A necessidade de justiça e a solidão de Michael Kohlhaas

A necessidade de justiça e a solidão de Michael Kohlhaas
A recente edição da Civilização Brasileira
A recente edição da Civilização Brasileira

Publicado em 20 de abril de 2014 no Sul21

Michael Kohlhaas, de Heinrich von Kleist, foi escrito em 1810, porém, apesar dos mais de 200 anos, é o mais atual dos livros. As discussões que suscita vão desde os meios que são permitidos na busca da justiça até questões mais amplas como o ideal subjetivo versus a realidade mundana, a liberdade individual versus a opressão governamental, o povo versus o poder. Trata-se de uma história de impotência. Tanto o tema da busca fanática pela justiça quanto o estilo, espécie de crônica longa, são surpreendentemente modernos.

Como Marcelo Backes escreve no excelente texto a seguir, Kafka “nasceu em Heinrich von Kleist, Joseph K. é bisneto de Michael Kohlhaas. Mais que isso, o autor tcheco se proclamou parente do personagem alemão, aproximando e confundindo de uma só tacada os dois escritores e suas figuras”. Comerciante de cavalos, Michael Kohlhaas é um homem simples,  justo e exemplar. Mas, face à arbitrariedade, vemos sua bonomia dar lugar à cólera. Desprezando a felicidade do lar, a fortuna e o futuro, encara sua vida como se esta estivesse destruída e contra-ataca. Ele pretende mostrar ao mundo que não se conformará com um caso onde acabou injustiçado e que para ele é fundamental viver numa terra onde seus direitos estejam assegurados.

O presente texto corresponde ao Posfácio de Michael Kohlhaas, de Heinrich von Kleist, publicado recentemente na coleção Fanfarrões, Libertinas & Outros Heróis, da Editora Civilização Brasileira, organizada por Marcelo Backes. A novela de Kleist também mereceu recentemente um filme do diretor Arnaud de Pallières, com Mads Mikkelsen no papel de herói. Mesmo que tenha sido selecionado para o Festival de Cannes, Michael Kohlhaas, o filme, fica a léguas de distância da grandiosidade do livro. (Milton Ribeiro)

A primeira página da novela em sua edição original
A primeira página da novela em sua edição original

Por Marcelo Backes

Heinrich von Kleist (1777-1811) é considerado o poeta do sentimento absoluto, o precursor do eu nômade e abandonado a si mesmo, o arauto do sujeito sem unidade, que já se encontra além dos limites da mera identidade. Foi trágico tanto na vida quanto na arte, tanto como homem quanto como autor. Seu gênio atormentado e cético sofreu com a orfandade transcendental, cortejou constantemente o fracasso e ultrapassou os limites da estética romântica e da arte clássica. Sua obra, tanto a narrativa quanto a teatral, é inclassificável sobretudo pela profundidade que manifesta, e antecipa movimentos literários bem posteriores como o expressionismo e o existencialismo.

Se Goethe via em Kleist a confusão de sentimentos que o impedia de chegar à harmonia, Deleuze registra nele, 150 anos depois, um autor bem contemporâneo na abordagem da desestruturação do sujeito, embora Kleist sofra e acabe sucumbindo diante daquilo que o filósofo francês de certo modo saúda auspiciosamente. Kleist estudou Voltaire e Rousseau, viu o mundo entrar em convulsão ao ler Kant – ou então encontrou no filósofo o fundamento para o distúrbio que já o revolvia internamente – e circulou com escritores como Ludwig Tieck, Adelbert von Chamisso, Wilhelm Grimm, Joseph von Eichendorff e Clemens von Brentano, além de pintores como Caspar David Friedrich.

Foi espião, preso como tal, exigido demais na vida e censurado sem cessar na literatura. Jamais encontrou seu verdadeiro lugar. Tentou na vida militar, depois na ciência, na vida comum e por fim na arte, e terminou se suicidando junto com uma amiga. Michael Kohlhaas, sua novela mais conhecida,é uma das maiores obras breves da história da literatura ocidental, junto com outras do calibre de A morte de Ivan Ílitch, de Tolstói, de A metamorfose, de Kafka, e de Coração das trevas, de Joseph Conrad.Criticada de forma avassaladora pelos leitores contemporâneos devido à falta de nexo, à estrutura confusa e por causa da aparente “pressa” do talhe formal, Michael Kohlhaas é uma narrativa de estilo lacônico que atinge a concretude de passar ao bom leitor a sensação quase física do perigo que ameaça o personagem. Tanto que Kafka, não por acaso, diria um século depois que se sentia “parente consanguíneo” de Kohlhaas, o personagem, percebendo como Kleist, o autor, já abria veredas num mundo que ele mesmo trilharia tantas décadas mais tarde. Diante de uma obra como Michael Kohlhaas, não são poucos os que pensam, impotentes diante da própria arte, que talvez tudo já tenha sido dito.

Heinrich von Kleist
Heinrich von Kleist (1777-1811)

A vida

Bernd Heinrich Wilhelm von Kleist (1777-1811) nasceu em Frankfurt an der Oder, na Prússia, descendente de uma família de nobres e soldados.

Com 15 anos, e já órfão, decide seguir o mandado familiar e busca a carreira militar, mas acaba desistindo das armas mais tarde para estudar direito, matemática e outras ciências. Interessado pela filosofia, foi marcado decisivamente pela leitura da Crítica da faculdade do juízo de Kant, que o abalou a ponto de fazer com que não mais acreditasse – definitivamente – na objetividade do conhecimento humano. A obra kantiana ainda o ajudou a sistematizar o descalabro interno, formalizando a percepção de uma ruptura já existente e concedendo a seus escritos um tema básico: o conflito permanente entre razão e emoção, o choque entre a subjetividade do ideal interno e a dureza da realidade externa. Em carta de 5 de fevereiro de 1801 a sua irmã Ulrike, Kleist se queixa dizendo que a vida é um jogo difícil porque constantemente se é obrigado a ir ao baralho e buscar uma nova carta, e mesmo assim não se sabe qual dessas cartas significa um verdadeiro trunfo. Em missiva a sua noiva Wilhelmine, alguns dias mais tarde, o autor aguçaria a percepção de sua crise escrevendo: “Não podemos decidir se aquilo que chamamos de verdade é verdadeiramente verdade ou se apenas assim nos parece (…) Meu único, meu maior objetivo sucumbiu, agora não tenho mais nenhum.”

Depois de se desiludir com a carreira militar – assim como Kafka não acreditava na vida de funcionário e mesmo assim era bem-sucedido, ele não acreditava na vida de soldado e continuava a ser promovido –, Kleist se volta para a ciência, buscando a formação do espírito e abrindo mão de um caminho voltado para a riqueza, para a dignidade e para a honra militar privilegiadas desde sempre por sua estirpe nobre. Em pouco, no entanto, vê que também a ciência perde o sentido diante do relativismo da verdade e abandona os estudos. Fica noivo de Wilhelmine von Zenge, filha de um general, moça que conhecera um ano antes, ao perceber que a sabedoria dos livros também não é capaz de satisfazê-lo. A família da noiva exige que Kleist tenha um cargo oficial, e o escritor, mais uma vez seguindo o mandado dos outros, teria até exercido as funções de agente secreto do ministério, e participado de espionagens econômicas a favor do governo prussiano. Mas, ao final das contas, Wilhelmine não se curva ao novo ideal de cultivar candidamente o próprio jardim de uma vida simples, que o próprio Kleist aliás acaba por reconhecer pouco verde depois de várias viagens pela Europa na companhia de Ulrike, sua irmã.

"O céu não lhe concede a fama, o maior bem da terra"
O céu não lhe concede “a fama, o maior entre os bens da terra”

Em carta de 26 de outubro de 1803, Kleist volta a se queixar à irmã de que o céu não lhe concede “a fama, o maior entre os bens da terra”. Decide lutar contra a Inglaterra, ingressando no exército francês, a fim de “buscar a morte na batalha”. Mas conhecidos convencem-no a retornar a Potsdam. Depois de mais um breve intervalo como funcionário, Kleist começa a esboçar o plano de deixar o serviço público para ganhar a vida como escritor e dramaturgo, mas em 1807 é preso como espião pelas autoridades francesas e levado ao Fort de Joux, em Pontarlier, e em seguida como prisioneiro de guerra a Châlons-sur-Marne. Kleist ainda tenta o trabalho jornalístico, e em 1808 volta a Berlim, onde conhece vários escritores de sua época e onde permanece até a morte.

Passando por necessidades, acossado pela censura e internamente “tão ferido que eu quase poderia dizer que, quando ponho o nariz para fora da janela, a luz do dia que brilha sobre ele me dói”, conforme carta de 10 de novembro de 1811 a Marie von Kleist, começa a ser dominado por pensamentos suicidas. Logo encontra uma companheira para o caminho previsto, a amiga Henriette Vogel, doente de câncer. A pedido de Henriette, Kleist a mata com um tiro e depois se suicida em 21 de novembro de 1811, aos 34 anos, junto ao Wannsee, um lago de Berlim. Henriette pede em carta de despedida que ambos sejam enterrados juntos “na fortaleza segura da terra”. Os dois jazem exatamente no local do suicídio, hoje um local de peregrinação, já que os que tiravam a própria vida não podiam ser enterrados em um cemitério.

Não haviam sido poucas as vezes em que Kleist falara sobre o suicídio em suas cartas. Na derradeira, dirigida à sua meia-irmã Ulrike na manhã do sucedido, há uma sentença definitiva: “A verdade é que nada na Terra poderia me ajudar.” Tranquilo, Kleist ainda agradece por todas as tentativas feitas no sentido de auxiliá-lo, e em seguida se despede, pedindo que seja dada à irmã pelo menos metade da alegria e da serenidade indizível que sente no momento em que decide levar o princípio sublime do fracasso às últimas consequências.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A obra

Heinrich von Kleist é, simplesmente, o autor de uma das novelas mais grandiosas da Alemanha (Michael Kohlhaas), da maior tragédia alemã (Pentesileia)e da principal comédia em sua língua (A moringa quebrada). Se a vida de Kleist se caracterizou pela busca incansável da felicidade e pelo encontro constante da desilusão, isso também se reflete em sua obra de maneira indelével. Bailando entre o romantismo e o classicismo, seu caminho é, antes de tudo, pessoal e subjetivo. Os temas são clássicos, os gestos são românticos e o resultado é subjetivamente aterrador.

Na obra de Kleist o sujeito ideal, autônomo e com uma identidade claramente definida é questionado talvez pela primeira vez de maneira radical na história da literatura ocidental. A desmedida da explosão sentimental é levada às últimas consequências, a violência das imagens atinge os píncaros. Experimental e subjetivo, Kleist permaneceu esquecido por algum tempo, e só começou a ser revalorizado pela geração de Gerhart Hauptmann, Frank Wedekind e Carl Sternheim.

Foi na Suíça que Kleist escreveu seu primeiro drama, A família Schroffenstein, entre os anos de 1801 e 1802. Orientada no estilo dramático de Shakespeare, A família Schroffenstein tematiza, assim como as obras do bardo inglês, a disputa entre destino e acaso e a oposição entre juízo subjetivo e realidade objetiva. Da mesma época é a tragédia inacabada Robert Guiscard, na qual Kleist pretendeu unir os valores da tragédia grega às conquistas – outra vez – de Shakespeare, ao abordar a fatalidade do herói em meio às desgraças da peste. Kleist queimaria os trechos concluídos da tragédia por achar que não conseguira realizar literariamente o que esboçara mentalmente.

Quando Kleist se muda para Dresden, já bastante desiludido e alimentando pensamentos sombrios, escreve a comédia A moringa quebrada (1802-1806), talvez a mais conhecida de suas obras. No grande cenário do teatro universal, essa comédiaé uma espécie de irmã espúria de Édipo Rei e o juiz Adão, seu personagem principal, não deixa de ser um ridículo labdácida de peruca que vai se desnudando em toda sua culpa aos poucos. Aliás, tanto o herói da tragédia grega quanto o juiz da comédia alemã investigam, e o fato de Édipo, apesar de todos os alertas, querer descobrir e por fim descobrir aquilo que não sabe – ou seja, que é o culpado – dá o caráter trágico à peça de Sófocles, ao passo que o fato de o juiz Adão, apesar de todos os esforços e esquivas, ter deinvestigar aquilo que sabe e acabar sendo descoberto por todo mundo – ou seja, que é o culpado – dá o caráter cômico à peça de Kleist.

Mesmo nas comédias de Kleist – tome-se o Anfitrião, de 1807, fundamentado em Molière, como exemplo, embora A moringa quebrada também seja perfeita nesse sentido–, o que resta no final é o amargor da visão de mundo kleistiana. Se o crítico italiano Benedetto Croce, sempre preocupado em ver humor apenas mais ao sul do planeta e incapaz de compreender de verdade a contenção sorridente – amargamente sorridente – do norte, criticou uma obra como A moringa quebrada, Bjönstjerne Björnson, o dramaturgo norueguês, disse que poucas vezes lera algo tão divertido. Theodor Storm, um dos grandes representantes do realismo europeu, chegou a dizer que a peça era a única comédia alemã que lhe agradava do princípio ao fim. A moringa quebrada também foi traduzida por Boris Pasternak em 1914, e elogiada como uma das grandes obras do cânone literário alemão por Georg Lukács.

Goethe: hostil a Kleist
Goethe: hostil a Kleist

Em 1808, Goethe, que já esfacelara A moringa quebrada, partindo-a em três atos, recusa-se a permitir a encenação da tragédia Pentesileia no teatro de Weimar. Inspirada pelas tragédias de Eurípedes, a peça veria a luz do público pela primeira vez apenas em 1876. A dimensão moderna e profundamente psicológica alcançada pela linguagem de Kleist nessa tragédia em versos e a sequência de diálogos que se encadeiam um ao outro de maneira vertiginosa adquirem caráter musical, dionisíaco – sinfônico. Pentesileia, a obra mais avançada de Kleist,seu Michael Kohlhaas vestindo saia sobre o palco, inspiraria duas grandes peças da música: a composição de Hugo Wolf e a ópera de Othmar Schoeck.

Em 1810 Kleist publica dois volumes de novelas, interessantes e adiantadas em relação a seu tempo. Duas dessas novelas são verdadeiras obras-primas: Michael Kohlhaas e A marquesa de O. Ainda assim ambas são criticadas de forma avassaladora pelos críticos contemporâneos. Também narrativas mais breves como O terremoto do Chile mostram que Kleist vai às últimas consequências na abordagem da alma humana.

Assim como em Shakespeare, muitas das obras de Kleist são fundamentadas em figuras históricas, caso inclusive de Michael Kohlhaas. A diferença é que Kleist leva temas apenas esboçados por outros autores à perfeição de um grande debate e a um acabamento narrativo extraordinário, como no caso do príncipe de Homburgo, de Robert Guiscard, do já citado Kohlhaas e até do terremoto do Chile. O príncipe de Homburgo, sua última peça, elabora a condenação à morte de um general prussiano do século XVII. Já o drama A batalha de Armínio, de 1808, abordara a derrota de Varo ante o exército germano no século. Mas o nacionalismo de Kleist e seu amor à pátria alemã se revelam sobretudo em poemas como “Germânia a seus filhos” (“Germania an ihre Kinder”) e “Canção guerreira dos alemães” (“Kriegslied der Deutschen”).

O tom sombrio característico da obra de Kleist aparece logo em suas primeiras peças, notadamente na já mencionada A família Schroffenstein. A tragédia – que aborda com maestria o tema de Romeu e Julieta – evidencia o colapso do arcabouço otimista que orientava Kleist. O autor também percebe a incongruência existente entre a alma aqui dentro e o mundo lá fora, entre as exigências do eu e as obrigações familiares e civilizatórias, e antecipa de modo absolutamente simétrico – consideradas as diferenças de época e de contexto – sua própria obra Michael Kohlhaas e a obra inteira de um dos maiores autores do século XX: Franz Kafka.

Kohlhaas, o vingador | Ilustração de uma edição alemã
Kohlhaas, o vingador | Ilustração de uma edição alemã

Michael Kohlhaas

Franz Kafka nasceu em Heinrich von Kleist, Joseph K. é bisneto de Michael Kohlhaas. Mais que isso, o autor tcheco se proclamou parente do personagem alemão, aproximando e confundindo de uma só tacada os dois escritores e suas figuras.Kleist teria começado a escrever Michael Kohlhaas em 1805, quando tinha apenas 29 anos de idade. A novela seria publicada em sua versão definitiva em 1810, no primeiro volume de suas narrativas. Dois anos antes, em 1808, um trecho da obra já surgira na revista Phöbus, dirigida pelo próprio Kleist, que se orientou em uma coletânea de relatos históricos de Christian Schöttgen e Georg Kreysig [1] para criar seu personagem. No fundo, o Michael Kohlhaas de Kleist tem pouco a ver com o Hans Kohlhasen da vida real, comerciante em Cölln junto ao rio Spree, executado em 22 de março de 1540. Os autos do caso, de 1539, não chegaram às mãos de Kleist, mas sabe-se que o Kohlhasen histórico teve dois de seus cavalos roubados por um fidalgo Zachnitz, e que por isso tenta fazer justiça com as próprias mãos, incendiando várias casas em Wittenberg, mas não chega a perder a mulher, nem sofre às últimas consequências como o Kohlhaas literariamente bem construído de Kleist.

Read More

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Porque me retirei da Associação dos Amigos da OSPA

Logo-OSPA

Carta aberta a meus sete leitores 

Hoje foi o dia de receber e-mails me perguntando coisas. É normal. O anormal foi receber uma série de questionamentos acerca de minha não participação no grupo do Facebook chamado Associação dos Amigos da OSPA. Já havia recebido vários outros, mas o número de perguntas cresceu em função do espetáculo que a Orquestra apresentará neste fim-de-semana. Um de vocês me escreveu 3 vezes apenas hoje! Pô, cara! OK, respondo a todos aqui no blog, espaço administrado por mim.

Eu fui um dos moderadores do grupo e, além de só permitir posts que dissessem respeito à orquestra, ali publicava chamadas para os concertos que achava prometedores e para minhas opiniões críticas — elogiosas ou não. Só que a imaturidade de alguns, assim como a de uma moderadora, recebia extremamente mal quaisquer reparos que eu fizesse a um concerto. Eram esperados apenas elogios. Quando não cumpria minha função de mero elogiador, podia e fui chamado de palhaço, idiota, etc. Não vejo problemas. Tenho mais de um blog, vivo no Brasil e estou acostumado às ofensas. Mas as reações de alguns do grupo eram desproporcionais, por demais infantis, chegando às vezes à beira da psicopatia. O baixo controle comportamental parecia ser a regra, inclusive da moderadora. Aqui, vejo problemas, pois houve a invasão de problemas particulares da moderadora para comigo que nunca deveriam aflorar num grupo público. Para minha não-surpresa, logo deixei de ser um dos moderadores e, ato contínuo, deixei de poder postar no grupo. E minhas opiniões passaram a ser rejeitadas. Retirei-me silenciosamente.

Bem, meus caros sete leitores, não sou nada brilhante ou original, mas nasci com teimosia e opinião, infelizmente. Não pensem que o fato de não poder colocar meus humildes links no grupo diminuiu o número de pessoas que leem minhas observações concertísticas. Ao contrário, o número de leitores de meus posts sobre a Ospa aumentou inexplicavelmente. Fora do grupo, também não saí por aí fazendo campanha contra quem me combateu ou contra a moderadora que se candidatou a deputada estadual. Também não aconselhei ninguém a deixar o grupo. Mais: seria uma irresponsabilidade contra-atacar. Vocês sete foram 34 mil visitantes únicos em setembro. É muita gente, fico feliz. Mas é claro que não sirvo mais, pois, como externou equivocadamente um dos músicos, aquele grupo da futura Associação serve apoiar a Ospa, nunca para criticá-la (?). Hum… Pensei que criticar fosse uma das formas mais honestas e francas de apoio a uma instituição.

Sou um melômano de grande experiência como ouvinte. Sei quando as cordas desafinam ou quando bolas batem na trave ou na bandeirinha de escanteio. Sei também que vários maestros acabaram meus amigos, principalmente os melhores e principalmente após receberem críticas negativas. Por outro lado, sou um leigo e conheço a diminuta relevância de minhas observações. Talvez elas devam ser mesmo desprezadas, pois escrevo-as rapidamente, com grande liberdade e colorido de expressão. Há ideologia nisso. Mas algumas coisas eu mantenho para todos os casos: o texto tem que ser legível, informativo, divertido, leve e ousado, sem dobrar-se aos elogios baratos. Todos os meus poros se revoltam contra o compadrio. Não me serve a troca vazia de adulações, o “tu és genial” que aguarda o retorno de um “tu és fabuloso”. Isso só se faz com o filho pequeno quando se deixa que ele nos ganhe no futebol ou com a filha para convencê-la de que é a mais linda. E mesmo assim não devemos exagerar.

Esta é a segunda ou terceira Associação que se forma em torno da Orquestra de Porto Alegre. Nunca elas deram certo. Mas acredito mesmo que um dia a Ospa será como outras (grandes) orquestras e terá uma Associação digna. Pode ser que seja dessa vez, por que não? Espero que a atual dê certo e que fique totalmente afastada de partidos e dos interesses de pessoas partidarizadas. O que importa é a instituição. Sem isso, a Associação será novamente estéril. Quem estiver ao lado da orquestra tem que estar tanto pronto a defendê-la do que a prejudique quanto disposto a apontar publicamente seus problemas. Ou ao menos para seus membros. Hoje, a Ospa detesta discutir problemas. Faz de conta que tudo vai bem.

E eu? Eu, meus caros missivistas, permanecerei como gosto e como sou — um melômano que quer a melhor Ospa possível. E que vai escrever de vez em quando sabendo que, um dia, aparecerão pessoas para tecer criticas e que estas serão ouvidas por gente mais consistente e consequente. Ou tudo vai ficar mais ou menos assim para pior.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Um longo caminho

Um longo caminho

Numa noite fria do século XVIII, Bach escrevia a Chacona da Partita Nº 2 para violino solo. A música partia de sua imaginação (1) para o violino (2), no qual era testada, e daí para o papel (3). Anos depois, foi copiada (4) e publicada (5). Hoje, o violinista lê a Chacona (6) e de seus olhos passa o que está escrito ao violino (9) utilizando para isso seu controverso cérebro (7) e sua instável, ou não, técnica (8). Do violino, a música passa a um engenheiro de som (10) que a grava em um equipamento (11), para só então chegar ao ouvinte (12), que se desmilingúi àquilo.

Na variação entre todas essas passagens e comunicações, está a infindável diversidade das interpretações. Mas ainda faltam elos, como a qualidade do violino – e se seu som for divino ou de lata, e se ele for um instrumento original ou moderno? E o calibre do violinista? E seu senso de estilo e cultura? E o ouvinte? E… as verdadeiras intenções de Bach? Desejava ele que o pequeno violino tomasse as proporções gigantescas e polifônicas do órgão? Mesmo?

E depois tem gente que acha chata a música erudita…

Henri Cartier-Bresson, Escada Camondo Galata Istambul, 1964
Henri Cartier-Bresson, Escada Camondo Galata Istambul, 1964

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Quero a Frente Ampla uruguaia

Quero a Frente Ampla uruguaia

Se os picolés de chuchu Aécio e o Sartori ganharem as eleições, é só o que me restará.

Helga Lovekaty
Helga Lovekaty

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Eu não quero ser governada pelo Sartori

Eu não quero ser governada pelo Sartori

jordan-carver

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

De como funciona o pacto da mediocridade e outros pactos

De como funciona o pacto da mediocridade e outros pactos

A experiência é real e foi conduzida por um cientista norte-americano chamado Harry F. Harlow (1905-1981). Achei fascinante.

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro colocaram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.

Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água gelada nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas.

monkey2

Passado mais algum tempo, nenhum macaco tentava subir mais a escada, apesar de ser tentadora a visão da fruta predileta tão próxima dos olhos. Então, os mesmos cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que o pobre fez foi subir a escada para colher as belíssimas bananas, sendo retirado de lá imediatamente pelos outros, sob uma chuva de pancadas.

Depois de algumas surras, o novo integrante assimilou a ideia do grupo e não tentou mais subir a escada, apesar de continuar lambendo os beiços cá debaixo.

Um segundo macaco foi substituído, e o mesmo aconteceu, tendo o primeiro macaco substituído participado com alegria e entusiasmo do corretivo que o grupo impôs ao segundo novato.

Um terceiro macaco foi trocado, e repetiu-se o fato. E assim fizeram com o quarto, e finalmente com o quinto e último dos veteranos. Deste modo, todo o grupo foi substituído.

Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:

“Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui.”

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Quem tem medo sou eu

Tenho medo da turminha do Aécio…

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Machado de Assis, a Polca, o Jazz, Shostakovitch e o Pestana

Em um famoso conto de Machado de Assis, Um Homem Célebre, havia um grande compositor de polcas, o Pestana, que queria fazer algo maior, grandioso, mas — que diabo! — só lhe saíam mais polcas. O que fazer? O personagem fazia o maior esforço, passava meses trancado em casa a fim de parir a grande obra, porém não produzia nada além de belas polcas, que logo se tornavam popularíssimas e eram assobiadas pelo povo nas ruas, para desespero do Pestana. Estas eram compostas copiosa e rapidamente. Acabou rico, infeliz e doente. Coitado.

Com Shostakovitch o caso é diferente. Compôs copiosamente obras-primas, tem obra profunda e numerosa, mas, um belo dia, resolveu escrever suítes para grupos de jazz. Vocês podem adivinhar o que aconteceu? Saíram apenas… polcas. Polcas e valsas. Ah, vocês não acreditam? A esplêndida Valsa 2 da Suíte Nro. 2 foi utilizada por Stanley Kubrick na abertura de De Olhos bem Fechados, com um ritmo e um solo de sax que nos obriga a levantar e ensaiar uns passinhos pela sala. É o “Grande Projeto Falhado” do imortal Shosta e, mesmo assim, é muito bom e divertido.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Sartori, Sartori, como tu é chato

Sartori, Sartori, como tu é chato

jordan carver 1

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

O Iluminado Reloaded (e mais apavorante ainda)

O Iluminado Reloaded (e mais apavorante ainda)

O iluminado reloaded e mais apavorante ainda

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

José Ivo Sartori, o homem da mudança

José Ivo Sartori, o homem da mudança
Sartori: problema com as roupas em casa
Sartori: problema com as roupas em casa (Foto: Ramiro Furquim / Sul21)

Mudança é a palavra mágica para qualquer marqueteiro político. Nove entre dez deles mandam seus candidatos dizerem que são agentes da mudança e Sartori repete isso como um mantra: estou aqui para mudar, eu represento a mudança. Ontem, eu vi o programa eleitoral do homem da mudança. Ele estava em família, sentado na sala da sua casa com a esposa deputada e os dois filhos que acabarão deputadinhos, é só esperar. O programa não podia ser menos político ou propositivo. A filha comentou que o pai era brincalhão, mas que quando ficava brabo, nossa senhora. Pensei em como aplicar tal fato no Palácio Piratini. O filho disse que a mãe sempre separava e arrumava a roupa de Sartori, mas que quando virou deputada, o pobre passou a ter que escolher ele mesmo o que vestiria. Então, em apuros, ele perguntava aos filhos se podia sair de casa assim ou assado. Olha, já li reportagens de Caras que eram mais palpitantes.

Dona Elsa garante (Foto: Ramiro Furquim/ Sul21)
Dona Elsa garante: o filho é bom (Foto: Ramiro Furquim/ Sul21)

Mas há mais: ontem, liguei o rádio e entrou uma dessas propagandas eleitorais gratuitas. Pasmo, ouvi a mãe de Sartori dizer que seu filho sempre foi bom e correto. Parecia a mãe de um trombadinha garantindo que “meu guri é bom, o problema são as companhias”. Vejam bem: um depoimento da própria mãe! Nunca antes ouvi nada mais imparcial… Fico triste que minha mãe não tenha gravado depoimentos a meu respeito. Ela garantiria para vocês a pérola de pessoa que sou, indubitavelmente.

Tal é o esvaziamento da discussão politica em nosso país… A cena da mala de papelón — entre Dona Elsa e o filho na propaganda da TV — com a qual Sartoni foi para o seminário mesmo sem vocação para padre, traz os lugares-comuns mais chatos da imigração italiana: povero, contadino, católico, nostálgico de suas raízes. Só o italiano tem saudades, só eles têm coração, só eles são bons, só eles são passionais, ai que saco.

Voltando ao político Sartori, outra particularidade sua é a fuga dos debates. Com receio da argumentação de Tarso Genro ou com medo de colocar fatos novos numa situação que o beneficia — pois ele lidera as pesquisas (se isso pode ser mesmo levado a sério) –, Sartorão desmarca e desmarca debates. Entre um e outro cancelamento, o gringuinho medroso apresenta poucas ideias, investindo na imagem bom moço, que tem como partido apenas o Rio Grande. Estranhamente para um peemedebista tão caseiro, Sartori procurou grudar seu nome nos protestos de junho de 2013. Afinal, os protestos queriam o quê? Ah, claro, eram um clamor por mudança, como você, um de meus sete leitores, certamente adivinhou. Só que Sartori tem tanta empatia com os fatos de junho de 2013 que dou risadas ao pensar em tê-lo a meu lado pelas ruas, naquele inverno quente. Além disso, seu partido, o PMDB, sempre foi reformista, um verdadeiro agente de mudanças, não?

(Engraçado, uma pessoa de minhas relações ficou apelidada de PMDB por sua fácil aderência seja a quem for. Ela não lê mais este blog, mas antes lia).

Para terminar, diria que seria maravilhoso se o Sartori propusesse a mudança de seus adversários para um lugar legal como o Uruguai. O RS está ficando monótono demais. Como viver com Fortunati na prefeitura e Sartori no Piratini? Melhor Montevidéu. Há um Café Brasilero na Avenida 18 de Julio, parada obrigatória.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Bom dia, Abel Braga (veja os melhores lances de Inter x Fluminense)

Bom dia, Abel Braga (veja os melhores lances de Inter x Fluminense)
Abel tripudia sobre este comentarista: "Ganhei, viu seu putão?".
Abel tripudia sobre este comentarista: “Ganhei, viu seu putão?”.

Meu caro Abel Braga, como é difícil conviver contigo! Na quinta-feira, tu me tomas 5 x 0 da Chapecoense e no domingo tu ganhas do Fluminense por 2 x 1 jogando bom futebol? É óbvio que houve graves problemas no vestiário no jogo em Santa Catarina, além de tuas escalações malucas, né?

Pois ontem tu estiveste mais calmo, sem inventar muito. Puseste o ex-junior Diogo no lugar do péssimo Gilberto e não fizeste nenhuma outra improvisação. O único senão foi a reescalação de Alan Patrick, teu bruxo, como titular. Bota o Valdívia deste o início, Abel! O AP é muito deficiente e lento! O futebol é dos que fazem o máximo em menos tempo e o AP tem que pisar na bola, olhar, cada jogada dele é um parto.

Apesar de todas as merdas que fizemos no campeonato, temos, segundo o matemático Tristão Garcia, 81% de chances de chegar à Libertadores e 11% para sermos campeões. É uma campanha média superior. Só não me caga tudo de novo, tá? Aránguiz retorna como volante, Gilberto vai para o crematório, Valdívia entra na do Alan Patrick e nada de enfiar o Wellington Paulista ou no Rafael Moura no time ao lado do NIlmar, tá? Nilmar tem que jogar com quem sabe: Alex, D`Alessandro — que jogaram demais contra o Flu — Valdívia e Aránguiz.

Nada de inventar. Já chega, Abel.

http://youtu.be/H05z2rppzBo

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

O Último Concerto (2012), de Yaron Zilberman

O Último Concerto (2012), de Yaron Zilberman

Depois do The Guardian, mas com mais informações, quem sabe… 

O Último Concerto (2012), de Yaron Zilberman, ora em cartaz em todas as capitais brasileiras, é uma boa e inesperada surpresa. É um retrato sincero, inteligente, não muito sentimental — considerando-se que é um filme norte-americano — e bem-construído sobre um músico que foi diagnosticado nos estágios iniciais do Mal de Parkinson. Por favor, esqueçam Amor, de Michael Haneke.

Christopher Walken dá um desempenho suave a Peter, um violoncelista muito amado e admirado, verdadeiro eixo emocional da trama e do Fugue Quartet, o qual trabalha junto há 25 anos. Ele é mais velho e mais sábio do que os outros: o primeiro violinista Daniel (Mark Ivanir), o segundo violinista Robert (Philip Seymour Hoffman) e Juliette (Catherine Keener), os dois últimos formando um casal.

O anúncio de Peter a seus atordoados parceiros desencadeia todos os tipos de repercussões dolorosas de grupo. Quando ouvem a notícia percebem que não são livres. O grande sucesso artístico e a história do quarteto comprova que eles cresceram juntos, organicamente, como uma família. Porém, confrontados com a perda de presença tranquila e apaziguadora de Pedro, eles entram em colapso e passam a duvidar de suas escolhas.

O roteirista teve o bom gosto de centralizar a música apenas no Quarteto, Op. 131, de Beethoven, uma peça de maturidade que exige o mesmo do quarteto. Ela, em seus sete movimentos encadeados, fala sobre a finitude, assunto principal de um filme que também nos mostra como funciona a intimidade de um grupo de pessoas talentosas e de como seus egos acomodam-se. Ou não.

Um belo filme adulto. Gostei muito, porém…

Aviso aos músicos: Apesar do enorme esforço e do trabalho que tiveram para aprender a imitar movimentos de músicos profissionais, para a Elena, minha namorada, o filme foi mais complicado. Violinista de sólida formação musical, ela tinha fechar os olhos para não ver as barbaridades cometidas pelos atores nas posturas dos atores fazendo-se de músicos. Por exemplo, quando Robert testa um violino, ele extraiu um vibrato perfeito para uma peça de Sarasate, só que sua mão esquerda está parada…

A-Late-Quartet-3

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Lavard Skou Larsen: “A cultura é a única coisa que nos mantêm, é o catalisador para entender a vida”

Lavard Skou Larsen: “A cultura é a única coisa que nos mantêm, é o catalisador para entender a vida”

Publicado em 13 de abril de 2014 no Sul21.

Quando pegamos um CD ou um programa de concerto e lemos o nome de Lavard Skou Larsen, ficamos normalmente surpresos ao saber que se trata de um maestro e violinista porto-alegrense radicado na Áustria. Os pais desta estrela internacional da chamada música erudita são os violinistas Perly e Gunnar. Ela é gaúcha e Gunnar Skou Larsen foi um dos estrangeiros que vieram para tocar violino na Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) de Pablo Komlós nos anos 50. Veio da Dinamarca.

Lavard recebeu o Sul21 no apartamento de sua mãe, no bairro Moinhos de Vento. Mesmo com a pesada agenda de concertos — nesta quinzena ele deu concertos em Erevan e em Tbilisi, respectivamente as capitais da Armênia e da Geórgia — ele sempre retorna a Porto Alegre para ver D. Perly, uma lúcida senhora de 90 anos e para tocar e reger, como fará na próxima terça-feira (15). Desta vez, trouxe a nora e os netos. Lavard viveu em nossa cidade só até os quatro anos de idade, mas fala um português perfeito e diz sentir-se em casa como porto-alegrense, gremista e amante do churrasco.

Hoje, além dos concertos pelo mundo, Lavard Skou Larsen é professor de violino na Universidade Mozarteum, em Salzburg, e da cadeira de prática de orquestra. Desde 1991, é fundador, maestro e diretor artístico da Salzburg Chamber Soloists, de grande sucesso no mundo inteiro. Grava regularmente para os selos Naxos, Denon, CPO, Marco Polo, Movieplay, Stradivarius e Coviello Classics e, em 2004, assumiu o cargo de maestro titular da Deutsche Kammerakademie Neuss am Rhein (Alemanha).

Como dissemos, na próxima terça-feira ele estará novamente à frente da Ospa, no Auditório Dante Barone, às 20h30, num concerto cujos detalhes são discutidos abaixo.

É desnecessário alongar-se sobre seu currículo. Acreditamos que boa parte de sua visão da música e do mundo está na entrevista abaixo, que foi longa, gentil, informal e pontuada por risadas.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Às vezes, meu pai me batia com o arco do violino, então eu tocava melhor!” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Como é que um sujeito chamado Lavard Skou Larsen nasce em Porto Alegre?

Lavard Skou Larsen — (risos) Meu pai veio para o Brasil em 1955. Naquela época, vir para o Brasil era uma coisa muito especial, muito exótica, era uma aventura. Ele era violinista, dinamarquês e estudava violino em Viena. Mas quis fazer um ano ou dois anos em outro país. Poderia ter ido para a Índia, para o Paquistão, mas veio para o Brasil. Ele tentou tocar violino no Rio de Janeiro, na OSB, mas lá não tinha lugar. Daí, disseram pra ele “Olha, em Porto Alegre tem um húngaro, Pablo Komlós, que fundou uma orquestra, e lá estão precisando de gente”. E ele veio. Minha mãe conta sobre o dia em que ele chegou. Ele apareceu no ensaio com uma mala numa mão e o estojo de violino na outra, e o único lugar que tinha para sentar era ao lado de minha mãe. Ela é o mais velho membro da Ospa. Tem 90 anos.

Sul21 — A senhora também é violinista?

D. Perly Skou Larsen — Sim, eu toquei no primeiro concerto da Ospa, em 1950. Eu sou daqui de Porto Alegre, estudei no Instituto de Belas Artes. Eu me formei bem na época em que o Komlós estava organizando a orquestra, quando ele estava convidando todo mundo que sabia tocar um pouquinho. O pai do Lavard veio mais tarde. Ele tocava conosco e dava aulas de violino, porque tinha uma formação musical muito sólida.

Lavard — Mas ele te conheceu na Ospa, ele chegou para tocar na Ospa?

D. Perly — Sim, foi contratado. Naquela época a Ospa recebeu uma porção de músicos da Europa. Não foi só ele. Isso tudo em meados de 1950 e 1960. Aí eu casei com Gunnar Skou Larsen, montamos até escolas de música em Porto Alegre.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Lavard e sua mãe, D. Perly, a mais antiga integrante da Ospa | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Como surgiu o violinista Lavard Skou Larsen?

Lavard — Acho que surgiu quando eu estava na barriga dela… Meu pai comprou meu primeiro violino quando eu era um embrião. (risos) Eu não tive escolha. Meu pai foi o primeiro músico de sua família. Meus avós eram camponeses na Dinamarca, gente bem simples. Ele tinha orgulho da profissão que o levara à Viena. E, logo com quatro anos de idade, eu comecei a arranhar o violino no método Suzuki, em que você aprende brincando. Ele tentou o mesmo com minha irmã, mas não obteve sucesso. No início eu era um pouco cabeça dura, não queria estudar, então ele me dava umas chicotadas com o arco. Depois disso eu tocava muito bem! (risos)

Sul21 — Além de apanhar com o arco, o que o guri Lavard fazia? Jogava bola?

Lavard — Brincava com os amigos, jogava bola… O meu pai era muito legal, todos os dias a gente tinha uma ou duas horas de estudo, mas depois, eram só brincadeiras. Ele me ensinou a paixão pela Fórmula 1, por exemplo, me levava às corridas lá na Áustria. Mas sabia educar muito bem, me fazia estudar seriamente. Éramos amigos.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Foto tirada por Gunnar Skou Larsen. Nela, o menino Lavard brinca com um pequeno violino. | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Vocês viviam entre a Europa e Porto Alegre então?

Lavard – Sim, nós fomos para a Europa em 1966. Eu tinha 4 anos. Meu pai desejava estudar regência e tinha planejado ficar alguns anos na Áustria, mas acabou contratado pela Camerata de Salzburg, o que fez com que ele permanecesse definitivamente. Minha mãe também começou a tocar lá. Depois, ele fundou sua própria orquestra de câmara. Voltamos algumas vezes a Porto Alegre, sempre por compromissos profissionais dele ou para visitarmos a família. Ele faleceu em 1975. Hoje eu venho seguidamente à cidade, uma vez por ano, mais ou menos, para ver minha mãe.

Sul21 – Onde tu estudaste, quem foram teus professores?

Lavard – Estudei basicamente fora. Comecei no Mozarteum de Salzburg logo após a morte do meu pai, em 1976. E tirei o diploma com 21 anos, era um dos mais jovens. Estudei com Sandor Végh, e depois fui spalla em várias orquestras. Também aperfeiçoei esta profissão de liderar e organizar orquestras. Eu gostava disso mais do que tocar como solista. Até hoje toco como solista, mas tem que estudar muito para ser bom (risos). Eu faço isso umas quatro ou cinco vezes por ano, mas o que gosto mesmo é de procurar realizar o meu conceito de música dentro de um grupo, para uma orquestra de câmara ou sinfônica.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Uns pedem ordens; outros, conversas. Há que considerar todos.” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Tu sempre pretendeste reger?

Lavard — Não, isto veio depois. Acho que o maestro tem que saber muito bem como funciona uma orquestra por dentro. Eu tenho muita experiência de tocar em orquestra como spalla. Eu conheço os problemas e as manias dos músicos, sei da psicologia deles. Você tem de conhecer a essência do grupo. Eu não acredito muito nesses maestros que regem piano, que treinam só o gestual e que só eventualmente trabalham com uma orquestra. A orquestra é um gigante vivo na nossa frente. E eu comecei com isso já cedo, ganhei um prêmio aos 16 anos. Regi uma pequena orquestra na Áustria num concurso e ganhamos, eu e a orquestra, o primeiro prêmio. Mas foi em 2004, quando comecei na Orquestra de Neuss (a Deutsche Kammerakademie Neuss), que eu comecei a reger seriamente. Agora eu posso dizer que sou um maestro, que eu rejo mais do que toco.

Sul21 — É uma liderança natural ou é uma questão de postura adquirida, de atuação?

Lavard — Sem dúvida, você tem que ter um gene de liderança, e às vezes é necessário ser autoritário mesmo. A conversa com um é diferente da que se tem com outro. Um é mais sensível, outro é mais cerebral, outro talvez seja mais limitado. Uns pedem ordens; outros, conversas. Há que conhecer e considerar todos.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Lavard com o filho Laurits | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 –Tu te caracterizas como durão ou conciliador?

Lavard — Depende muito da orquestra. Quando não há disciplina ou estudo, eu sou muito duro. Quando há, eu sou aberto, acessível, tenho humor. Eu tive uma orquestra de músicos da Geórgia que estava residente na Alemanha. Fiquei lá dois anos… Foi insuportável, eu agi duramente e só deu rolo. Havia um grupo acomodado nas primeiras cadeiras que era mais velho e não tocava nada bem. E tinha um grupo excelente de jovens que pedia passagem. Estes me apoiavam. Foi um caso grave, houve até luta física entre eles. Os músicos das primeiras cadeiras não aceitavam a rotatividade que hoje em dia é normal. Eles não queriam saber disso, tinham uma formação meio soviética, mas eu fora contratado justamente para modernizar uma orquestra que era patrocinada pela Audi. Também não aceitavam críticas a seu modo de tocar, levavam tudo para o lado pessoal. Mas, feliz ou infelizmente, o maestro tem que ser o chefe. Quando eu entro numa orquestra, penso no tempo que permanecerei lá e como posso educá-la do jeito que quero. O som, o estilo e a forma de tocar são determinadas pelo maestro. É triste ver que os muitos maestros não têm essa obsessão de imprimirem suas assinaturas nas orquestras. Com toda a modéstia, eu posso dizer que imprimi meu estilo em Neuss e na Salzburg Chamber Soloists.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Quando aparece alguém talentoso e com vontade de aprender, eu faço de tudo para mandá-lo para Salzburg”. | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Tu também tens importante atividade pedagógica, não?

Lavard — Sim. Dou aulas em Salzburg e algumas vezes convidei músicos daqui para completarem suas formações comigo no Mozarteum. Todos eles estão bem colocados em orquestras brasileiras. Quando aparece alguém talentoso e com vontade de aprender, eu faço de tudo para mandá-lo para Salzburg. O custo para brasileiros é de 570 euros por semestre. Nosso conservatório é muitíssimo superior à esmagadora maioria dos norte-americanos, onde se paga até 25 mil dólares por semestre.

Sul21 — Qual é tua orquestra dos sonhos?

Lavard — Eu acho que a melhor orquestra alemã que jamais existiu foi a Filarmônica de Munique, sob a direção de Sergiu Celibidache. O que eu gostava em Celibidache – e meu professor em Salzburg, Sandor Végh, também era assim – é que havia uma filosofia, um conceito por trás, eles faziam música para entender a vida. Para eles, a música não era só notas e beleza, era mais importante que a religião. Eles procuravam o significado daquilo que estava entre as notas, do que emergia delas. A estética da música de Celibidache era uma coisa filosófica, muito profunda. Fora isso, a técnica de montar uma orquestra, de afiná-la e de fazê-la entender a música e o que estava acontecendo, eram únicas, era uma coisa de uma inteligência cultural que poucos alcançam. Celibidache conseguia unir técnica, espiritualidade, agressividade, tudo. Especialmente a música de alguns grandes artistas — falo de Mozart, Bach, Schubert, Haydn, Beethoven — têm significados muito profundos. A partir deles você entende muitas coisas íntimas da alma, do espírito. São coisas que mexem contigo. Como disse Beethoven, não existe coisa igual à música. Nem a filosofia, nem a religião, nem a psicologia chega perto da música. A música realmente pode resolver coisas. E quem tomou a sério estas noções foram Sandor Végh e Celibidache.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Uma gravação é como um retrato de uma pessoa. Você tem o retrato, mas não o prazer da presença”. | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Como entender os significados, vozes e intenções?

Lavard — Não é nem uma questão de compreender. Um repórter perguntou ao Celibidache o que era a tal transcendência de que ele tanto falava, e ele respondeu que não tem como explicar a palavra transcendência porque ela também é transcendental! (risos) Porque a música é uma coisa passageira, ela existe neste instante. Quando tu escutaste a nota, ela já é passado. Um quadro eu posso olhar o tempo inteiro, posso estudar, o pintor pode modificá-lo. A música não. Celibidache nunca quis fazer gravações de estúdio porque ele pensava a música a partir do momento espontâneo do concerto, dessa existência efêmera. Uma gravação é como um retrato de uma pessoa. Você tem o retrato, mas não o prazer da presença. Eu também não gosto muito de gravações, mas você aprende coisas quando grava, apesar de que nunca vai ser a mesma coisa do que um concerto ao vivo. Os concertos ao vivo são a música de verdade.

Sul21 — E o repertório dos sonhos?

Lavard — Bem, minhas especialidades são Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert. Também tenho muita afinidade com a música francesa e gosto muito de Brahms e Bruckner. O que eu não aprecio muito é a ópera, só suporto as de Wagner e Mozart e alguma coisa de Puccini. Rossini, Donizetti, etc., não gosto muito deles. Essas historinhas do cara que casou errado, do amor escondido, das mocinhas, dos disfarces, acho muito bagaceiras… Isso era coisa pra divertir o pessoal daquela época. Hoje em dia não faz sentido.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Acredito que os manifestantes foram muitos sábios ao protestarem durante a Copa das Confederações. Meus amigos me perguntavam o motivo; afinal, para os europeus, somos o país do futebol.” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — E o programa do teu concerto com a Ospa na próxima terça-feira?

Lavard — A primeira parte é Mozart, minha especialidade. Eu vou reger a Sinfonia Nº 38. Na segunda parte, eu vou reger e tocar o primeiro violino solo nas Metamorphosen, de Richard Strauss. É uma obra muito complicada, não sei se vai dar certo, mas vamos ver! É escrita para 23 solistas — 10 violinos, 5 violas, 5 violoncelos e 3 contrabaixos. Deixa eu te contar uma coisa: no dia 10 de abril de 1945, Strauss batizou a composição como Réquiem para Munique, porque ele era do Partido Nazista e estava escrevendo para os alemães que estavam sendo derrotados na Segunda Guerra Mundial. Strauss sofreu muito pelo fato dos alemães não terem conseguido se desenvolver depois da I Guerra Mundial. Sofreu mais ainda quando Hitler foi ladeira abaixo. Então ele escreveu um Réquiem. Só que, quando ele criou esse título, alguém mais esperto lhe disse que ninguém ia tocar a obra! (risos) Aí então ele botou Metamorphosen, que é uma coisa completamente objetiva, sem nenhum contexto político. Mas bem no final, nos últimos dez compassos, os contrabaixos tocam o motivo do segundo movimento de Eroica, de Beethoven. E aí o Strauss escreve “In Memoriam” na partitura. Neste ponto a gente percebe que o Réquiem original está escondido ali. E é uma peça maravilhosa, lindíssima, romântica ao mais alto e digno grau.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Essas historinhas do cara que casou errado, do amor escondido, das mocinhas, dos disfarces, acho muito bagaceiras…” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Tu gostas muito de futebol, infelizmente és gremista… E a Sala Sinfônica da Ospa? Parece que há dinheiro para os estádios, já para a cultura…

Lavard — Sim, você é colorado, eu sei pelo Facebook (risos). Hoje em dia, o futebol está emburrecendo as pessoas. Isso acontece em todo o mundo. Parece que o futebol é a única coisa que importa. Você abre o noticiário e a primeira coisa é o futebol. Eu acho errado. O futebol tem que retornar ao seu lugar. E olha que eu adoro futebol! Aqui, por exemplo, só se fala e só se briga pela Copa. Por exemplo, a Ospa, que tem um enorme potencial e é uma instituição da cidade, ficou esquecida. Eu acho isso um escândalo. Eu acho que os músicos da orquestra têm razão em fazer greve e cancelar concertos, as condições que eles estavam quando eu regi, em 2011, naquela sala onde ensaiamos lá no Cais (o armazém A3), eram escandalosas. Eu sou brasileiro e fico indignado com este tratamento. Acredito que os manifestantes foram muitos sábios ao protestarem durante a Copa das Confederações. Meus amigos me perguntavam o motivo; afinal, para os europeus, somos o país do futebol. Eu tentava explicar que quem não tem o básico, talvez não deva pagar por algo caro como uma Copa do Mundo. Um povo sem cultura é um povo perdido. A cultura é a única coisa que nos mantêm vivos. A cultura é o catalisador para entender a vida, não interessa se é pintura, escultura, dança, música, teatro, poesia; a cultura é a coisa mais importante, mais importante do que a religião. A cultura leva a entender a vida e isso é fundamental. A música é a medicina da alma. A cidade tem que ter uma grande orquestra. Como disse o Erico Veríssimo, “eu tenho orgulho de morar numa cidade que tem uma orquestra sinfônica”. Isso tinha que estar bem grande em cima da Rua da Praia, tinha que escrever lá “Nós temos uma orquestra sinfônica e é a Ospa.”.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Sendo maltratada, qualquer pessoa acaba sem vontade de trabalhar” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 — Atualmente a gente passa pela Av. Independência e vê o prédio do ex-Teatro da Ospa sendo destruído. Sugiro-te nem passar lá, é deprimente. E a Ospa, hoje é jogada de um lado pra outro.

Lavard — Já passei por lá… Eu vejo nosso ensaio de hoje (9 de abril), na sala Elis Regina, como um bom passo, como uma perspectiva positiva no horizonte da Ospa. É uma sala muito boa, ótima. Faltam coisas fundamentais como o ar condicionado, mas é uma boa sala, muitas orquestras europeias não têm uma sala como aquela. Mas hoje devo ter perdido dois litros de suor ensaiando lá! Sendo maltratada, qualquer pessoa acaba sem vontade de trabalhar, é uma pena. Em São Paulo conseguiram montar uma ótima orquestra, com estrutura. É seguir o caminho.

Sul21 — Os políticos admiram a Ospa. Seus discursos são sublimes. Mas na prática tal admiração não se confirma.

Lavard — Tudo funcionava melhor na época em que havia maestros muito capazes e influentes, como Eleazar de Carvalho e David Machado, verdadeiras feras. Não quero dizer que isso seja bom, mas quando eles queriam uma coisa, brigavam, exigiam e conseguiam. Às vezes não adianta ser diplomático e democrático, às vezes o que resolve é o soco na mesa. Lamento dizer isso.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Bom dia, Abel Braga (veja os gols do fiasco)

Bom dia, Abel Braga (veja os gols do fiasco)
Tira essa camisa e vai embora, Abel.
Tira essa camisa e vai embora, Abel.

Abel, eu tinha previsto. Olha só o que eu escrevi ontem ao meio dia no Facebook, horas antes de Chapecoense 5 x 0 Inter:

… acho que os erros e a entrega da partida para o Cruzeiro, no último sábado, desmotivaram todo o grupo de jogadores. Se o jóquei é cagão, o cavalo sente.

Sim, se o jóquei demonstra hesitação e medo, o cavalo toma conta e faz o que quer. Por exemplo, em vez de saltar sobre o próximo obstáculo, vê a porteira aberta e dirige-se para a sombra onde gosta de descansar. Na minha opinião, Abel, tu não és apenas cagão, tu estás certamente brigado com o grupo de jogadores. Pois nada explica o que segue:

1. Alex, protagonista absoluto do time nos últimos jogos, fica no banco contra o Cruzeiro.

2. D`Alessandro é retirado ontem no intervalo para dar entrada a Valdívia. Enquanto isso, Alan Patrick, uma das piores contratações nos últimos anos, permanece em campo.

3. Alan Patrick é escalado no lugar de Valdívia no jogo de ontem.

4. Paulão é titular, enquanto Ernando é reserva.

5. Aránguiz, um dos melhores jogadores sul-americanos, é colocado repetidamente fora de sua posição.

É óbvio que Abel está brigado com Dale e Alex e, provavelmente, em vias de ter um desentendimento com Aránguiz. Num mundo ideal, Giovanni Luigi se demitiria neste minuto e, num mundo que deseja corrigir-se, Luigi acabaria o ano e sua risível gestão sem Abel. Pois não dá mais.

O que Abel faz com seus jogadores comprova o que diz meu amigo Miguel Galbarino: ele não sabe porque estava vencendo e agora também não sabe o motivo das derrotas. Acho que nós não somos mais favoritos para o G-4. Ficaremos na TV, vendo o Grêmio divertir-se na Libertadores 2015, enquanto recebemos o Gauchão em nossa cama, de pernas abertas.

Ah, parabéns à Chapecoense, que viu e se aproveitou de nossas óbvias fraquezas. Foi 5 x 0 e poderia ter sido ainda mais.

http://youtu.be/1KmWuvxpYm0

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Estádio Olímpico: as nossas melhores lembranças

Estádio Olímpico: as nossas melhores lembranças

Estádio-Olímpico-MonumentalA implosão do Olímpico está confirmada para janeiro de 2015. Comprarei charutos e espumantes para assistir a demolição. Eu, Mato Grosso e o Joca estaremos lá. Deus dá o estádio conforme o torcedor.

Quando a saudosa maloca for pelos ares, eu e meus amigos lá estaremos brindando. Imagine o filme que faremos. Haverá a explosão e, após o som tonitruante, veremos o pó subir com a trilha sonora da música do Canal 100. Para garantir a seriedade e o respeito aos gremistas, faremos uma homenagem a Hélio Dourado. Somos gente de respeito.

Com a terraplanagem do Olímpico, as conquistas do Grêmio serão resgatadas das fitas VHS e de outros meios mais obsoletos para o digital. Afinal, alguém tem que respeitar a história do chamado imortal. Imortais também são o bullying e as piadas prontas com que o tricolor nos abastece. Obrigado, Grêmio!

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Acho que não gostaria de entender, nem de pensar a respeito

Acho que não gostaria de entender, nem de pensar a respeito
Flávio Tavares
Flávio Tavares

Do jornalista e escritor Flávio Tavares, autor de vários bons livros e importante figura na luta contra a ditadura militar, ao receber o titulo de Cidadão de Porto Alegre (citação retirada de ZH):

Recebi (o título) como homenagem às posições independentes, destituídas de fanatismo, intemperança ou rancor que tento manter ao longo de 80 anos de vida. Ao agradecer, frisei que me esforço para ser aberto e sem preconceitos, mas sem ser neutro ou impassível. Não há neutralidade quando o crime nos espreita a cada dia, quando se cultiva o individualismo egoísta e se abandona a solidariedade. Menos ainda quando se degrada a vida no planeta.

No que faço ou escrevo, nos livros e artigos de jornal, nos amores e dores, busco guiar-me pela máxima de austeridade de São Josemaría Escrivá: “Não criemos necessidades. Aquele que menos necessita, mais tem”. Feito isto, a recompensa será a vida.

Tudo bem se São Josemaría Escrivá não fosse o fundador da Opus Dei. Destituído de fanatismo? Sei lá. Sigo gostando do Flávio do passado..

Leia mais: Opus Dei, a prelazia pessoal do espanhol Josemaría Escrivá

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Em noite de Ospa, fui para Roma, com (meu) amor

Em noite de Ospa, fui para Roma, com (meu) amor
Só no chuveiro
Fabio Armiliato: um cantor espetacular, mas só no chuveiro

Era uma noite de concerto da Ospa e já haviam me alertado que os ensaios de segunda e terça-feira tinham sido bons e que eu poderia elogiar alguns solos de inédita compreensão musical, mas, infelizmente, só posso comentar o que vi e ouvi, da forma como vi e ouvi. E, como a Elena estava em recuperação em casa, não fui, não vi nem ouvi. Mas vi um filme por indicação dela. Por ela e ele, fiquei em casa e ri, muito.

Para Roma, com amor é um filme de 2012 de Woody Allen que não tinha visto nos cinemas. É um exemplar que se destaca dos últimos filmes de Allen por ser extremamente engraçado. Nele, são contadas alternadamente quatro histórias. Numa delas, um casal americano, papéis de Woody Allen e Judy Davis, viaja para Roma a fim de conhecer a família do noivo de sua filha, cujo pai revela-se um extraordinário cantor de ópera, mas apenas quando sob o chuveiro. Outra história envolve um italiano comum, papel de Roberto Benigni, que se torna uma inexplicável celebridade. Um terceiro episódio retrata um arquiteto da Califórnia, Alec Baldwin, que visita a Itália com um grupo de amigos, vendo seu passado na pessoa de um rapaz que é seduzido por uma dessas mulheres que buscam, cheias de artifícios, a atenção sexual dos homens em torno. Por último, temos dois jovens recém-casados do interior da Itália. Tudo parece ir muito bem até que a moça se perde pela Roma histórica atrás de alguém que lhe arrume o cabelo. O filme foi um grande sucesso, tendo arrecadado 73 milhões de dólares.

Lembro que o filme irritou alguns italianos destituídos de uma das formas da inteligência, a auto-ironia. Bobagem. Talvez a mais hilariante das histórias seja a do produtor musical “à frente de seu tempo” Woody Allen. Ele resolve levar ao estrelato o cantor de banheiro. O conhecido tenor Fabio Armiliato vive este papel de forma absolutamente brilhante, trazendo para o filme todo o fanatismo dos italianos pela ópera, além da arte milenar dos cantores de chuveiro… Judy Davis está perfeita no papel da cética psiquiatra, esposa de Allen. Nesta história, aparece a primeira italiana típica: a indignada cuidadora do marido cantor e dos filhos. Na segunda história, Roberto Benigni é um burocrata sem graça, até que começa a ser perseguido pela praga romana dos paparazzi, presentes no cinema italiano desde Fellini. Nestas duas partes, temos mais dois arquétipos: a italianuda esbelta, peituda e gostosona e a que esposa que preserva seu casamento, não obstante… não obstante qualquer coisa. A mais internacional das histórias é a da moça cheia de artimanhas que conquista todos os homens que lhe aparecem pela frente. Voltamos à Itália na história do casal que se perde um do outro. É tão engraçada quanto a do cantor. Como muitas vezes ocorre, a mulher é muito mais esperta do que o homem, que casou virgem e que acaba envolvendo-se com uma prostituta vivida magnificamente pela mimética Penélope Cruz. A mulher do interior, coitada, provavelmente jamais será feliz com seu marido catolicão.

O filme é muito bom. Foi saudado tanto por minhas risadas quanto pelas da Elena, cuja cabeça encontrava-se no meu ombro.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Sartori, meu amigo, venha debater os problemas do estado

Sartori, meu amigo, venha debater os problemas do estado

sartori debate

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Eu sei que vocês não vão votar no Sartori, nem no Aécio

Eu sei que vocês não vão votar no Sartori, nem no Aécio
Emily Ratajkowski
Emily Ratajkowski

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!