Depois, talvez, eu consiga mais fotos da festa de 5 anos do Sul21. Por enquanto, fiquem com esta reportagem fotográfica de Elena Romanov. Nela, o tietado chargista Carlos Latuff faz um retrato do garçom Maycon, do NB Steak, a pedido do último. A fotógrafa teve rara intuição jornalística ao documentar o quase silencioso encontro.
Foto: Elena RomanovFoto: Elena RomanovFoto: Elena RomanovFoto: Elena Romanov
O homem sem fé não cria. Fé em quê? No que faz.
Iberê Camargo
O prédio da Fundação Iberê Camargo (foto abaixo) está fechado, mas o motivo é nobre: é que está sendo montada a exposição Iberê Camargo: século XXI, que comemora os 100 anos do nascimento do artista. A mostra comemorativa ficará aberta à visitação entre os dias 18 de novembro de 2014 a 29 de março de 2015. (E, portanto, já fechada na data desta publicação. Mas creio que o texto não fica, de modo nenhum, invalidado). Ela foi concebida contemplando os principais temas de suas obras e suas repercussões na produção de artistas brasileiros contemporâneos. Diferenciando-se do formato convencional de exposições comemorativas, em geral um conjunto representativo ordenado cronologicamente, a mostra destaca a poética de Iberê em diálogo com trabalhos de dezenove artistas brasileiros de várias gerações.
Pela primeira vez, todos os espaços do edifício sede da Fundação serão tomados como expositivos. A totalidade do prédio projetado por Álvaro Siza, desde o lado de fora ao interior tortuoso das rampas, passando pelo grande átrio, acolherá obras e conjuntos de obras com afinidades com os grandes eixos tratados pelas várias séries de Iberê Camargo. Séries como “Carretéis”, “Núcleos”, “Fantasmagorias”, “Ciclistas” e “Idiotas” serão apresentadas na companhia de trabalhos de outros artistas. O cinema, que Iberê tanto apreciava, ocupará as rampas que levam de um andar ao outro, como também a literatura, que ele amava a ponto de praticá-la.
Iberê Camargo, nascido em 18 de novembro de 1914, foi um artista sofisticado, dono de uma arte impactante, impaciente, torturada e visceral. A fase mais importante deste gaúcho de Restinga Seca não pode ser menos decorativa e indulgente. Por isso, não deixa de surpreender que, em nossa época, sistematicamente acusada de superficial e de privilegiar o entretenimento — o que também é verdade — , a arte de Iberê tenha alcançado tamanha relevância que chegue ao ponto de sua importância poder ser vista no caminho da Zona Sul de Porto Alegre desta forma:
Fundação Iberê Camargo na Av. Padre Cacique, 2000 em Porto Alegre | Foto: Bernardo Ribeiro
O ensaio de Paulo Venancio Filho, Iberê Camargo, desassossego do mundo, não deixa dúvidas sobre o caráter de Iberê: “Dostoievsquiano, revoltado, angustiado, trágico, sinistro, violento, atormentado pela consciência” foram algumas das expressões utilizadas. Ao menos quando trabalhava ou falava sobre arte, pois o pintor, fora do ambiente artístico, foi sempre descrito como um homem educado e afável.
Poucos dias antes de morrer, em 9 de agosto de 1994, Iberê Camargo, já bastante debilitado pelo câncer, acordou Maria, sua esposa, no meio da madrugada. Pediu a ela que o levasse até o ateliê, pois queria finalizar uma tela. Achava que era a última oportunidade de fazê-lo antes de ser internado. Solidão é o título da obra inacabada. Se o fato demonstra uma postura absolutamente dedicada à arte – “Minha arte e minha vida são a mesma coisa”, dizia – , o título da obra também é muito significativo para quem disse, a respeito da morte: “Sempre fui um caminhante solitário. (…) Não nasci em cacho. Nasci só e morrerei só. (…) Não participo de paradas de sucesso. Não pertenço a grupos. Vivo recolhido. Não me importo em saber de que lado sopra o vento. Sou quem sou, faço o que faço.”, declarou Iberê para Lisette Lagnado no livro Conversações com Iberê Camargo.
Não obstante a dureza destas palavras, os amigos de Iberê lembram que ele exigia a solidão apenas em seu trabalho. De resto, “era generoso, gentil, falante, conciliava a solidão da criação ao convívio tranquilo no dia a dia”. Porém seu humor era de exemplar acidez. Não, não era um otimista. E ficou ainda menos após envolver-se numa tragédia em 1980, quando o homem gentil provou ser apenas um homem controlado.
Iberê estava numa rua do Rio de Janeiro, acompanhado de sua secretária, quando testemunhou em plena rua uma briga violenta entre um casal. Nervoso, o homem ameaçou-o por estar observando interessadamente a cena, empurrou a secretária e depois Iberê. Agredido, o artista – que tinha posse de arma – disparou dois tiros, matando o agressor. Foi absolvido por legítima defesa, porém nunca se recuperou da tragédia. O caso teve grande repercussão e o pintor resolveu voltar a morar em Porto Alegre e, ao mesmo tempo, trazer a figura humana de volta a seus óleos e gravuras.
Com efeito, o caso deixou Iberê abaladíssimo e influenciou de forma cabal sua obra. Como resultado, surgiram quadros de figuras esquálidas, grotescas, torturadas, espectrais e zombeteiras, cheias de angústia. Era como um Goya moderno, dedicado a retratar não os horrores da guerra, mas de seus fantasmas interiores. Do Rio, Iberê retornou a Porto Alegre em 1982, abrindo seu atelier na rua Lopo Gonçalves. Em 1986, foi morar e trabalhar no bairro Nonoai.
A artista plástica Lou Borghetti – que depois foi aluna e assistente de Iberê – conta sobre o primeiro encontro entre ambos, ocorrido justamente em 1980.
Ele estava com uma mostra na Galeria do Centro Comercial Azenha. Naquela época eu não conhecia de perto sua pintura. Passei em frente a galeria e me deparei com uma tela grande, escura e muito dramática. Pensei: não gosto, vou embora. Andei uns metros, voltei. Parei novamente, olhando a tela através do vidro e novamente meus pensamentos eram de como alguém pode pensar algo assim, pintar assim, eu não teria esta tela em minha casa, ou teria? Olhei para dentro da galeria, com pouca gente, num pequeno espaço expositivo bem acolhedor. Entro, não entro, entro, só pra ver a tela sem o vidro e ter certeza de que não gosto. Entrei, pensei, mas quem é esse pintor que de tão forte e corajoso me provoca tanta sensação de desconforto, mas ao mesmo tempo não consigo parar de olhar. Não tive dúvida, perguntei: Quem é o pintor? E um senhor alto, atencioso e muito gentil se aproximou e disse: – Sou eu. – Ah, desculpe, eu posso ser franca? – Claro. – Não gosto da sua pintura, me aflige muito.
E ele, do alto de sua extrema gentileza disse: – Nem eu.
Este diálogo faz eco a um outro, ocorrido no Rio de Janeiro nos anos 40. Logo que chegou ao Rio, Iberê Camargo foi procurar um dos grandes nomes do modernismo, Cândido Portinari. Portinari mostrou-lhe o que tinha em seu ateliê e perguntou se Iberê gostava. A resposta foi outro “Não”. Portinari achou natural: aquele menino ainda precisava se acostumar aos modernistas. Com uma de suas pinturas, Iberê recebeu um prêmio: uma viagem à Europa. Foi lá, entre Roma e Paris, que fortaleceu sua formação. Na Itália, estudou com De Chirico e na França teve aulas com André Lhote.
Voltando ao Brasil em 1950, começou a trilhar um caminho muito pessoal: o dos carretéis que usava como brinquedos durante a infância. Na séries Núcleos, formas de carretéis invadem cada tela com pinceladas densas, camadas pastosas de tinta em tons negros ou azulados. Críticos estrangeiros, ao observarem as obras desse período, tendem a traçar analogias com o expressionismo abstrato de De Kooning e Pollock.
Mas Iberê gostava era dos mestres — dos renascentistas, de Goya, de Rembrandt — e, entre os contemporâneos, preferia associar seu espírito criativo ao de Picasso, pelo desejo de retornar aos clássicos e dar a eles uma roupagem moderna.
– Meu aprendizado não se fez apenas através de cópias de grandes mestres. Embora não tenha – graças a Deus! – cursado uma academia de arte, na juventude frequentei ateliês de mestres, na Europa. O conhecimento, uma sólida cultura plástica como a entendo, jamais poderá sufocar a originalidade de um artista, se ele realmente a tem. Conheci em Paris, um escultor brasileiro, bolsista, que não frequentava museus para não perder a personalidade, esquecendo, talvez, que só se perde o que se tem. Mo Museu do Prado, encontram-se, lado a lado, cópias e originais de mestres: Delacroix après Rubens; après Tiziano.”
De volta a Porto Alegre, começa sua fase mais soturna da carreira. Figuras espectrais e disformes permeiam séries como As Idiotas, Fantasmagorias, Ciclistas e Tudo Te é Falso e Inútil (título inspirado em um verso de Fernando Pessoa). Grande parte dos trabalhos tardios de Iberê está exibida na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. “Além de lamentar os rumos do mundo e voltar-se para os desejos e angústias da humanidade, ele produzia para apalpar a eternidade e dominar o tempo, para continuar conosco por mais tempo”, afirma o escritor Paulo Ribeiro, que conviveu com Iberê nos últimos anos de vida.
Acamado, no hospital, antes de morrer Iberê recebeu a imprensa. Com a mesma fúria presente em telas criadas com verdadeiros nacos de tinta que formam impressionantes relevos, chamou os donos das galerias de arte de débeis mentais, disse que a arte brasileira da década de 90 era feita só de bugigangas. “Ah, e se sair do hospital e quiserem me deixar de mau humor é só me convidarem para um coquetel. Não vou!”.
http://youtu.be/wB_v0iiuBHs
Abaixo, algumas das principais obras de Iberê Camargo:
Da série As IdiotasDa série CiclistasFantasmagoria IVCarretel 1984FaceO GritoHora XMulher de Chapéu Preto, homenagem a Maria LeontinaCarretel AzulTudo te é falso e inutil IIISolidãoCarretéis – Mário de La ParraPaisagem, 1941 | Foto: Pedro Oswaldo CruzSem título, c. 1941/42 | Foto: Luiz Eduardo Robinson AchuttiMendigos do Parque da Redenção IV, 1987 | Fundação Iberê Camargo: DigitalizaçãoSem título, 1989 | Foto: Fábio Del ReDentro do mato, 1941/1942 | Foto: Fábio Del ReSem título, 1942 | Foto: Luiz Eduardo Robinson Achutti
Fontes:
— Paulo Venacio Filho, Iberê Camargo, Desassossego do Mundo, Pactual, 2001
— Lisette Lagnado, Conversações com Iberê Camargo, Iluminuras, 1994
— Jonas Lopes, artigo A arte como expressão da vida de Iberê Camargo.
— Blog pessoal de Lou Borghetti – http://louborghetti.blogspot.com.br/
A Brasiliana Fotográfica identificou a presença de Machado de Assis na fotografia da Missa Campal de Ação de Graças pela Abolição da Escravatura realizada no dia 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O autor da foto foi Antonio Luiz Ferreira.
A identificação de Machado de Assis foi confirmada por Eduardo Assis Duarte, doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada (USP) e professor da Faculdade de Letras da UFMG. Segundo ele, Machado de Assis teve uma “atitude mais ou menos esquiva na hora da foto, em que praticamente só o rosto aparece, dando a impressão de que procurou se esconder, mas sem conseguir realizar sua intenção totalmente. Atitude esta plenamente coerente com o jeito tímido que sempre adotou em público, uma vez que dependia do emprego público para viver e eram muitas as perseguições políticas aos que defendiam abertamente o fim da escravidão.”
Ali, à direita, meio escondido atrás do senhor de barba branca
A atuação do Inter foi abaixo da linha de pobreza futebolística, foi inaceitável. Tivemos sorte, Aguirre. O 1 x 0 foi injusto. As bolas deles beijaram duas vezes nosso travessão, uma vez nosso poste e houve incríveis gols perdidos. Aquele lateral-esquerdo Mosquera poderia ter saído consagrado de campo. O cara engoliu Sasha e ainda Alan Costa, com que quem dividia — e ganhava — bolas em nossa área, fez o gol e perdeu mais dois. Sei, também desperdiçamos uma chance com Nilmar, mas só por milagre aquele segundo tempo não acabou uns 3 x 0 para o Santa Fe. Apesar da sorte, eles nos colocaram da frente para a porta de saída da Libertadores. Um pequeno empurrão no Beira-Rio e caímos fora do ônibus.
Agora, precisamos vencer por dois gols de diferença. Um 1 x 0 levará a decisão para os pênaltis.
Era previsível que acontecesse e aconteceu: depois de uma semana de estrela em que disse que pretende marcar 25 mil gols em sua carreira, Valdívia entrou em campo como o craque que ainda não é. O que dizer daquele lance no primeiro tempo em que ele não quis deixar o Sasha cara a cara com goleiro para tentar um chute por cobertura, de longe? Uma completa idiotice. O guri pensa que é o Romário? E, céus, o Sasha? Esteve em campo?
Os colombianos são muito bons. Fisicamente fortes, marcam e jogam muito. Omar Pérez é o centro do time e dele saem bons passes. Por falar em passes, nada explica os erros de Valdívia, Sasha e até de Lisandro López, que erravam passes laterais para jogadores livres. Como não tínhamos contra-ataques, é obvio que o Santa Fe, que não é trouxa, realizou um massacre no segundo tempo. Para piorar, Aguirre, tu erraste ao recuar demais o time, inclusive colocando Réver no lugar de Lisandro no final do jogo. Marcelo Bielsa ensinou e tu deves ter lido: o time que abdica de jogar com a bola, multiplica o número de bolas que o adversário terá. Assim, todo rebote, toda iniciativa era deles. E pior, eles tinham qualidade para entrar na nossa área a todo momento. Ficamos acuados, à mercê.
Agora, teremos um filme de terror na próxima quarta-feira. O Santa Fe vai tentar deixar o tempo passar e nós estaremos apressados, querendo fazer logo dois gols. Espero que o susto de Bogotá faça com que alguns jogadores acordem de seus sonhos de grandezae voltem a produzir. Qualquer coisa parecida com o futebol apresentado ontem no El Campí, significará o adeus à Libertadores 2015. Sorte aí, Aguirre.
Certa vez, entrevistei o Zé Victor Castiel e ele me disse que uma das piores coisas que pode acontecer a um espetáculo teatral, em Porto Alegre, é competir com jogos da Libertadores. As pessoas simplesmente somem. A mulher não vai porque o marido quer ver o jogo ou o contrário. A namorada vai acompanhar seu rapaz no bar a fim de assistir a partida. Os gremistas roem as unhas, pedindo aos deuses do futebol que o Inter seja derrotado ou vice-versa. E não saem de casa. Os cinemas e teatros, assim como os restaurantes em que não são mostrados os jogos, ficam desertos. Naquele horário, quem caminha pelas ruas trabalha ou estuda. O dia é ideal para marcar um blind date e não ser visto. Como ficam os motéis? Sei lá, mas acho que é um bom dia, mesmo estejam vendo o jogo na portaria. Os casados que mentiram ver o jogo e foram a um motel também devem ficar de olho para poderem comentá-lo em casa quando chegarem. Só saber o resultado, hoje, não basta.
Sabe o que atrapalha muito o teatro? O calendário do futebol. Temos que pegar a tabela da Libertadores da América e do Brasileiro e fugir daquelas datas e horários. Houve uma vez em que o Grêmio estava nas semifinais da Libertadores e jogaria numa quarta-feira. Nós tínhamos uma apresentação no Bourbon Country na terça e na quarta. Terça tivemos a casa lotada e na quarta, nada. Tabela de futebol é uma coisa que influencia muito. Temos que ficar de olho nela.
Zé Victor Castiel
Perdendo o foco no trabalho | Imagem: Corneta Colorada
A coisa é tão absorvente que a gente, lá pelo meio da tarde, já vai perdendo o foco no trabalho. Começa a pensar em como será o jogo e, tão importante quanto, no que precisa fazer para ver tudo com conforto. Fui ao supermercado antes da partida contra o Atlético-MG em Belo Horizonte. Um monte de gente comprava cervejas e um idoso, de certamente mais de 80 anos, estava extasiado na fila do caixa, bem na minha frente, contando que seus netos iam ver o jogo na sua casa e que estava comprando aquelas Stellas para eles, todos colorados.
Quem fica de fora não entende. Assim como eu não entendo os religiosos, quem não acompanha futebol deve ficar achando o mundo muito idiota. E somos mesmo um bando de imbecis. Mas nos divertimos.
Ontem à noite, no viaduto para pedestres do Parcão, surgiu uma faixa desesperada, feita por gremistas ou por um colorado muito debochado. Pedia que parassem de falar em imortalidade e contratassem alguém como D`Alessandro, o argentino que tornou-se símbolo do Inter. Eles querem voltar ao protagonismo. Conheço isso de ficar torcendo para um time diferente a cada semana. É mesmo chato. Melhor torcer para o nosso.
Hoje a Elena está de aniversário. Cioran disse que a arte de amar — é meu caso em relação a ela — é saber unir o temperamento de um vampiro à discrição de uma anêmona. Hum… É verdade. Neste belo tempo em que estamos juntos a gente fez e cumpriu planos, ficou doente e se recuperou, rimos tanto de nós e dos outros que deveria ser proibido agir tão bobamente assim, fizemos tantos passeios juntos que talvez já tenhamos ido a pé a Bielorrússia, entendemos na prática que só se é feliz dentro da liberdade e fizemos tantas declarações de amor um para o outro que fomos muito, mas muito ridículos. E Cioran, é claro, tem toda a razão, porque faz parte.
Só que me perdi. É ela que está de aniversário, não nós! Milton burro.
Feliz aniversário, Elena. Te desejo muitas alegrias e disposição para me aguentar neste novo ano que se abre. Acho que estaremos juntos por muitos deles, sempre como amadores.
Teu Inter, Aguirre, acredita no rumo traçado pela comissão técnica e o resto — Wianey e que tais — deve permanecer como ruído de fundo. Ontem, fizemos um paupérrimo jogo contra o Avaí, mas vencemos e isso é fundamental para que o ruído não alcance o time titular, empenhado na Libertadores. Jogamos muito mal, corremos riscos de perder, só que a boa e velha lei da boa pontaria falou mais alto e, pimba!, gol de Vitinho. E mais nada.
O Grêmio também protege a estratégia colorada das críticas. Afinal, se em duas rodadas está atrás de nós na classificação, o que dizer dos queridinhos da RBS? Alerto que, com o time 100% reserva, o Inter está em 12º lugar no Brasileiro, enquanto que o Grêmio, com o time 100% titular, está em 18º.
Mas, cá entre nós, Aguirre, livre-se de Alan Ruschel anteontem, de Léo ontem, e de Luque (com Rafael Moura) hoje à tarde, por favor. Vitinho e Paulão ficam em observação, mas os 3 citados acima podem ir para o moedor de carne imediatamente.
Ontem (17), fui ver o concerto da Orquestra de Câmara da Ulbra no Leopoldina Juvenil, com regência de Tiago Flores. O programa foi o que segue:
Haendel (1685 – 1759): Concerto Grosso op. 6 n° 2 Sammartini (1695 – 1750): Concerto in F major (Solista: Rodrigo Calveyra) Vivaldi (1678 – 1741): Concerto per flautino in Sol M – RV 443 (Solista: Rodrigo Calveyra) Haendel (1685 – 1759): Concerto Grosso op.6 N° 10
O concerto iniciou bem complicado. O Concerto Grosso, Op. 6, Nº 2, de Handel, foi levado com mão pesada pelas cordas da orquestra e só a cabeleira do maestro Tiago Flores me causava algum prazer. Ela medrou vicejante no último verão e está efetivamente magnífica! Porém, os bonitos jogos entre os dois primeiros violinistas cresceram um tanto opacos, nada barrocos. Não creio que a culpa seja de nosso Tiago Flores, mas da cintura dura de alguns músicos.
Quando veio o Concerto em Fá Maior para Flauta de Sammartini, notou-se claramente que quem tinha espírito efetivamente barroco eram o extraordinário solista Rodrigo Calveyra e o violoncelista Alexandre Diel. Eles tinham a leveza e a sutileza; os outros, a força. É uma questão de adaptação. Muitos não conseguem. O violinista Emmanuele Baldini, por exemplo, faz Mendelssohn ou Tartini com senso de estilo e sotaque, adequando-os aos autores. (Sei de um cara que fala mais de cinco sotaques do interior gaúcho. Eu só sei fazer o meu e dos “magro do Bonfa” dos anos 70 e 80). Enquanto isso, Calveyra é um sujeito que respira música antiga, não sendo necessária a adaptação à qual a orquestra deveria dobrar-se. Já Diel, que eu pouco conhecia, surpreendeu com leveza e baixo contínuo consistentes.
O negócio era ficar com o solista e seu escudeiro Diel. O Concerto para Flautino em Dó Maior — não está errado no programa? — estava espetacular pelo largo espaço que Vivaldi deu ao solista acompanhado pelo baixo contínuo.
Rodrigo Calveyra é um caso à parte. Ele foi o motivo de eu ter ido ao Leopoldina. É um flautista que dá notável dimensão artística e expressiva a seu instrumento. Apaixonado pelo que faz, gosta espalhar conhecimento contando histórias e dando explicações sobre músicas e instrumentos. Tal generosidade também ocorre quando toca. Ele se coloca inteiramente a serviço de ideias e estilos musicais. Seu Vivaldi de ontem teve o exato virtuosismo e estilo exigidos pela obra. O seu bis, do barroco holandês, já foi inteiramente diferente. Nada da alegria vivaldiana, mas sim a vetustez de um barroco mais longínquo. Trata-se de um músico de extrema sensibilidade e sofisticação.
Não assisti o solo de batuta final no Concerto Grosso, Op. 6, Nº 10 de Handel. Preferi ouvir o jogo do Inter, que estava em seus 15 minutos finais.
O dia de ontem foi excelente. Eu e a Elena fomos ao Margs — a exposição das ‘últimas aquisições’ é muito legal –, tivemos um breve encontro com os queridos Bruno Alencastro e Ramiro Furquim, depois uma ida ao café do Santander, outra às exposições da CCMQ — todas elas lastimáveis –, jantamos num bom restaurante da Andradas (Buteko sei-lá-o-que), entramos no cinema para ver o ótimo O Sal da Terra e finalizamos com um suco misto na Lancheria do Parque. Para terminar, quando cheguei em casa, fiquei sabendo de Coritiba 2 x 0 Grêmio. Perfeito, apesar de que o Bruno e o Ramiro não devem ter gostado…
O ponto alto da exposição do Margs foi a Porca Noiva, de Evenir Comerlato. A primeira foto é ruim, mas depois dá para ver a qualidade e o dantesco da obra. Como em Esopo, em cujos escritos os animais falam e têm características humanas, aqui a porca vai se casar. E está toda esperançosa com seu véu. Mas há um detalhe, a aliança não cabe em sua pata de porca, o que dá espaço para pensarmos que a artista acha que tais animais não sejam adequados a um casório. Também veste preto, como aquela noiva de Truffaut que depois matava seus maridos. Outra interpretação possível é a de ver muito ódio ou desistência, pois, se observarmos bem a pata direita da porca, veremos mal disfarçados dedos humanos, o que talvez mostre que a porca é um ser humano. A aliança também vai nessa direção, não? E as unhas, das quais as noivas tanto cuidam?
Além dos filmes que citei, ficaram em minha memória suas maravilhosas participações em Uma História Simples, de Claude Sautet e em Um Homem, uma Mulher, uma Noite (Claire de Femme), de Costa-Gavras.
Meu pai não tinha razão em tudo, mas tinha sobre Romy Schneider. Muita mulher e muita atriz para pouca sorte.
Que jogo, Aguirre! Cada vez que o Atlético-MG vinha, calafrios contrafeitos percorriam minhas costas do cóccix aos primeiros pelos do pescoço. E tu reagiste valentemente aos rasantes que os mineiros nos davam repetidamente e que abalavam as estruturas do bergamotão. Imagino que, em condições normais, ninguém é sufocado sem se debater desesperadamente. E tu te retorceste, jogando pernas e braços para todos os lados a fim de fazer o Atlético parar. Primeiro, colocaste Jorge Henrique para marcar Patric, que penetrava como uma faca quente na manteiga do lado esquerdo de nossa defesa. Não deu certo. Então tiraste o baixinho, colocando o volante Nico Freitas. Melhorou pouca coisa. Depois, inverteste os laterais. Passamos a respirar. E acabamos com a sangria trocando, imaginem, D`Alessandro por Réver.
Mais tinha os outros todos. Então, gostaria de elogiar um cara do qual ninguém fala. Ele é velho, discreto e faz tudo com tamanha naturalidade que até os pênaltis que comete não são marcados. Os juízes observam, duvidam do que veem e deixam pra lá. Ontem, ele fez um desses. Aos 36 anos, Juan deixa Alan Costa e Ernando não apenas mais bonitos, mas cheios de garbo e compostura. Ele engana também os atacantes. Lento, faz-se de rápido ao usar atalhos desconhecidos para chegar nas bolas. Contra o Atlético-MG cumpriu uma partida sem falhas, sendo uma ilha de segurança em meio à balbúrdia.
Valdívia faz Victor voltar correndo para o gol | SC Internacional / Alexandre Lops
Fui no jogo com o Diego Dutra, zelador do prédio onde moro. Somos uma dupla invicta. Quando saímos do T5, perguntei-lhe quanto seria o jogo. No Sul21, tinham dito que seria 2 x 1, 1 x 1 ou 2 x 0, sempre com o Inter classificado, mas o Diego disse que seria 3 x 1. Acertou. Só que, certamente, não previu do tamanho do sofrimento para um placar tão dilatado. É que nosso aproveitamento foi — tem sido sempre– muito alto. E não adianta dizer que o Atlético teve mais posse de bola e muitas chances. Tu, Aguirre, gostas de dar campo ao adversário. O que Levir e os jornalistas mineiros tiveram que entender é que faz parte do “jogar bem” converter as chances em gols. E isso nós fizemos de forma e beleza alucinantes. Até no gol de Lisandro López, o mais acanhado de todos, tivemos uma conclusão sensacional, com o argentino mandando Victor para um lado, chutando no outro. Ou seja, somos um time complicado como era aquele teu Peñarol, Aguirre, que nos matou no Beira-Rio em dois contra-ataques. Até hoje fico puto quando penso naquele jogo.
E D`Alessandro, que fez o seu sétimo gol em Victor? E não foi qualquer gol. Ele girou sobre Thiago Ribeiro e Douglas Costa mandando um chute em curva, no ângulo, uma coisa de grandiosidade e exatidão como só os grandes algozes conseguem. Foi um golpe só, definitivo, indolor, sem piedade. Ocorreu ao final do primeiro tempo, antes que o Galo voltasse a dar as cartas no início do segundo, período de maior terror para a arquibancada colorada, quando levamos um banho de bola sem acertar contra-ataque nenhum.
No T5 da volta, a sensação geral era a de que podemos ser campeões novamente. Talvez o cruzamento com o Santa Fe não nos obrigue a parir outro bebê de 25 Kg. O Marco Weissheimer, atento e caseiro torcedor colorado, me escreveu dizendo que o ataque do Santa Fe é bom, mas a defesa é fraquinha. E terminou citando o inesperado complemento de nossa felicidade de noite de ontem. “A cereja no pudim ontem foi mesmo a eliminação do Corinthians pelo Grêmio Bagé”. Verdade.
No início do ano 2000, minha Elena foi visitar seus familiares em Israel. Entre um passeio e outro, foi aos grandes mosteiros russos erguidos no Monte das Oliveiras. Os prédios são belíssimos. Um deles, o da foto acima, foi construído em 1886 pelos Romanov, a mandado do czar do antigo Império Russo Alexandre II, em homenagem a sua mãe, a imperatriz Maria Alexandrovna. Sim, os prédios foram pagos pelos russos de então.
Não se enganem, esta torre é enorme.
O outro mosteiro ortodoxo, o da foto ao lado, é de 1870, é imenso e tem até uma fábrica de azeite de oliva em seus 5,4 hectares. O Monte das Oliveiras tem três picos dispostos no sentido de norte-sul. É um local sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos.
Após visitar detalhadamente os mosteiros, por interesse histórico e por ser cristã ortodoxa, a querida Elena, namorada deste ateu que vos escreve, caminhou para a região católica do Monte, entre suas árvores milenares. Foi quando deu-se conta de que estava no Jardim de Getsêmani, ao lado das famosas oliveiras sob as quais Judas deu o beijo fatal em Jesus. Para quem não sabe, um beijo foi a forma escolhida por Judas Iscariotes para identificar Jesus aos soldados que vieram prendê-lo. A combinação era de que Judas beijaria o homem que deveria ser preso. Tal traição a Jesus ocorreu exatamente no Getsêmani, debaixo das oliveiras, após a Última Ceia. E o ósculo levou Jesus à prisão pela força policial do Sinédrio (assembleia de 70 juízes que a lei judaica ordenava existir em cada cidade). Tal fato criou a expressão “Beijo de Judas”.
A azeitona de Judas após 15 anos, sobre um livro de Dostoiévski | Foto: Elena Romanov
Elena viu uma azeitona seca no chão e levou-a como um troféu de peregrinação (ao lado, a coitada da azeitona). Neste mês, num espaço de sete dias — mais bíblico ainda –, aconteceram dois casamentos diferentes de pessoas conhecidas. Por mera coincidência, havia pessoas de igual sobrenome. Minha Elena é cheia de superstições e me veio com esta história de azeitonas, achando que era um bom sinal e “que devemos abençoar, de coração puro, estas uniões”. Estamos livres para o que der e vier.
Ela gosta de azeitonas, eu detesto.
(Há um pacto. Quando formos a Israel, ela vai sozinha a estes lugares santos — apesar de que aquela coisa toda é chamada de Terra Santa… Tô ralado).
Não era um grande ouvinte da Ipanema. Ouvia mais quando tinha carro e precisava de barulho para vencer o som da rua. Era o período glorioso de Kátia Suman e Mary Mezzari. Algumas tardes da Kátia eram realmente extraordinárias. Ela conseguia enfileirar uma tal série de músicas, com um tal ritmo e entusiasmo, que parecia que quem estava fazendo música era ela. É preciso talento e conhecimento para obter aquele efeito e ela conseguia quando queria. Era, deve ser ainda, tarada pelo Led Zeppelin. Mas havia também o alemão Victor Hugo, o Mutuca e programas surpreendentes — e ótimos — como o Musica Mundi e o Arrasa Quarteirão. Acabou. E acabou para virar mais do mesmo. A péssima programação da Band AM vai tomar conta da rádio.
E, ontem à tardinha, fui procurar um CD e dei de cara com a Sala dos Clássicos Eruditos fechada. Era ali na Galeria Chaves, no primeiro andar. Em seu lugar estava uma reles agência de viagens. A loja da Margarida e da Mirta era o local que substituía o porão da King`s Discos da Cristina e do Júlio. Era um local de encontros de músicos e melômanos. A gente podia encomendar o que quisesse. Elas davam um jeito. Passei muitas e boas horas lá. Já conhecia até o banheiro, pois às vezes ficava muito tempo batendo papo…. Mas agora acabou.
E, nesta madrugada, aos 84 anos, morreu Lauro Hagemann. Conheci o velho comuna no partidão. Como escreveu Franklin Cunha, Lauro dignificou a profissão de jornalista, hoje tão justamente criticada por algumas posições políticas, institucionais e empresariais. Era uma voz que se fazia muito presente em minha casa, pois meu pai sempre preferia que a locução dos noticiários viesse pelo Hagemann, que era uma pessoa ética. Lauro foi cassado pela ditadura, tendo um comportamento impecável de oposição durante o período.
O indecifrável Cláudio Winck jogou como volante e lateral na derrota por 3 x 0 para o Atlético-PR
Aguirre, claro que a Libertadores é nosso objetivo, mas há limites para o uso de reservas. Léo, Paulão e Alan Ruschel são casos de irremediável ruindade. Réver, Anderson e Vitinho são casos de desinteresse. Os reservas Nilton (lesionado) e Nico Freitas (suspenso) não fizeram falta, mas esses seis que citei inicialmente jogaram teu time misto no chão.
Não dá para analisar taticamente aquele amontoado de jogadores, até porque algumas péssimas atuações tornaram impossível qualquer vida futebolística. Paulão passou a tarde dando chutões para a frente. Quando resolveu chutar para trás, acabou acertando nosso gol. Léo é o próprio Homem Sem Qualidades: é deficiente na defesa e no apoio. Onde está aquele Diogo que entrou com dignidade em alguns jogos do Gauchão? Alan Ruschel é a mesma coisa que Léo, só que pela esquerda, em versão charmosa.
Já Réver, Anderson e Vitinho vieram para ser titulares, perderam a posição e parecem estar “desmotivados”. Os dois primeiros podem até estar sem ritmo de jogo, mas Vitinho parece ser um caso de desistência. E o argentino Luque?
E Cláudio Winck? Podemos contar com ele? Iniciou bem e depois encolheu-se.
Bem, é claro que toda a nossa torcida e interesse está voltada para quarta-feira, mas um péssimo Brasileiro pode ter como consequência uma Libertadores nervosa. A imprensa já começou a encher o saco, dizendo que Brasileiro não é Gauchão e que tu não és tão brilhante quanto parece. Haja saco, Aguirre, haja saco.
Na quarta, vamos de Ernando pela esquerda, não? Colocar o Alex ali pode ser perigoso, considerando que o Atlético tem Luan e Marcos Rocha no setor. Já sei que JH vai jogar para aumentar nossa marcação no meio. Boa sorte pra nós!