Prognósticos para Inter e Grêmio

No ano passado, mais ou menos por esta época, disse que era impossível o Inter ser campeão e que a Libertadores era um sonho distante. Já para o Grêmio, apenas o céu era o limite numa época sem São Paulo. Este ano, a situação inverteu-se e novamente nossas perspectivas estão tão distantes quanto estão as de Richarlysson e Wando.

E chegamos àquele período no qual, numa bela noite chuvosa pós-Tardelli, pós-timão e pré-Palmeiras, faço o que prometi não fazer mais: fazer renascer meus pobres conhecimentos estatísticos, mergulhar em números e dormir às cinco da manhã cheio de certezas, louco para acordar alguém a fim de contá-las. Desculpem, mas vocês foram o povo escolhido para lerem minhas bobagens numéricas. Fodam-se.

O número mágico de Libertadores é o 65. Fora disso é quase certo que não vai dar. (Por favor, não contem isso ao Meira, porque acho divertidas suas “garantias” de um futuro G-4.) O Grêmio tem 28 pontos. Então precisaria de 37 nas próximas 18 partidas. Olha, isso é mais do que ganhar todas em casa e empatar todas fora, um pouco mais do que a média de 2 pontos por jogo, mais do que os 66%. Se o Grêmio não fizer algo em torno 100% em casa e mais 3 vitórias fora, ou se não conseguir 100% em casa e mais duas vitórias e um empate fora, pode se considerar Campeão Gaúcho de 2010.

Pois o Inter estará provavelmente preocupado em correr o continente e em não repetir o fiasco de 2007. Com 33 pontos e 20 jogos a realizar, precisa de mais 32, ou seja, chegará lá mesmo diminuindo um pouco o ritmo abostado que apresenta hoje. Tem 20 jogos para fazer um ponto a menos do que fez em 18.

Para ganhar o Brasileiro, os números são outros: são de 73 pra cima. O Grêmio pode esquecer. Prometo mostrar meu ventre protuberante e cinquentenário no Magazine G se o tricolor gaúcho fizer 45 pontos em 18 jogos.

Já o Inter… Olha, os números indicam que o Inter ainda é maior favorito ao título; mas, meus caros amigos, vinde até minha mesa conversar comigo, sirvam-se de cerveja ou de chimarrão – sabe-se lá a que horas você lerá isso aqui –, vamos falar olho no olho e com aquela franqueza a que a mesa, a bebida e a amizade predispõe. Agora responda: você consegue imaginar Tite campeão brasileiro? Se consegue, acho que é melhor voltar de táxi para casa.

O Corinthians e a Arbitragem

Um dos meus sonhos mais acarinhados é ver o Corinthians prejudicado pela arbitragem. O que ocorreu ontem no Beira-Rio, foi mais um dos escândalos habituais provocados pela presença em campo do time do Parque São Jorge. O dinheiro do Estado de São Paulo realmente faz diferença para juízes como Wagner Tardelli – figura habitual nos Inter x Corinthians em Porto Alegre. Lembro que, em 2005, Wagner Tardelli atravessou o campo em diagonal, percorrendo mais de 40 metros a fim de expulsar Abel Braga do banco do Inter. No vídeo da partida, viu-se que Abel apenas tinha esbravejado quando de mais uma marcação “equivocada” de Tardelli. Abel não abrira a boca, mas Tardelli ouvira ofensas e acabou suspenso. Foi o ano em que o Inter tentava roubar o título que o Corinthians comprara.

Mas ontem, em meio à chuva, num jogo quase secreto para os gaúchos que ficaram em casa, Tardelli deu um jeito de fazer o placar da partida de uma forma que eu não lembro ter visto antes. O resultado do jogo foi Inter 1 x 2 Corinthians.

1. No primeiro gol do Corinthians, seus dois zagueiros Jean e Chicão estavam 1 metro impedidos. Era uma jogada simples de cobrança de falta, um levantamento para dentro de nossa desimportante grande área. O bandeirinha provavelmente teve sua atenção chamada por um quero-quero que desafiava a chuva e não observou o lance.

2. No segundo tempo, houve o primeiro pênalti cometido por jogador do intocável coringão. Jucilei estendeu o braço para colher uma maçã madura dentro de sua grande área, justo quando a bola passava por ali. Certamente uma coincidência que Tardelli considerou em sua decisão de mandar o jogo seguir.

3. Logo depois, novo pênalti. Henrique salta de costas sobre Andrezinho, obstruindo-lhe a passagem. Foi um lance de contornos cômicos, pois o jogador do timão, após a passagem da bola e sem saber o que fazer, salta descrevendo um giro no ar, ministrando ao jogador do Inter um golpe oriental, inspirado no filme O Tigre e o Dragão. Um lindo lance que fez o comentarista do Première rir em seu comentário, dizendo que, claro, aquilo era pênalti em todos os rincões que não fossem a grande área do excelso alvinegro paulista.

4. Para cúmulo, dois minutos depois, Bolívar, bom zagueiro e excelente observador, aplica o mesmíssimo golpe de artes marciais na intermediária do Inter. Resultado: falta para Chicão bater e cartão amarelo para o talentoso aprendiz colorado.

5. Acontece o segundo gol do beneficiário das arbitragens brasileiras… com novo impedimento duplo. Aos 42 minutos, o bom Jorge Henrique recebe a bola na pequena área em completíssima e flagrante posição ilegal. Uma banheira crassa. Para maior conforto, havia um companheiro seu que lhe emprestou o sabonete.

Eu sugiro que o Corinthians faça um investimento financeiro sobre os organizadores da Libertadores; afinal, parece que por lá a aura monetária de seu estado e da segunda maior torcida do país não faz muito sucesso. Se nem o Flamengo consegue beneplácitos por lá, imaginem sua pálida imitação paulista.

P.S.- Vi também o jogo do Grêmio contra o Santos ontem. Sugiro aos gremistas uma observação sobre o posicionamento de Souza e Tcheco nos jogos fora do Olímpico. Não li nem ouvi ninguém acusando a dupla maior do tricolor de estarem jogando como volantes. Céus, o Grêmio sempre marca e marca e marca, esquece de jogar, toma um gol e depois tenta reagir. Quem tiver em mente uma fotografia do Grêmio sem a bola, procure encontrar Tcheco e Souza em campo. Eles estarão ao lado de Adílson e Réver. Futebol, gente, se ganha marcando e jogando; não se ganha anulando os melhores jogadores em tarefas que os excelentes Réver e Adílson sabem fazer sem grandes confusões. A dupla de armadores só atrapalha ali atrás.

Me gustan los Estudiantes

O Estudiantes de La Plata apenas perdeu a Copa Sul-Americana de 2008 na prorrogação, isso após ter sido derrotado no primeiro jogo. Recordando: ganhamos lá por 1 x 0, eles nos venceram aqui pelo mesmo placar e o gol de Nilmar, na prorrogação, deu o campeonato ao Inter. Os argentinos demonstraram incrível bravura no jogo final.

Foi esta memória futebolística que ligou minha luz de alerta vermelho. Nada estava decidido em favor do Cruzeiro. Quando o jogo começou, toda a minha simpatia foi para os argentinos. É um problema de formação, estou condicionado a torcer contra times que vestem azul. Detesto o Grêmio, o Cruzeiro, o Lazio, o Chelsea, o FC do Porto, a seleção da Argentina, a Celeste Olímpica, etc. Ainda mais se há do outro lado um time de listras vermelhas como o Estudiantes. Foi um jogão. Reclama-se que a torcida do Cruzeiro teria esfriado após o gol de empate, mas há poucas torcidas no país que carregam um time, o normal é o contrário.

Na minha opinião, o Cruzeiro preparou-se para outro gênero de partida. Decidiu fora de casa seus confrontos anteriores — contra São Paulo e Grêmio — utilizando-se de frieza e superioridade técnica. Foi o suficiente. Ontem, contra 109 argentinos loucos, a tal superioridade parecia um gênero de soberba vazia que logo transformou-se em desconcerto e desespero. É complicado entrar em campo com um plano que é desmentido imediatamente pela realidade. Os azuis queriam um futebol de aproximação e toques, porém a necessidade era de marcação e a correria. Não houve chances para os mineiros marcarem até que Henrique “encontrou” achou aquele gol casual no início do segundo tempo. Pois nem isso foi suficiente, o Estudiantes foi ainda mais heróico, apertou o torniquete e virou o jogo com certa facilidade. Creio que a chegada do Cruzeiro à final foi tão simples e natural que Adílson Batista apenas deixou o barco seguir. A impressão que ficou foi a de um time arrogante, tentando ganhar de outro que daria a vida. Foi muito, mas muito insuficiente.

Como primeiro prato, tivemos o Coritiba passeando em cima do Grêmio com o melhor centroavante ruim em atividade no Brasil, Ariel — gosto dele –, e o Inter jogando mal, mal e mal no mesmo horário de Cruzeiro x Estudiantes, mas vencendo o Fluminense.

O Bailão do Mano

O Corinthians jogou mais e mereceu. Na verdade, nosso primeiro tempo foi de uma constrangedora produção e não ficou nada para o segundo. Acho que o Inter poderia ter feito muito mais e até pretendo dar uns pitacos, mas é claro que todas as nossas falhas foram catalisadas pela intervenção de um adversário superior. Uma excelente defesa, um toque de bola envolvente, efetividade na frente; enfim, tudo o que sobrou ao Corinthians faltou a nós.

O esquema do Corinthians é simples, convencional e bem treinado. Quatro bons zagueiros (André Silva e William são sensacionais), dois volantes defensivos, um volante mais solto (Elias), um centrovante fixo e dois caras de movimentação (Jorge Henrique e Dentinho). Tudo ajeitadinho; sem novidades, mas tudo perfeitinho. Como sou colorado, preocupo-me e comentarei mais o Inter, mas não considero que o Inter tenha apenas perdido (ou entregue) o campeonato, foi o Corinthians quem o ganhou. Se foi fácil, deveu-se a uma enorme diferença.

Já o Inter tentou passar ao árbitro a responsabilidade de vencer o Corinthians. Foi o erro nº 1 do segundo jogo. Não dá, né? Todos sabemos que o Corinthians e o Flamengo são os queridinhos da arbitragem, porém é mais adequado tentar jogar. Tite errou em muita coisa. Se tirou o lastimável Álvaro, deveria ter tirado também Índio, que passa por má fase. Ontem, a confirmação; Índio foi vencido muitas vezes. Não creio que seja um ex-jogador, é apenas um jogador em má fase. Outro fato que nos prejudicou foi a utilização de reservas no Brasileiro. Um time tem que jogar e jogar e jogar. Entrosamento se adquire e se mantém dentro de campo, não em treinamentos, ainda mais se quem treina é o Pastor Tite. E, para completar, uma ridícula atuação de D`Alessandro: voltando de lesão e fora de ritmo de jogo, preferiu o papel de machinho argentino e demitiu-se do jogo. Foi apenas espalhafatoso e retirou-se pateticamente da partida.

O falta de reação de Tite foi evidente. Quando o Corinthians fez o primeiro gol, ele deveria ter sido rápido, retirando Glaydson para colocar Andrezinho ou Alecsandro, pois estava na cara que D`Alessandro — um grande jogador, mas que só joga quando está em forma — seria insuficiente na armação de jogadas. Só que nosso treinador é pusilânime e parece ser incapaz de raciocinar que os volantes do Corinthians estavam sem diversão.

Bom, perdemos. Agora, Fernando Carvalho afirma que, a partir deste jogo, só jogam os titulares… Tá bom.

Como curiosidade, vejam o DVD do Fernando Carvalho… Mereceram vencer, mas viver assim é melhor! Infelizmente, não nasci flamengo nem corintiano.

Ou clique aqui.

Fiasco futebolístico familiar com final feliz (5F)

OK, hoje Inter x Corinthians fazem somente uma decisão de Copa do Brasil, não é uma Libertadores; mesmo assim, aguardo histórias como as geradas por aquele Inter x São Paulo de 2006. Às vezes, acho que somos uma família fadada ao fiasco (3F). Algumas histórias daquela última noite de grande decisão no Beira-Rio, o memorável 16 de agosto de 2006:

1

Eu e Bernando (juntos, chegaremos aos 1000 jogos!) no finalzinho do jogo.

— Dado, quantos minutos?

Ele consulta o relógio.

— 42.

Depois de meia hora e de uns duzentos ataques do São Paulo, pergunto novamente:

— Dado, quantos minutos?

Ele consulta o relógio.

— 43.

— Não pode, merda! Tu não sabe nem controlar o tempo, bosta!

(Existe um “tempo emocional”? É uma maneira de prolongar a existência, não?)

2

Meu sobrinho Filipe — na época um adulto de 22 anos — não suporta a tensão e resolve “ver” o final da partida fechado no banheiro. Entra no malcheiroso recinto com o rádio a todo volume. Como consequência, vê saírem das privadas e de todos os cantos pessoas gritando para ele desligar aquela porcaria. O banheiro estava lotado.

— Aqui ninguém ouve rádio, caralho! Se quiser ficar com a gente, desliga!

Filipe desligou. Todos ouviam o som do estádio, esperando os gritos da comemoração do título. Sim, é uma espécie de seita da qual ignoramos a existência. Enquanto isso, aspiravam à América e a inolvidável fragrância de um banheiro masculino de estádio de futebol.

3

Durante a madrugada, eu fui para casa dormir, claro. Enquanto isso, Filipe, Bernardo e o amigo Guilherme iam na casas dos gremistas mais nojentos que conheciam. Na frente de cada uma delas, gritavam como loucos, soltavam foguetes, buzinavam, sopravam cornetas e eram ameaçados pelas famílias e vizinhos. Então, partiam para a próxima. Fizeram isso ao longo de toda a noite.

4

Claudia, minha mulher, é gremista e estava trabalhando em São Paulo naqueles dias. Dormia no hotel quando ouviu o foguetório na cidade. Abriu os olhos, levantou-se e foi à janela do quarto. Como estava no 12º andar, teve o que pensou ser uma bela visão dos são-paulinos comemorando a vitória. Ligou a TV para curtir a tragédia colorada. Só viu colorados comemorando. Aqueles, os que soltavam foguetes e buzinavam por São Paulo, eram corintianos, palmeirenses, santistas e todo o resto. Ela reclama até hoje.

O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchékhov / O irmão de Sergio

E então nós íamos conhecer o tal do monte da cidade mais plana que conheço, Montevidéo. Estávamos no carro de nossos amigos uruguaios Roberto Markarian e de sua mulher, Ana Ferrari. Foi quando eu disse que, na noite anterior, eu tinha assistido à peça que nos fora indicada por eles. Markarian virou-se, perguntando o que tínhamos achado. Estávamos entusiasmados com a montagem uruguaia e eu disse que lembrava de O Jardim das Cerejeiras como uma história de confronto aberto entre o ex-mujique — agora endinheirado — e a velha e decadente aristocracia. Roberto respondeu:

— Não, é tudo muito sutil, Milton. Porém, o conteúdo ideológico da peça é dos mais claros.

Ana concordou. Não havia muito a dizer sobre o grande texto de Tchékhov.

Conheço Roberto Markarian há mais de vinte anos. Ele morou na casa de um casal de amigos meus durante um bom período, nos anos 80, enquanto escrevia sua tese de doutorado na UFRGS. É um sujeito engraçado, inteligentíssimo e que parece conhecer tudo. Matemático conhecido no mundo inteiro (pelos matemáticos), teve sua carreira interrompida pela ditadura militar uruguaia, que preferiu vê-lo preso. Aos 36 anos, em 1983, ele apareceu em Porto Alegre a fim de recomeçar as atividades em sua área, após 10 anos de inatividade. É daquelas pessoas que qualquer um gostaria de ter como amiga. Sempre sorrindo e contando coisas com graça, Markarian é gentil até para discutir. Lembro que uma vez ele defendeu a tese, para mim indiscutível, da superioridade da literatura em língua espanhola sobre a de língua portuguesa. Contra bobos protestos nacionalistas, permaneceu tranqüilo, rebatendo facilmente os contra-ataques. Com a convivência soube também de sua família. Surpreendi-me com a profissão de seu irmão: técnico de futebol.

Sim, meu amigo Roberto (acima) é irmão de Sergio Markarian. Então aquele matemático que se vestia como um alguém muito pobre — sempre usando uma estranha combinação de chinelos de dedos, bermudas e camisas de manga curta, mesmo para sair à noite; aquela figura latinoamericana para quem os outros sempre faziam o movimento de pagar seu ingresso, seu restaurante, seu deslocamento, fato que, na verdade, nunca o vi permitir ocorrer (não por orgulho idiota, mas porque não precisava); aquele armênio hispano hablante que não se interessava de modo nenhum por esportes, era irmão de um técnico de futebol de sucesso? Estranho.

Pois é. Sergio Markarian (ou Sergio Apraham Markarian Abrahamian), assim como o hoje mundialmente famoso matemático Roberto -– não, repito, não é exagero –, sempre obteve sucesso como entrenador. Foi técnico do Olímpia entre 1983 e 1986, do Cerro Porteño entre 1990 e 1991, da Seleção Paraguaia na Copa de 1992 e novamente entre 1999 e 2002, do Panathinaikos que chegou às quartas de final da Liga dos Campeões em 2004 e da Copa da UEFA em 2003, esteve no Libertad eliminado pelo Inter na Libertadores de 2006 e agora está no Universidad do Chile, La U. Sem dúvida, uma tremenda carreira.

Lembro da figura do irmão de Roberto ao lado do campo enquanto sofríamos para vencer o Libertad de Guiñazu. Ele ficava tranqüilo enquanto Abel esbravejava. Eu pensava que, se Sergio fosse como o irmão — que estudava a Teoria do Caos –, poderia repentinamente fazer qualquer coisa para embolar nosso meio de campo como bolas de bilhar movimentando-se sem atrito. Mas quem realizou a mágica foi Alex, num tiro comprido e enganador. Sergio reagiu balançando a cabeça como quem diz tsc, tsc, tsc. É, Roberto é melhor.

Nunca falei com Sergio, mas cito sempre seu nome quando penso em substitutos para os técnicos do Inter. Seria uma questão de simetria receber outro Markarian.

Porém, quando comecei a divagar, estavávamos no carro indo para o monte que deu nome à cidade. Roberto já contava que, na noite anterior, eles tinham ficado até às 4 da manhã numa festa em que a atriz que fazia Duniacha na peça, a criada de quarto, chegara logo depois da montagem que víramos. Soubemos que o casal Markarian dançara bastante ou, como literalmente dissera Roberto, tentara movimentar seus corpos de acordo com o que ouviam.

Porém, antes eu falava de Tchékhov. Lembram que eu, na semana passada, lera e “resenhara” A Gaivota e que o livrinho português continha outra peça, exatamente O Jardim das Cerejeiras? Pois é, eu tive o privilégio de relê-la logo após a peça e digo a vocês que é perfeita e sutil, sutil e sutil. E ideológica, ideológica e ideológica. A cara de espanto dos nobres que se negam a acreditar que sua familiar e tradicional propriedade foi para as mãos de um mujique é a cara de um mundo que absolutamente não deseja compreender e aceitar o futuro. E o trabalho que ele dará.

Ah, Tchékhov. Tudo isso em apenas 44 anos?

P.S.- Ana e Roberto, obrigado pelos encontros, pelos vinhos, pela compra dos ingressos, por tudo. E desculpem nossa demora em telefonar. Somos assim imprevisíveis, como Chaotic Billiards.

O poder dos extremos


Ronaldo: “Hoje posso ir tranquilo pra balada”

Desde sempre digo que os jogadores que mais admiro e os mais importantes do futebol são o goleiro e o centroavante. Ali, a coisa se decide. Se o miolo do Inter foi melhor, este foi morto pelos jogadores que iniciam e terminam o Corínthians. De um lado, o goleiro Felipe; de outro, Ronaldo Fenômeno. Eles tiveram poucas mas decisivas participações. Enquanto Taison perdia gols, Ronaldo, aproveitava uma de suas duas chances. Do outro lado, Felipe fez imensa defesa na falta batida por Andrezinho e salvou a bola de Taison, que resolveu chutar bem no canto que o goleiro cobria, sem ver que este deixara o lado direito aberto.

Será muito difícil reverter a situação aqui no Beira-Rio. Estarei lá sofrendo e me irritando. Do outro lado está nosso velho conhecido Mano Meneses: prevejo um jogo truncado, enrolado — o Corínthians sabe que, se fizer um gol, o Inter terá de responder com quatro. Foi um péssimo resultado que só poderá ser dobrado com uma atuação heróica, daquelas que depois serão vendidas em DVD. É altamente improvável. Se fosse corintiano, convidaria os amigos para verem o jogo e compraria bastante cerveja, pois a coisa está fácil.

De bom, tivemos o triste consolo de uma atuação digna, até ofensiva.

(Será que algum empresário bondoso não arruma um negócio para Alecsandro, Leandrão e Danilo Silva? E se o Napoli levar Nilmar, ficamos com o primeiro citado? Não quero nem pensar na possibilidade…)


Barbie mostra sua face mais terrível

Já a sorte sorriu ao Grêmio. Pegou o inexistente Caracas, empatou os dois jogos e classificou-se no regulamento pelo gol que marcou fora. Observo a Libertadores e, olha, são todos japoneses. Minha esperança é o Estudiantes de La Plata. É um time corajoso que possui o melhor jogador em ação no campeonato. É um velho meio-campista, outros terão de fazer os gols e as defesas por ele, mas é a única gema no mar de claras de uma Libertadores anormalmente fácil.

(Não digo isto para irritar os gremistas. Já houve outras Libertadores até mais fáceis. Aquela que o Once Caldas venceu parecia uma brincadeira).

Gostaria de ver um São Paulo x Cruzeiro de bom nível, mas será difícil. O São Paulo aposta nos seus grandalhões e o Cruzeiro num toque de bola previsível e que me causa sono. Acho que em La Plata o Defensor morrerá sem grandes dramas. A conferir.

Da Beleza das Analogias e Simetrias (entre 1905 e 2005)

Porém, desde então, Gejfin foi morar no Rio…

1. Béla Bartók (1881-1945) foi um compositor húngaro.
2. Leandro Gejfinbein está vivo e é um blogueiro gaúcho, conforme vocês podem notar clicando sobre seu nome.
3. Tiago Casagrande também e é amigo do Gejfin.
4. Zoltán Kodály (1882-1967) foi um compositor húngaro amigo de Bartók.

Tiagón / Gejfin: Eu e o amigo-gêmeo Gejfin partilhamos da mesma fascinação pela memória humana. Pensar que cada pessoa tem uma História pessoal riquíssima, não importa quem seja ou onde vive, nossa – é o que os antigos definem como “muito louco”. Encontramos diversos pontos de contato quando começamos a conhecer a ficção um do outro; descobrimos que ambos usamos as lentes nada convencionais para observar o que está ao redor – pelo contrário, nos fascina o lado interno, a possibilidade escondida pela objetividade do dia-a-dia… E da ficção para os chopes de boteco, e deles certo dia imaginamos quantas histórias não estão enterradas pelas pequenas cidades do Rio Grande (só pra ficar dentro da nossa galáxia), à margem da capital, e logo, dos holofotes. Porque, mesmo que não haja glamour algum nisso, a verdade é que em algum momento nos perguntamos: o que as pessoas dessas cidades fazem quando a mídia não está olhando? E fomos curiosos o suficiente para ir lá espiar.

Bartók / Kodály: Em 1901, fascinados pela música do também húngaro Liszt, Bartók e Kodály tomaram consciência das relações de seu predecessor com a cultura popular da Europa Oriental. Ambos jovens compositores, resolveram estudar a música dos camponeses da região. Em 1905, Bartók pleiteou uma bolsa que lhes facultou recursos para recolher essas canções “em sua própria fonte” e partiu para anotá-las em companhia de Kodály. Então souberam que seus conhecimentos sobre tal assunto – e os de outros compositores – eram desfigurados, quase paródias da realidade. Na verdade, o que habitualmente se chamava de música cigana (tzigane) e danças húngaras não passavam de garatujas desengonçadas perto da caligrafia original.

Tiagón / Gejfin: Nossa idéia é compor ficção como um patchwork das diversas histórias e memórias colhidas. Não é um livro de curiosidades, é um livro sobre vida de pessoas, com a ressalva de que não é a nossa. Deixemos o encantamento para o leitor, a nós resta tentar ser o mais puros possível. Sua estrutura prevê que as pequenas cidades visitadas (no início, o parâmetro era 10 mil habitantes, mas reduzimos para metade) sejam capítulos, e junto delas, há um ensaio fotográfico. Em maio do ano passado fizemos a viagem-piloto: para Agudo, centro geográfico do Estado – embora a escolha tenha sido aleatória, na base do “e que tal…?” Jamais poderíamos imaginar tamanho êxito. Também pelos resultados práticos, mas principalmente pela sensação de olhar correspondido num flerte; chegamos lá querendo enxergar, e tudo abriu-se à observação e fruição. A acolhida foi fantástica. Conhecemos o interior da cidade, fotografamos, gravamos os diálogos entre nós; conversamos com as pessoas mais importantes e cheias de histórias da cidade, que, na verdade, poderiam ser qualquer cidadão. O cuidado que tomamos é o de deixar a curiosidade sobre “o outro”, “o estranho”, nos domínios da motivação de todo o esforço; mas na hora de transpor tudo que absorvemos, e mesmo a forma como absorvemos, há de ser a mais legítima possível, como se fôssemos também parte daquilo tudo desde sempre.

Bartók / Kodály: A partir de publicação das Canções Populares Húngaras, eles inauguram uma nova disciplina científica – a etnomusicologia. Nos anos posteriores, ampliaram seus progressivamente o horizonte geográfico de seus trabalhos: primeiro a Romênia, depois a Ucrânia, a Bulgária, até a África do Norte (Argélia e Egito) e a Anatólia (Turquia). Com o tempo, tornaram-se alvo da galhofa de certos críticos que não compreendiam a necessidade dos dois de alimentarem suas linguagens musicais com matéria viva. Estes críticos, ridicularizavam especiamente (e incompreensivamente) o último movimento da Música para Cordas, Percussão e Celesta, de Bartók, que hoje é uma das peças fundamentais do repertório erudito do século XX.

Tiagón / Gejfin: Voltamos a Porto Alegre com as sinapses lotadas de encantamento, mas não conseguimos transformá-las em texto. A experiência vivenciada repercute ainda hoje em conversa sim, conversa não; pequenos pedaços da viagem a Agudo seguidamente irrompem sobre a mesa de bar e criam lembranças de sorrisos divagantes. O projeto está interrompido por diversos motivos – um emprego fixo e verba são motivos nada originais, mas que se aplicam; mas também acho que há um frio na barriga causado pelo medo de que a próxima viagem não seja perfeita como a primeira foi. Além da viabilidade técnica para tocar o projeto adiante, precisamos romper a aura fantástica que se criou em torno do piloto.

Bartók / Kodály: O resultado, para a arte de Bartók e Kodály, foi um estilo originalíssimo. Em seus trabalhos, eles utilizavam elementos alheios à música da Europa Ocidental. Depois, conseguiram uma gloriosa união de seus estilos com o da grande tradição européia, sobretudo com Bach (caso de Bartók). Kodály foi um enorme compositor, porém – como os dramaturgos elisabetanos que tiveram o “azar” de serem contemporâneos de Shakespeare – foi sufocado pela genialidade do amigo Bartók. Bartók tornou-se subitamente célebre em 1911, quando da publicação da curtíssima peça para piano Allegro Barbaro. A música do povo era mais interessante, selvagem e intrincada do que qualquer scholar da época imaginava. O espírito científico de ambos não deve ser comparado ao dos compositores ditos “nacionalistas”, que se contentavam em tomar de empréstimo à música popular seus trejeitos para que suas obras ganhassem um colorido folclórico.

Tiagón / Gejfin: No momento em que conversávamos com nossos entrevistados, sentíamos um travo amargo – como um vinho tânico demais que passa dois dias na garrafa aberta. Porque embora jamais tenhamos nos revestido de uma posição oficialesca ou jornalística, soava ingrato e até injusto o fato de que macularemos os relatos com nossa ficção. As histórias, por si só, já são fascinantes o suficiente, e nos foram entregues com a paixão do protagonista; como evitar o medo de desapontar tantas pessoas? Não só pessoas, mas a própria história da cidade; pois não havia história simples. Nem o hotel – tu morrerias de rir se visse minha expressão no momento em que dona Eda me contou que o hotel onde estávamos hospedados, de sua propriedade, fora um hospital até os anos 40; e que a sala de tevê era, antigamente, a varanda onde os doentes tomavam sol – o que explicava as clarabóias improvisadas no teto. Pudéssemos, e sairíamos cobrindo todos os cantos de todas as cidades, escutando todas as histórias de todas as pessoas com o mesmo interesse e devoção, e transcrevendo-as depois para a eternidade das bibliotecas; porque na raiz somos apaixonados por colecionar a si mesmos, e disso vem a percepção de que todas as histórias são infinitamente ricas e multicoloridas, e que, sempre que alguma delas morre com alguém, o mundo fica um pouquinho mais árido.

Bartók / Kodály: Eles assimilaram o espírito da música camponesa, aplicando, ao criar, estruturas forjadas no conhecimento aprofundado dos esquemas populares. Descobriram, por exemplo, que a improvisação melódica se realizava por um processo que é o mesmo em todas as músicas populares: partindo de uma curta fórmula de base – que pode ser de apenas duas notas – os músicos vão ampliando progressivamente esta fórmula, e a elas retornam periodicamente no decorrer de uma peça, como se o fizessem para ganhar, a cada vez, um novo impulso. Este fato – que pode parecer uma simples definição do jazz – era desconhecido há 100 anos atrás. É inegável o mérito de Bartók de observar a realidade, depreendendo dela as leis internas de seu funcionamento para, então, empregá-las em suas obras, no sentido de que estas passassem a ser uma profunda reflexão.

Tiagón / Gejfin: Queremos reunir o material de três localidades para batermos em algumas portas – empresas patrocinadoras ou editoras – para realizar as outras sete viagens e publicar o livro. Há como ficar indiferente quando se tem nas mãos uma arte que tem como matéria-prima uma realidade distante, mas que se aproxima de qualquer ser humano na medida em que são coleções de pedaços de vida? Esse é o espírito. Queremos que o livro incentive as pessoas a fazer o mesmo consigo, praticando no seu próprio universo. Ter como retorno pessoas encantadas como nos encantamos por tudo isso. Acreditar que será possível nos move. Como pensar o contrário – que o encantamento é uma prática rara – dá medo. Vivemos conflitando essas coisas. Não raro os papos sobre o projeto chegam neste ponto, embora o fim da conversa sempre aconteça do mesmo jeito: “a gente sabe, né amigo, mesmo se nada disso acontecer – nem mais viagens, nem livro, nem nada -, pra gente, ter colocado câmera e gravador no carro e pegado a estrada rumo a Agudo, já valeu o que foi e será das mais incríveis experiências que vivemos”.

Observações finais: Bartók sentiu-se atingido quando o ministro da Educação Popular e Propaganda Nazista Goebbels, em 1936, organizou uma exposição de “Música degenerada” incluindo os nomes de Stravinsky, Schönberg e Milhaud. Escreveu ao ministro para que este inscrevesse seu nome e sua música nesse grupo. Depois, em 1938, chegou mesmo a declarar que pretendia converter-se à religião judaica como forma de ficar ao lado dos perseguidos. Expôs-se de tal maneira, que foi obrigado a aceitar os insistentes pedidos dos amigos – entre eles o de Benny Goodman – para que emigrasse, o que fez apenas em 1940. Foi para os Estados Unidos, onde morreu em 1945. Kodály viveu na Hungria até 1967. Além de compositor, era professor universitário e presidente da International Society for Music Education, da Hungarian Academy of Sciences e da International Folk Music Council.

Fontes consultadas: Leandro Gejfinbein e Tiago Casagrande escreveram a quatro mãos suas seções. As de Bartók e Kodály foram escritas por mim com o sempre providencial auxílio da memória de livros e discos e – muito mais importante – o da História da Música Ocidental de Jean e Brigitte Massin, um calhamaço de quase 1300 páginas, da Nova Fronteira, 1997 e o da Música da Modernidade de J. Jota de Moraes, Ed. Brasiliense, 1983.

Nenhuma surpresa

Sim, nenhuma surpresa. O Inter costuma se atrapalhar contra times inexpressivos. E aconteceu novamente. O Coritiba rola há anos pela primeira divisão tentando desesperadamente não entrar pelo ralo que leva à segundona. Seu lugar é aquele limbo que fica entre a Sul-americana e a queda. Qualquer ano cai de novo. Em 2009, faz 100 anos; então montou um time para não cair, igualzinho como fez quando completou 99 anos, 98 anos, 97 anos e assim por diante.

A novidade é que Renê Simões fez uso da intimidação. Tanto que o zagueiro Felipe mandou Nilmar para o hospital com uma voadora no quadril. (Talvez nos beneficie… Nosso atacante pode ser cortado da seleção, o que seria muito bom.) Renê deve ter dito a seus atletas: “Finjam ser neonazistas, depois imaginem que eles são gueis”. E vá pontapés para todo lado. O fato é que os 3 x 1 deixam o Coxa vivo. O jogo no Couto Pereira será ditado por eles. Prevejo aquele típico paroxismo de mediocridade para o qual o Inter gosta de perder.

Um perigo real. Falo sério.

E viva o grande futebol do Barcelona!

P.S.- Durante o dia, devo dar, aqui e lá, alguns pitacos sobre o conto Aqueles Dois, de Caio Fernando Abreu. Ele será focalizado pelo Clube de Leituras do Idelber.

A Marcha dos 100 Anos

O Bernardo demora para liberar quaisquer fotos. Haja saco! Tudo o que vocês verão aconteceu em 4 de abril de 2009, dia do centenário de nosso Internacional. Houve uma marcha de milhares de colorados — não lembro o total — desde a antiga sede do clube, atual praça Sport Clube Internacional, até o Beira-rio. A cerimônia na praça foi gozadíssima, com direito a apupos para o vice-prefeito José Fortunati, que resolveu falar nas grandes realizações de seu governo, e principalmente para o inábil prefeito Fogaça que achou por bem reclamar do público que fazia coro chamando Renata Fan de gostosa. Ele disse “Que falta de respeito!”. Resultado: mereceu a maior vaia daquela manhã. Enquanto esta acontecia, Renata Fan curtia sorridente seu sucesso. Ainda sorrindo, ARRANCOU o microfone da mão do imbecil que aspira ser o próximo governador e deu aquele BOM DIA À MAIOR E MELHOR TORCIDA DO RIO GRANDE que incendiou a homarada. Como pode um prefeito desconhecer a tal ponto o trato social com um público futeboleiro majoritariamente masculino?

As fotos estão em ordem cronológica.

Saímos da praça sob uma das enormes bandeiras que cobriam o público. Meu filho se atirava no chão, procurando os melhores ângulos.

Acima, ele já está em pé. Soube depois que o Prestes caminhou um bom tempo a nosso lado, mas não quis apresentar-se por pura gueizice.

Bonita foto, não? Sei lá como ele a tirou.

Mais panos criando aquele mar vermelho que tanto mal faz a alguns adversários.

Ah, esse eu vi. Estávamos na Aureliano de Figueiredo quando ele apareceu gritando em cima da caminhonete. O Bernardo parou a caminhada a fim de pegar um bom ângulo. Conseguiu.

Esse muro é bem alto, viram? Acho que o Dado tentou registrar a queda do sujeito. Uma frustrada tentativa jornalística do gênero “Um corpo que cai”.

Uma foto oficialista. Se fosse eu, me mandaria as fotos da Renata Fan e daquela peituda (adoro!) da Miss Colorada ou coisa que o valha. Mas se ele prefere o presidente Píffero, então tá….!?

A civilidade dos gremistas. Achei bonito. Todo mundo se emocionou. Eu imaginei como minha mulher — que é torcedora do Grêmio — devia estar feliz naquele momento de grandeza de meu time. Certamente, pensava em como era bom ter um homem feliz… e longe! Bom, eles poderiam ter nos mandado à merda. Tinha Gre-Nal no dia seguinte. Sim, ganharíamos deles novamente. É o costume.

Aqui, o Bernardo tenta registrar a massa. Olha, tinha muita gente. Há fotos aéreas que mostram a multidão. Muita gente mesmo.

Nova tentativa. Subimos no viaduto, mas não encontramos forma de demonstrar que estávamos no meio da marcha e que esta não tinha final próximo.

Sem graça. Por que me mandaste essa, animal?

Ooooooh, que fofinho. Como havia mulheres e como são bonitas as coloradas! Vocês já notaram? O Luis Felipe dos Santos, do Impedimento, estava lá com sua filha, a Morgana. Mas ela é bem maior que a(o) gulochinha(o) acima.

E, para finalizar, a foto de cunho social Sebastião Salgado-like (estou sendo injusto com meu rebento, a coisa saiu bonita). Esta é a única fora de ordem, mas fica melhor aqui. O Bernardo botou a câmara na cara da família que assistia à marcha. A mãe das crianças desapareceu subitamente.

Inter 2 x 1 Flamengo: o grande jogo em 11 tópicos curtos

1. Íbson: o Guiñazu deles. Há treinadores que gostam de Josué, eu prefiro grandes jogadores.

2. Guiñazu: o nosso Íbson, um monstro. Desarma todo mundo.

3. Tite: em casa, jogando com o ânus na mão, para usar a expressão do Daniel Cassol.

4. Rosinei: nosso Obina. Burro e inoperante.

5. Obina: o Rosinei deles. Burro e inoperante.

6. Angelim: de onde saiu esse cara? Joga demais.

7. Andrezinho: quero ter um filho com ele.

8. Juan e Rogério Ceni: onde nasce tanta autoconfiança injustificada?

9. D`Alessandro: adoro esse argentino.

10. Cuca: seu time é bom, bem montado. Mas quem aguenta aquela vozinha chorosa?

11. Nilmar: que passe, hein?

Um jogo, o Marconi, outro jogo

Estava assistindo ao Sport martelar, martelar e martelar o Palmeiras quando me veio a idéia de ligar para Marconi Leal. Trata-se do mais famoso torcedor do Sport a morar abaixo das latidudes do Trópico de Capricórnio. Talvez o único. Pego o telefone e ligo para São Paulo. Atende Patrícia, sua mulher, uma gaúcha que tenta torná-lo mais razoável, isto é, colorado. Ela me cumprimenta alegremente enquanto me diz que está levando o telefone para o Marconi na cama. Rapidamente, visualizei o meu amigo em seu quarto vendo o jogo, dando tapas no colchão a cada gol perdido, desejando que Paulo Baier voltasse a capinar na roça. Ele atende:

— E aí, Ribas?

— Vem cá, esse teu time não para de perder gols?

— É? Estou ouvindo uns vizinhos gritarem…

— Não estás vendo o jogo?

— Não, é que estou passando por uns problemas de pressão e meu médico sugeriu que eu não me emocionasse muito.

— Ah, tá.

(Um pouco de hesitação de minha parte).

— Olha, o Sport está bem. O jogo está seguro. O Palmeiras nem ataca. O gol sai logo…

— Hahahahahahahaha, não te preocupa, basta não ver!

E seguimos conversando por algum tempo. Sobre outros assuntos, claro…

Tão verídica quanto a história acima é o fato do Sport ter marcado apenas um gol durante o jogo e só mais um na decisão por pênaltis, o que retirou o clube de meu amigo da Libertadores. Marcos esteve do tamanho da decisão; o restante do Palmeiras, não. Ganharam com muita, muita sorte; defenderam-se todo o tempo; tinham poucos contra-ataques e mínima posse de bola. Neste Palmeiras, não reconheço a assinatura de seu treinador: é um time pesado, sem criatividade, de constrangedora simplicidade. Mas foi uma bela partida, típica de Libertadores, nada a ver com os amistosos do Grêmio, que nada mais são do que coletivos. O São Paulo devia protestar por não fazer o seu!

E ontem vi o jogo do Inter. O Inter perdeu muito com esse posicionamento defensivo inventado pelo Tite. São os tais sete atrás da linha da bola. Ora, se é assim, D`Ale, Nilmar e Taison têm de armar e fazer os gols. O louco do Nilmar rende sob qualquer esquema, mas D`Alessandro e principalmente Taison sumiram, assim como o toque de bola. OK, não perdemos para Corinthians e Flamengo, mas apresentamos um futebolzinho pobre, feio e fedorento. O Flamengo merecia vencer o jogo, só que entrou com uma dupla caipira na frente (Éverton e Emerson) e depois botou Obina e Josiel… Assim fica difícil, né?

Não vi o coletivo do Grêmio, só sei que há mais dois programados para as próximas quartas-feiras, desta vez contra um time de beisebol.

A privada metafórica e seus efeitos colaterais

Às vezes, uma voz feminina me sussurra ao ouvido: “ Faltam seis jogos para o Inter ser campeão da Copa do Brasil. Acho que vai dessa vez”. Mas logo vem outra voz, agora masculina, e responde: “ E sete para o Grêmio ser campeão da Libertadores”. Se eu pudesse ligar os dois fatos, fazendo um consequência do outro, se pudesse assinar um contrato garantindo as duas vitórias… Acho que não o assinaria.

Pois a Copa do Brasil é o meio, a Libertadores é o fim. A conquista de uma Libertadores é algo que marca e muda um clube e meu coloradismo seria cruelmente atacado com um terceiro título tricolor, enquanto que a Copa do Brasil, pfff… Acho que nem deveria dar vaga direto à Libertadores, mas aquela vaguinha que deve ser confirmada contra um sul-americano fraco. Então, já que rasgamos o contrato, separemos Grêmio e Inter. O Inter ganha a Copa do Brasil e o Grêmio perde a Libertadores. Brilhante! Mas quem fará o Grêmio perdê-la?

Ai, jisuis. Vamos combinar que o San Martín é uma piada. E o próximo adversário do Grêmio está entre Caracas e Cuenca. Vi todos jogarem. São zumbis. Todo o mundo sabe que o Grêmio já está nas semifinais e o que me desespera é que, antes das delas, o São Paulo brigará com o Cruzeiro, o Sport com o Palmeiras, o Boca com o Estudiantes; ou seja, o Grêmio chegará sem cansaço e luta para enfrentar apenas dois times. Como não creio que vá me matar, resta esperar que os melhores vençam.

O entusiasmo do São Paulo me parece o daquele cara que come a Scarlett Johansson e vê que a estagiária gorda e cheia de acne está a fim de “fazer amor”. Além do mais, o time do Morumbi só ganha em Porto Alegre quando traz o Atlético-PR (obrigado, Prestes). Contra o Grêmio, é galinha morta. O Cruzeiro é uma instituição bipolar e, de uma forma que deixaria muitos psiquiatras ruminativos, contratou Kléber, um centroavante com tantos desvios de comportamento que seria o pupilo ideal do Capitão Nascimento. O Boca Juniors tem fama e resultados, mas a formação atual se esforça, corre, berra, bate e sua um rio para parir algo como uma mosca, das pequenas. Sim, estou cagado.

Falam em mudar os cruzamentos. Ah, eu quero, mas não tirem o Cruzeiro do caminho!

A vida do Inter é parecida com a do Grêmio. Enfrenta o Flamengo, depois, se passar, diverte-se com Ponte Preta ou Coritiba – babas dignas de um San Martín da vida — e pega o Vitória do Franciel (dois links) ou o Corínthians do Mano Menezes ou o Fluminense do Fred. Eu prefiro enfrentar o Corínthians. Seria muito mais “temático” ganhar um campeonato deles depois que quase roubamos o Brasileiro de 2005, comprado por eles. Eles se tornariam bi-vices da competição. O Vitória é o time do Carpeggiani, não gostaria de torcer contra ele que foi meu ídolo e o Flu seria também legal, pois seria bi-vice para o Inter. Também seria divertido.

Mas olha, estou preocupado é com quem ganhará do Grêmio. Se apostasse, vocês já sabem, cravaria Cruzeiro. Todo cagado.

P.S. importante: o jornalista Jones Lopes da Silva está escrevendo uma biografia de Escurinho. Quem tiver boas histórias e curiosidades que não as usuais, marque um papo com ele pelo e-mail [email protected]. Falei longamente com ele e o livro sairá bonito e bom.

O caricatural placar da decisão do Campeonato Gaúcho…

… revela o quanto os campeonatos regionais são heterogêneos, anacrônicos e antiquados. Na decisão de 2008, Inter 8 x 1 Juventude; em 2009, Inter 8 x 1 Caxias. Parece piada. Quando o Inter resolve VENCER um time do interior do Rio Grande do Sul no Beira-Rio, o primeiro tempo pode acabar em 7 x 0, fato que não acontecia há 68 anos.

Se estou feliz? Claro que estou, ganhar o Campeonato Gaúcho é melhor do que perdê-lo, mas falando sério, preferia não jogá-lo. Queria um Brasileiro de ponta a ponta do ano, uma Copa do Brasil com todos os clubes — os que vão à Libertadores não têm datas para jogá-la, sem os regionais teriam… –, folgas para os clubes nas datas Fifa, etc. Um Gauchão, ganho ou perdido, é a mesma coisa — nada.

Mesmo assim é engraçado ganhar de um time da Série C. Aqui, a avassaladora goleada:

Já na decisão paulista, o destaque foi o chilique de Diego Souza. Diego dá razão àquele meu amigo português que afirma tratar-se de um imbecil. Explico: Diego foi jogador do Benfica. Acabou corrido de lá. Vejam abaixo as estrepolias de um grande profissional:

Uma fotografia amarelada que não vi

Sim, amarelada e ao fundo, atrás da mesa de trabalho do detetive Jaime Ramos, na sede da polícia da cidade do Porto, em Portugal, havia uma fotografia antiga. Qualquer torcedor do Porto reconheceria o sorriso do maior jogador de futebol nascido no Peru em todos os tempos e herói do clube português: Teófilo Cubillas. Enquanto leio Longe de Manaus, lembro da melhor escalação peruana: Rubiños; Campos, Fernández, Chumpitáz e Fuentes; Roberto Challe, “El Cabezón” Mifflin e Teófilo “Nene” Cubillas; Baylón (“Cholo” Sotil), Perico León e Gallardo.

Eu era uma criança e tal escalação era algo que ouvia como se fosse um poema. Não tinha muito contato com a língua espanhola e adorava a sonoridade de nomes como Chumpitáz, Roberto Challe, Mifflin, Hugo Sotil e do musical ataque de Baylón, Perico León e Gallardo. Porém, …

Falemos sério, o Peru não existe há décadas no mapa do futebol. Um grande time peruano nos parece mais inacreditável quanto um Uruguai candidato a algo grandioso, mas quando os anos 60 viravam em direção aos 70, a sonora seleção peruana era temida. Tinha grandes jogadores. Se Mifflin jogou no grande Santos de Pelé e Gallardo no Palmeiras campeão de 1967, houve dois supercraques que ganharam o mundo: Cubillas e “Cholo” Sotil. Sotil não interessa a esta crônica, mas mesmo assim vamos dar-lhe a chance de mostrar-se no Impedimento através de seu gol no espetacular Real Madrid 0 x 5 Barcelona na temporada de 73-74. O jogo ficou famosíssimo na época, o treinador da Barça era Rinus Michels, o maestro era Cruyff, o cruzamento é do próprio Johan e o narrador é catalão…

Teófilo Cubillas era uma espécie de sósia de Muhammad Ali e é lembrado por muitos como o maior jogador que já vestiu a “camisola” do FC Porto, do Alianza e da seleção peruana. Jogava na posição dos craques, fazendo a ligação entre o meio de campo e o ataque. Costumava driblar sempre para a frente e tinha um chute potentíssimo e certeiro. Fazia muitos gols. É o oitavo maior goleador em Copas do Mundo e, tendo jogado 905 partidas em sua carreira, marcou 526 gols, fazendo uma média de 0,58 gols por jogo (0,61 em seus tempos de Porto ou 72 gols em 118 jogos e ainda, pasmem, 0,77 gols por jogo em Copa do Mundo, o que o torna o maior goleador não-atacante das Copas). Não é, portanto, jogador para ser esquecido por torcida nenhuma.

Por isso é que o detetive Jaime Ramos, do excelente romance Longe de Manaus, de autoria do português Francisco José Viegas, tem uma foto amarelada dele em seu escritório, um antigo e insistente recorte de jornal mostrando os dentes brancos do sorriso de Teófilo Cubillas. Os fóruns de “adeptos” do FC Porto lastimam que não haja NENHUM GOL feito por Cubillas para o Porto no YouTube. E não há mesmo! Os que estão disponíveis com boa imagem são os seguintes.

Na Copa de 70 contra o Brasil:

A virada contra a Bulgária na Copa de 70 (Cubillas marca o 3 a 2):

Novamente contra o Brasil na Copa América de 1975, vencida pelo Peru:

Dois gols geniais no mesmo ângulo, contra a Escócia na Copa de 78:

O câncer no futebol peruano parece ter sido instalado naquele dia 21 de junho de 1978, quando a Argentina fez-lhes 6 x 0 num jogo pra lá de esquisito. Houve suborno? Estou certo que sim. O time peruano, de futebol vistoso e ofensivo, podia tomar 6 a 0 dos argentinos, mas nunca com aquela postura de Clemer cagado na Bombonera. Cubillas estava em campo. Ele e seus companheiros pareciam ter sido acometidos pela Síndrome de Bartleby: a bola vinha para o Peru e eles faziam como o personagem de Melville: I would prefer not to. O país ainda foi à Copa de 1982. Lá fez um fiasco e nunca mais. Tanto que hoje é o último colocado nas eliminatórias.

Amor

Quando eu era criança, costumava fechar a porta do meu quarto para narrar futebol em voz alta com maior liberdade. Minha irmã me enchia o saco, dizendo para eu parar de inventar aquilo. Narrava jogos espetaculares onde o Inter vingava-se de todas as humilhações que o Grêmio nos submetia naqueles anos 60. Era uma vida interior movimentada, que fazia minha garganta doer pelo esforço de gritar tantos gols. Também sonhava com jogos, escrevia escalações, contratava jogadores inatingíveis – muitas vezes era um deles — e fazia cálculos, anotando num caderno vermelho todos os jogos dos campeonatos que o Inter participava. Era uma coisa meio demente, ainda mais num tempo em que o Campeonato Gaúcho valia alguma coisa e em que o Grêmio havia vencido 12 dos últimos 13. Era uma tragédia ter 11 anos naquele 1968 que terminaria com o AI-5. Mas tinha certeza que os anos me fariam melhorar. Minha mãe também.

É, mas não mudou muito. É um grave defeito de fabricação. Vocês não me pegarão mais aos berros no meu quarto – ainda mais se estiver acompanhado –, mas minha vida interior, quando não estou submetido a estresse, inclui aquele momento em que passo a pensar no próximo jogo, na próxima escalação e, ainda, nas próximas jogadas. Entro no elevador e de repente vejo D`Alessandro pisando na bola, retardando o ataque… Aquilo me irrita e já saio do elevador preocupado. No dia seguinte, acordo e de cara levantam uma bola em nossa área. Sandro salva e partimos para um contra-ataque com Taison e Nilmar: gol certo enquanto escovo os dentes.

Acho que há pessoas que pensam em dinheiro e mulheres o tempo inteiro — eu até perco muito tempo também nisso –, mas a vida interior do torcedor de futebol é um pouco diferente. Claro que todo este interesse está associado a um clube que amamos e que, por definição, é mais importante do que todos os outros. E quando este clube tem um inimigo, este será o mais odioso e horrendo – e sifilítico e purulento e idiota e filha da puta e a nossa cara. Sim, acabo de descrever sucintamente o Grêmio.

E então este clube faz cem anos, contingência inevitável para quem, mesmo endividado, não morre e a gente fica todo bobo, achando que o dia 4 de abril nos oferecerá vales onde correm o leite e o mel, com 11.000 virgens amorosas vertendo Baileys das tetas. Confesso que balancei quando meu sobrinho me convidou para ir ao jantar do centenário, mas recuei ao saber que custava R$ 200,00. Também não me entusiasmei pelos tais fogos — quase sempre fecho minhas noites de sextas-feiras em cinemas –, mas achei legal a coisa da caminhada até o Beira-rio no sábado, a tal Marcha do Centenário.

Fiquei indignado quando um pessoal aí, os quais são indiscutivelmente os maiores representantes das torcidas gaúchas (preciso indicar a ironia?), convidaram o prefeito gremista para a caminhada e ameaçaram até com a Yeda. Céus, que gente mais sem noção! Para que misturar a mais simples das comemorações – a procissão de colorados do incerto local onde o clube foi fundado até o Beira-Rio – com mais uma tentativa desesperada de manter a troca de favores com o poder? E eles seriam retaliados, vaiados, precisariam de seguranças. Nosso momento cívico ficaria uma merda.

Sim, eu disse cívico, pois colorado é o que sou. Se habito fisicamente a Rua Gaurama, tenho uma segunda vida com endereço aqui; se tenho um telefone, também tenho e-mail; se sou Suda de modo geral, sou especificamente brasileiro; se tenho o futebol em minha vida interior — assim como tenho a Gaurama, o blog, o número do telefone, o endereço de e-mail, a Suda e o Brasil — esta se foca repetida e especificamente para o Inter. O Inter e seus grandes times moram em mim, completam um século neste sábado e é fato dos mais dignos de celebração que eu possa imaginar, mesmo que tenha achado todos os outros centenários (principalmente aquele) manifestações ridículas e sentimentalóides, sem intersecção com nosso centenário. Não tinha pensado nisso, mas devo me comover na caminhada. Afinal, ninguém consegue ser crítico de si mesmo e o Inter, sei, sou eu.

Chama um táxi?

Os principais órgãos da imprensa gaúcha, sempre indo ao cerne das questões, divulgam com grande destaque a mais nova aquisição do Sport Club Internacional. Sim, um ônibus. O site do clube teve o bom gosto de ainda não estampar fotos da geringonça abaixo. Mas deve ser algo muito importante. Afinal, avizinha-se o Campeonato Brasileiro e ele, o ônibus, deverá ser muito utilizado no translado até o aeroporto.