Porque hoje é sábado, todas as mulheres

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Minha pequenas frases lhe interessam?

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Este texto não é entendimento nem cultura.

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É apenas ornamento de imagens.

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Só que nós, homens, costumamos ficar fascinados com o que nos entra pelos olhos.

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As mulheres interessadas em nós sabem quão visuais somos.

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E costumam / não costumam negar suas imagens.

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Pois sabem que metabolizamos as imagens vistas, transformando-as em emoção.

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(Sempre fico encasquetado ou pensar que um pé é um pé para um

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e fetiche para outro…)

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Sabem que fetiche é uma palavra de origem francesa derivada do português feitiço?

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Pois é. Às vezes este blog é cultura.

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Top 10: Os melhores livros do ano de 2014

Top 10: Os melhores livros do ano de 2014
Montagem: Sul21
Montagem: Sul21

Publicado no Sul21 em 26 de dezembro de 2014

Como toda lista, esta é irresponsável ao escolher os melhores livros de um ano que não acabou ainda. E mesmo se tivesse acabado… Sem nenhum distanciamento histórico, vamos novamente correr o risco, deixando por escrito nossa opinião a respeito daquilo que lemos em 2014, ignorando, obviamente, aquilo que não passou sob nossos olhos. Porém, este ano, nossa lista foi criada sem grandes problemas, diferentemente de 2013.

No ano passado, deparamo-nos com um impasse. Cada votante fez sua escolha de forma distinta, não havia quase livros com mais de um voto. O mesmo fato não ocorreu este ano. A equipe do Sul21, mais os jornalistas convidados Luiz Gonzaga Lopes (Correio do Povo), Carlos André Moreira (Zero Hora) e o historiador Éder Silveira deixaram cinco livros com quatro votos e outros cinco com três, resolvendo o problema da escolha.

Assim, aconteceu um empate quíntuplo no primeiro lugar, pois O Capital no Século XXIDia de matar porcoO homem que amava os cachorros, Terra avulsa e Vida e destino, receberam quatro votos e outros cinco livros três. 

Segue a lista, por ordem alfabética:

~ 1 ~
O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty

Nenhum livro de economia publicado nos últimos anos foi capaz de provocar o furor internacional causado por O Capital no Século XXI (Intrínseca, 672 páginas), do francês Thomas Piketty. Seu estudo sobre a concentração de riqueza e a evolução da desigualdade ganhou manchetes nos principais jornais do mundo, gerou discussões nas redes sociais, vídeos no Youtube e colheu comentários e elogios. Fruto de quinze anos de pesquisas, o livro se apoia em dados que remontam ao século XVIII, provenientes de mais de vinte países, para chegar a conclusões explosivas. O crescimento econômico e a difusão do conhecimento impediram que fosse concretizado o cenário apocalíptico previsto por Karl Marx no século XIX. Porém, os registros históricos demonstram que o capitalismo tende a criar um círculo vicioso de desigualdade, pois, a longo prazo, a taxa de retorno sobre os ativos é maior que o ritmo do crescimento econômico, o que se traduz numa concentração cada vez maior da riqueza. Uma situação de desigualdade extrema que leva ao descontentamento geral e até, por vezes, ameaça os valores democráticos. Mas Piketty lembra que a política já foi capaz de reverter tal quadro no passado e poderá voltar a fazê-lo.

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~ 2 ~
Dia de matar porco, de Charles Kiefer

Só o fato de Charles Kiefer ter retomado a narrativa longa após 12 anos já é digno de um olhar mais prescrutador. Outro aspecto importante é ele ter sido um dos únicos autores que lançou realmente seu livro na 60ª Feira do Livro de Porto Alegre, com sessões de autógrafos no supersticioso e excêntrico dia do aniversário, 5 de novembro. Duas festas numa só, autógrafos e 56 anos completados. Mas tudo isso não seria nada se abríssemos o livro e lá não estivesse a marca de Kiefer. Ela está lá. A aridez e o jogo metafórico com camadas quase imperceptíveis, a serem descortinadas da sua estrutura textual, revelam o autor maduro tratando de uma experiência vivida autobiograficamente, a de quase-morte, mas muito bem ficcionalizada por este professor doutor em Letras de Três de Maio. Em Dia de matar porco (Dublinense, 112 páginas), Kiefer nos oferece um personagem bem erigido, o advogado Ariosto Ducchese, que é natural da mítica Pau D´Arco, pelo menos na obra de Kiefer. Nesta experiência de quase-morte, ele vê a sua mãe morta e resolve voltar à cidade natal para desvendar um enigma do passado. Nesta volta, recorda de alguns fatos, como o ritual de iniciação do carnear o porco, que é um dia de contato com a dor e com a resistência à morte, mas também de festa. Esta volta ao passado desvela segredos e coloca Ariosto no coração dos erros cometidos dentro da família gerada por Dante e Beatriz. Kiefer acertou o tom, coloca camadas e referências que vão da Cabala à Ray Bradbury e Wittgenstein e é capaz de edifícações verbais como estas: “Escrever é como matar um porco. É preciso ferir o coração do real, submetê-lo a nossa vontade, dizer a ele o que ele foi, e depois esquartejá-lo, expor as suas vísceras, valorizar este ou aquele pedaço, transformar a pele e as mantas de gordura em torresmo, e os miúdos em salsichas e salames”. (Luiz Gonzaga Lopes)

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~ 3 ~
Diário de Inverno, de Paul Auster

Ao entrar no inverno de sua vida, o maior escritor norte-americano vivo (que me desculpem os fãs de Philip Roth, Don de Lillo e outros), resolveu novamente se autobiografar. E fez o verão dos seus leitores com o inverno de sua vida, com mais um diário desregrado, coberto de pequenas tragédias e grandes lições familiares e da vida e mais uma vez desgraçadamente verdadeiro, como havia sido A Invenção da Solidão e o grande ensaio de per si Da Mão para a Boca. A frase do escritor francês Joseph Joubert, escrita em 1815, serve de baliza para uma das assertivas austerianas: Há que morrer adorável (se possível). Auster envelheceu junto com Quinn, Mr. Black, Hector Mann e outros personagens memoráveis da sua tessitura. Mas neste Diário de Inverno (Companhia das Letras, 216 páginas), livro que foi lançado em 2012 na Europa e Estados Unidos e no segundo semestre de 2014 no Brasil, Auster consegue novamente se colocar na segunda pessoa do singular e dissecar o seu mundo, a matéria tangível, vivenciada dos seus escritos. A autor metaficcional ou autoficcional indireto explica algumas histórias que surgiram ao acaso e que o impeliram a escrevê-las, como a ligação por engano para o escritório de detetives em sua casa, a gênese de Cidade de Vidro, onde Quinn recebe uma ligação de alguém que quer falar com Paul Auster, da Agência de Detetives Auster. (Luiz Gonzaga Lopes)

diario

~ 4 ~
Dostoiévski-trip, de Vladímir Sorókin

Dostoiévski-trip (Editora 34, 104 páginas) é uma obra à beira da perfeição enquanto escolha narrativa. O vanguardista russo que teve seus textos banidos durante o regime soviético esteve na Flip e mostrou todo o seu medo de que Putin se revele mais perverso e ditador que Stalin. Fora isso, criou uma obra que brinca com a drogadição, comparando a literatura a drogas consolidadas e experimentais. Cinco homens e duas mulheres estão na fissura por mais drogas, que no caso são livros ou autores. Céline, Genet e Sartre são drogas que deixam os usuários tensos. Faulkner e Hemingway são consumidos por halterofilistas ou caras que cultuam o corpo. Mas eles vão se deparar com uma droga experimental e mais pesada: Dostoiévski. Após ingeri-la, eles acabam dentro de uma cena de O Idiota. Tudo anda conforme o script até que a droga começa a fazer efeito e eles tecem longos monólogos carregados de drama, sarcasmo e um niilismo. Um livro que aproxima o Dostoiévski do século 19 com o mundo veloz e junkie, mas que propõe que o autor russo pode ser uma leitura/droga demasiada pesado para este superficial e virtual mundo do século 21. (Luiz Gonzaga Lopes)

dostoievski-trip

~ 5 ~
A festa da insignificância, de Milan Kundera

A festa da insignificância (Companhia das Letras, 136 páginas) foi aclamado pela crítica e despertou enorme interesse dos leitores na França e na Itália, onde logo figurava em todas as listas de best-sellers. Lembrando A Grande Beleza, filme de Paolo Sorrentino acolhido com entusiasmo pelo público brasileiro no mesmo ano, o romance de Milan Kundera coloca em cena quatro amigos parisienses que vivem numa deriva inócua, característica de uma existência contemporânea esvaziada de sentido. Eles passeiam pelos jardins de Luxemburgo, se encontram numa festa sinistra, constatam que as novas gerações já se esqueceram de quem era Stalin, perguntam-se o que está por trás de uma sociedade que, em vez dos seios ou das pernas, coloca o umbigo no centro do erotismo. Na forma de uma fuga com variações sobre um mesmo tema, Kundera transita com naturalidade entre a Paris de hoje em dia e a União Soviética de outrora, propondo um paralelo entre essas duas épocas. Assim, o romance tematiza o pior da civilização e lança luz sobre os problemas mais sérios com muito bom humor e ironia, abraçando a insignificância da existência humana.

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~ 6 ~
O Homem que Amava os Cachorros, de Leonardo Padura

Um grande e multipremiado romance baseado em fatos e personagens reais, onde o cubano Padura narra pormenorizadamente o assassinato de Trotsky a mando de Stalin — terceira vez que esta nome aparece nesta retrospectiva — a cargo de Ramón Mercader e do serviço secreto soviético. A pesquisa de Padura levou-o a todos os exílios de Trotsky: de Alma Ata (atual Cazaquistão) para a Turquia, dali para França e depois para a Noruega e o México, onde ele encontrará com seu algoz. O texto alterna capítulos dedicados a Trotsky, a Mercader e ao futuro autor do livro, perdido, sem temas e comida em Cuba. Padura inventa os diálogos, mas mantém rigorosamente os fatos históricos. Para melhorar ainda mais, o livro cresce de forma espetacular a cada página dentro do abandonado gênero do thriller policial. Graham Greene ficaria feliz de ler O Homem que Amava os Cachorros (Boitempo, 592 páginas). Obra indicada a todos que não tenham saudades de Stalin, pois seu autor diz claramente: “Trotski podia ser duro, mas era um político; Stalin era um psicopata”. (Milton Ribeiro)

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~ 7 ~
O que amar quer dizer, de Mathieu Lindon

Ambientado na Paris do fim dos anos 1970 e início dos 80, O que amar quer dizer (Cosac Naify, 288 páginas) repassa os anos de convivência do jornalista cultural Mathieu Lindon com Michel Foucault (1926-1984) e a enorme influência que o filósofo teve sobre sua vida. Filho de Jérôme Lindon, fundador das Editions de Minuit e editor de Samuel Beckett e Marguerite Duras, o autor deste livro rememora as festas no apartamento de Foucault na Rue de Vaugirard em descrições bem-humoradas de sua vivência homossexual em meio a viagens de ácido e música clássica. Em seguida, trata da sombra que surgiu no meio gay quando a aids, que viria a vitimar o filósofo, entrou na pauta da época. A história se desenrola ao redor dessas duas figuras masculinas: de um lado, o pai de “sorriso tímido”, objeto de um amor que não encontra a forma de se expressar; de outro, o amigo de “sorriso escancarado” que lhe ensinou a ser feliz, vivo – e grato. O que amar quer dizer foi publicado na França em 2011, ano em que obteve o Prêmio Médicis.

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~ 8 ~
Opisanie świata, de Veronica Stigger

Primeiro romance de Veronica Stigger, Opisanie świata (Cosac Naify, >160 páginas) significa “descrição do mundo” e é como se traduz Il Milione, o livro de viagens de Marco Polo para o polonês. É justamente como uma espécie de relato de viagens que essa novela se constitui. A história central do livro é a de Opalka, um polonês de cerca de sessenta anos que, em sua terra natal, recebe uma carta por meio da qual descobre que tem um filho no Brasil – mais especificamente, na Amazônia -, internado num hospital em estado grave. O pai decide viajar ao encontro do filho; no início do percurso, conhece Bopp, um turista brasileiro que, ao tomar conhecimento das razões da viagem de Opalka, resolve abandonar seu giro pela Europa para acompanhá-lo ao Brasil. O livro se compõe a partir de diversos registros, como o do relato em terceira pessoa, o da carta, o do diário etc., além de contar com inserções de imagens e fragmentos de textos sobre a ou da década de 1930 — época em que transcorre a ação.

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~ 9 ~
Terra Avulsa, de Altair Martins

No seu mais recente romance, Terra Avulsa (Record, 312 páginas), o premiadíssimo Altair Martins fala de diversos temas – isolamento, relações familiares, amores nascentes, política latino-americana, tradução e fotografia – para, no final das contas, falar de literatura: para que ela serve? Como nasce o texto? Qual a distância que separa autor e leitor? E talvez a mais fundamental (e mais ousada e mais irrespondível) de todas as perguntas: o que é literatura? Logo no início do livro, o protagonista (um professor e tradutor que busca sua própria poesia ao mesmo tempo em que busca afastar-se do mundo) revela sua predileção pela hipálage, figura de linguagem que se caracteriza pelo desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras, o que ocorre, por exemplo, quando se atribui a um substantivo uma qualidade que pertence a outro. E assim, através de múltiplas transposições de sentidos entre as temáticas contidas no romance, sempre em linguagem exuberante e imagética (“porque a linguagem é a primeira que sangra”), o autor acaba por cunhar uma definição tão precisa quanto fluida: “literatura é procurar a mãe na casa dos outros”. (Rafael Bán Jacobsen, no Amálgama)

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~ 10 ~
Vida e Destino, de Vassili Grossman

Vida e destino (Alfaguara, 920 páginas) é um épico moderno e uma análise profunda das forças que mergulharam o mundo na Segunda Guerra Mundial. Vassili Grossman, que esteve no campo de batalha e acompanhou os soldados russos em Stalingrado, compôs uma obra com a dimensão de Tolstói e de Dostoiévski, tocando, ao mesmo tempo, num dos momentos cruciais do século XX. A ação tem lugar durante a invasão da União Soviética pela Alemanha nazista, com foco na batalha de Stalingrado. O livro começa quando a Alemanha cerca a cidade, tentando conquistá-la. Ao longo do livro, são descritos os danos causados pelos bombardeios aéreos e pela artilharia localizada em torno da cidade. Com personagens que são uma combinação de figuras ficcionais e históricas, o romance não é apocalíptico nem crê que o ser humano esteja destinado à desgraça, mesmo em meio à destruição. Estão lá os campos de prisioneiros militares e os de concentração; os altos-comandos, com Hitler de um lado e Stalin de outro; a disputa insensata dos soldados por uma única casa na cidade em ruínas e os dramas familiares dos que ficam para trás e enfrentam o terror político e a incerteza. Um romance de grande força dramática. Finalizado em 1960, e a seguir confiscado pela KGB, o livro permaneceu inédito até a metade dos anos 1980. (Milton Ribeiro)
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* Com assessorias de imprensa das editoras

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Chico Buarque, lidando com uma canção maior que seu cantor

Chico Buarque, lidando com uma canção maior que seu cantor
Imagem: Companhia das Letras
Imagem: Companhia das Letras

Publicado no Sul21 em 14 de dezembro de 2014

Por Éder Silveira (*)
Especial para o Sul21

Logo nas primeiras linhas de O Irmão Alemão, Chico Buarque nos revela o centro do seu mais novo romance, a história da busca, empreendida por Francisco de Hollander, pelo paradeiro de seu irmão, nascido na Alemanha. Diz ele: “Sei que meu pai ainda solteiro morou em Berlim entre 1929 e 1930, e não custa imaginar um caso dele com alguma Fräulein por lá. Na verdade, acho que já ouvi falar de algo mais sério, acho até que há tempos ouvi em casa mencionarem um filho seu na Alemanha. Não foi discussão de pai e mãe, que uma criança não esquece, foi como um sussurro atrás da parede, uma rápida troca de palavras que eu mal poderia ter escutado, ou posso ter escutado mal.” Ou seja, mesmo que não passasse de um segredo de polichinelo, o irmão alemão, cuja existência é revelada por uma carta encontrada dentro de O ramo de ouro, obra clássica de Sir James Frazer, é o estopim para uma busca que haveria de se estender por décadas.

No dia a dia dos Holanda, falava-se do tema com maior desenvoltura. A Sergio Buarque de Holanda, não se sabe ao certo se pelos traços físicos ou se pelo domínio da língua, com certa frequência se perguntava se era filho de alemães. O historiador que, entre outras coisas, ficou conhecido por sua fina ironia, respondia de bate-pronto: filho não, sou pai de alemão. A conhecida historieta, que suponho já deva ter sido contada muitas vezes, é relembrada no belo documentário de Nelson Pereira dos Santos, Raízes do Brasil, filme que faz com que partes do livro de Chico Buarque tenham sabor de déjà vu.

Fato é que tudo o que envolve o nome de Chico Buarque ganha enormes proporções, e com O Irmão Alemão não foi diferente. Na mesma medida que os seus mergulhos em praias cariocas, seus discos ou outros livros, é digno de nota o alarido criado em torno do livro, antes mesmo de ele chegar às livrarias. Dias após o seu lançamento, O Irmão Alemão já contava com pelo menos quatro resenhas, assinadas por críticos respeitados, e com o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).

Difícil de ignorar, o livro está em todas as livrarias  | Foto: Divulgação
Difícil de ignorar, o livro está em todas as livrarias | Foto: Divulgação

Confesso que mesmo eu, que nem de longe seria lembrado como um apreciador da literatura de Chico Buarque, fui fisgado pelas iscas que foram lançadas. A promessa de contar a história do filho alemão de Sergio Buarque de Holanda, e de tecer uma trama que ligaria os horrores da escalada do nazismo na Alemanha e os anos de chumbo da Ditadura Militar no Brasil, foram o suficiente para me fazer comprar o livro assim que publicado e lê-lo em uma tacada.

Aqueles que se interessam pela trajetória de Sergio Buarque sabem que esse período foi importantíssimo em sua formação. Ele partiu como um jornalista boêmio, ligado aos modernistas de 1922 e editor de Estética, uma revista de vanguarda, efêmera como todas devem ser. Voltou determinado a se tornar um scholar, versado na sociologia de Max Weber e de Georg Simmel. Lembro aqui uma passagem do mestre Antonio Cândido, que evocou de modo preciso o transe germânico de Sergio Buarque:

Por isso a estada em Berlim foi uma oportunidade para abrir ao seu conhecimento um campo novo – o “Domínio alemão” (como diria Valéry Larbaud), que ele incorporou sofregamente aos seus territórios. Lá seguiu sem muita regularidade alguns cursos, inclusive de Meinecke. Leu Sombart, Toennies, Alfred e Max Weber; familiarizou-se com os historiadores da arte; mergulhou na obra de Rilke, de Stefan George e dos discípulos deste, como Gundolf e Bertram; pela vida afora continuou lendo Goethe nos 70 ou 80 volumes da obra completa. E no meio de tudo isso imaginou um livro de interpretação da sua terra. Tinha 28 anos e “Raízes do Brasil” começava a germinar.

Além do tour de force intelectual descrito por Antonio Candido, o que se sabe da temporada berlinense de Sergio Buarque permite acrescentar visitas aos cafés e cabarés da capital alemã. O tempo foi suficiente, ainda, para um relacionamento mais sério, com uma jovem chamada Anne Ernst ou Annemarie Ernst, namorada alemã que permanece em Berlim quando Sergio volta, às pressas, ao Brasil. Ela estava grávida de Sergio Ernst, o irmão alemão de Chico Buarque. Sergio Buarque, até onde se sabe, desconhecia o fato.

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Duas vidas marcadas pela violência | Foto: Divulgação

Não se trata aqui, bem sabido, de comparar o romance aos fatos. Mas esse tema será perseguido ao longo da obra, a busca de Francisco de Hollander, filho do professor Sergio de Hollander, pelo paradeiro de seu irmão alemão, que, nascido na Alemanha da década de 1930, teria visto a ascensão do nazismo ao poder. A descoberta da carta, que desencadeará todos os movimentos de Francisco para descobrir o paradeiro de seu irmão, estica um fio que liga o Brasil à Alemanha, o nazismo e a ditadura militar que já estava roçando os calcanhares do protagonista. Duas vidas marcadas pela violência.

Um tema como esse, carregado de historicidade, nas mãos de um escritor que domina as regras do ofício, nos faz pensar que seria difícil errar. Ou, se quisermos ser mais reticentes, diríamos que as chances de acerto seriam altíssimas. Finda a leitura, no entanto, a sensação é de incompletude. Ora, se é escusado dizer que Chico Buarque escreve muito bem, oferece um texto burilado, bem trabalhado, com frases bem construídas, é preciso que se diga que não foi capaz de se colocar à altura da história que escolheu contar. Não se trata, de modo algum, de um trabalho mal-acabado por imperícia. Mas, seu eu precisasse definir o livro em uma palavra, diria que ele é morno.

Chico e Sérgio, sem o irmão alemão
Chico e Sérgio, sem o irmão alemão

Gostaria de sublinhar aspectos que me parecem enfraquecer o livro. O primeiro deles é a construção dos personagens. Ao longo do livro, quando fala de Sergio de Hollander, Chico Buarque não deixa dúvidas de que fala de seu pai. Quem assistiu o já mencionado documentário sobre ele não terá qualquer dificuldade de identificá-lo nas inúmeras marcas sobre as quais o autor insiste: o cigarro entre os dedos, o hábito de ler com os óculos pendurados na testa, o escritório no segundo andar da casa. Ainda assim, o esquematismo com o qual ele apresenta a rotina de um intelectual chega a ser surpreendente. O “intelectual” descrito por Chico Buarque é, bem pesadas as palavras, caricato.

Outras personagens não têm melhor sorte. Natércia, a colega-superior-amante; o pianista que tinha informações sobre Anne Ernst; o filho do pianista… A voz do narrador, igualmente, está longe de ser empolgante. Ele se dá a ver, quase sempre, por uma lente autodepreciativa. Não é ouvido pelo pai, não é O cara da turma, inveja o irmão bonito e burro que “come todas as meninas”. Em tempo: Chico, lembrado como o poeta que cantou a alma feminina, tem passagens constrangedoras sobre as mulheres com quem o seu narrador convive.

O segundo aspecto que me incomodou com relação ao livro vem da forma mediante a qual ele tratou os dois traumas históricos que servem de baliza para a narrativa, a saber, a ascensão do nazismo, evento de consequências gigantescas, e a Ditadura Militar no Brasil, período no qual transcorre boa parte da trama. A escolha por situar e relacionar a narrativa a esses dois momentos históricos, ligados à vida do autor, não recomenda o andamento, em vários momentos frívolo, a eles imposto. Uma história de amor e de segredos que tenha como eixo traumas históricos do século XX não pode se dar ao luxo de ser amena, quase superficial, sob o risco de fazer com que nossa entrega ao olhar desse narrador sobre a época simplesmente não ocorra.

Ainda que seja sabidamente uma tolice recriminar uma laranjeira por não dar pitangas, acredito que um tema como esse mereceria uma narrativa mais intensa, que fizesse jus às tragédias que, de certo modo, atravessam a vida dos seus protagonistas. Uma vez mais, retorna a questão: por que são tão raras, entre nós brasileiros, as obras artísticas que sejam capazes de traduzir a barbárie que nos cerca? Ok, ok, Chico Buarque não é Thomas Bernhard…

(*) Éder da Silveira é professor da UFCSPA, Doutor em História pela UFRGS e Pós-doutor em História pela USP

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Em noite de protesto contra a opressão russa, a Ospa fez uma bela visita à Escandinávia

Em noite de protesto contra a opressão russa, a Ospa fez uma bela visita à Escandinávia
Escondemos a jovem careca do grande Alexandre Dossin
Respeito: escondemos a jovem careca do grande Alexandre Dossin

Seria um exagero chamar a noite de ontem, no Salão de Atos da UFRGS, de escandinava. Estava até quente. Logo na entrada, fui chamado para uma conversa com o Diretor Artístico da Ospa, Evandro Matté. Acho que faremos entrevista com esclarecimentos e notícias mais amplas até o fim de semana de 11 e 12 de julho. Foi um bom diálogo do qual participou o superintendente Araquém Idiart Gomes.

O programa do concerto era formado apenas por obras lá do norte: afinal, Alfvén foi sueco; Grieg, norueguês e Sibelius, finlandês. O maestro Henrik Schaefer é alemão e já foi o mais jovem membro da Orquestra Filarmônica de Berlim, tendo assumido uma das violas aos 22 anos. Já o pianista Alexandre Dossin é brasileiro, gaúcho de Porto Alegre. Sejamos mais específicos:

Programa

Hugo Alfvén: Midsommarvaka
Edvard Grieg: Concerto para piano, op. 16
Jean Sibelius: Sinfonia nº 2, op. 43

Regente: Henrik Schaefer
Solista: Alexandre Dossin (piano)

Vivem muito esses escandinavos e Hugo Alfvén morreu aos 88 anos. Tendo por base a bagunça aprontada ontem, devia ser um sujeito alegre, amante da bebida e de outros prazeres. Tocava violino na Royal Opera de Estocolmo e — calma — sua Midsommarvaka não representa nenhuma ofensa, é apenas uma encantadora Vigília da meia-noite (Rapsódia sueca n° 1, op. 19). Certamente inédita em nossa cidade, foi a melhor abertura de concerto de 2015. Uma música feliz, mesmo com alguns episódios lentos. Alfvén foi também pintor e escritor (dos bons).

Ai, o Concerto para piano, Op. 16, de Grieg. De novo! Em 22 de agosto de 2014, a Osesp apresentou este Concerto no Theatro São Pedro com o pianista Dmitry Mayboroda sob a regência de Marin Alsop. No dia 11 de novembro do ano passado, a Ospa voltou a apresentar o mesmo concerto com a pianista Hyejin Kim e o maestro Shinik Hahm.

Grieg foi tio de Glenn Gould e viveu menos do que Alfvén e Sibelius. Ficou 64 anos entre nós, deixando-nos uma obra romântica de excelente qualidade. Seu Concerto para Piano está entre os mais populares do gênero. Acho-o muito parecido com o de Schumann. O de Grieg era um grande sucesso na casa de meus pais, ambos dentistas e pianistas amadores. Conheço cada notinha dele. A interpretação de Dossin-Schaefer talvez tenha sido a melhor das três que tivemos em Griegópolis no último ano. O primeiro movimento, tocado em andamento mais rápido e menos derramado, tornou-se digno e adequado a meu desamor pelo ciclamato. Mas, meus caros, de vez em quando o piano desaparecia sob a orquestra e creio que não adianta culpar a acústica por isso. Ninguém mais cai nessa. É mesma coisa que os violinos não tocarem juntos e culparem o teatro. Nada a ver. Mas curti muito a interpretação da trilha sonora de Intermezzo, mesmo sem a presença de Ingrid Bergman.

O bis de Dossin foi o Noturno Nº 1 de Chopin. Foi uma interpretação perfeita — contida, sem exaltações nem demasiados tremeliques líricos. Dossin é um desses santos de casa que fazem milagres, a exemplo de Lavard Skou-Larsen e Tobias Volkmann.

Creio que a segunda é a mais popular das sinfonias de Sibelius, apesar de que a melhor, disparada, seja a sétima, que será apresentada pela Ospa na próxima terça-feira. A segunda é uma bela e difícil sinfonia. Houve desencontros e erros muito claros em vários solos. Aqui, tivemos efetivamente algum prejuízo pela má acústica da Ufrgs. O som dos baixos, por exemplo, caía como pedras aos nossos pés. Escrita na Itália logo após a composição do poema sinfônico Finlândia e estreada em Helsinque em 1902, esta sinfonia foi um acontecimento nacional. Numa época de invasão e opressão russas, ela foi ouvida como representação sonora do nacionalismo finlandês. Quando de sua estreia, foi tocada quatro vezes em oito dias. Mas não se precisa saber de tudo isso para gostar dela, a música sobrevive tranquilamente sem o contexto de sua origem..

Seu formato é aparentemente tradicional — são quatro movimentos com os dois últimos tocados sem interrupção, como a Quinta de Beethoven. Nela, Sibelius abusa das repetições e de fragmentar melodias. É estranho como ela lembra Bruckner ao mesmo tempo que trai o carolão austríaco. Se Bruckner busca e alcança a divindade, Sibelius é muito mais realista, mostrando-nos quão vasto é o frio de seu pais. Aliás, esqueci de dizer que Sibelius viveu 92 anos, foi alcoolista e deprimido por boa parte de sua vida, desistiu de compor ali pelos 50 anos e isto foi lamentável, pois era um sujeito original e de grande talento. Fazer o quê?

Em um conjunto com alguns destaques negativos facilmente identificáveis — de uma forma geral, havia muitos solos neste concerto — o clarinetista Samuel de Oliveira e o trombonista José Milton Vieira deram um banho de bola. Aliás, espero que o Miltinho esmerilhe na Sinfonia Nº 7 de Sibelius na semana que vem. Há belíssimos solos de trombone na sétima. E que o deixem se sobrepor à orquestra, tocando em altíssimo volume, como fez o trombonista da Filarmônica de Leningrado sob as ordens de Mravinsky. Cumpra-se!

Impossível esconder a careca de Sibelius
Impossível esconder a careca de Sibelius

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A arte urbana da Porto Alegre da CEEE e do prefeito José Fortunati

A arte urbana da Porto Alegre da CEEE e do prefeito José Fortunati

Eu e Elena costumamos caminhar sem rumo pela cidade. Ela diz que este hábito, realizado sem objetivos ou horários, dá-lhe uma tranquilizadora sensação de férias. Eu aderi. E, assim, é normal irmos para qualquer lado ou lugar, entrando nas exposições, livrarias, restaurantes e cinemas que quisermos, de forma desprogramada, só pela curiosidade. É uma bela interrupção, uma fuga da correria.

Uns dez dias antes, em nossas andanças, já tínhamos visto aquilo, mas achamos que era temporário e não valia o registro. Não era. Então, ao meio-dia do sábado passado, após visitarmos um restaurante tailandês da Rua Miguel Tostes, em Porto Alegre, vimos novamente a coisa. (A propósito, o tailandês é muito bom, mas fica melhor ainda com o desconto do Mobo. A foto de nossa refeição — abacaxi recheado de camarões — está abaixo. Aquelas flores também são comestíveis e a pimenta, apesar de docinha, transforma qualquer um num dragão.)

Mas voltemos a nosso tema.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Depois seguimos na direção da Av. Protásio Alves e do mundo para ver que aquilo não era temporário, mas uma instalação elétrico-artística urbana, uma coisa da arte, com significado e beleza obscuros. Na altura do nº 934 da Miguel Tostes há um emaranhado de fios ao lado de um poste (foto abaixo). Trata-se certamente de uma metáfora de nossas vidas, pois permanecemos em pé, apesar da inextricável floresta de estímulos e problemas. Só alguém tão alto quanto o prefeito Fortunati (1,98m, quase um poste) poderia ter tido esta ideia maravilhosa. A coisa começa lá em cima, perto do céu, e desce até nós, pedestres, através de um aparelho especial, que nos faz concluir que a confusão que nos atinge vem de esferas mais altas.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

A coisa certamente não é perigosa, então podemos brincar com as partes da geringonça que vão até quase o chão. Não tive coragem de tocar na instalação — afinal, se os museus fechados não apreciam que metamos a mão nas obras de arte, cumpre seguir a regra –, mas o instrumento tem um simpático ar de Lego decaído.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Porém, se sou um adulto treinado em museus, a maioria das crianças não é. Certamente meus sete leitores permitiriam que seus filhos brincassem com a peça, puxando-a para baixo junto com os fios que a sustêm. Em nossa cidade, ninguém seria irresponsável a ponto de colocar nossas vidas em perigo. Temos segurança.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Abaixo, mas dois aspectos da coisa. Não é lindo?

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Então, para caminhar em Porto Alegre, há que olhar para baixo a fim de que se desvie dos milhares de cocôs de cachorro onipresentes em nossas calçadas, para cima a fim de se ver arte urbana e para a frente a fim de que possamos evitar choques com outros pedestres assim como atropelamentos. Desta forma, olhando o mundo como fazem os peixes — as maravilhas podem estar ao lado, em cima ou abaixo — sugiro uma caminhada lenta para que se possa fruir adequadamente Porto Alegre, a cidade que é demais. Isso, é claro, se houver iluminação.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

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Duas fotos sensacionais

Duas fotos sensacionais

Em 14 de novembro de 1966, Muhammad Ali — na época ainda Cassius Clay — nocauteia “Big Cat” Williams no 3º round.

Notem os jornalistas em torno, todos com máquinas de escrever.

Foto: Neil Leifer
Foto: Neil Leifer
Foto: Neil Leifer
Foto: Neil Leifer

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Entrevista com Leonardo Padura

Entrevista com Leonardo Padura

Valeu a pena esperar quase uma hora por Padura, que dava uma entrevista de última hora em seu quarto para a Folha de São Paulo. Fiquei muito feliz entrevistando o escritor cubano Leonardo Padura. O resultado físico do encontro é a dedicatória que ele escreveu no meu exemplar de O homem que amava os cachorros, mas o resultado intangível e pessoal foi maior.

Abaixo, a dedicatória:

Para o amigo Milton, com o desejo que a vida lhe sorria e que visite Havana.
Com o abraço cubano de Padura
2015

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Por algum motivo incompreensível, eu sabia que nos entenderíamos perfeitamente e que meu roteiro de perguntas era bastante adequado a um autor que lera com boa dedicação. O resultado da entrevista foi acima da média, porém o que mais gostei foi o que ficou, a pedido de Padura, off the record, confidencial. Fiz algumas perguntas sobre o mercado editorial que foram respondidas como se estivéssemos numa mesa de bar. Adentramos outros temas, como a cidade de Havana e a cultura em geral. Aludi ao fato de ter gostado muito de algumas partes de seu maior romance, deixando no ar certa contrariedade com certas proximidades. Ele entendeu e explicou tudo com lógica e sorrisos. Não faria sentido inserir minhas especificidades pessoais numa entrevista que já tinha cinco laudas, mas fiquei com a impressão de que poderíamos ter ficado horas conversando.

Saí de lá com a Fofonka, conversando sobre como a maioria das pessoas brilhantes não são arrogantes. E também sobre o fato de ele não ter perguntado sobre minha formação em literatura, como costumam fazer algumas sumidades da música porto-alegrense, que dizem que eu não entendo nada de sua arte, apesar do meu conhecimento do repertório. No caso de Padura, bastou lê-lo; no caso da música, não basta ouvir. Piada, né?

Acho vale a pena meus sete leitores darem uma olhada no link da entrevista. O Charlles Campos leu:

Rapaz, finalmente publicou a entrevista. Parabéns, Milton! (Pena que eu, claro, não tive meios de saber antecipadamente do evento, assim teria pedido a você o desconfortável favor de requisitar um exemplar do livro com o autógrafo do Padura, prontificando-me a pagar todas as despesas).

O homem que amava os cachorros, recomendação sua, foi um dos melhores romances latino-americanos que li nos últimos vinte anos. Creio que ele perde apenas para A festa do bode.

Note que Padura nunca externou a pretensão de pertencer ao primeiro time dos escritores cubanos. Ele não almeja nem a erudição de Carpentier, nem o esteticismo mirabolante de Cabrera Infante. Ele se contenta em ser um escritor de gênero_ a literatura cubana tem essa semelhança com a literatura norte-americana: se presta muito bem tanto ao alto cânone quanto a uma excelência de gênero. Há um artigo sobre Padura, publicado na revista Piauí, em que Padura diz que seu desejo é ser, apenas, o Paul Auster cubano. Ele conseguiu superar Paul Auster, que nunca escreveu um livro tão intenso e expressivo quanto O homem que amava os cachorros. O livro está sendo muito bem lido aqui no Brasil, e já se encontra em não sei qual reedição.

Abaixo, duas fotos do papo.

Foto: Roberta Fofonka
Foto: Roberta Fofonka
Foto: Roberta Fofonka
Foto: Roberta Fofonka

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Porque hoje é sábado, Helena Christensen

Porque hoje é sábado, Helena Christensen

De todas essas super über hiper modelos, …

… a que sempre me chamou mais a atenção …

… foi a hoje aposentada dinamarquesa …

Helena Christensen.

Por anos, vi por aí fotos desta maravilhosa mulher …

… nascida em 25 de dezembro de 1968, …

… em Copenhagen.

Helena Christensen

Nem imaginava quem era, …

… nem de onde tinha saído.

model-helena-christensen-1994-dave-allocca

Mas achava que dentre todos os varapaus …

… meio adoentados que chamamos …

… de modelos, ela era a única …

… que tinha autêntico sex appeal

… além de uma ex-tra-or-di-ná-ria beleza …

helena-christensen-photo-albert-watson

… acompanhada de uma peculiar boa vontade de …

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Porque hoje é sábado, Laura Antonelli

Porque hoje é sábado, Laura Antonelli

Reposto o PHES de Laura, falecida na última segunda-feira.
Na época da postagem, já se sabia dos problemas pessoais da atriz.
Mais detalhes no final.

Eu tinha 16 anos e ela 32 quando praticamente estreou em Malícia, filme de 1973.

O filme trazia ela, Laura Antonelli, e não se falava de outra coisa em minha casa.

Estávamos todos apaixonados. Depois vieram rapidamente mais dois filmes

que todos viram: Esposamante, de Mario Vicario, e O Inocente, de Luchino Visconti.

laura antonelli

Lembro das pessoas falando, lembro de quantas vezes meus colegas de aula

laura-antonelli_3112_41308125

diziam ter visto Esposamante, de todas as homenagens solitárias

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que eles e eu dizíamos ter rendido.

MCDMACA EC085

Meu deus, o número de ejaculações que esta mulher causou nos anos 70,

laura_antonelli_divine_creature

fariam o sertão virar mar.

mio-dio-come-sono-caduta-in-basso

Bem, continuemos.

968full-laura-antonelli

E ela, além de bonita,

era boa atriz.

Ou vocês pensam que fez filmes com Visconti, Scola e Bolognini por quê? Por ser ruim?

(Desculpem, mas o braço da poltrona acima é igual ao de duas que tínhamos em casa).

Mas ela só foi lá em casa na minha imaginação, ela nunca me serviu chá.

Nem me olhou assim.

Muito menos fez essa carinha. (Só em imaginação, repito).

laura-antonelli

Nem foi a responsável por meu ateísmo.

Eu garanto.

.oOo.

Bem, vamos a um pouco do que ocorreu depois com a grande Laura Antonelli. Em 2010, o ator italiano Lino Banfi apelou às autoridades do país para ajudá-la financeiramente. Ela, mito cinematográfico dos anos 70 e 80, quando recebia milhões, vivia há mais de uma década com uma pensão de 510 euros por mês e estava doente.

Sem vê-la há 22 anos, Banfi procurou a atriz publicando uma carta no jornal Corriere della Sera. Ela, em 2010 com 69 anos, respondeu a seu apelo dizendo que “achava que não tinha muito tempo de vida, mas que gostaria de morrer com dignidade”.

Depois da fama, Antonelli foi largando o cinema pouco a pouco em razão da depressão. Em 1991, produziu uma refilmagem de Malícia. O filme foi um completo fracasso. A condenação de três anos por porte e tráfico de cocaína não melhorou em nada sua situação. Após nove anos sob intenso massacre da mídia, o processo foi finalizado com sua absolvição e um pedido de desculpas. Neste ínterim, Laura submeteu-se a uma cirurgia estética. Deu tudo errado e ela ficou com o rosto totalmente desfigurado. Nego-me a mostrar uma foto disso.

Ela agradeceu ao apelo de Lino Banfi, mas garantiu que não quer “voltar a dar entrevistas ou aparecer na televisão”. “Sou grata a Lino. Um auxílio poderia me dar uma vida mais tranquila, mas também tenho o desejo de que me esqueçam”.

Espero que ela me perdoe.

Pois eu e o PHES não podemos te esquecer, Laura Antonelli.

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Culpa do blog

Culpa do blog
Oiiiiiiiii...
Oiiiiiiiii…

História absolutamente deliciosa contada pelo Gustavo Melo Czekster em inbox e que eu divulgo indiscretamente:

Oi, Milton.

Na quarta feira, aconteceu um evento comigo que, em grande parte, foi culpa tua.

Estava eu na frente do Salão Mourisco, dentro da Biblioteca Pública, onde tinha acabado de falar sobre Literatura Inglesa escrita por mulheres. Eu estava conversando com as alunas do curso. Algumas pessoas subiam as escadas e passavam por nós, portando seus instrumentos musicais. De repente, vi um rosto conhecido galgando os degraus e na hora pensei, com grande intimidade “oh, olha ali a Elena Romanov, violinista e namorada do Milton!” Abri um sorriso e disse um “ooooi…” daqueles mais amistosos e respeitosos.

Quando estava na metade do “oooooi…”, naquele ponto instável entre o “o” e o “i” , percebi: eu não conhecia a Elena Romanov! Nunca conversei com ela. Nem sequer somos conhecidos virtuais. Eu só a conhecia por teu intermédio, através dos teus textos e postagens no FB e no blog. Mas ela parecia tão real que era como se eu a conhecesse por muito tempo e, pior ainda, fôssemos grandes amigos.

Fiquei completamente envergonhado. Em especial por que a Elena me olhou com o mais absoluto espanto – tentando lembrar de onde me conhecia e, naturalmente, não recordando – e respondendo, educada, com um “oi!’ rápido que eu também daria, pois pareci um psicopata. Mas fui um psicopata involuntário, se é que tal figura existe.

Compartilho esta história contigo por dois motivos. Em primeiro lugar, para que mandes meu pedido de desculpas para a Elena e diga que fiquei muito envergonhado. Em segundo lugar, para saudar o poder das tuas palavras e textos, que conseguiram criar em mim a ilusão perfeita: a de conhecer uma pessoa desconhecida. Espero que não uses este poder para o mal.

Um abraço!

E o Gustavo completa:

“Depois voltei para casa pensando no pavor de subir uma escada e, ao chegar no seu término, algum desconhecido dizer “oooooooi…”

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E chegamos ao post Nº 3000

E chegamos ao post Nº 3000

Milton RibeiroIniciei o blog em maio de 2003. Ele foi migrado três vezes: saiu do blogspot para a Verbeat, OPS e finalmente para o Sul21. Nessas transferências, principalmente na segunda, muitos posts e imagens foram perdidos, mas hoje posso dizer que tenho 3000 textos publicados e uns 140 rascunhos. Raramente revisito meus posts antigos. De certa forma, eles me apavoram por mostrarem o que conheço muito bem e nem sempre gosto. Então, me coleciono e depois deixo pegar pó. Só que o Google leva muita gente aos arquivos do passado, o que faz com que — mesmo eu estando desconectado de férias, por exemplo –, o blog receba uma média de 1000 visitas por dia — normalmente fico entre 1500 e 2000.

O MR atravessou várias fases da minha vida. Lembro que falava muito em meus filhos lá começo, pois o Bernardo tinha 12 anos e a Bárbara, 9. Ele passou pela morte de minha mãe, por meu acidente de 2004, pelo governo Yeda e pelo processo de Letícia Wierzchowski contra o blog — uma mancada minha, que a ofendi infantilmente. Houve fatos pessoais que não foram contados aqui, outros que foram relatados com seriedade e ainda outros foram amplificados até bem próximo da mentira. Ganhei muitos, mas muitos amigos com ele e arranjei uns poucos inimigos pelo caminho. Mas, sinceramente, gosto de todos eles, à exceção de Mônica Leal. Houve o período gravíssimo em que perdi meu emprego por não ter aceitado pagar propina a uma estatal na renovação de um contrato. Calei.

Orgulho-me das resenhas de livros e dos contos que escrevi para o blog, algo que faço cada vez menos por falta de tempo. Também de alguns textos esparsos. As resenhas dos concertos da Ospa são interessantes diversões. Gosto de escrever e procurar fotos para o Porque hoje é sábado e de escrever saudação matinal aos técnicos do Inter após os jogos — Bom dia, Diego Aguirre. Obriguei-me a falar pouco da política. Os fatos e as análises políticas são muito efêmeros e todo mundo opina. Eu seria um modesto e irritado comentarista.

Muitas vezes quis fechá-lo, mas sou meio viciado em escrever meus textos e, vocês sabem, não existe ex-viciado, nem ex-pavão. Certamente, ele se parece mais comigo do que o meu perfil no Facebook. O blog é um retrato meu e de minha habitual franqueza. Se parece meio fantasioso, desigual e aventuresco, é porque sou e penso assim. Se as piadas são horríveis, é porque em algum momento ri delas. Como não sairei vivo da vida, às vezes entro de cabeça no #prontofalei, mas creio que a principal função deste espaço é a de me liberar do algoz da rotina, deste cara chato, preocupado, insatisfeito, pontual e certinho do Milton Ribeiro, de vê-lo sob uma luz melhor ou distorcida, de mostrar que por trás de minha testa há um humor anárquico e uma visão desconsolada do mundo, de tornar minha vida melhor enquanto caminho pela rua, pois escrevo caminhando e, quando chego no computador, o texto só é retocado.

E, mesmo que seja desse jeito assimétrico e mesmo que os blogues tenham saído de moda, pretendo seguir por mais um tempo. A meus sete leitores, agradeço a preferência.

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Ospa em noite de zumbis, trompetes e porvires

Ospa em noite de zumbis, trompetes e porvires
A maestrina Valentina Peleggi durante os ensaios para o concerto de ontem. Clique para ampliar.
A maestrina Valentina Peleggi durante os ensaios para o concerto de ontem | Foto de Augusto Maurer | Clique para ampliar.

Foram tantas emoções… Entrei num camarote lateral do Theatro São Pedro, olhei para baixo, observando a plateia presente, e lá estava minha ex-ex toda sorridente. Ergui os olhos e, bem na minha frente, no camarote oposto, estava minha ex com má cara. Estava começando a ficar desconfiado de uma armação cósmica quando olhei ainda mais para cima e vi que ali se encontrava a PMDB. Então, notei que minha companhia no camarote era, nada mais nada menos, do que a atual cônjuge do ex-marido de minha futura mulher, Elena, que estava no palco.

Eu pensava que era o James Stewart de A Janela Indiscreta, assistindo não a um desfile de paixões amorosas, mas a uma fusão de passado, presente e futuro… Quando já sentia um gesso em minha perna, a qual já começava a coçar à espera de Grace Kelly… Quando conjeturava sobre o mito de que, na hora da morte, a gente revê toda nossa vida… Bem, então, no final do concerto, vieram três trompetistas da orquestra para trombetear junto ao meu ouvido, pois Sibelius quisera colocá-los fora do palco. Adivinhem onde eles escolheram ir? Do meu ladinho, ora! Ainda bem que sou um sujeito brando, ameno e pacífico, nada paranoico e sempre disposto a achar graça de tudo. Ou seja, se não fosse o bobo alegre que sou, sucumbiria aos fatos.

Bem, o programa da noite:

Pietro Mascagni: Preludio e Intermezzo “Cavalleria Rusticana”
Erich Wolfgang Korngold: Concerto para violino
Maurice Ravel: Ma Mère l’Oye
Jean Sibelius: Karelia Suite

Regente: Valentina Peleggi
Solista: Cármelo de los Santos (violino)

O concerto iniciou por uma abertura, o que é uma redundância apenas aparente. Nas garrafas, a diversão começa para abertura da tampa; já nos concertos, a diversão não precisa começar por uma abertura, como a Ospa infelizmente convencionou para 2015. O Preludio e Intermezzo de “Cavalleria Rusticana” foi a mais feliz das aberturas de concerto deste ano, o que não é grande mérito, é mais ou menos como ganhar por 2 a 1 da União Frederiquense. Mas pudemos ver uma novidade no palco, o trabalho claro da maestrina Valentina Peleggi.

Intermezzo: minha opinião sobre maestrinas foi dada quando fiz a tradução deste belíssimo texto de Barbara Hannigan. Concordo inteiramente com ela e vou tratar Peleggi sem citar mais o fato de ela ser uma mulher no pódio. Deveria ser normal.

O Concerto para violino de Erich Wolfgang Korngold é mal disfarçada música para cinema. Nos anos 30 e 40 do século passado, o austríaco Korngold trabalhou em Hollywood fazendo música para filmes. Suas trilhas sonoras impulsionavam adequadamente as cenas e eram bem recebidas por diretores e público, o que o tornou famoso nos EUA. É óbvio que conheceu Bernard Herrmann, autor da banda sonora de A Janela Indiscreta. Mas não conheceu John Williams, autor do bis, a canção-tema de A Lista de Schindler. Nestas duas intervenções, o violinista Cármelo de los Santos foi impecável, mostrando-se um cantor muito superior àquilo que cantava, obras dispensáveis.

O livro de Perrault é de 1695
O livro de Perrault é de 1695

Conforme o esperado, a melhor peça da noite foi Ma Mère l’Oye (Mamãe Gansa), de Ravel, um sujeito que, assim como Brahms, era infalível. A peça foi escrita originalmente em 1910 para piano a quatro mãos, como um presente a duas crianças próximas do compositor, Mimie e Jean Godebsky. Foi inspirada em contos de fada de Charles Perrault e da condessa d’Aulnoy. A Mamãe Gansa não é um personagem ficcional específico, ela representa as mulheres contadoras de histórias, normalmente mães, na época. É uma atividade gloriosa. Um ano depois, em 1911, a peça foi orquestrada e ampliada pelo próprio Ravel, que a transformou num balé. Aqui, a segurança e os gestos claros de Valentina Peleggi — às vezes apenas um olhar mais significativo — fizeram a diferença, ao lado do flautista Artur Elias e do corne inglês de Paulo Calloni.

Esta igreja existe na Carélia e e foi feita de madeira, OK? Clique para amplar.
Esta igreja existe na Carélia e e foi feita de madeira, OK? Clique para ampliar.

A função foi finalizada pela alegria nórdica da Suíte Karelia. Não, não cairei no mau gosto de fazer um trocadalho do carilho com o título da peça do finlandês que completa 150 anos de nascimento este ano.

Esta suíte é um dos primeiros trabalhos de Sibelius e é muito popular. Ele tinha especial afeto pela região da Karelia (ou Carélia), que é pouco habitada e fica bem na fronteira com a Rússia, banhada em parte pelo Báltico. Em anos anteriores, ele havia encontrado inspiração na música local e, depois, até passou sua lua de mel lá. O caráter simples da música é deliberado: a intenção estética é a de capturar a pureza da base folclórica. É claro, sabemos que Sibelius foi um mega-nacionalista.

É curioso, no Sibelius, quando os três trompetes, los tres amigos, subiram até o meu camarote para me mostrar que aquela não era uma noite qualquer, pude ouvir e separar perfeitamente o som de cada um deles. E é notável a leveza, delicadeza e profundidade do som de Elieser Ribeiro.

À saída, na porta do teatro, a Sofia Cortese nos proporcionou enorme alegria ao chegar para a Elena e dizer de forma espontânea algo mais ou menos assim: como é bom te ver tocar, a tua figura, a tua postura, são muito bonitas de se ver. De minha parte, eu concordo integralmente e acrescento que ela é bonita de se ouvir, também.

Para vocês verem como falo a verdade: os três trompetistas e eu, à direita
Para vocês verem como falo a verdade: os três trompetistas e eu, à direita | Foto: Ana Eidam / Ospa

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A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov

A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov

a_verdadeira_vida_de_sebastian_knightTalvez eu esteja ensaiando algo no estilo de Jep “não posso mais perder tempo fazendo coisas que não quero fazer” Gambardella. É verdade, estou velho demais para ficar revoluteando por aí. Claro que o melhor de mim acaba indo sempre para o trabalho, mas, se me organizasse, sei que poderia me livrar de alguns penduricalhos de anos e tornar minha rotina mais satisfatória. Deixando de lado a vida amorosa e os tais pingentes, minha prioridade, atualmente, é o retorno aos autores que mais amo e com os quais mais aprendi. E resolvi abordar novamente Vladimir Nabokov, indo diretamente àquele que é um de seus livros mais fundamentais: A Verdadeira Vida de Sebastian Knight (1941).

Sebastian Knight é o primeiro romance escrito em inglês por Nabokov (1899-1977). Conta-se que foi escrito em um banheiro parisiense, com o autor sentado em uma privada com a tampa fechada. Não haveria lugar melhor disponível. No livro, o narrador, V., pretende escrever a biografia de seu falecido meio-irmão, o obscuro e brilhante romancista russo, Sebastian (1899-1936). O nome Knight vem de sua mãe, de origem inglesa. Os dois irmãos, de pais diferentes, viveram afastados desde a juventude. Na busca por informações e do entendimento da vida do querido autor, ele analisa seus textos e vai atrás de conhecidos e de casos amorosos do irmão.

Nabokov é sempre muito enganador. Às vezes, chegamos a identificar culpa nesta obsessão de descobrir quem seria mesmo este irmão autor de livros tão intrigantes. Por que se encontraram em tão poucas oportunidades? Por que não se conheceram melhor?Outras vezes, parece que tudo é uma tentativa de colocar Knight em seu merecido Olimpo literário, pois a nova biografia refutaria outra, enganosa, escrita pelo ex-assistente de Knight, o Sr. Goodman, de nome A Tragédia de Sebastian Knight. Desprezando o autor, Goodman afirma que Knight estava muito distante da vida real e que, vivendo inteiramente em seu projeto literário, não seria um artista solitário, mas um artista cego ao mundo.

Em qualquer caso, uma sensação de falta percorre toda a narrativa. (Calma, não vou adiantar nada da trama). Só lhes digo que é particularmente interessante a parte final do livro, quando V. busca uma mulher com o qual o irmão teria sofrido uma desilusão amorosa após abandonar a esposa Claire. O livro torna-se poliestilístico ao adotar uma paródia de “livro de detetive”.

Não somos informados sobre o nome ou o sobrenome do narrador. Mais tarde Nabokov escreveu que “V estaria para Victor.” Três interpretações têm sido propostas sobre a relação entre o narrador e biografado: que, como se esperaria, V e SK fossem pessoas efetivamente distintas; que SK inventou o personagem V em um de seus livros ou que V inventou SK, sendo a biografia pura ficção. No fundo, a verdade não nos interessa e todas as interpretações parecem possíveis. O que interessa e fica é a notável beleza de um romance de reconstrução incompleta, regida por um autor de texto e talento ímpares.

Um baita livro.

vladimir-nabokov

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Kirill Petrenko é o novo maestro titular da Filarmônica de Berlim

Kirill Petrenko é o novo maestro titular da Filarmônica de Berlim

Kirill Petrenko foi eleito ontem, por uma larga maioria de votos, o novo maestro titular e diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Berlim. Ele sucederá a Simon Rattle em 2018. Ele confirmou a sua aceitação na noite passada.

Petrenko, de 43 anos e nascido em Omsk na Rússia. terá que se demitir de seu cargo como diretor musical da Ópera da Baviera  — embora alguns meios de comunicação alemães sugiram que ele possa manter os dois postos por algum tempo.

Ele é o primeiro regente de origem russa e o primeiro judeu a dirigir, no posto de maestro titular, a orquestra de Berlim.

As especulações em torno do nome do sucessor de Rattle se tornaram o principal assunto do meio musical mundial há meses. Seis semanas atrás, uma reunião de 11 horas dos 124 membros da orquestra resultou sem a fumaça branca.

Nesta segunda, a Filarmônica de Berlim fez o anúncio em uma coletiva de imprensa convocada às pressas, logo após a escolha de Petrenko ter sido vazada para a estação de rádio estatal “Berlin RBB”.

Fundada em 1882, a Filarmônica atraiu alguns dos mais famosos regentes do mundo. Wilhelm Furtwaengler a liderou entre 1922 e 1934 e, posteriormente, de 1952 até sua morte, em 1954. Ele foi substituído por Herbert von Karajan, que seguiu no comando até 1989. Desde então, a orquestra alemã teve apenas mais dois titulares: Claudio Abbado e Simon Rattle.a

Rattle, que está no comando da Filarmônica de Berlim desde 2002, deve assumir a Orquestra Sinfônica de Londres a partir de 2017. Seu contrato em Berlim vai até 2018, logo, é possível que Rattle acumule as duas funções por alguns meses.

Kirill Petrenko
Kirill Petrenko

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Porque hoje é sábado, Julie Christie

Porque hoje é sábado, Julie Christie

Post de 2011 cujas fotos haviam sumido

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Julie Christie, a grande diva de tantos filmes e tantosposts, completou 70 anos.

Então, aproveito trazer aqui uma de minhas grandes paixões de adolescente.

Julie_Christie_01

Ela, uma britânica nascida em 1941 na Índia, foi uma das musas da geração anterior à minha, mas, por alguma razão, retroagi e passei aqueles anos vendo e revendo seus filmes:…

Julie_Christie_02

… o extraordinário Darling, de John Schlesinger (no Brasil Darling, a que amou demais…), o curioso Petulia, de Richard Lester (no Brasil, Petulia, um Demônio de Mulher…),…

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… o xaroposo Doutor Jivago, de um irreconhecível David Lean, o perfeito O Mensageiro, de Joseph Losey, o grande western McCabe and Mrs. Miller, de Robert Altman (no Brasil Onde os Homens são Homens…), …

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… mais Nashville (Altman), Shampoo (Ashby), Don´t look now (Roeg, no Brasil Um Inverno de Sangue em Veneza) foram engolidos por mim, que via algo mais do que uma bela mulher em Julie Christie.

Julie_Christie_03

Ícone da Swinging London dos anos 60, Julie foi uma espécie irrepetível de anti-estrela.

Julie_Christie_05

Imagine uma excepcional atriz jovem, bonita e ganhadora do Oscar aos 24 anos, tomando sol num parque de Londres nos dias de hoje!

Julie_Christie_07

Além do mais, ela dava entrevistas muito inteligentes, detestava posar para fotos, não fazia comerciais…

Julie_Christie_07_ McCabe_and_Mrs_Miller

… era declaradamente ateia, fazia questão de escolher seus projetos e, quando era criticada por errar, dizia: …

Julie_Christie_08

…”Minha carreira que se dane”.

Julie_Christie_09_DontLookNow6

Certamente, era pelo somatório de beleza, pela poesia de suas atuações e pela postura independente que a admirava tanto.

Julie_Christie_10_awayfromher

Aliás, até hoje, aos 70 anos, ainda acho esta imensa atriz bem bonita, bem bonita…

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Porque hoje é sábado, Angelina Jolie

Porque hoje é sábado, Angelina Jolie

Publicado em 13 de setembro de 2008 (as fotos tinham sumido…)

Angelina-Jolie-327

Até agora, fiz 84 posts na série “Porque hoje é sábado”. Nunca o tema foi Angelina Jolie.

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Os motivos são vários: em primeiro lugar, não gostei de nenhum filme que ela fez.

Angelina_Jolie_02

Ou melhor, “Garota, Interrompida”, de James Mangold, foi um filme digno.

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Mas a filha de Jon Voigt, de apenas 33 anos, é indiscutivelmente uma belíssima e curiosa mulher.

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Pode parecer incrível, mas acho que ela é apenas bonita. Não me atrai. Atrai-me mais sua história agitada.

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Teve cinco conhecidos casos amorosos. Com Jonny Lee Miller, Billy Bob Thornton, com a modelo Jenny Shimizu…

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… e agora forma com Brad Pitt um gênero de casal blockbuster bastante comum em Hollywood.

Angelina_Jolie_07

E, se Angelina tem vida amorosa é agitada, o que dizer da maternal? Ela tem hoje 6 (seis) filhos,…

Angelina_Jolie_08

… três biológicos e três adotivos. Se tais fatos apontam para uma pessoa interessante, apesar de limitada atriz e de,…

Angelina_Jolie_09

… péssimas escolhas cinematográficas, outros apontam para uma mulher rançosa e conservadora.

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Bem longe da imagem de rebaldia que tinha anos atrás, ela hoje se diz indecisa sobre apoiar…

Angelina_Jolie_11

… Barack Obama ou John McCain. Mas apoiará McCain, sem dúvida. Afinal,…

Angelina_Jolie_12

… ela aprovou e segue apoiando a guerra contra o Iraque com um motivo pra lá de esquisito: …

Angelina_Jolie_15

… espera que seu país “ampare” os quatro milhões de refugiados da própria guerra. E completa: …

bAngelina Jolie - Blue Lingerie - Vogue Chemise

… “Não podemos nos permitir esbanjar os progressos que já obtivemos na região”.

Angelina_Jolie_13

OK. Temos nela uma Embaixadora da Boa Vontade Intervencionista da ONU.

Angelina_Jolie_16

Então, é provável que Jolie, a paradoxal mulher que é uma das pessoas mais influentes do mundo, …

Angelina_Jolie_17

… vá de McCain nas eleições americanas. A não ser que seus empresários a convençam do contrário.

Angelina_Jolie_18

Porém, esta mulher que foi considerada, em 2005 e 2007, a mais sexy do mundo. Se permanecesse quieta…

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Na semana da entrega do relatório da Comissão da Verdade, o AI-5 completa 46 anos

Na semana da entrega do relatório da Comissão da Verdade, o AI-5 completa 46 anos
Foto: Reprodução
Leia-se “Golpe” | Foto: Reprodução

Publicado no Sul21 em 13 de dezembro de 2014

Comprova o calendário, consta nos astros, na ciência e na filosofia que o tempo não para. Mas o ano de 1968 não acabou, como diz o livro de Zuenir Ventura. Ou não acabou em 31 de dezembro como todos os outros, tendo sido interrompido no dia 13 daquele mês. Pois no dia 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva, foi baixado o Ato Institucional nº 5, o AI-5, que inaugurou o momento mais duro da ditadura militar brasileira (1964-1985). Ele vigorou até dezembro de 1978, dando poder aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados. A partir daquela dia, há 46 anos atrás, os militares podiam tudo.

No restante do mundo, o ano de 1968 ficou marcado como um momento de grande contestação. Na França, o mês de maio foi um momento de grandes protestos tanto contra a política tradicional, quanto a favor de novas liberdades. O radicalismo, principalmente dos estudantes, era expresso claramente pelo lema “é proibido proibir”. Na Europa oriental, no mês de agosto, a União Soviética, acabou com a onda liberalizante em um de seus países satélites, a Tchecoslováquia. A curta Primavera de Praga de Alexander Dubček acabou sob os tanques soviéticos. Dubček e outros membros do governo foram sequestrados e levados a Moscou, onde “lhes fizeram voltar à razão”. As artes também embarcaram no espírito libertário de 1968, mas o que nos interessa é a política brasileira.

Relembremos resumidamente alguns fatos de 1968. No mês de março, uma grande agitação estudantil tomou as ruas do Rio de Janeiro para protestar contra a alta do preço das refeições nos restaurantes universitários. Edson Luís de Lima Souto era um dos 300 estudantes que jantavam no restaurante estudantil do Calabouço no final da tarde de 28 de março de 1968 quando o local foi invadido por policiais. Edson Luís, de apenas dezesseis anos, foi morto pelos militares com um tiro no peito. O fato serviu para que as críticas ao regime se intensificassem. No velório do estudante, uma manifestação de 50 mil pessoas demonstrava a desaprovação ao acontecido.

Edson Luís Lima Souto foi assassinado por um soldado da PM, com um tiro no peito, em 28 de março de 1968
Edson Luís Lima Souto foi assassinado por um soldado da PM, com um tiro no peito, em 28 de março de 1968 | Foto: Reprodução

Em junho, a Passeata dos Cem Mil, ocorrida também no Rio de Janeiro, reuniu trabalhadores, políticos, artistas, professores, religiosos e estudantes decididos a questionar a repressão daqueles tempos. Em clima pacífico, a passeata serviu para que eventos semelhantes acontecessem em outros pontos do país, intensificando o repúdio ao governo militar. Em São Paulo, estudantes da USP entraram em confronto contra governistas da Mackenzie.

Passeata dos Cem Mil | Foto: Repodução
Passeata dos Cem Mil | Foto: Reprodução

Na mesma época, as autoridades militares desarticularam uma reunião clandestina da União Nacional dos Estudantes, acontecida na cidade paulista de Ibiúna. Aproximadamente 900 estudantes foram presos. Alguns dos pais dos jovens envolvidos foram perseguidos ou exonerados de suas funções públicas.

No dia 30 de agosto de 1968, a Universidade Federal de Minas Gerais foi fechada, e a Universidade de Brasília (UnB) foi invadida pela Polícia Militar, que espancou diversos estudantes. Em resposta, o deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, nos dias 2 e 3 de setembro, lançou na Câmara Federal um apelo para que o povo não participasse dos desfiles militares do 7 de Setembro e para que as moças, “ardentes de liberdade”, se recusassem a sair com oficiais. Logo após o discurso, o procurador-geral da República selecionou alguns trechos isolados do discurso, imprimiu-os e mandou distribuir nos quartéis. Outro deputado do MDB, Hermano Alves, escreveu uma série de artigos no Correio da Manhã considerados provocações. O governo, atendendo ao apelo dos militares e do Conselho de Segurança Nacional, declarou que esses pronunciamentos eram “ofensas e provocações irresponsáveis e intoleráveis” e solicitou ao Congresso a cassação dos dois deputados.

Seguiram-se dias tensos, entrecortados pela visita da rainha da Inglaterra ao Brasil, fato super honroso na época. E, no dia 12 de dezembro, a Câmara surpreendentemente recusou, por uma diferença de 75 votos — com a colaboração da própria Arena, o partido do governo –, o pedido de licença para processar Márcio Moreira Alves.

Em resposta, veio o AI-5. A criação Ato Institucional Nº 5 foi definida em uma reunião comandada pelo então presidente Arthur da Costa e Silva (1967-1969) e mais 24 assessores diretos que integravam o Conselho de Segurança Nacional, dos quais 15 eram militares. A decisão foi tomada no salão de jantar do Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Por cerca de duas horas, os 25 discutiram e definiram o que seria incluído no ato. Apenas o então vice-presidente da República, Pedro Aleixo, foi contrário à medida. O placar foi de 24 votos a um.

A reunião que criou o AI-5
A reunião que criou o AI-5 | Foto: Reprodução

Os defensores do AI-5 alegaram que o ato era necessário porque havia um clima de rebeldia no ar… Na reunião, todos os presentes se manifestaram. Costa e Silva determinou que a reunião fosse gravada e registrada. O argumento de Aleixo para bastante lógico e claro: ele se manifestou contrariamente ao ato, entre outros aspectos, porque ele institucionalizaria a ditadura.

O Ato autorizava o presidente da República, em caráter excepcional e, portanto, sem apreciação judicial, a:

— decretar o recesso do Congresso Nacional;
— intervir nos estados e municípios; cassar mandatos parlamentares;
— suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão;
— decretar o confisco de bens considerados ilícitos;
— suspender a garantia do habeas-corpus.

O preâmbulo do ato dizia ser ele uma necessidade para atingir os objetivos da revolução, “com vistas a encontrar os meios indispensáveis para a obra de reconstrução econômica, financeira e moral do país”. No mesmo dia foi decretado o recesso do Congresso Nacional por tempo indeterminado — só em outubro de 1969 o Congresso seria reaberto, para referendar a escolha do general Emílio Garrastazu Médici para a Presidência da República.

Plenário da Câmara nega cassação do deputado Márcio Moreira Alves Arquivo/12-12-1968
Plenário da Câmara nega cassação do deputado Márcio Moreira Alves em 12-12-1968 | Foto: Câmara Federal

Ao fim do mês de dezembro de 1968, 11 deputados federais foram cassados, entre eles Márcio Moreira Alves e Hermano Alves. A lista de cassações aumentou no mês de janeiro de 1969, atingindo não só parlamentares, mas até ministros do Supremo Tribunal Federal. O AI-5 não só se impunha como um instrumento da intolerância, como referendava uma concepção de modelo econômico e de restrições.

Membro da Comis­­­são Nacional da Verdade, Rosa Cardoso afirma que entre 1964 e 1968 os militares preocupavam-se em manter uma aparência de democracia. “Com o ato, o Estado decidiu deixar às claras toda a sua estrutura repressiva e terrorista. Sem o habeas corpus, por exemplo, as pessoas podiam ser presas, torturadas e desaparecer. E não havia o que ser feito”.

A lembrança do AI-5 está viva na memória de quem acompanhou os desdobramentos do ato. “Todos os grupos do movimento estudantil foram afetados, tiveram as sedes fechadas e foram calados”, comenta Narciso Pires, ex-preso político e coordenador da ONG Tortura Nunca Mais. Hoje com 64 anos, Pires morava em Apucarana (Norte do Paraná) na época e teve de mudar de cidade. “O AI-5 foi o golpe dentro do golpe. Se já tínhamos a sensação de insegurança, fomos calados.”

O resto se sabe. Com o AI-5, acirrou-se o período de terror no país. Houve o aumento do número de prisões de opositores, os centros clandestinos de torturas — assim como os cemitérios — multiplicaram-se pelo país, milhares foram para o exílio e os grupos de resistência armada foram exterminados.

Presidente se emocionou ao falar nas pessoas que  Fto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Presidente se emocionou quando do ato de entrega do relatório da Comissão da Verdade | Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Hoje

Na última quarta-feira, 10, a presidenta Dilma Rousseff recebeu as aproximadamente 4 mil páginas que integram os três volumes do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ela disse que o trabalho da CNV vai ajudar a afastar “fantasmas de um passado doloroso” e permitir que os brasileiros conheçam a história das violações aos direitos humanos durante a ditadura militar para que elas não se repitam. “Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão”, disse.

O próximo passo será complicado. O Judiciário não tem aceito ações que já vêm sendo propostas pelo Ministério Público. A partir da divulgação do relatório, Rosa Cardoso acredita que esse cenário possa mudar. “Todas as pessoas racionais refletem todos os dias e mudam de posição. Juízes mudam de posição. Há uma parcela da sociedade que dizia: o passado passou. Não passou. Existe uma questão chamada memória.”

Para a procuradora da República Eugênia Gonzaga, o Brasil era um país “vergonhosamente atrasado” em relação a assuntos ligados a graves violações de direitos humanos. Desde o caso das ossadas de Perus, em São Paulo, “vimos que era um tema totalmente abandonado, que as autoridades deixaram de lado. Se o Ministério Público fez a sua parte — tardiamente –, o Judiciário ainda é de uma resistência imensa.” Ela lamentou que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha endossado a Lei da Anistia, o que fez com muitas ações fossem travadas — inclusive a referente ao caso do Riocentro (1981), posterior à lei (1979).

Eugênia citou ainda a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que já condenou o Brasil no caso Araguaia. “Em 1988, o Brasil assinou uma Constituição em que se submete a decisões de cortes internacionais naquilo que se refere a direitos humanos”, observou.

A chaga segue aberta.

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Fontes consultadas:
— Matérias da EBC, da Contraf-CUT, da FGV e de várias publicações da época.

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A tal Pátria Educadora corta livros de nossas crianças

A tal Pátria Educadora corta livros de nossas crianças

Por Graça Ramos

O Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens era para ser só festa, como tem sido há 17 anos, mas o que encontrei lá foram editores arrasados com notícias oriundas dos governos federal, capitaneado pelo PT, e do Estado de São Paulo, comandado pelo PSDB. Ambos estão suspendendo compras de livros que deveriam ser entregues a estudantes e professores. Os dois partidos rivais na última disputa presidencial aproximam-se no desprezo à leitura.

Copiado de http://esoemfoco.blogspot.com.br/
Copiado de http://esoemfoco.blogspot.com.br/

O governo de Dilma Rousseff deverá prorrogar para o próximo ano os programas de distribuição de livros literários a escolas públicas previstos para este ano. A informação foi repassada a editores do segmento infantojuvenil por técnicos vinculados ao Ministério da Educação (MEC). Os cortes orçamentários são responsabilizados pela suspensão das compras, não anunciada oficialmente. Mas que, na prática, já está acontecendo no âmbito do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) em função da morosidade no cronograma de atividades, o que equivale a um adiamento.

Os avisos dão conta ainda de que o presidente do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), Antônio Idilvan Alencar, nomeado pelo ex-ministro Cid Gomes (PROS), argumentou contra os cortes, sendo voto vencido. A justificativa dada pelos técnicos da equipe do novo ministro, Renato Janine Ribeiro, é que cortes precisam ser feitos e as obras de literatura são consideradas menos prioritárias. Prorrogada a entrega dos livros do PNBE, aproximadamente 6,7 milhões de exemplares deixarão de chegar aos leitores de escolas públicas de todo o País este ano.

Grandes números – O outro corte foi assumido semana passado, sendo mais expressivo em números, mas localizado em um só estado. O governo de Geraldo Alckmin informou aos editores a suspensão da chamada pública relativa ao ano de 2013 do Programa Estadual do Livro, responsável por abastecer os Programas Sala de Leitura, Leitura do Professor e Apoio ao Saber nas escolas de ensino fundamental e médio, além daquelas inseridas na Educação de Jovens e Adultos. Cerca de 18 milhões de livros que deveriam estar nas mãos de alunos e professores paulistas desde o ano passado não serão entregues. Os cortes orçamentários também foram responsabilizados pela atitude drástica.

O menosprezo à leitura dissemina-se em outras instâncias: a Prefeitura de São Paulo, há quatro anos, não compra livros de literatura para os programas Minha Biblioteca, Acervo Inicial, Acervo Complementar e Sala de Leitura. Portanto, nas gestões do PSD, de Gilberto Kassab, e de Fernando Haddad, do PT. No município do Rio de Janeiro, a situação é melhor, pois permanecem os projetos de compra para creches e aluno concluinte, embora tenha sido suspenso o programa Biblioteca do Professor, que entregava 16 obras literárias aos docentes. Algo próximo de 370 mil exemplares. E, observo, a Prefeitura, via Secretarias de Cultura e Educação, manteve o apoio ao Salão FNLIJ, viabilizando a presença de 17 mil alunos e a compra de livros pelos professores – os outros patrocinadores foram a Petrobras e o Instituto C&A.

Ainda no âmbito federal, ações do Programa de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) 2014, considerado prioritário na campanha da presidente Roussef, também estão bastante atrasadas. Consultadas sobre atrasos e suspensão dos programas, as Assessorias de Comunicação do MEC e do FNDE, responsável pela execução dessas ações, deram resposta semelhante, que, analisada, só confirma o quadro de descaso.

Diz o email enviado pelo MEC: “Os resultados das avaliações do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) estão previstos para publicação no dia 29/06. E os do PNBE em outubro/novembro. No caso do PNLD Pacto, os resultados já foram divulgados e os guias finalizados, portanto estão em preparação para aquisição. O PNBE temático também já teve resultado divulgado, mas ainda aguarda avaliação da área responsável, a SECADI”. Abaixo, avalio item por item o estado desses e outros programas.

Tudo indica que o PNLD 2016 está dentro desse prazo anunciado, pois dele não se fala em prorrogação, pelo entendimento de que são livros essenciais de disciplinas como matemática, história, física. E, há duas semanas, em reunião com a Abrelivros (Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares), a Diretora de Apoio à Gestão Educacional da Secretaria de Educação Básica, Manoela Dutra, disse que espera divulgar os resultados na segunda quinzena de junho.

Estranhamento – Quanto ao PNBE, a informação de que só em outubro/novembro sairão os resultados dos livros escolhidos leva à conclusão de que obras de literatura não serão compradas em 2015. Leva-se tempo no processo de negociação com as editoras, e dezembro fica muito próximo da data do anúncio informado pela Comunicação do órgão. O estranho é que, há algumas semanas, tive acesso a uma planilha do MEC com o cronograma do PNBE 2015 que apontava ser o prazo para publicação do resultado das avaliações dos livros escolhidos o dia 28 de julho. Tal data permitiria a entrega dos volumes ainda este ano. O que, reitero, pelo visto, não ocorrerá.

O PNBE temático de 2013 vem sendo negociado com editoras desde setembro de 2014. Até o momento não foram assinados contratos. Portanto, há um atraso de dois anos na entrega das obras de referência destinadas aos alunos dos anos finais do ensino fundamental e médio. O PNBE Indígena 2015 também se encontra sem qualquer notícia. Está atrasada ainda a largada do PNBE de 2016, que deveria ter publicado edital no final de 2014, como era a praxe do calendário do MEC. O órgão alega aos editores que o documento se encontra em fase de confecção, pois houve mudanças na equipe de avaliação e estão sendo preparados novos critérios para a próxima edição. Já o PNBE do Professor 2015 parece ter sido abortado, nada se sabendo dele, e estamos na metade do período letivo.

No caso do PNLD/ PNAIC, que busca garantir a alfabetização das crianças até os oito anos como determina o Plano Nacional de Educação (PNE), a habilitação das editoras já foi concluída. Porém, os contratos, o que inclui definição de tiragem e preço, não foram assinados. O atraso pode não significar nada para burocratas que definem cortes em orçamentos, porém, atrapalha a formação de alunos em seus anos iniciais de aprendizado de Português e Matemática e pode incidir negativamente na meta do PNE. Outro indício que preocupa é a possibilidade do PNAIC do próximo ano não acontecer, pois o  FNDE está convocando editores para apresentarem os contratos internacionais – que dizem respeito a obras traduzidas – mas solicitando vigência para 2016.

Transparência – Considero absurdo o governo não adotar transparência e deixar de explicar para a sociedade os cortes de orçamentos, programas e prazos. Também me chama atenção que, naquilo que se refere à literatura infantojuvenil, não exista uma entidade capaz de capitanear as insatisfações e cobrar do governo respostas mais efetivas. Seja de professores, de pais e, especialmente, de editores. Somente no final do mês, um grupo destes últimos participará de audiência pública em Brasília para cobrar transparência nas contas de programas de educação e formação do leitor. A demora e a timidez no enfrentamento mais agressivo da questão provocam a sensação de que associações que cuidam dos negócios do livro no Brasil – como Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Abrelivros, Liga Brasileira de Editores (LIBRE) e Câmara Brasileira do Livro (CBL) – não se unem, deixando de estabelecer marca representativa e forte na defesa da importância da literatura para crianças e jovens.

Diante de tal desarticulação, talvez esse papel devesse ser assumido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), cujo Salão tem a mesma idade do PNBE – portanto, tendo usufruído do fortalecimento que os programas institucionais de leitura possibilitaram ao segmento. Afinal, embora nele nenhuma mesa tenha se dedicado ao tema dos cortes nos programas, a Secretária-Geral da entidade, Beth Serra, resumiu toda a questão colocada para a sociedade brasileira: “a conquista de 20 anos de programas de leitura não pode ser interrompida”, disse.

Ela falou na abertura da instrutiva palestra da educadora argentina Emília Ferreiro, que apresentou pesquisa sobre como as crianças percebem três instâncias literárias – o autor, os personagens e o narrador – e demonstrou como essa percepção está contaminada pela linguagem das telas digitais. O que me levou a pensar que o Brasil, ao desconsiderar a importância dos programas de leitura nesse cenário dominado pelas tecnologias, poderá fomentar gerações de leitores precários.

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A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, ou Identidade Cultural, Sistema Métrico Decimal e Canudos

A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, ou Identidade Cultural, Sistema Métrico Decimal e Canudos

a guerra do fim do mundoEu amo o mar, mas sou de origem e de alma um sujeito do sertão, que sei de vivência e não de notícia dos Euclides e Guimarães.

Adalberto de Queiróz

Pois eu só conheço o sertão de notícia, Beto, infelizmente só de notícia. A frase acima faz parte de um e-mail que meu amigo enviou-me anos atrás. Falávamos sobre férias, viagens e trabalho. Estava pensando em reler Os Sertões, mas ao notar que ainda não tinha lido o livro de Mario Vargas Llosa sobre Canudos — A Guerra do Fim do Mundo –, escolhi o peruano. O livro fora comprado em 21 de dezembro de 1981, conforme a anotação da primeira página. Nunca fora aberto.

A história de Canudos é riquíssima como documento humano e político. Os acontecimentos são regidos de um lado pelo fanatismo religioso e de outro pelos tortuosos caminhos da política brasileira. Os interessados no conflito são tantos que — guardadas as proporções — às vezes parece que estamos lidando com a Revolução Francesa. Há monarquistas que mudam seus apoios conforme os ventos, há o povo nordestino que tinha Antônio Conselheiro por santo, há os jagunços convertidos, há os republicanos que acabarão por realizar o massacre, há socialistas que viam na ação do Santo Conselheiro uma espécie de vanguarda intuitiva de suas idéias, etc. Ou seja, não é uma história simples e os interesses muitas vezes são acomodados de forma surpreendente.

Porém, o que desejavam os amotinados da terra santa de Canudos? Ora, livrar-se do Anticristo representado pela República e de seus “avanços”. O juramento que os novatos em Canudos faziam explica bem suas motivações:

Juro que não sou republicano, não aceito a expulsão do Imperador nem sua substituição pelo Anticristo. Não aceito o matrimônio civil, nem a separação da Igreja do Estado, nem o sistema métrico decimal. Não responderei às perguntas do censo. Nunca mais roubarei, nem fumarei, nem me embriagarei, nem apostarei, nem fornicarei por vício. E darei a vida por minha religião e o Bom Jesus.

Surpresos com a citação sobre o censo? Canudos era monarquista mas anti-escravatura. A ojeriza ao censo pode ser explicada da seguinte maneira: por que pretendia a República saber a raça e a cor das pessoas senão para, outra vez, escravizar os negros? E por que interessava-se ela pela religião da população, senão para identificar os crentes antes da matança? A rejeição ao sistema métrico decimal tinha motivações ainda mais disparatadas: é que as medidas inglesas eram, digamos, mais monarquistas… Digo-vos, meus caríssimos sete leitores: havia demência no ar. Ainda há hoje, não?

Além do completo massacre dos habitantes da vila de Canudos, houve enorme sacrifício de vidas no exército brasileiro, que não conseguia entender aquela guerra sem ética. Despreparado para ações de guerrilha, o Exército via os amotinados como um inimigo sinuoso, covarde, que se emboscava e desaparecia quando os “patriotas” tentavam encará-lo e que desconhecia as leis e os procedimentos da guerra. Além disto, os amotinados resistiam com inacreditável bravura, certos de que a morte lhes renderia o caminho dos céus. Os soldados, crentes em sua maioria, atacavam outros brasileiros que, paradoxalmente, cantavam hinos ao Senhor sob qualquer pretexto. Isto custou a todos muitas vidas, além de ódio mortal. O episódio Canudos pode ser dividido em 4 campanhas: a primeira e a segunda vencidas facilmente pelos amotinados — o que só fez com que se reforçassem e crescessem –, sendo a terceira foi uma guerra muito longa e tática à espera de reforços e a quarta o massacre no qual foram mortos TODOS os habitantes de Canudos.

O livro não é e nem se tornará um clássico com o de Euclides; é antes um romanção com dezenas de personagens e histórias que se desenvolvem ao mesmo tempo nas várias frentes: Canudos, Exército, jagunços, política e jornais baianos 1, 2 e 3, surpresa e raiva federal, etc. O livro se vale de quatro personagens principais: o monarquista Barão de Canabrava, o republicano Epaminondas Gonçalves, o jornalista míope e o anarquista escocês Galileu Gall. Não é por acaso que o intelectual da história seja um jornalista míope que teve seus óculos quebrados e que anda pela Vila de Canudos sem ver nada claramente.

Por que há tão poucas obras sobre Canudos, por que nosso cinema e a televisão não exploram mais o massacre? Lá foram mortas 25.000 pessoas! Será que Euclides da Cunha, com seu impecável estilo empolado e sua justa aura de fundador da sociologia brasileira, tornou-se intocável? Bobagem, Canudos não é dele. E por que há tantas recriações, abusadas ou não, de Machado de Assis e quase nada da grande história contada por Euclides? Trata-se de um equivocado respeito, de uma distância inexplicável de um fato que fala muito sobre nossa identidade cultural. Por que ignoramos Canudos? Sei lá. O que sei é que veio um peruano destituído deste respeito, fez pesquisas no local e enfrentou a complexa história em 560 páginas. Vale a pena ler, antes ou depois de Os Sertões.

nuestra identidad cultural el roto

Observações: (1) A charge acima, do El Roto, foi retirada do jornal El Pais e refere-se à Espanha. Deve ser a globalização… (2) Sugiro a leitura do livro no original em espanhol, mesmo para aqueles que têm pouca vivência com a língua. A tradução brasileira deste best-seller (na capa acima) é, digamos, média.

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Ospa: lamentável início de concerto, convalescença e fofoca

Ospa: lamentável início de concerto, convalescença e fofoca
Oboés?
Oboés? | Foto: Facebook da Ospa

Num dia em que a Rádio Corredor esteve em pleno funcionamento, transmitindo fofocas em alto e bom som, tivemos um concerto de extremos ontem à noite na Ospa. Era previsível, bastaria ler o programa.

(Paradoxalmente, a noite fria trouxe um bom público ao Salão de Atos. Gosto de sair para caminhar nestas noites, o tal frio cortante me faz bem, mas ontem era dia de respeitar os saltos altos de minha companheira e ir de carro. O táxi fez questão de nos deixar em cima da calçada da Paulo Gama, em atenção a nós e à revelia de quaisquer pedestres. Fiquei meio envergonhado por sair do táxi como se fôssemos um Casal Real.)

O programa era:

Sergei Rachmaninoff: Vocalise, Op. 34, No. 14
Nino Rota: Concerto para violoncelo e orquestra nº1
~ Intervalo ~
Francisco Mignone: Maracatu de Chico Rei

Regente: Manfredo Schmiedt
Solista: Antonio Del Claro (violoncelo)
Participação: Coro Sinfônico da Ospa

O Vocalise de Rachmaninov foi, é claro, escrito para voz sem palavras (soprano ou tenor) e piano, recebendo (ou merecendo) depois todo o tipo de abuso. Uma história triste. O abuso praticado ontem foi de uma cantoria sem eira nem beira por parte dos primeiros violinos. E a culpa nem é totalmente deles, pois a transcrição para orquestra — do próprio Rach, vejam só — é um horror. Ao menos essas aberturas a que a Ospa sistematicamente nos submete têm o mérito de serem curtas.

O Concerto para Violoncelo de Nino Rota é irrelevante. É ideal para se pensar na vida e organizar mentalmente a agenda dos próximos dias. Quando chegamos ao intervalo, virei-me para o lado esquerdo e meu vizinho disse até agora foi um lixo, aguardemos o Maracatu. Virei-me para o lado direito e o outro vizinho disse que o Rota até que tinha sido “legalzinho”, ainda mais depois daquele Rach. E os dois estavam putos com os celulares que tocavam em meio ao concerto do Rota e com os aplausos deseducados e intermináveis ao final de cada movimento. É, não tá fácil pra ninguém. A Pátria Educadora fica, dia a dia, mais apedeuta.

Tínhamos duas chances públicas de salvar a noite. O Mignone e o jantar. Durante o intervalo, li no programa a nominata dos membros do Coro Sinfônico da Ospa. Eles estavam divididos em Sopranos, Tenores, Baixos e Oboé. Fiquei confuso e comecei a examinar as mulheres do coro. Estavam bem bonitas, com lenços coloridos nos pescoços. Não pareciam oboés, os quais são muito mais magros. Não que fossem gordas, é que não eram mesmo oboés.

E o Maracatu de Chico Rei entrou no palco trazendo toda a stravinskiana magnificência do Rei do Congo, primeiro no navio negreiro Madalena, depois na lida em Vila Rica e, já tendo comprado sua alforria, tornando-se um micro-empreendedor que comprava a liberdade de outros negros. Grande Galanga, grande Chico Rei! Tudo foi muito bem cantado. O Coro Sinfônico da Ospa é a mais gloriosa definição de amadorismo. O que eles fazem está na raiz da palavra e é simplesmente impossível não elogiá-los. Oboés ou não, cantam com tesão e talento, seja na delicadeza do Réquiem de Fauré, seja em missas, sinfonias corais ou na agitação de um maracatu. Os caras simplesmente vão lá e dão conta.

E a fofoca? A Rádio Corredor informou-nos a respeito de uma proposta do governo — ou de algum aventureiro — que extinguiria a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro. Em seu lugar ficaria um subconjunto da Ospa, administrado por esta. Minha opinião? Acho que o fim do conjunto orquestral do teatro seria mais um capítulo de nosso empobrecimento cultural, além de mais centralização, perda de postos de trabalho, centralização e centralização. A OCTSP é uma boa ideia, que movimenta e dá experiência a estudantes de música. Infelizmente, tal suposição é bem crível e típica em quem quer agradar o chefe, que gosta tanto de cortes de gastos. A conjetura do governo, se verdadeira, já demonstra como pensam os gestores sartorianos. Uma economia de palitos numa Secretaria já pobre… Quanto custa a orquestra mensalmente? Com os patrocínios, talvez não mais que um juiz. Aliás, a OCTSP não é, em parte, de uma associação de amigos?

O pior é que a infeliz hipótese talvez consolidasse a ideia de que a orquestra do estado deva ficar numa casa que já é do estado, apesar da inadequação. E a construção da Sala Sinfônica ficaria adiada por mais um século. Acho que a comunidade musical tem de ser alertada para (mais) este absurdo.

Desmentidos e bombons podem ser enviados para este comentarista.

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