Eu escolho
um homem
que não duvide
da minha coragem
que não
me acredite
inocente
que tenha
a coragem
de me tratar como
uma mulher.
Escolha, de Anaïs Nin

No livro de ensaios Reflexo e Realidade, de Otto Maria Carpeaux (1900-1978), há uma deliciosa e emocionante narrativa que descreve os encontros do autor com Kafka. Imaginem que Carpeaux recusou ser pago através de toda a primeira edição de um romance encalhado. Tratava-se apenas de O Processo. Se tivesse aceitado, seria milionário, quem sabe? Mas este é apenas um dos muitos comentários do esplêndido texto de Carpeaux.
Por Otto Maria Carpeaux
“Kauka.”
“Como é o nome?”
“KAUKA!”
“Muito prazer.”
Esse diálogo, que certamente não é dos mais espirituosos, foi meu primeiro encontro com Franz Kafka. Ao ser apresentado a ele, não entendi o nome. Entendi Kauka em vez de Kafka. Foi um equívoco.
Hoje, o “Kauka” daquele distante ano de 1921 é um dos escritores mais lidos, mais estudados e — infelizmente — mais imitados do mundo. Mas só Deus sabe quantos são os equívocos que formam essa glória. O romancista de “O Processo” é, para alguns, o satírico que zombou da burocracia austríaca; e para outros o profeta das contradições e do fim apocalíptico da sociedade burguesa; e para mais outros o porta-voz da angústia religiosa desta época; e para mais outros o inapelável juiz da fraqueza moral do gênero humano e do nosso tempo; e para mais outros um exemplo interessante do Complexo de Édipo, etc., etc., etc. Tudo, em torno de Kafka, é equívoco. Equívoco também foi aquele meu primeiro encontro com “Kauka”.
Foi em 1921, em Berlim. Embora só contando os anos do século, eu já tinha passado por duras experiências de guerra e revolução. Estudante universitário, agora, que sonhava com uma carreira literária. Berlim, naqueles anos do primeiro pós-guerra, foi um centro de vanguardas: expressionismo, dadaísmo, os primeiros pintores abstracionistas, simpatizantes do comunismo e fundadores de seitas religiosas e vegetarianas, uma boêmia na qual os jovens austríacos desempenhavam papel grande e barulhento — e alguns grandes escritores de verdade: Döblin, Arnold Zweig, Werfel. No Café Românico, centro da boêmia, esses homens feitos ocupavam mesas especiais, de que ninguém ousava aproximar-se sem ser especialmente convidado; o que não aconteceu nunca. Olhávamos para lá com inveja, escutando para apanhar, talvez, um pedaço de conversa. Rara foi a oportunidade de um convite para as tardes de domingo, no apartamento de um ou outro daqueles escritores, no bairro boêmio, mas elegante, do Bayrischer Platz, hoje um montão de ruínas. E numa dessas tardes cheguei a conhecer pessoalmente Franz Kafka.
Conheci poucos entre os presentes. Fui sumariamente apresentado. Sentindo-me um pouco perdido no meio dessa gente toda, não tendo a coragem de aproximar-me do centro da reunião, da grande e belíssima atriz D. F. — que tinha fama de Messalina — retirei-me para um canto já ocupado por um rapaz franzino, magro, pálido, taciturno. Eu não podia saber que a tuberculose da laringe, que o mataria três anos mais tarde, já lhe tinha embargado a voz. E então se desenrolou “aquele” diálogo:
“Kauka.”
“Como é o nome?”
“KAUKA!”
“Muito prazer.”
Foi este o começo e o fim do meu primeiro encontro com Franz Kafka. Ao sair do apartamento, perguntei a meu amigo e introdutor: “Quem é aquele rapaz magro com a voz rouca?” Respondeu: “É de Praga. Publicou uns contos que ninguém entende. Não tem importância”.
Meu segundo encontro com Franz Kafka, talvez cinco anos mais tarde, foi outra vez em Berlim, no escritório de uma casa editora. Antes de ir para a Itália, onde continuei os estudos universitários, tinha feito alguns trabalhos para aquela editora, chamada Die Brücke (A Ponte), mas nunca consegui receber dinheiro. Voltando para Berlim, em 1926, ouvi que a casa acabava de entrar em falência. Fui para lá. O diretor me deixou esperar na antessala, mais de meia hora. Num cantinho vi um montão de livros, todos iguais. Tirei um exemplar, abri: “O Processo”, romance de Franz Kafka. Distraído, comecei a ler sem prestar muita atenção, quando o ex-diretor da ex-Brücke me bateu nas costas.
“Pagar não posso, querido”, dizia o homem, “mas se você quiser, pode levar, em vez de pagamento, esse exemplar e, se quiser, a tiragem toda. O Max Brod, que teima em considerar gênio um amigo dele, já falecido, me forçou a editar esse romance danado. Estamos falidos. Nem vendi três exemplares. Se você quiser pode levar a tiragem toda. Não vale nada”.
Fiquei triste. Tinha esperado um pagamento de 130 marcos, e o homem me quer dar seu encalhe. Agradeci vivamente, e com certa amargura. Mas levei comigo aquele exemplar que já tinha aberto.
Foi a maior burrice de minha vida inteira. Toda aquela tiragem foi vendida como papel velho e inutilizada. Um exemplar da 1ª edição de “O Processo” é hoje uma raridade para bibliófilos. Nos Estados Unidos paga-se mil dólares por um livro desses, ou mais. Se eu tivesse aceito o presente, seria hoje milionário… Aliás, fugindo da fúria nazista, em Viena, março de 1938, perdi minha biblioteca inteira, que foi depois confiscada e dispersada. Mas cheguei, mais tarde, a receber na Bélgica um grupo de volumes que tinha, pouco antes do desastre, emprestado ao cônsul geral dos Estados Unidos em Viena e que este fez questão de devolver ao legítimo dono. Um desses livros foi aquele exemplar da 1ª edição de “O Processo” que, desse modo, fica até hoje comigo. E não me pretendo separar jamais do livro, pois foi meu segundo encontro com Kafka.
Li mesmo, naqueles dias distantes de 1926, “O Processo”; a história de um homem, de vida normalíssima, que é, certo dia, preso por esbirros de um tribunal desconhecido, interrogado em porões sinistros, denunciado por ter cometido crime do qual ignora a natureza, instruído numa catedral escura e vazia que “a culpa sempre está acima de todas as dúvidas”, condenado e executado. Li, sem compreender o alcance e significação do relato. Mas impressionou-me fundo o ambiente do romance, as ruas estreitas, as casas decaídas e sinistras, a catedral escura e vazia, a irrupção do incompreensível e irracional em nossa vida de rotina. O romance deu-me a impressão do déjà vu: quando nos encontramos, no sonho, numa paisagem onde nunca estivemos e que, no entanto, nos é estranhamente familiar, como se já a tivéssemos visto. Um pesadelo.
Deu-me a mesma impressão no segundo romance, “O Castelo”, que saiu naqueles dias, levando à beira da falência mais outra editora. A história de um homem que pretende fixar residência numa cidade tiranicamente dominada pelos senhores do imponente castelo em cima da colina. Não lhe dão permissão para ficar. Só precariamente lhe toleram a existência incerta. É uma luta desesperada, e a autorização de residir, só a alcançará o homem na agonia. Outro mau sonho, do qual custou despertar.
Nesse meu segundo encontro com Kafka despedi-me dos seus livros com a firme convicção de se tratar de visões de extrema irrealidade. Como se Kauka estivesse morto e Kafka, nunca existido.
Descobri a realidade de Kafka em Praga: onde nunca antes estive.
Naqueles anos, fiz várias vezes a viagem Berlim-Viena, ida e volta, passando por Praga. Mas nunca antes me ocorrera saltar do trem na Estação Presidente Wilson, situada fora da cidade, que mal vi de longe, as luzes noturnas ou então a névoa fina da madrugada.
Numa madrugada assim — parece que foi em 1930 — assaltou-me a vontade de descer do trem para ver a cidade. Não sei o tcheco, e tinham-me dado o conselho de falar francês, de preferência ao alemão, pois era tensa a atmosfera em Praga; quase todos os dias, choques violentos entre tchecos e alemães. Cheguei no centro da cidade justamente para assistir a um choque de rua, mas foi de antissemitas contra judeus, odiados pelos tchecos porque costumavam falar alemão, e odiados pelos alemães porque eram judeus. Contaram-me um pequeno diálogo entre dois judeus praguenses:
— Veja como estamos sendo perseguidos.
— Em compensação, somos o povo eleito por Deus.
— Mas eu acho que já está na hora para Deus eleger um outro povo…
Vi, na Cidade Velha de Praga, um desses judeus, à porta de sua loja, esperando fregueses, uma cara em que milênios de perseguição e de estudo talmúdico tinham inscrito mil rugas, mas a boca cheia de sarcasmo e nos olhos um ar de grande suficiência, um complexo de superioridade. Um velho assim, intolerante como o diabo por causa da intolerância diabólica dos outros, deve ter sido o severo pai de Kafka, subjugando o filho – e assim encontrei a imagem de Kafka nas ruas estreitas e entre as sinistras casas decaídas em torno da sinagoga onde, conforme velha lenda, um rabino medieval tinha construído o Golem, um homem de barro, vivificado por um pedaço de papel com o secreto nome de Deus na boca. Certamente, uma daquelas lojas tinha pertencido ao velho Kafka. Certamente, nos porões daquelas casas tinha-se reunido o misterioso tribunal que condenou à morte o inocente culpado de “O Processo”… Preferi fugir desse ambiente.
Mas Praga é Praga. É uma das cidades mais belas do mundo. Atravessando o rio, o Vltava imortalizado pelo poema sinfônico de Smetana, levantei, na ponte, os olhos e vi lá em cima na colina o enorme Hradschin, o antigo Palácio Real, muito perto e no entanto parecendo inacessível nas alturas; e reconheci o “Castelo” de Kafka. Subi. Entrei, ao lado do castelo, na catedral gótica de São Vito, escura e vazia: e reconheci a igreja na qual o condenado, no Processo”, ouve a voz da Lei. Enfim, eu tinha encontrado a realidade atrás daquele sonho fantástico.
Foi este meu terceiro encontro com Franz Kafka. Tinha-o reconhecido como filho de sua cidade de Praga, que lhe foi madrasta: o homem era austríaco, alemão, tcheco e judeu ao mesmo tempo, tipo dos “displaced persons” cujo lamento enche este nosso século. Kafka antecipara o destino de milhões de judeus e alemães, italianos e franceses, holandeses, poloneses e russos, “displaced persons” todos eles. E por isso tinha ele sentido tão bem que o próprio gênero humano é uma “displaced person” no Universo. E sua obra estava destinada a tornar-se expressão simbólica da angústia do nosso tempo.
Pouco depois, eu mesmo era “displaced person”. Vim, enfim, para o Brasil, onde escrevi, salvo engano, o primeiro artigo em língua portuguesa sobre Franz Kafka. A repercussão foi considerável. Não teria sido tão grande se não começasse, logo depois, a “onda de Kafka” nos Estados Unidos e, depois, no mundo inteiro. E tão imitado se tornou o escritor de Praga que, enfim, se chegou a confundir o original e as cópias, até nosso grande poeta Carlos Drummond de Andrade, secamente acertando como sempre, notar: “FRANZ KAFKA, escritor tcheco, imitador de certos escritores brasileiros”.
Não precisava ser nenhum gênio para anunciar o que anunciei segunda-feira para ti, Abel. Previ que o Inter perderia a liderança nesta rodada, lembras? E não por culpa da quarta-feira, mas da ridícula atuação de domingo. E não esqueça, estou considerando de barbada pra ti que o Coritiba — hoje na zona de rebaixamento — seja um bom time. É que ontem houve um número incrível de desfalques.
Já estamos em 4º lugar. Se hoje o Goiás vencer o Santos, passamos a 5º. Isso já nos põe perto de nosso lugar habitual, o 8º ou 9º lugar. É para lá que vamos, infelizmente. E tudo por culpa de detalhes mal cuidados, de erros de postura e tolices como o fato de entrarmos ontem em campo com Otávio — que esqueceu seu futebol numa esquina de 2013 — e não com o bom Valdívia. Nego-me a falar sobre arbitragem, reclamação típica de gremistas. Ainda mais que o Dida rebateu a bola para a frente. Mas agora é só ganhar do Cruzeiro no Centenário…
Já tens preparado o discurso? Sugiro “O Cruzeiro é um time perigoso, bem preparado e joga bem tanto em casa como fora. Jogaram no nosso erro. Além do mais, tem o grande Ricardo Goulart”. Mesmo com o retorno de Juan, Willians e D`Alessandro, não acredito num bom resultado contra o Cruzeiro. E lá vamos nós cada vez mais para fora do G-4. Espero que tu ao menos mantenha o Valdívia no time e comece a pensar em Ernando como titular definitivo da zaga.
Ontem, na dureza das cadeiras da Igreja da Ressurreição do Colégio Anchieta, tivemos um concerto daqueles bem médios, onde o destaque ficou para o Coral da Ospa, que cantou, suingou e fez o diabo na Igreja.
Para mim, tudo começou com a correria para chegar. Está cada vez mais complicado fazer a apologia do democrático transporte coletivo. Esperamos mais de 20 minutos pelo T7 e acabamos recorrendo ao táxi para chegar no horário. Não entendo a planilha de horários dos ônibus. A gente chega numa parada da Osvaldo Aranha às 19h30 e espera, espera, espera. Mais uma nota zero para a Prefeitura. Então, esbaforidos, chegamos ao Anchieta e o concerto iniciou com
Earl Zindars — The Brass Square.
Olha, o que escrevo é muito pessoal, então vou logo dizendo que, normalmente, a música para metais me soa tão interessante quanto arremesso de atum. Sei que os metais da Ospa são excelentes e respeito todos os esportes, porém, como Zindars era também compositor de jazz, acho que faltou soltar mais os caras. A impressão foi a de que a obra era uma variação sem graça daquilo que fazia Gabrieli, uma variação com bigas romanas. Depois, pulamos para
John Rutter — Gloria para coro, metais e órgão.
A coisa melhorou muito aqui. Música em três movimentos, cantada em latim, sobre o texto tradicional da Missa. A obra inicia muito gregoriana. O segundo movimento, bem bonito, tem solos de órgão me lembraram a Green Lady que chamava o Dr. Smith para fora da nave de Perdidos no Espaço. Há também um solo de soprano que me lembraram os solos de Sarah Leonard na trilha sonora — escrita por Michael Nyman — de O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e seu Amante, filme de 1989 de Peter Greenaway. (Anotação feita de memória, sem conferência). Ritter finaliza sua Glória esquecendo o coral gregoriano. Investe fundo no contraponto e sai-se muito bem.
Ernani Aguiar — Te Deum
Conheço algumas obras de Ernani Aguiar. Aliás, amo a música erudita brasileira e sou colaborador de um blog em grande parte dedicado à música colonial e contemporânea de nosso país. Aguiar tem 4 obras no PQP Bach e já tinha ouvido sua música em um concerto que assisti no Rio de Janeiro há alguns anos. Trata-se de um bom compositor e esperava muito dele no concerto de ontem à noite. Mas algo não funciona em seu Te Deum, apresentado pela Ospa, reforçada pelas cordas, e seu Coral. A obra é cheia de boas ideias: é poliestilística; é cantada em latim e português; têm ritmos como samba, maracatu e frevo; deve ser divertida de tocar e cantar; mas… Bem, talvez seja melhor deixar a música popular para os compositores de música popular. Se os ritmos impressionam pelo colorido, faltava o molho da malemolência das melodias, que às vezes soavam como hinos de colégio, só que enlouquecidos pelo ritmo. No movimento lento, era inevitável pensar no jantar enquanto os monges do Monty Python caminhavam lentamente em minha cabeça.
Foi legal e surpreendente ver o coral batendo palmas. No final, tudo acaba em sambão. A obra finaliza com aquela “mola” que faz a gente levantar e aplaudir. Mas mesmo assim o público foi comedido na aclamação.
Pois no dia seguinte nós fomos finalmente ao Museu Rodin. Compramos aquele Paris Museum Pass, que permite que você entre quantas vezes quiser em quase todos os museus da cidade. Evita filas também.
Falar sobre o Museu Rodin, comentar suas obras — as de Auguste e as de seus agregados, incluindo Camille Claudel — , é complicado, seria um enfileirar de interjeições. Logo na entrada, somos apresentados a O Pensador.
Aqui, mais de perto, deixando claro que as esculturas de Rodin fazem musculação mesmo quando paradas…
Mais uns passos e outro clássico: Balzac.
Outro ângulo para vocês.
Não anotei o nome de cada escultura — não sei o nome das três seguintes –, mas o passeio pelos jardins é uma sucessão de maravilhas.
Pelo visto, ele apreciava torturar seus modelos. Vejam acima e abaixo.
E então nós chegamos ao pequeno lago atrás do Museu. E vimos não somente a escultura que há dentro dele, mas também…
… um menino que andava pelo parque desenhando as esculturas. Eu e Elena o achamos tão belo que merecia uma foto. E lá fomos nós na tentativa de registrá-lo. Ele desenhava a escultura do lago num caderno. Então, pedi para Elena colocar-se próxima a ele e mirei a máquina nela. Porém, quando ele se voltou, resolvi a questão rapidamente. O resultado está abaixo.
Depois, dando a volta na casa, vimos A Porta do Inferno, o trabalho mais impressionante de Rodin, na minha opinião.
Segundo a Elena, estes aí são a mesma pessoa. É Adão triplicado. Com o Pensador abaixo. Rodin autoplagiava-se bastante, coisa normal em escultores e compositores eruditos.
E agora, algumas das centenas de detalhes da porta. Os anjos caídos…
… vão caindo …
… de todos os modos.
A gravidade os chama.
Abaixo, uma nova foto da porta para vocês relembrarem do todo.
Depois, uma surpreendente escultura chamada Retrato de Gustav Mahler.
Ele esculpiu vários artistas, mas ignorava que Mahler estava dentre eles.
E abaixo, Victor Hugo.
Incrivelmente, não fotografei Os Burgueses de Calais…
No próximo post, vamos para a área interna do Museu.
Logo que tudo isso começou, avisamos no Facebook que tínhamos um relacionamento SÉRIO, mas que na verdade não era sério, estava mais para o DIVERTIDO. Ontem, com razão, tu me disseste que estávamos mudando para um relacionamento SIMBIÓTICO…
Eu sou mesmo um sujeito de muita sorte. Descobri bem atrasado — só aos 56 anos, mas descobri e isso é que vale — que a gente pode se apaixonar incondicional e inteiramente por alguém. Quando digo que, descontando uns outros, és meu primeiro amor, brinco apenas parcialmente.
Tu és uma pessoa maravilhosa, mas considerando-se que és uma cética, reformo a frase para: a gente acha maravilhosa a pessoa que combina perfeitamente conosco. E me parabenizo diariamente por ter insistido tanto. Tinha razão, né? Passamos cada vez mais tempo juntos e nunca é chato. Acho admirável a delicadeza, o interesse e o respeito com que tratamos um ao outro. Construção nossa. Posso contar, Elena? Em plena Paris, às vezes saíamos para passear só às 15h porque a companhia um do outro estava empatando com o encanto da cidade lá fora. E ríamos por estarmos fazendo um turismo todo errado e livre.
Curiosamente, é a primeira vez que, nesses quase nove meses, um de nós faz aniversário. Eu até fico sem saber como agir, como te tratar hoje, etc. Mas sei que a solução para nossas inseguranças sempre foram os abraços e pretendo fazer uso deles em qualquer caso… Afinal, eles vêm sempre facilmente.
Feliz aniversário, meu amor.
Abel, meu querido, é em razão de coisas como a de ontem à noite que faz 35 anos que o Inter não vence um Brasileiro. Escreva aí: o campeão brasileiro de 2014 — e qualquer um, de qualquer ano — vai vencer quase todos os timinhos, dentro e fora de casa. Os pontos de ontem são difíceis de recuperar e meu prognóstico é o de que, na próxima rodada, já não estaremos na liderança, pois o pensamento de que um “empate é um bom resultado em Curitiba” já faz parte da forma de pensar no Beira-Rio.
Viste o Diego Simeone sendo jogado pra cima pelos jogadores do Atlético de Madrid após vencer o Campeonato Espanhol? Apesar do teu peso, queria te ver naquela situação. Pense bem, nós não temos punch. Te explico o que é punch: é a força, a potência no golpe para derrubar um adversário numa luta de boxe. Nós damos soquinhos. Quando temos a oportunidade de derrubar, quando o time adversário parece pronto para perder, nós relaxamos, tranquilizados pelo fato de não sermos atacados. Acho que para fazer gol é preciso gostar de fazer gol. Cadê os chutes de fora da área? Procura aí abaixo, nos melhores lances de ontem, Abel. Ter Alex e D`Alessandro no time e não chutar de fora? Não entendo. Aliás, outra coisa que não entendo é o motivo de três meias num jogo como o de ontem.
Eu gosto muito de tênis, professor. Grande parte do trabalho do tenista é deixar o adversário desconfortável na quadra. O bom tenista tenta obrigar o cara do outro lado a fazer tudo o que ele não gosta de fazer. E nós, no futebol, gastamos largos períodos de nossos jogos trocando passes lentamente, num acordo tácito de confortabilidade mínima para os dois lados. Parece que lideramos o campeonato com larga margem. Olha a tabela, Abel!
E agora, vamos jogar fora de casa contra o Coritiba sem Juan, Willians (por terceiros cartões), Aránguiz e Gilberto. Vamos pra cima deles ou fazemos teremos mais enrolação? Lembre-se que o Coritiba de Celso Roth não venceu nenhuma partida no campeonato. Tem 3 empates e 2 derrotas.
Só para os amigos pararem de reclamar
Escrevo este PHES curtinho
Assim param de me difamar
E a quem quero com tanto carinho
Pois quem não cessa de me proclamar
Um reles cordeirinho
Na verdade adoraria viver e estar
Em semelhante redemoinho.
Tá bom, tá bom, chega de quadrinhas
Alejandra Guilmant é um modelo mexicana
Da qual apenas sabemos
Não ser nada puritana…
Publicado no Sul21 em 29 de junho de 2013
O Globe Theatre de Londres é associado ao maior dramaturgo de todos os tempos: William Shakespeare. A casa foi construída em 1599 por sua companhia de teatro. Shakespeare detinha 12,5 % das ações da mesma. Dois dos seis acionistas – Richard Burbage e seu irmão Cuthbert Burbage – possuíam 25% cada e um quarteto de 12,5% cada era formado por John Heminges, Agostinho Phillips, Thomas Pope e o famoso dramaturgo. Foi o primeiro teatro construído por atores para atores. Porém, após estrear várias peças do grande autor, o Globe foi destruído por um incêndio no dia 29 de junho de 1613, exatamente há 400 anos. O Globe foi inaugurado no outono de 1599, com Júlio César e a maioria das grandes peças de Shakespeare pós-1599 foram escritas para o teatro.
No século XVII, qualquer incêndio podia transformar-se numa grande tragédia, tanto que em 1666, um terço da cidade foi destruída pelo fogo. As ruas eram estreitas, herança da transformação urbana acelerada a partir do século XIII, quando Londres virou capital do reino. A técnica contra incêndios era muito prosaica: eram usados baldes d`água e, quando não funcionavam, era providenciada a derrubada das construções contíguas para impedir o espraiamento do fogo. Só que a decisão de derrubar casas dependia de uma autorização do prefeito da cidade, que analisava empiricamente os ventos e a umidade do ar e das casas. Risco completo.
A indecisão para se fazerem as derrubadas era compreensível diante de seus custos, tanto de demolição quanto de reconstrução. No grande incêndio de 1666, houve demasiada hesitação e, quando as demolições foram autorizadas, grande parte da cidade já estava em chamas. Então os imóveis passaram a ser simplesmente explodidos, o que criou outros focos de fogo. Também não se sabia o número de vítimas dos sinistros pelo simples fato de que os não nobres não eram registrados. Do ponto de vista do estado, sumia gente que não existia. No grande Incêndio foram destruídas, pelo fogo e pela ação humana, 13.200 casas e uma área de 1,7 km²
Antes do incêndio, nos quase 15 anos em que esteve ativo, o Globe foi um estrondoso sucesso. No século XVI, as companhias de teatro apresentavam-se em locais improvisados, geralmente em bares ou na rua. Em 1576, James Burbage construiu o The Theater, primeira casa do gênero do país. Em 1581, Shakespeare juntou-se a Burbage escrevendo peças e trabalhando como ator. Apesar da casa sempre lotada, sobrevieram problemas financeiros e a casa acabou fechada. A curiosidade é que o Globe foi construído com a madeira do desmonte do The Theater. Do mesmo modo que o Theater, o Globe vivia com a casa cheia e as peças apresentadas eram normalmente de seu famoso sócio.
Então, no dia 29 de junho de 1613, o Globe incendiou durante uma performance de Henrique VIII. Um canhão de luz pegou fogo, inflamando as vigas de madeira. De acordo com os poucos documentos existentes, ninguém ficou ferido, exceto um homem que perdeu as calças, tendo sido apagadas com cerveja por seus amigos. Era o que estava à mão. As peças teatrais, naquela época, recebiam um povo ruidoso e festivo, que vibrava com as cenas, vaiava os vilões e assobiava, desejando ou não as seduções . Não havia estatuto que impedisse o uso do álcool.
O Globe foi reconstruído no ano seguinte, porém, como todos os outros teatros de Londres, foi fechado e destruído pelos puritanos em 1642, dando lugar a outro tipo de construção. Atualmente, Londres ostenta o Globe na margem do Tâmisa, na região de Southwark. Não é o ponto exato do ex-teatro de Shakespeare. Ele se localizava há uns 230m de onde está hoje. Não ficava exatamente na margem. A reconstrução é fiel e foi feita com base nos edifícios de 1599 e 1614. O atual Globe apresenta exclusivamente peças de Shakespeare. O Grupo Galpão, de Belo Horizonte, é a única companhia brasileira que se apresentou lá. Houve uma temporada de Romeu & Julieta que está documentada em DVD.
Há em Shakespeare paixão, ambição, amor, inveja, traição, tudo isso temperado por poesia e lirismo absolutamente originais. O Globe era e é um edifício de forma octogonal, com abertura no centro. De dentro do teatro, vê-se o céu. Não existia cortina e, por causa disso, os personagens mortos – muita gente morre nas sanguinárias peças de Shakespeare – tinham que ser retirados por auxiliares. Todos os papéis eram representados pelos homens – mulheres eram proibidas de entrar em cena – , sendo os mais jovens os encarregados de fazerem papéis femininos. No período Globe, é certo que o autor estreou Hamlet, Otelo, Rei Lear e Macbeth, talvez Romeu e Julieta e Júlio César. Foi o chamado “Período Trágico”.
Falar de Shakespeare é como falar de um ser mitológico, de um produtor de trágedias, comédias, dramas históricos e sonetos geniais. Sua obra, assim como a de pouquíssimos outros artistas, é quase indiscutível. Em Shakespeare, a Invenção do Humano, do crítico literário Harold Bloom, nota-se a dificuldade de falar de um autor tão completo. Para Bloom, Shakespeare não apenas era dono de um cérebro muito privilegiado, como também criou personagens igualmente inteligentíssimos, que seriam capazes de refletirem sobre si próprios, sobre a interação com os outros para, a partir daí, crescerem dentro das histórias, modificando suas maneiras de pensar e agir. Mas a agudeza mental dos personagens são muito bem temperadas, não existem personagens meramente frios ou chatos. Os personagens têm humor, sarcasmo, poder de sedução e são muito diferentes entre si.
Bloom destaca Hamlet e Rosalinda (de As You like it), mas talvez seja Falstaff o maior de todos. Falstaff é o soldado que não quer saber da guerra. Foi o personagem mais popular na época em que Shakespeare estava vivo. Ele aparece no drama histórico Henrique IV e na comédia As Alegres Comadres de Windsor. “Não quero glória. Dêem-me vida”. Hamlet é alguém que não acredita em nada, principalmente em si mesmo, não obstante estar entregue a uma permanente reflexão. Ele tem sete monólogos absolutamente céticos na enorme peça. E Rosalinda é uma mulher apaixonada que corteja homens e é irônica em relação àquilo que mais deseja: o amor.
Mas é impossível estabelecer a grandeza de Shakespeare em uma pequena crônica, que na verdade, era sobre aquela curiosa construção que restou queimada há 400 anos.
Abel, estava te olhando ontem. Tu estás gordo demais. Tua aparência é meio doentia, ainda mais quando o Gilberto erra passes — e como ele erra! Um cara gordo e nervoso é um perigo. Te cuida, tá? Fico preocupado.
Aqueles vinte minutos de apagão depois do Alex… Como explicar, né? De resto, foi um jogo fácil, mesmo com o nosso time meio lento e errático. O Alex voltou a ser o grande nome do time. Sempre gostei dele, só não gostei do que tu disseste sobre as dores em seu tornozelo. esquerdo. Ele não pode ficar de fora, ainda mais com a ida do Aránguiz para a seleção chilena agora. Este Gilberto de agora não nos fará falta, mas cadê o Winck? Vai passar dois meses no DM?
No mais, acho que tua opção por colocar o Jorge Henrique no lugar do Aránguiz é correta. Nenhum volante de nosso grupo pode emular o que faz o chileno. Mas o JH terá de correr muito, o que não tem sido sua característica. Ele anda meio encostado e indolente, não? Eu acho. Sobre a necessidade de vencer o Criciúma eu já falei no meu bilhete anterior, certo Abel? O campeão é aquele time implacável que ganha dos fracos, não o das grandes façanhas. Pense nisso.
http://youtu.be/zkfynWDNLhw
Se há uma coisa ruim em Paris é o metrô. Afirmo-lhes que, além de sujo, trata-se de um insulto aos daltônicos. Não sou nenhum macho-alfa, apenas acho que me oriento um pouco melhor que a Elena, mas lá tinha que deixar tudo para ela, tudo o que conseguia fazer era tatear cegamente no esquema padrão das linhas. Um dia, quando fomos para o Museu d`Orsay, por culpa minha acabamos numa cidadezinha da periferia chamada Juvisy-sur-Orge, a 19 Km de Paris. O esquema do metrô tem cor-de-rosa, violeta, vários tons de verde, lilás, púrpura e outras cores sabidamente inexistentes. Ou seja, era tudo com a Elena. Problema nenhum, mas e se eu estivesse sozinho? Em Londres, Roma, Rio e São Paulo há respeito conosco. Em Paris, não. São 14 linhas em estilo impressionista. Vão se fuder!
Então foi a Elena quem me levou até o hotel onde estavam hospedados a Liana e o Alexandre. Levou com competência, porém, quando chegamos na portaria do hotel não havia nenhum Alexandre Constantino nem nenhuma Liana Bozzetto na lista. O porteiro do Hotel Saint-Germain nos olhou com cara de quem estava vendo um casal de comediantes. (Numa cidade daquelas, eles não pensam num casal de assaltantes de hotéis, pensam em babaquice mesmo). Devíamos ser ainda mais engraçados por estarmos sem celular, desconectados do mundo. Perguntamos pelos brasileiros hospedados e o cara deu uma risada deliciosamente inconclusiva, respondendo que o hotel estava cheio de nossos conterrâneos, que a cidade e o mundo estava cheio deles. Olhei a lista de cima a baixo e nada. Vi quem tinha feito check-out naquele dia. Nada de Constantino, nada de Bozzetto. Mas eles tinham que estar ali. No dia anterior eles tinham sumido ali dentro. Foi quando vimos o Alexandre descendo calmamente as escadas. Porra, era ele mesmo. Com a tranquilidade habitual, ele me disse que devia estar registrado com algum de seus inúmeros nomes, pois, como um verdadeiro membro de nossa família imperial, nascera Alexandre Nogueira de Castro Constantino! Ah, voilá, c`est Monsieur Nogueirrá! E subimos com o Nogueirrá.
Nosso objetivo era o bebermos um dos vinhos franceses que compráramos, acompanhado da comida que eles tinham acumulado. (Em verdade vos digo, somos exagerados e gordos, levamos comida também…). E, como eles voltariam para o Brasil no dia seguinte, a ordem era vandalizar. Abaixo, nossa mesa antes de virem as coisas da geladeira.
E comemos e bebemos e conversamos por horas. Era salmão pra cá, pão pra lá, pasta acolá, camarões alhures, vinho sob a cadeira e água aquecendo na mesa para o chá, tudo ao mesmo tempo. Primeiro falamos de coisas tristes, mas depois, sob a influência de baco…
… ficamos mais alegres. Contamos sem maldade cada uma das últimas sacanagens que sofrêramos e sobre algumas iniquidades, também falamos sobre assuntos muito sérios e irreversíveis. Mas o vinho… A Elena contou que a escolha do vinho fora por ter sido produzido no mesmo ano em que seu filho nascera (hã?) e eu lembro que contei algumas de minhas histórias loucas. Mas nada pode comparar-se ao cartaz que vimos na estação de metrô onde pegamos o trem de volta. Pô, 20 cm de prazer? Mesmo sendo uns 20 placide, tô fora.
Ontem à noite, tivemos um bom concerto no Theatro São Pedro. Mesmo que o repertório não fosse maravilhoso, ficaram claras a competência do contrabaixista italiano Giuseppe Ettore ao interpretar o igualmente italiano Nino Rota, assim como o talento do maestro português Pedro Neves na sinfonia do igualmente português Luís de Freitas Branco.
Nino Rota (1911-1979) foi o grande parceiro de Fellini. Suas trilhas sonoras são conhecidas de todos que têm alguma ideia da cinematografia básica do século XX. A música de “O Poderoso Chefão”? Nino Rota. A de “O Leopardo” de Visconti? Nino Rota. A dos filmes de Fellini a partir de 1952 e de mais de 150 títulos? Nino Rota. Porém, fora do espaço do cinema, onde foi efetivamente brilhante e imenso, Rota não foi grande.
Contrariamente às novas correntes que ganhavam forma em meados do século XX, com Berio, Nono, Scelsi e Donatoni na ponta-de-lança, Rota optou por não abandonar a tonalidade, levando sua música de forma clássica. Isso não é um problema, é apenas uma opção. E foi isso que ouvimos ontem no Theatro São Pedro. O Divertimento concertante para contrabaixo e orquestra, escrito entre 1968 e 1973, é uma bonita obra com certo gosto de Prokofiev, como sublinhou nosso amigo Ricardo Branco. O Divertimento é forma musical muito popular durante o século XVIII, escrita para um pequeno número de instrumentos que devem soar descontraídos e alegres. Foi o caso.
O contrabaixista Giuseppe Ettore não tocou tão bem quanto o fizera no ensaio de segunda-feira, mas, mesmo assim, demonstrou ser um cara que trata seu instrumento como se fosse um violino, tal sua velocidade e virtuosismo. Para o meu gosto, o terceiro movimento (Aria), foi o grande momento da obra, principalmente no final, quando os contrabaixistas da orquestra respondem ao solista dizendo-lhe, baixinho e com voz de Sarastro, “chega de sofrimento, isso é um divertimento”.
O bis foi bem legal. O excelente Ettore atacou uma valsa de Il Gattopardo onde se ouviam ecos de Lampedusa e se viam os rostos de Claudia Cardinale e Burt Lancaster dançando. Um belo momento, com a orquestra se divertindo no ritmo da valsa. Aliás, as cordas da Ospa estiveram muito bem nos Rota.
Depois veio a Sinfonia Nº 2 em si bemol maior e outros bemóis, de Luís de Freitas Branco (1890-1955). Olha, é uma obra bem escrita e difícil. Deu trabalho. Mas é uma receita que inclui Tchaikovsky com Brahms com Dvorak com Mahler, tudo refogado num motivo cíclico retirado de um canto gregoriano. A coisa é fina, porém, realmente, não me apaixonei pelo Sr. Branco. Do ponto de vista pessoal, ele deve ter sido um sujeito bacana, tanto que não gostava muito de igrejas e foi expulso do Conservatório de Lisboa por “comportamento irreverente”, isso em pleno salazarismo. Aliás, ele desprezava Salazar, tendo composto duas Canções Revolucionárias de conteúdo hostil ao regime. Não preciso dizer que era um comuna que até escreveu uma ópera inspirada na luta de classes, chamada A Voz da Terra.
Valeu a ida ao velho teatro, mas creio que o ponto alto da noite foram as piadas pós-concerto, as quais não tiveram como foco a música.
Abel, acho que o Inter fez seu melhor jogo no Campeonato Brasileiro. Não obstante, quase entregou novamente no final. Dominamos inteiramente o Atlético-PR, mas deixamos com que eles fizessem o primeiro numa incrível falha de nossa defesa. Depois, OK, viramos com méritos e poderíamos ter feito mais. Mas aí vem nosso problema, Abel: a gente não mata ninguém, nossas vitórias são todas por um gol de diferença, até o fim é aquele sufoco e, assim como ocorreu contra o Sport, os paranaenses quase empataram no final. Houve intensidade e boas atuações de Alan Patrick, D´Alessandro, Aránguiz e Alex. Aliás, Patrick marcou um lindo gol – chute violentíssimo no ângulo superior direito –, fez a jogada do gol do D´Alessandro e quase marcou o terceiro. Foi o melhor em campo.
http://youtu.be/ZCcRO2w1r9k
Bem, Abel, somos líderes isolados (10 pontos em 12 possíveis), mas nunca esqueça que jogamos três jogos em casa e apenas um fora. Se eu fosse cínico, diria que é só manter a posição por mais 34 rodadas, porém não te direi isso. Agora temos um jogo da Copa do Brasil na quarta-feira — contra o Cuiabá, às 22h, o jogo de ida foi 1 x 1 — e, no domingo, pegamos o Criciúma fora.
Ora, convenhamos Abel, o Criciúma levou 6 do Botafogo, não é um bom time. Vamos lá marcá-los direitinho, dando aquelas especuladas espertas. Deve ser fácil pegar eles em contra-ataques. Claro que só de pensar que o Paulo Baier (39 anos) estará do outro lado, já significa que tomaremos um gol, mas é importante manter for o que foi conquistado a duras penas em casa. Lembre-se que o campeão é o time que ganha dos pequenos. Não faça bobagem contra esses timecos.
De entremeio, espero um jogo tranquilo contra o Cuiabá, daqueles que são resolvidos no primeiro tempo. Ah, mas esqueci que nunca conseguimos ganhar por larga diferença de gols. Ou conseguimos?
Entre os dias 10 de maio e 21 de junho de 1933, logo após a chegada ao poder de Adolf Hitler, foram organizadas queimas de liros em praça públicas com a presença de entusiastas, polícia e bombeiros e representantes do governo. Tudo o que fosse crítico ou se desviasse da orientação nazista, deveria ser destruído. Os incêndios ocorreram por iniciativa do diretório nacional de estudantes nazista.
Os estudantes e membros das SA e SS participaram destes festins. As entidades estudantis NSDStB e ASTA competiram entre si, numa tentativa de uma mostrar-se melhor que a outra. A maioria dos livros queimados pertenciam à bibliotecas públicas. Eles eram de autores “pouco alemães”. O poeta nazista Hanns Johst foi um dos que justificou a queima, logo depois da ascensão do nazismo ao poder, com a “necessidade de purificação radical da literatura alemã de elementos estranhos que possam alienar a cultura alemã”.
Entre os livros queimados pelos nazistas estavam obras de Thomas Mann, Heinrich Mann, Walter Benjamin, Bertold Brecht, Erich Kästner (que, anônimo, assistia a tudo), Robert Musil, Erich Maria Remarque, Joseph Roth, Nelly Sachs, Franz Werfel, Sigmund Freud, Albert Einstein, Karl Marx e Heinrich Heine.
Oskar Maria Graf não foi incluído na lista. Seus livros não somente não foram banidos como até foram recomendados pelos nazis. Em resposta, ele publicou um artigo intitulado “Verbrennt mich! (queimem-me) no jornal vienense “Arbeiter-Zeitung” (Jornal dos Trabalhadores). No ano seguinte, foi atendido.
A opinião pública e a intelectualidade alemãs ofereceram pouca resistência à queima. A burguesia tomou distância, passando a responsabilidade aos universitários. Também os outros países acompanharam a destruição à distância, chegando a minimizar a queima como resultado do “fanatismo estudantil”.
(Intermezzo de Bertold Brecht
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Fim do intermezzo de Bertold Brecht)
Entre os poucos escritores que reconheceram o perigo e tomaram uma posição estava Thomas Mann. Em 1933, ele emigrou para a Suíça e, em 1939, para os Estados Unidos. Quando a Faculdade de Filosofia da Universidade de Bonn lhe cassou o título de doutor honoris causa, ele escreveu ao reitor: “Nestes quatro anos de exílio involuntário, nunca parei de meditar sobre minha situação. Se tivesse ficado ou retornado à Alemanha, talvez já estivesse morto. Jamais sonhei que no fim da minha vida seria um emigrante, despojado da nacionalidade”.
Certa vez, um dos queimados, Heinrich Heine (1797-1856), escreveu: “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas.”
Passarinho que dorme com morcego acorda de cabeça para baixo.
Provérbio português
Quem leu Cortázar direitinho sabe quem é Gesualdo da Venosa, casualmente o sujeito aí à esquerda. Aquele pessoal da Renascença não era mole. Passei grande parte da quarta e quinta-feira com os fones ligados, ouvindo Gesualdo, um sujeito nascido em 1566 que merecia ser conhecido por sua música e não apenas por ter cometido um espetacular assassinato.
O príncipe Gesualdo — pois ele era um príncipe — casou-se aos 26 anos com sua prima, Maria d`Avalos. Foram alguns anos de um casamento feliz — provavelmente só na opinião do marido — e Maria começou um caso com Fabrizio Carafa, Duque de Andria. Com raras (e mui honrosas) exceções, o corno é o último a saber; ou seja, toda cidade sabia, menos o proprietário das frondosas peças. Talvez fosse esperado que, ao descobrir com quem sua Maria se deitava, o Príncipe da Venosa tivesse uma reação blasé, mais ou menos como um francês do século XIX… Nada disso! Gesualdo deve ter pensado que “Corno que sabe e consente, bem age quem lhe acrescente…”, e tratou de vingar-se. Vamos ver o que fez Gesualdo.
Num belo dia de outono, ele preparou algo que lhe servisse como aquecimento: uma caçada com amigos. Nada melhor que um pouco de sangue para alguém quem traz um desejo de morte na alma. Então, em meio à caçada, Gesu resolveu ver como andavam as coisas em casa, digo, no Palazzo San Severo. Severo? Severíssimo! Testemunhas disseram que Gesualdo pediu que os empregados segurassem Fabrizio, dando-lhe um lugar confortável onde pudesse ver o primeiro ato da cena. Então, dedicou-se à mulher, enfiando-lhe a espada diversas vezes em locais, digamos, não fatais. Como Maria custasse a morrer, ele berrava “Ainda não?, Ainda não?” e seguia perfurando a pobre adúltera. Na segunda parte, ministrou tratamento semelhante a Fabrizio, com resultado análogo. Contudo, antes, fez o Duque de Andria trajar um vestido de noite de Maria. As roupas de Fabrizio foram encontradas limpas e sem marcas de violência.
Completou a obra deixando os corpos bem na frente de seu castelo, de forma a mostrar como se faz à cidade de Nápoles. A atitude criminosa e sanguinária foi cantada em versos por Tasso e admirada em toda a Europa. Virou tema de ópera, poemas e peças teatrais.
Mas voltemos ao caso. Vocês estão pensando que ele foi preso, não? Nada disso, os nobres nunca eram presos; havia para eles uma pizza institucionalizada. Porém (ah, porém…), um outro nobre podia vingar-se dele numa boa. Após o crime, Gesualdo arranjou outra mulher e isolou-se, compondo sua maravilhosa (mesmo!) obra musical. Aquele aristocrático napolitano só foi reconhecido nos primeiros anos do século XX. Tinha uma linguagem avançada que incluía dissonâncias, progressões harmônicas, ritmos contrastantes, passagens diatônicas, cromatismo, etc. Stravinsky erigiu-lhe um monumento musical — o Monumentum pro Gesualdo (1960) –, Julio Cortázar dedicou-lhe com conto; Anatole France, um romance (Le puits de Sainte-Claire); e Aldous Huxley várias páginas de seu As Portas da Percepção (The Doors of Perception).
Só que eu escrevi um “ah, porém” ao estilo de Paulinho da Viola. O motivo é que, vinte anos depois da morte da mãe, o segundo filho do casal Gesualdo e Maria d`Avalos resolveu vingar-se, matando o pai que assassinara sua mãe quando era bebê. A vingança é um prato que se come frio e, com mais esta morte, pegamos um dos pingos do sangue de Gesualdo a fim de colocamos um ponto final a este post.
Eu não sou uma pessoa tão pouco informada a ponto de ignorar que os museus não ingleses costumam fechar às segundas-feiras. Só que estávamos em meio a uma viagem, estávamos muy contentos e amorosos e não pensamos que estávamos indo para o Museu Rodin numa segunda-feira. Estava pra lá de fermé e ficamos num café ali ao lado, resolvendo para onde ir.
E voltamos a nossa vida de flâneurs das avenidas, dos parques, das galerias, dos cafés. Mas há flâneurs estúpidos e inteligentes. Nesta dia, escolhemos a primeira opção. Já que Rodin nos sacaneara, nada de museus, nada de livrarias, iríamos abandonar a vida cultural neste 24 de fevereiro.
E fomos flanando até a Torre Eiffel.
Tirando fotos.
Inúmeras fotos.
Tentei imitar Hitler, mas ele é muito mais discreto do que eu.
E fomos nos aproximando da Torre.
Ficando cada vez mais perto.
Lembro de algumas de nossas piadas — todas impublicáveis e sem relação com a
construção a nossa frente.
Quando saímos de lá, depois de várias voltas, descobri uma coisa que jamais imaginaria: a Elena adora carrosséis.
Ela ficou doida por esse aí. Enquanto nos aproximávamos, vi surgir uma criança felicíssima ao meu lado. Ela não deu voltas nele, mas me obrigou a tirar várias fotos de todos os ângulos possíveis.
E dá-lhe carrossel.
Não nego que era bonito.
E ela não parava de exigir fotos mais e mais perfeitas… Até que subiu na escadaria quando ele parou.
Saímos de lá com o espírito infantil e começamos a fazer outra série de fotos, agora brincando com a Torre. Claro que tenho várias com a Elena segurando a Torre por baixo, mas essa é clássica demais. Começamos a brincar com o topo da Torre e qual não foi a nossa surpresa quando vimos
um monte de turistas nos imitando, tentando pegar a Eiffel por cima. Quando chegáramos, a brincadeira era pegar por baixo. Credo, que gente imitona.
No início, todos faziam assim, ó.
A seguir, fomos a pé até o Arco de Triunfo, uma construção enorme e sem graça — só a vista lá de cima é que é legal — e que comprova a visita de Napoleão à cidade natal de Elena. Mohilew (ou Mogilev) é a bonita cidade em que minha namorada nasceu. O baixinho levou até lá seu cavalo branco numa visita pouco apreciada pelos bielorrussos.
Antes de chegarmos a Arco, tínhamos entrado numa loja na Nespresso com a intenção de usarmos o banheiro, mas só conseguimos provar um café, pois o pessoal da loja é tão fino que aparentemente não faz suas necessidades no local. Pedimos o mais forte e garanto que estava excelente, apesar da bexiga cheia. Como não comíamos desde o café do manhã, escolhemos a dedo um local para fazê-lo da forma mais típica. Entramos numa boulangerie cheia de franceses e não nos arrependemos.
Pois é, meu caro Abel Braga, estávamos ganhando bem até os 30 minutos do segundo tempo, quando tomamos um gol besta e quase entregamos o jogo. Seria a segunda vez em dois jogos. Lembras que no Rio ganhávamos por 2 x 0 do Botafogo e cedemos inexplicavelmente o empate? Claro que lembras! Pois ontem quase ocorreu o mesmo. Navegávamos em tranquilos 2 x 0 até que o Sport fez um gol por erro de nossa defesa e virou um leão. Quase empatou o jogo.
O que irrita mais é que uma vitória por dois gols nos daria a liderança do campeonato. É claro que, matematicamente, em uma disputa em 38 rodadas, pouco importa quem é o líder na terceira rodada, mas quem conhece a psicologia do futebol sabe da importância de estar na frente. E cá pra nós, Abel, quem criou o problema foi tu, colocando o Ygor no lugar do Alex e o Valdívia no lugar do Alan Patrick, que finalmente fazia um bom segundo tempo. Modificações bobinhas, dessas para poupar jogadores. Poupar para quê, me diga? O próximo jogo é só sábado!
Desta forma, há quatro times na liderança do Brasileiro, todos com 7 pontos ganhos. Segundo Juca Kfouri, há dois jogando muito mal e nem sabem o porquê de suas posições — Corinthians e Goiás –, há o instável Internacional e o provável bicampeão brasileiro de 2014, o Cruzeiro, um líder que joga com o time reserva, dedicado que está à Libertadores. Enquanto isso, a gente comeu mosca contra o Botafogo e ontem quase, né, Abel?
Acho que está na hora de tu tirares o time do ponto morto, Abel. Esses reservas imediatos não deveriam ser substituídos pelos guris que iniciaram o Gauchão? Eles me parecem bem melhores do que o pessoal que senta em nosso banco de reservas, hein?
Vejo os gols de ontem: