O vulcão Eyjafjallajokull aqui em casa

A Bárbara faria sua primeira viagem à Europa. Acompanharia sua mãe num Congresso em Praga e depois iria à Paris. Viajariam no dia 21. Mas tudo foi cancelado. Ontem à noite, ela estava chorando no quarto, uma pena.

A única notícia boa do vulcão seria um possível esfriamento do planeta, porém as últimas notícias dizem que nem isso ocorrerá: ele só é suficiente para provocar caos. Leio que há passageiros em pânico. As companhias aéreas deixarão de pagar hoje suas estadas nos hotéis — seria uma espécie de “Prazo Esgotado — Agora vire-se por si mesmo” — , e eles, em final de viagem, estão sem grana e com os cartões estourados.

A grande nuvem agora ameaça ir para o Canadá. Nos séculos passados, isto seria apenas uma erupção, nem sonharíamos com as consequências. Hoje, a gente é informado, fica paranoico, previne e dá palpites sobre o que desconhece… Melhor hoje.

Abaixo, uma foto do aeroporto de Hamburgo hoje pela manhã. Ninguém avisou o sujeito?

Beethoven – Sinfonia Nº 7, Op.92, 4º mvto, Allegro con brio

Durante esta semana, escrevi que faltava elã à OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre), que a postura da orquestra era desidiosa e desmotivada, fato talvez causado por enormes e repetidos equívocos de repertório, os quais obrigam, por exemplo, a orquestra a comemorar repetidamente os 200 anos de Schumann e quase ignorar os 150 de Mahler, compositor, aliás, esquecido pela orquestra há anos… Coisa triste. Então, vamos ao outro extremo: o primeiro comentário a este vídeo do YouTube é They sure are having fun!! (…) Great Berlin Philharmoniker!!

160 estações de rádio tocando música erudita 24h por dia, 7 dias por semana

Já que estamos no terreno da música… Vamos a um post informativo. O site com a lista e links das estações está no final do texto. Por exemplo: encontrei uma rádio polonesa que toca exclusivamente Bach, sem parar nunca. Confira a explicação, retirada da página da emissora:

Przez 24 godziny na dobę, 7 dni w tygodniu oferujemy twórczość Jana Sebastiana Bacha. Słowo “Bach” w języku niemieckim oznacza strumień, potok i takim nurtem muzycznym nadaje nasze Radio B.A.C.H. W zależności od nastroju wybierz kanał, który najlepiej “nastroi” twoje samopoczucie.

Claríssimo, não? Godziny deve ser “horas”, não? E dni , “dias”, é claro. Tygodniu seria semana? Oferujemy deve ser “oferecemos”; muzycznym seria talvez “música”, “músico” ou “compositor”; strumie obviamente não é “estrume” e sim “instrumentos” e kanał, “canal”. Entendemos tudo! Viram como sei polonês? Nem tomarei processo dessa vez! (Epa, rimou). Mas tergiverso…

Tenho certeza absoluta de que o mestre, um austero trabalhador e pai de vinte filhos, detestaria ser chamado de Jana Sebastiana — nome de comadre paraibana. (Epa, de novo). Mas sacanagem é colocarem nele um sobrenome de economista tucano.

E aqui, nesta página, está a relação de 160 estações de rádio espalhadas pelo mundo. Todas disponíveis na rede e dedicadas aos eruditos. Boa navegação!

Com especial predileção e amor por esta aqui.

Milton Ribeiro entrevista PQP Bach

MR: Como começou o blog PQP Bach?

PQP: Olha, o PQP começou como um spam para os amigos. Eu sempre fui um distribuidor de música e livros… Na adolescência, uma admiradora me chamava de “o guri dos discos” porque eu estava sempre levando discos para alguém ou trazendo de volta para casa. Então, alguém me pedia um CD e eu convertia para mp3 e mandava. Depois, passei a mandar para um grupo de conhecidos interessados em música. Alguns poucos agradeciam, outros silenciavam. Mas dois dias depois, eu ia no rapidshare e via que mais de 20 tinham baixado o CD. Era uma popularidade incrível (risadas…). Aí, pensei que seria legal deixar disponível para a blogosfera, apesar da blogosfera ser pouco musical…

MR: A blogosfera não é musical?

PQP: O mundo é muito pouco musical. Ou raramente ouve música de qualidade, óbvio. A porcaria grassa.

MR: Espere! Vamos por partes. A gente já falou superficialmente sobre popularidade e já estamos na qualidade. Voltemos à popularidade. 20 downloads em 2 dias?

PQP: Isso naquela época. Hoje, há 20 downloads em duas horas. Sei lá como os caras descobrem as postagens. Talvez pelo RSS. O que sei é que os caras se atiram em cima. Chego a me sentir mal quando não postamos um CD por dia. Temos que alimentar essa gente! Hoje, postamos mais de um por dia, em média.

MR: Por que vocês fazem este, digamos, serviço?

PQP: Sinceramente, não sei. Desconheço o motivo de algumas pessoas fazerem blogs anônimos para distribuir a música que gostam. Nunca ganhei nada fazendo isso. Talvez seja uma manifestação de minha culpa por possuir uma obscena quantidade de discos de vinil, uns 1200, uma cedeteca enorme e gigas de mp3. É nojento e obsceno ser dono de tudo isso. Dou muitos de meus CDs com músicas repetidas e que acho que não vou mais ouvir. É necessário e, para ser politicamente correto, ecológico reaproveitar esse material precioso, muitos deles fora de catálogo. Mas, internamente, eu não vejo a coisa pelo lado da generosidade ou da solidariedade. Talvez a coisa toda se resuma na necessidade que tenho de conversar e dialogar com pessoas que tenham interesses parecidos. Então, ofereço o que tenho e os caras aparecem.

MR: Então os comentários são fundamentais ao blog.

PQP: Pô, sem dúvida. Eu quero e busco o papo. Temos que nos unir de alguma forma. Acho que a cultura relevante está se tornando coisa de especialista. E isto também na literatura. Os amantes da literatura de primeira linha tem que ir ao blog do Sérgio Rodrigues ou a alguns outros poucos para ler algo mais atualizado sobre o movimento editorial. É irritante. Não há uma crítica literária ou musical que seja pública. Os cadernos de cultura estão tomados por uns caras chatos pra caralho – exceção feita à Rascunho. Parecem uns acadêmicos precisando de mais titulação. Ninguém fala para o leitor comum nem para o conhecedor. Quem lê aquela merda mesmo?

MR: Sei lá. Meu maior ídolo literário é Tchékhov. Conheço profundamente o cara. Dia desses, li um sujeito que tornava Tchékhov um chato, ou que parecia… parecia que suas teses sobre Tchékhov poderiam se aplicar a qualquer outro escritor. Era um troço dificílimo de ler, todo verboso e intrincado. Mas, quando reli e tentei entender… era uma idiotice sem conteúdo, sem direção, merda pura. O cara não dava opinião, parecia um tucano em cima do muro. Era “correto”.

PQP: Sim, o vazio intelectual está presente também na música. Procuro escrever de forma sempre compreensível, ou copio caras que escrevem de forma clara e também meio irreverente e acessível. Porque Beethoven e Bach e Mozart e esses gênios não foram pessoas reverentes ou politicamente corretas. A partir do momento em que alguém tem algo a dizer — e eles tinham, como pensar que não? — , algo para expressar, eles vão provocar concordância ou não, consonância ou dissonância. Só a mediocridade provoca reação nenhuma. E hoje ser controverso é uma ofensa. O bom é ser incontroverso, ou seja, comum, medíocre, produtor de coisinhas inodoras.

MR: É, você tem razão. Mas como surgiram seus companheiros de blog?

PQP: Olha, não conheço nenhum deles pessoalmente… E um é de Porto Alegre, veja só. Primeiro veio o FDP Bach, um cara de Blumenau que conheci no Orkut. O que eu apreciei logo nele é que ele gostava da música que para mim é quase nada, a romântica. Ele vinha com os Chopins, Rachmaninovs, Liszts e assemelhados da vida e via transcendência naquilo… Quando vi que não daria conta das postagens quase diárias que hoje fazemos, pensei nele. Eu não queria um segundo eu que postasse as mesmas músicas. Queria outra personalidade, queria um diálogo com alguém diferente. E ele é um cara perfeitamente maduro, compreende que somos diferentes. O Blue Dog veio pela enorme capacidade que o cara tinha de descrever música. Uma vez, pedi que o Blue Dog desse uma noção de jazz para meu filho. Passou uma semana e o cara me mandou um e-mail com mais de 20 páginas e mais dois CDs pelo correio. Uma coisa brilhante que o cara fez improvisadamente, na hora. Um absurdo a inteligência e capacidade do cara. Não tive outra escolha. Adoro jazz, claro, e o Blue Dog gosta de meu ídolo Charlie Mingus. Era uma escolha lógica. Este foi o núcleo inicial. Depois, dentro do mesmo critério, vieram o CDF Bach – música moderna – , o Ciço Villa-Lobos – música brasileira –, o Marcelo Stravinsky e o Carlinus – tudo e mais um pouco – e o Avicenna, que faz um belo e inédito trabalho sobre a música colonial brasileira. Todos partem destes pontos, mas podem postar o que quiserem.

MR: Vai entrar mais gente aí?

PQP: Não sei. Provavelmente sim.

MR: Podemos voltar à questão da qualidade?

PQP: Sim, como?

MR: (risadas) Ora, como vocês escolhem as obras? Há uma coerência? Um plano?

PQP: Não, de modo algum. A regra é agir sem estresse. Ninguém corre para atender pedidos e nem para postar. Faz quando quer. Meu critério é o de postar o que ando ouvindo. O PQP não é um curso de música ou uma sistematização para formar uma discoteca básica para nosso público (risadas), faço uma bagunça mesmo. Não me preocupo com os pedidos, a não ser que o cara acerte em cheio ou perto a música que estou ouvindo. Acho que os outros também agem assim.

MR: Então vcs só ouvem música de qualidade?

PQP: Olha, talvez sim. Posso falar por mim: não sou mais um jovenzinho, não posso perder tempo com porcaria.

MR: Pois é, isso é incrível. Dia desses, um amigo me pediu para ler o Marcelino Freire, uma bosta de escritor nascido nos blogs. Eu não quis ler. Disse que preferia seguir lendo a obra de Bolaño e Freud.

PQP: Ah, é óbvio. Sim, eu li aquela menina gaúcha. Blogueira, Clara….

MR: Averbuck?

PQP: Sim, li um livro dela e uma tradução que ela fez de Swift.

MR: Bem, você é masoquista. Isto é uma novidade. Os ouvintes do PQP jamais imaginariam…

PQP: (risadas) É, era tão ruim que fiquei fascinado… Nem chega a ser kitsch, é pré-kitsch, pré-escrita, pré-antigo, pré-rupestre.

MR: Mas, voltemos à questão da qualidade e de vcs ouvirem só boa música.

PQP: Não, eu não ouço só música de qualidade. Há muita porcaria e eu posto no mesmo jeito. Digo que não gostei, posto porque alguém pode gostar ou querer conhecer. Não sou politicamente correto, não fico só elogiando. O politicamente correto implica, NECESSARIAMENTE, em concessão.

MR: As gravações vêm do teu acervo de CDs comprados?

PQP: Sim, uns 70%. Apesar do preço absurdo, ainda compro CDs. A Amazon vende usados. É uma boa e sou um pouco fetichista. Gosto de girar o CD nas mãos enquanto ouço. Gosto de ler os libretinhos, as opiniões, a história, as circunstâncias, o escambau.

MR: Daí, o acervo, a tal cedeteca.

PQP: Claro.

MR: O PQP tem textos.

PQP: Sim, e é o que mais gosto nele. A música se consegue. Uma opinião, mesmo uma bem imbecil, vale muito, principalmente se o leitor conhece pouco, se não tem vivência. Acredito que se aprende a ouvir com os outros, com o contato. O contato motiva, certo?

MR: Certamente. Cria um ambiente propício. Deixa a pessoa mais ligada, talvez.

PQP: Sim.

MR: Onde você aprendeu tanto sobre música?

PQP: Veja bem, eu não sei nada. Não leio partituras nem toco nenhum instrumento. Sou um fenômeno do século XX e XXI: sou um ouvinte. Um cara que pode ficar 12 horas ouvindo continuamente música, um gênero de pessoa impossível nos séculos passados. Aprendi muito sobre história da música — consulto muito pouco quando escrevo minhas pequenas introduções, gasto um tempo mínimo — , aprendi lendo e ouvindo. Mas os músicos elogiam o blog deste ignorante. De tanto ler e ouvir, posso ter desenvolvido alguma sensibilidade. Já não sei onde aprendi isto ou aquilo, onde aprendi e reconhecer isto ou aquilo, devo estar sempre pecando contra o rigor e a precisão, cometendo absurdos, mas os leitores são bonzinhos e deixam passar… Mas meus erros provém de convicções desenvolvidas ao longo dos anos, de meus gostos e sentimentos, então são convincentes! Tá pensando o quê?

MR: É importante ser convicto, mesmo que equivocado! (risadas) E a questão das interpretações com instrumentos autênticos?

PQP: Olha, cada época tem seus instrumentos e sua forma de interpretar. O importante não é utilizar os instrumentos de acordo, mas não misturar. O Celibidache toca a Missa de Bach e é brilhante, tudo com instrumentos atuais. Ele tem o direito, ele tem o que dizer sobre a Missa. E ele, assim como qualquer outro, não está proibido de tocar, desde que possua senso de estilo e que saiba “criar beleza”, por assim dizer. Assim como as interpretações do Leonhardt, do Harnoncourt e do pessoal do Musica Antiqua, que só usam instrumentos originais. O que não pode é o cara que usa instrumentos atuais fazer uma coisa hesitante e sem estilo, como o Karajan fazia quando tocava Bach ou Vivaldi. E nem pode o cara da instrumentação original pensar que está livre de interpretar a música. Normalmente, a gente é indulgente com o sujeito que respeita a sonoridade de época. É ridículo! O executante tem que tentar tornar a coisa interessante sempre!

MR: Sim, e é muito empobrecedor para nossa época pensar que não podemos renovar e demonstrar novas riquezas na música do passado.

PQP: Claro, isto é o mesmo que dizer que Glenn Gould era um inútil. Ele passou a acentuar notas e coisas que eram antes ignoradas. Ele acabou com a Landowska… Ele, com um piano moderno, virou tudo de cabeça para baixo. Ele criou a interpretação monumental do Hantaï para as Goldberg. Ou seja, ele criou o cara que veio a superá-lo. É óbvio.

MR: Mais diálogos.

PQP: Sim, claro. Tudo é assim. A gente sobe nos ombros dos visionários, como dizia Newton. Não tu, falo do Newton com “N”. Do Isaac.

MR: Um epígono dos muitos que tenho…

PQP: (risadas) Por falar em epígonos, fomos copiados no PQP.

MR: Ah, eu vi. Um guri copia o post inteiro para seu blog e não diz quem é o autor.

PQP: Pois é. É a putaria da Internet. Não custa nada fazer um link dizendo: olha, copiei daqui.

MR: Para terminar, e os muitos links expirados?

PQP: Olha é impossível manter mais de 1500 posts com os links ativos. As gravadoras mandam tirar. Não podemos ser um repositório ou uma biblioteca de música. As pessoas têm de baixar logo. É uma caçada, a gente deixa disponível ali; então, vêm uns caras vindos do éter e detonam com parte da coisa. É horrível.

MR: Bom, vamos acabar o papo. Podemos fazer aquela frescura do Questionário do Proust?

PQP: Bernard Pivot? Tu gosta daquele questionariozinho… Putz, mas não garanto nenhum brilhantismo.

MR: Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

PQP: A incapacidade de colocar-se no lugar de outro. A falta de empatia.

MR: Como gostaria de morrer?

PQP: Sonhando.

MR: Qual é seu estado mental mais comum?

PQP: Um tumulto generalizado. Muitas coisas por fazer. Atraso. Preocupações. Estresse.

MR: Qual é o seu personagem de ficção preferido?

PQP: Adrian Leverkühn ou eu mesmo.

MR: Qual é ou foi sua maior extravagância?

PQP: Não sou nada extravagante. Mas acho que uma biblioteca ou uma cedeteca grande é uma extravagância, não?

MR: Qual é a pessoa viva que mais despreza?

PQP: Desprezo são algumas atitudes, omissões. Ninguém é 100% desprezível.

MR: Qual é a pessoa viva que mais admira?

PQP: A mesma coisa, admiro atitudes, posições. Não existe alguém 100% admirável!

MR: Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

PQP: Num CD Player ou numa daquelas luzinhas de ler à noite. Ou em qualquer cara rico, heterossexual e de bom gosto.

MR: Em quais ocasiões costuma mentir?

PQP: Eu exagero as histórias que conto. Elas se tornam outra coisa.

MR: Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

PQP: Um jantar com Mônica Bellucci; ao fundo, as suítes para violoncelo de Bach. Depois do jantar, em local mais confortável e horizontal, uma Cavalgada na Valquíria, mas sem a música, só com o espírito dela.

MR: Qual é seu maior medo?

PQP: O de tornar-me um peso para os outros.

MR: Qual é seu maior ressentimento?

PQP: Tenho ressentimento contra a injustiça do tempo, de não ter tempo para tudo, de envelhecer, de cansar.

MR: Que talento desejaria ter?

PQP: O de adivinhar os pensamentos das mulheres. (risadas)

MR: Qual é seu passatempo favorito?

PQP: Ouvir música, ora.

MR: Se pudesse, o que mudaria em sua família?

PQP: Daria um velho riquíssimo e moribundo à minha mãe. Bem moribundo e apaixonado. E, fundamentalmente, generoso.

MR: Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Dizer que os miseráveis não sofrem tanto, que se acostumam a sua situação. E deixar assim.

MR: Onde desejaria viver?

PQP: Numa Porto Alegre mais culta e menos quente. Numa cidade com mais teatros, música e literatura. Numa cidade que mereça esta denominação.

MR: Qual a virtude mais exagerada socialmente?

PQP: A inteligência. Pois a pessoa precisa ser mais completa, né?: deve ser um pouco inteligente, um pouco solidária, um pouco atenta aos outros, não deve mudar demais face às circunstâncias nem ser egoísta, deve ter reações adequadas e calmas, etc. Mas o cara que é só inteligente é o mais admirado.

MR: Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

PQP: A serenidade, como tu escreveu dia desses. Ela é alegria, tranqüilidade, clareza e… E?

MR: Sabedoria.

PQP: Tudo numa só palavra.

MR: Foi Marcelo Backes quem escreveu isso. Não fui eu. Concordo com ele. Qual é a maior das músicas?

PQP: Hoje, a Oferenda Musical de Bach. Amanhã, pode ser outra.

MR: E os cinco maiores compositores?

PQP: Meu pai, Brahms, Beethoven, Bartók e Mahler.

MR: Quando e onde você foi mais feliz?

PQP: Acontece muito quando ouço música.

MR: Acabou.

PQP: A entrevista? Nem doeu muito.

MR: Ótimo.

Fossati deve ser racista!

É a única explicação que encontro para a não-titularidade de Andrezinho. D`Alessandro, Giuliano, Edu… todos branquinhos. O time ganha vida cada vez que Andrezinho entra em campo. Ou será que Fossati não viu Inter 2 x 0 Ipiranga? Andrezinho é o única cara contundente naquele time delicado.

Preconceito (Orlando Silva)

Eu nasci num clima quente
Você diz a toda gente
Que eu sou moreno demais
Não maltrate
O seu pretinho
Que lhe faz tanto carinho
Que no fundo é um bom rapaz

:¬)))

Manga está de volta

Eu sei, são coisas de um louco por futebol: foi sincera minha alegria ao saber que o Inter, hoje, contratou Manga como relações públicas, com a finalidade de buscar novos sócios. Talvez não tenha havido um ícone colorado que tenha criado uma aura de invencibilidade como Manga. Na década de 70, ele foi o mais perfeito, falho, fantástico e problemático dos homens, ganhava tudo o que podia em campo, depois perdia todo o seu salário em torno de uma mesa de jogo. E gostava de uma cerveja como poucos, apesar da forma atlética de guri, mesmo aos 40 anos. A diretoria reclamava dos cobradores. Sei que havia dívidas de jogo que eram pagas pelo presidente Eraldo Hermann em sua loja Hermann — Materiais de Construção, espécie de Tumelero da época. O que fazer? Pagar, ué.

(Vejam os dedos tortos de Manga na foto acima, resultado de fraturas ignoradas pelo grande goleiro). Quando penso nas defesas daquele Inter x Cruzeiro de 1975, feitas bem na minha frente, custo a me dar conta de que aquela partida decidia o primeiro Campeonato Brasileiro de um clube gaúcho. Eu estava na social, próximo à estripolia. Como não tinha levado rádio, ignorava que Manga tinha quebrado um dedo e encarei como uma brincadeira o que mostro abaixo:

Na hora, não achei nada engraçado. Na verdade, fiquei puto com a total irresponsabilidade de nosso goleiro. Lembrei que, em 1966, ele tinha acertado um tiro de meta na cabeça de um russo em pleno Maracanã e que a bola entrara em seu gol. Todos os fantasmas de quem nunca fora campeão passaram pela minha cabeça de 18 anos até que Manga voltou a ser a estrela do jogo. Nelinho ia bater uma falta. Certamente, tentaria dar aquele efeito miraculoso de sempre, só que…

… , caralho, era o dia de Manga. E todas as decisões que o vi jogar no Inter eram dias de Manga. E agora este goleiro monstruoso estará de volta a Porto Alegre. Estará de volta para jogar, vai entrar em campo? Claro que não! Mas a contatação de Manga eleva o clube a outro patamar. É coisa de clube muito grande. Explico.

Se o Inter trará um perdulário problemático para Porto Alegre tanto se nos dá. O que importa é que é uma honra para o atleta e uma atitude de clube grande e grato as contratações de Clemer e agora a de Manga. Um clube que não reconhece sua história começa cada temporada do zero, é um clube pequeno. Manga não fará Abbondanzieri jogar mais e talvez nem consiga tantos sócios, mas quando os jogadores e torcedores o virem, saberão que há gratidão e respeito no clube que amam. Aquele senhor de 72 anos — que parece nunca ter falado direito nossa língua após sua passagem pelo Nacional de Artime — estará lá para comprovar. Dá-lhe Manguita Fenômeno!

Obs.: O Ramiro Conceição me faz lembrar de um fato que não expliquei no post. Manga estava morando no Equador, onde o Inter joga hoje. Estava desempregado, passando por dificuldades financeiras. O Inter soube e criou um emprego útil para o clube e para um de seus maiores jogadores em todos os tempos, o qual estará agora numa melhor situação de vida.

Tudo em doses homeopáticas, até a cerveja

Há noites em que nada acontece e há outras em que tudo acontece no mesmo horário. Ontem, eu receberia uma pessoa aqui em casa às 19h, neste horário começaria um debate sobre a ficção de gênero na Palavraria. Meu compromisso caseiro acabou logo e corri para o debate. Nossa, estava ótimo — em outra faixa, pude comprovar meio constrangido a popularidade deste espaço…, algumas pessoas quase fizeram tietagem, fiquei feliz demais, imagina se não? — , o Xerxenesky, o Samir e o Carlos André Moreira conhecem literatura, são bem-humorados e sabem se expressar, o que nem sempre ocorre com escritores. Só que eu tinha prometido ir ao concerto da OSPA com minha mulher, o qual começaria às 20h30. Saímos (sumimos) à francesa e chegamos am cima da hora na OSPA. Credo, a primeira noite dedicada aos 200 anos de nascimento de Schumann absurdamente chata, realizada por músicos sem o menor tesão. Salvou-se a Sinfonia Nº 4 na segunda parte do Concerto, mas eu estava com uma fome de anteontem e só pensava no jantar com o Branco e a Jussara, muito mais legais do que aquilo que acontecia no palco.

Resultado: chegamos em casa muito tarde para uma terça-feira e a cerveja Bluehead foi a culpada de eu começar o dia de hoje com uma hora de atraso. Ah, por falar em musica, deixo-vos com duas resenhas alucinadas de P.Q.P. Bach, do blog erudito de mesmo nome, ambas publicadas nesta semana.

J. S. Bach (1685-1750): Bach Attributions

Por uma dessas coisas inexplicáveis, a obra para órgão de Bach está fora de moda. Algumas pessoas acham que o som do órgão é tão irritante quanto os padres pedófilos de Ratzinger — o qual parece preferir sexo com crianças do que entre adultos — , mas é bem no órgão que Bach realiza suas maiores experimentações. (Ah, acharam que eu ia fazer uma piada com o órgão sequiçual, né?) Mas retornemos ao que interessa: o que há de peças amalucadas na Orgelwerke é uma grandeza! E eu gosto. Muito! Este CD é sensacional por diversas razões.

(1) O organista é do caralho (ou do órgão, como queiram);
(2) O repertório, apesar de evitar os experimentalismos, está longe dos lugares-comuns;
(3) A produção da Hyperion é fodal;
(4) O CD está fora de catálogo até em Marte e
(5) Fique tranquilo, você não terá de ouvir a Toccata e Fuga em Ré Menor de novo.

E ah, vocês sabem como era a nossa família. Vinte filhos e aquele entra e sai de alunos, todos interpretando peças de sua preferência e criando outras. Então, alguns historiadores de ejaculação precoce pegaram tudo isso e disseram que era de Johann Sebastian, mas nem sempre era… Neste disco há peças de vários Bachs, de outros agregados que tentavam comer minhas irmãs e de todo o tipo de gente que queria a cerveja de meu pai. Havia por lá um certo Ratz que só se interessava pelos meninos e meninas de menos de dez anos… Bem, era uma zona e até isso se reflete neste baita CD.

CD IM-PER-DÍ-VEL !!!! (como diria o véio Ratz observando um pré-púbere)

Béla Bartók (1881-1945): Sonata for Solo Violin / Leoš Janáček (1854-1928): Violin Sonata / Claude Debussy (1862-1918): Violin Sonata / Serguei Prokofiev (1891-1953): Violin Sonata Nros 1 e 2 / Igor Fyodorovich Stravinsky (1882-1971): Divertimento

Viktoria Mullova é um das preferências absolutas deste filho de Bach, que também a acha bonita, apesar da notícia que FDP Bach me passou: ela agora estaria jogando em nosso time, disputando as moças. Como provavelmente não iria comê-la mesmo, tanto faz. Mas a sonoridade desta moscovita é coisa de louco.

A peça de Bartók é uma peça de Bartók, isto, é, é esplêndida e o mantém entre os 3 maiores Bs da música erudita, os quais permanecem como os maiores mesmo quando se usa todas as outras letras do alfabeto. Quem são os três? Ora, Bach, Brahms, Beethoven e Bartók.

A peça de Janáček é igualmente sensacional. Música bem eslava, sanguínea e cheia de surpresas e belas melodias, combinando perfeitamente com Bartók.

Depois a gente brocha. Debussy… Debussy… Debbie…, o que dizer? Claude, apesar do tremendo esforço que fez para movimentar-se no primeiro movimento, é um gordo. Portanto, é meio estático. Para piorar, é também extático. Bem, hoje faz um lindo dia e dizem que é o Dia do Beijo, o que significa que eu deveria ir para a rua ver o que consigo. (Mas, olha, foi das melhores coisas que já ouvi do gordo Debbie).

Prokofiev! Ah, Serguei é outro papo. Já de cara ele mostra quão fodão é naquele tranquilo Andante assai e no furioso Allegro brusco que o segue. Sem dúvida, é um cara que valoriza o contraste… Nós também detestamos o total flat, a gente gosta tanto dos mares piscininha quanto das descidas vertiginosas; afinal, os acidentes geográficos é o que faz a beleza da paisagem, né? As duas Sonatas de Prokofiev são notáveis.

Stravinsky… Sei que meus pares aqui no blog são admiradores do anão russo e adoro provocar, só que não dá, o cara é bão demais, raramente erra. Será que o gordo Debbie escreveu alguma coisa chamada “Divertimento”? Ele se divertia com o quê?

IM-PER-DÍ-VEL !!!!

Falta trato moral, conhecimento de vida e experiência sexual a esses padres

Eu tive um chefe que, quando alguém cometia uma mancada por ingenuidade, dizia:

— Falta bordel naquele corpo.

Bem, eu nunca fui a um bordel nem paguei por sexo e era dos que menos cometiam mancadas, mas entendia perfeitamente o que ele queria dizer. Há gente que está tão fora da existência moral comum que não pode medir a extensão daquilo que diz e faz. Há gente que aprendeu tão pouco a respeito do mundo onde vive que é capaz de cometer as maiores agressões sem dar-se conta.

Ontem, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano (espécie de vice-Papa) — certamente um tolo — , disse que os casos de pedofilia têm mais a ver com o homossexualismo do que com o celibato. Hum… E completou: “”Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram, ouvi dizer recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia“, disse Bertone em entrevista coletiva em Santiago, no Chile, quando perguntado se o fim do celibato ajudaria a reduzir os casos de abuso cometidos por religiosos. “Essa é uma doença que atinge todos os tipos de pessoas, e padres em uma escala menor em termos percentuais”.

Esta não é só uma opinião burra, é mais do que isso. É preconceituosa, é homofóbica. Se não parecesse tanto uma piada, talvez fosse uma grande agressão. Busca agredir The Usual Suspects (Os Costumeiros Suspeitos), aqueles que são os causadores de grande parte dos males da humanidade, os homossexuais, que agora são, no dizer da sumidade Bertone, os verdadeiros pedófilos. A igreja católica odeia os gays, vira e mexe e lá vêm a homofobia. O bom é que os gays não estão nem aí, apenas desprezam a igreja.

E então chegamos ao post de ontem do Rafael Galvão. É só uma frase:

A única coisa que não consegui entender ainda em toda essa confusão católica é por que a Igreja considera mais aceitável que seus padres façam sexo com crianças do que com adultos.

E então chegamos à ilha de Malta, que deverá receber o Papa Ratzo ainda no mês de abril. Vejam abaixo o que fizeram com alguns cartazes promocionais relativos à efeméride… Tsc, tsc, tsc.

A psicóloga e sexóloga portuguesa Marta Crawford recusou, nesta terça-feira, qualquer ligação entre pedofilia e homossexualidade, dizendo não compreender qual o objetivo da Igreja Católica ao tentar estabelecer esta relação. Abaixo as declarações da sexóloga depois de o cardeal Tarcísio Bertone ter dito que a pedofilia era mais culpa da homossexualidade do que do celibato:

«Não vejo qualquer relação entre pedofilia e homossexualidade. A pedofilia não é só relacionada com comportamentos com pessoas do mesmo sexo. Logo aí a relação nem sequer se coloca. Ser pedófilo não significa ter relações com pessoas do mesmo sexo, significa ter relações forçadas com pessoas de outra idade», afirmou Marta Crawford.

«Não sei qual é o objetivo da Igreja ao tentar meter tudo junto. A Igreja quer com isso provar o quê? Não percebo a intenção», questionou ainda.

Para a especialista, é importante sublinhar que a pedofilia é «uma situação clínica diagnosticada», enquanto a homossexualidade «não é uma doença» e «nada tem a ver com situações de abuso sexual sobre outros».

Ainda assim, Marta Crawford rejeita igualmente uma relação entre pedofilia e celibato: «Existem muitos pedófilos que nada têm a ver com a Igreja. Parece-me demais tentar dizer que todos os homens da Igreja sujeitos ao celibato são potenciais pedófilos. Não é a circunstância que fabrica pedófilos, existe uma situação clínica por trás e essa é uma questão mental».

Ultimamente, eu tenho lido Freud, sabem? (Qualquer dia desses, vou dar aulas ao Dr. Cláudio Costa!) Eu acho curioso que o pateta Bertone cite psicólogos e psiquiatras. Na minha opinião, estes são filhos de um dos homens mais honestos intelectualmente que já li e que melhor comprovaram a infantilidade intrínseca da religião. Eu adoriaria presentear o bocó Bertone com O futuro de uma ilusão. Nesta pequena obra, o homem do charutão explica as coisas tão bem que nem vale a pena explicar em detalhes porque os homens de deus não deveriam citar psicanalistas.

Minha filha e o Sea Shepherd

Um pouco de paranoia nesta segunda-feira. Minha filha Bárbara, 15, enviou uma correspondência ao Sea Shepherd. Quer participar de uma expedição dentro de 3 anos e deseja saber como pode qualificar-se a fim de ser aceita. Eu não duvido de nada. Sua teimosia e insistência tem se mostrado vencedora nos projetos onde se mete. Conseguiu um cavalo para praticar hipismo na base de pedir sempre dinheiro em vez de presentes — chegou ao valor após três anos de poupança furiosa. No ano passado, decidiu melhorar em algumas matérias (cobrança furiosa de estudos e leituras de minha parte…): chegou com sobras a seus objetivos, a custo de muito estudo e perda de festas — decisão dela, não sou de proibir nada. Na semana retrasada, decidiu que ia votar nas próximas eleições de qualquer maneira, mesmo completando 16 anos apenas uma semana antes de 3 de outubro — fez tudo sozinha até obter o título (motivo da moblização: alguns de seus colegas anunciaram que votariam no Serra e ela desejava compensar a estupidez de ao menos um deles). No mês passado, escreveu um plano de carreira: vai prestar vestibular para Veterinária na UFRGS, só na UFRGS; depois de um ano, trancará a matricula para ir numa expedição da Sea Shepherd; voltará; se formará; fará uma pós na Europa, se especializará em equinos e retornará para criar cavalos…

A vida, a juventude e a aventura são dela. É maravilhoso ter 15 anos. Eu também fazia planos com esta idade, só que os trocava diariamente. Conhecendo a obstinação da Babi, eu não duvido de nada, ainda mais que ontem um membro da Sea Shepherd respondeu simpaticamente a ela e já estão de papo. Para o e-mail introdutório, tivemos que conseguir um bom tradutor, pois ela se decidira por um texto em inglês impecável, que demonstrasse humildade e peremptória vontade de trabalhar e participar, mesmo em condições extremas.

Acho que tenho uma guerrilheira ecológica em casa. Mas sou pai, caralho. Ontem, perguntei se ela toparia queimar uns eucaliptos por aí… Seus olhos brilharam! Falando assim, parece que a Bárbara é pouco feminina ou vaidosa. Nada disso, é muito feminina, delicada, carinhosa e uma mula de teimosa… Toparia sim uma invasão à Aracruz e certamente aceitará tanto fazer filmagens quanto lavar o convés do capitão Paul Watson. Tenho certeza de que o terrorismo ecológico crescerá muito nos próximos anos e é óbvio que preciso me informar a respeito. Ainda mais que, em janeiro deste ano, os japoneses caçadores de baleias do Shonan Maru 2 abalroaram o catamarã da Sea Shepherd, Ady Gil, partindo-o em dois. Prevejo que a relação dos ecologistas com os matadores de baleias, golfinhos e outros animais marítimos ficará cada vez mais violenta e preferia que a Bárbara não estivesse na linha de confronto, mas a gente não cria nossos filhos e consciências para gente, o que pode ser correto, mas também é uma pena.

Se você não imagina do que estou falando, ligue no Animal`s Planet nas quartas-feiras às 22 horas e veja o documentário em capítulos Whale Wars. O gordinho de cabelos brancos do link ao lado é Paul Watson.

Grêmio 1 x 2 Pelotas

Eu concordo e admiro o tom elegíaco utilizado pelo Luís Felipe dos Santos no post Dignidade. Tem razão em enaltecer as epopeias obtidas pelos clubes do interior ao vencerem eventualmente a dupla GreNal e também ao defender os Estaduais apenas para clubes de mesmo tamanho e condição financeira. Pois este Campeonato Gaúcho deveria estar sendo disputado entre Caxias, Pelotas e São José, sem a pesada participação de Inter e Grêmio.

Vi os últimos três jogos do Grêmio. Estava tudo certinho. Dois volantes, um ficando mais do que o outro; um terceiro homem que concluía em gol e Douglas mais à frente, completando o quarteto com seus passes certos e gols nenhuns. Não vi o jogo de ontem, mas creio que o Pelotas tenha feito uma marcação rigorosa em Douglas e tivesse ficado de olho em Maílson e William Magrão, fazendo com que o jogo fluísse pelas laterais, onde jogam Edílson e Fábio Santos. Sei lá, não é necessário ter um gênio como técnico para forçar o adversário a fazer o que não deseja. O fato é que mesmo com a diferença financeira entre a dupla portoalegrense e os times pequenos, aquela não consegue formar um time parelho, com diversas opções e variações. Isso é coisa do passado.

Dizem que Walter agora ganha 50 mil reais mensais, um dos menores salários do Internacional. Talvez eu roubasse e matasse por um salário desses, mas esta é outra discussão… O fato é não noto grande diferença entre os laterais-milionários Edílson (Grêmio) e Nei (Inter) em relação à Álisson (Caxias), por exemplo. Talvez o motivo da separação salarial tenha sido um dia iluminado numa “peneira” anos atrás, um bom empresário cheio de grandes ambições, um clube com infraestrutura de primeira, etc., mas aquela coisa diferenciada de sangue, ah, isso eu não vejo mesmo.

Não sou daqueles que acham injustos os salários dos grandes clubes. A partir dos jogadores, há cada vez mais dinheiro em movimento e, se grande parte dele não retornar à origem, ficará com empresários, dirigentes e outros que tais. É mais justo que fique com quem trabalha no campo. O problema é que com a saída dos jogadores mais dotados para o exterior, ter um enorme salário em grande clube cada vez mais me parece um golpe de sorte.

Por isso é que, quando marcam o William Magrão e o Douglas, a bronca recai sobre os dois incompetentes laterais. O Inter tem mais grife, mas se examinarmos bem as atuações de D`Alessandro e Kléber, por exemplo, entenderemos o motivo pelo qual estes jogadores estão entre nós: todas os dias, antes de entrarem em campo, seria melhor consultar seus mapas astrológicos. A condição astral do argentino esteve péssima em NH e ele apenas é jogador de primeira linha para fãs incondicionais.

Então, não me surpreende o resultado de ontem e vou dar risada se o Inter não for campeão da seminal Taça Fábio Koff.

Minha fé já me auxiliou

Minha incipiente fé já deu o ar de sua Graça. Ontem à noite, meu HD que, como sabemos, foi vítima da ira de Deus, teve aquela típica melhora antes da morte em Cristo. Naquele momento iluminado, pude buscar todos meus arquivos de trabalho, todas as mulheres do Porque Hoje é Sábado, todas as músicas, mas senti o dedo duro negativo do Criador no momento em que tentei salvar meus e-mails. Perdi-os. Acho que foi por não ter, sei lá, dado a Extrema Unção ao HD nem rezado. Então, há um buraco negro em meus e-mails entre o dia 30/09/2010 e hoje. Acho que consegui copiar os contatos, ao menos.

Sim, tenho um disco externo. Olha, se não tivesse, não adiantaria nenhuma Providência Divina.

Mais sinais de Deus: o Santo Salvador da Dell viria à tarde aqui em casa. Pois não é que ele me ligou propondo vir de manhã? Bem, estou ajeitando as coisas no micro. Espero que amanhã tenha um dia normal.

Deus me castigou (uma comprovada intervenção divina)

Eu recém tinha escrito um e-mail para alguns amigos. Nele, confessava uma grande cagada que tinha cometido. Deus avaliou o último fato, somou-o ao rosário de maldades atéias cometidas anteriormente — quando eu era outra pessoa, muito pior — e finalmente resolveu lançar um raio fulminante em meu HD, atingindo-o fisicamente, apesar do mesmo e todo meu computador estarem ainda em gozo de garantia. Foi Ele, não tenho dúvidas. Ele resolveu que 400 GBytes de música eram desnecessários a um ímpio, que as milhares de fotos classificadas cuidadosamente em diretórios com nomes de mulheres (para o Porque Hoje é Sábado, não para o vício onanista) constituiam-se num luxo demasiado e que tudo, tudo, tudo o que faço no computador merecia ter fim e tchum: mandou o raio.

Escrevo para vocês em meu brioso notebook Dell fabricado em 2004. Seu imortal e indestrutível HD (como minha fé em Cristo) tem 30 GBytes. Porém, amanhã, entre as 14 e 18h, virá o Santo Salvador enviado pela Dell e pelo amor do bom Deus. Ele me mostrará como Cristo me ama. Então, estarei limpinho e redimido de meus pecados. Prometo melhorar e temer a Deus. Bom, termino aqui. Está na Hora do Silício.

Das artes de varrer a sujeira para baixo do tapete (tema e poucas variações)

A Zero Hora tentou ridicularizar os blogues de esquerda jogar de encontro a nós a competência da Polícia Civil para deslindar o Caso Eliseu Santos. Seria um caso claro de latrocínio, isto é, para consumar o roubo do cobiçado e exclusivo Corolla do Secretário da Saúde de Porto Alegre, ocorreu a morte da vítima. Confesso que fiquei constrangido por duas razões: (1) ficaria comprovado que um fato que me parece claro — o crime político causado pela corrupção — não passara de imaginação minha e (2) pelo fato de especialistas terem vindo até meu blog dizer que a coisa tinha jeito mesmo era de latrocínio. OK.

Rosane de Oliveira chegou a publicar recadinhos não para mim, mas para os muitos e ótimos blogs políticos do estado. Parecia uma vingança contra nosso ceticismo:

Retirado do Diário Gauche

Tudo bem, nada de nervos. Não seria meu primeiro erro, mas, olha, estava difícil de engolir esse troço. O cara sai de um culto evangélico — por definição algo populista e de sexta categoria — e tentam roubar seu carro na frente da família e outros débeis mentais fanáticos e siderados que saiam do “templo”. O troço era tão imbecil que me parecia coisa do demônio ou primeiro de abril. Pois exatamente neste dia a coisa ficou mais clara. Inteligente e subrepticiamente, o Ministério Público alijou a inconfiável Polícia Civil e fez uma investigação paralela junto com a Polícia Militar. O resultado? Bingo! Crime por motivo de corrupção, queima de arquivos, vingança, chamem como quiserem. E o novo assunto de ZH não é a possibidade de “outrens” estarem no bolo, mas a briga entre o MP e a Polícia. Poucos falam sobre os motivos reais dos crimes. Então, para não esquecer, recordemos as conclusões do MP:

Quem são os denunciados:

Jorge Renato Hordoff de Mello e Marcelo Machado Pio, empresários: os dois são ex-policiais militares e sócios na Empresa Reação. Estariam contrariados com supostas exigências que teriam sido feitas pelo secretário Eliseu para renovar o contrato da empresa de vigilância com o município.

Marco Antônio de Souza Bernardes, servidor de confiança de Eliseu: ligado à Secretaria Municipal de Saúde, seria o intermediário nas negociações entre os donos da empresa Reação e o secretário Eliseu.

Eliseu Pompeu Gomes, Fernando Júnior Treidkrol e Marcelo Dias Souza, três assaltantes: eles teriam sido contratados pelos donos da Empresa Reação para matar Eliseu, fingindo ser um assalto. Dois deles, Eliseu Pompeu Gomes e Fernando Júnior Treidkrol, foram baleados pelo secretário, na troca de tiros que resultou na morte de Eliseu. Estão presos. O terceiro, Marcelo Dias Souza, está foragido.

Robinson Teixeira do Santos: seria o motorista do carro que levou os ladrões até a Rua Hoffmann, onde Eliseu foi morto.

Janine Ferri Bitello, auxiliar de enfermagem: ela teria ajudado a socorrer e feito curativos em um dos criminosos, baleado por Eliseu na troca de tiros que resultou na morte do secretário. Ela seria velha conhecida do assaltante. Está denunciada por formação de quadrilha, não por homicídio.

Fonte: Clic RBS

Como já disse, nos dias posteriores, a RBS, fiel a seu estilo enrolão, passou a falar só naquilo que seria a Guerra Declarada entre o MP e a Polícia Civil, apesar da educação e da civilidade presentes na entrevista de ontem de membros do Ministério Público. A Polícia está indignada: fala que a ética foi ferida de morte e tergiversa igualzinha à imprensa. Parece jogada ensaiada. É a reação esperada. Então, posso agora dizer à abelha-rainha do jornalismo gaúcho Rosane de Oliveira (ver depoimento de Paulo Santana na coluna à direita do link), que sua PICADURA não causou grande efeito e que a teoria da conspiração está mais viva do que nunca. Afinal, José Fogaça, único candidato viável da direita guasca ao Governo do Estado, está logo ali adiante, na outra mesa.

Eliseu e Fogaça: nada a ver