva moral…
O comandante do quartel resolveu ligar para meu tio João Cunha Filho, dando-lhe um ultimato.
— O seu pai está aqui na frente do quartel acusando os militares de quererem entregar o país aos americanos e outras bobagens.
— Como? O Sr. tem certeza que é ele?
— Sim, ele está vestindo pijamas e já tem uma plateia de imbecis ouvindo, aplaudindo e rindo de nós. Nós teremos que tomar providências, a menos que o Sr. venha AGORA a fim de levá-lo para casa.
E lá foi meu tio, em pânico, salvar seu velho pai das garras dos militares. Enfiou-o em seu carro sob vaias dos populares que queriam ver e ouvir mais. Foi um momento de glória para toda nossa família.
Antes de mergulhar nas brumas definitivas da doença, ele ainda alternou bons e maus momentos. Nos bons, sentava-se em sua cadeira de balanço para recitar de memória poesias de Casimiro e Machado. Eu achava aquilo muito estranho, mas notava a beleza. Nos maus, ele me perseguia com pedras na mão pelo quintal do pátio. Depois, era advertido aos berros por minha avó e literalmente chorava, dizendo que não reconhecera seu neto.