Quem tem a cara do Grêmio?

Vagner Mancini foi mandado embora porque “não tinha a cara do Grêmio”, o presidente Duda Kroef é contestado pelos gremistas por “não ter a cara do Grêmio” e Autuori, pela mesma alegação, já foi colocado no paredão.

Para esses caras, há o técnico ideal: …

… aqui está ele! É só botar o Dinho na boca do túnel.

Nada como simplificar as coisas.

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Um certo livro infantil

Em minha curta experiência na Biblioteca do Instituto Santa Luzia, sempre perguntava quais eram os livros mais retirados e amados pelos alunos. O primeiro da lista era uma unanimidade entre as bibliotecárias: o belíssimo A Casa Sonolenta, de Audrey Wood (desenhos de Don Wood). Este livro foi lido e mostrado por mim e por minha ex para meus filhos incontáveis vezes. Trata-se de um dia chuvoso e chato em que todas as pessoas da casa só desejam dormir. Todos, desde a avó, vão se empilhando sobre uma cama periclitante até que uma pulga resolve morder o gato que está no alto da pilha. Este dá um salto e o resultado é mais do que acordar todo mundo. O bom é observar o susto de cada um, todos de pijamas, em trajes mais ou menos íntimos.

O que a criançada mais gosta são dos contos de repetição. Há uma situação — boa ou ruim — que se repete. Tal situação ou está ameaçada ou afirma-se inevitavelmente, sob as circunstâncias mais improváveis. Também contribui para o sucesso o fato de que tais histórias simples permitem certa “atuação” ao adulto que as relata. É divertido. As crianças amam as repetições e pedem para que a gente as conte trocentas vezes. Lembro de muitas outras que obviamemente acabei decorando. Uma das melhores é também do casal Wood: a deliciosa O Rei Bigodeira e sua Banheira. Ambas estavam entre os livros que mais recontava para meus filhos, mas havia um que acabei fazendo sumir lá de casa.

Um belo dia, provavelmente em 25 de setembro de 2001, vi que a Bárbara ganhara (de quem?, não lembro) um livro anormalmente bonito chamado O Homem que amava caixas, de Stephen Michael King. O livro foi dado a ela fora da festa, talvez por um colega de aula, pois lembro que ela chegara inesperadamente com a novidade e, ato contínuo, pediu para que eu lesse a história. Olha, não sei como cheguei ao fim. Não sou de chorar em filmes nem na vida. No final de As Pontes de Madison, por exemplo, olhei divertido o festival de homens e mulheres fungantes de olhos vermelhos, mas o livro que a Bárbara ganhara me fazia desmanchar a ponto de eu acabar por retirá-lo de circulação. Por quê? Ora, um certo pudor me dizia que era melhor não demonstrar uma comoção além da conta. Não faço a mínima ideia de onde o escondi, talvez tenha sumido na casa de minha mãe. Durante o feriado andei por aí atrás dele. Nada.

Fui à Internet e descobri que tem status de clássico. Muitos adultos escreveram a respeito, é a história preferida de vários, seu texto está reproduzido por todo lado e ele é mostrado e contado no YouTube. Acredito que esta história ocupe uma posição diversa do habitual. Pois ela fala demais ao adulto. Tenho certeza de que minha emoção vinha mais da minha relação com meu pai, já morto em 2001, e menos do relacionamento com meus filhos. Ou talvez fosse mais correto dizer que misture tudo.

Então hoje é o dia de submeter meus sete leitores a uma “contação de histórias” (isto se eles conseguiram chegar até este ponto do post). Uma certa Kika gravou um vídeo em que ela mostra o livro e lê O homem que amava caixas. Primeiro vai o vídeo e após o texto. Sim, mesmo que a tia Kika nos conte bem devagarinho e mexa o livro deixando o foco quase maluco, ainda fico comovido… Fazer o quê? Não, não choro mais, só faço ela contar de novo…

O homem que amava caixas

Era uma vez um homem
O homem tinha um filho
O filho amava o homem
e o homem amava caixas.

Caixas grandes
caixas redondas
caixas pequenas
caixas altas
todos os tipos de caixas!

O homem tinha dificuldade em dizer ao filho que o amava;
então, com suas caixas, ele começou a construir coisas para seu filho.
Ele era perito em fazer castelos
e seus aviões sempre voavam…
a não ser, claro, que chovesse.

As caixas apareciam de repente, quando os amigos chegavam, e, nessas caixas, eles brincavam…
e brincavam…
e brincavam.

A maioria das pessoas achava que o homem era muito estranho.
Os velhos apontavam para ele.
As velhas olhavam zangadas para ele.
Seus vizinhos riam dele pelas costas.

Mas nada disso preocupava o homem,
porque ele sabia que tinham encontrado uma maneira especial de compartilharem…
o amor de um pelo outro.

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Fechando o assunto…

Respondendo à Caminhante: o escultor chefe foi Yevgeny Vuchetich (um famoso escultor russo de ascendência sérvia), os cálculos e engenharia estrutural das 7.900 toneladas de concreto ficaram sob a responsabilidade de Nikolai Nikitin. Em 1967, quando o memorial onde está localizada foi inaugurado, era a mais alta escultura do mundo, medindo 85 metros da ponta da espada ao topo do pedestal. A figura da mãe mede 52 metros e a espada mais 33. Dizem que exatos duzentos passos é o que caminharia o visitante comum desde a parte inferior do morro ao pé do monumento. Tal número simboliza os 200 dias da Batalha de Stalingrado.

No YouTube, há vários filmes de turistas chegando à estátua, mas os melhores são mesmo os filmes oficiais soviéticos com o peso de uma propaganda hoje sem muito sentido. Então, selecionei um bem simples, feito por um turista russo. Nele, há um giro de 360° que inclui o monumento.

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Um pouco de inteligência a fim de mudar comportamentos

Uma escada piano:

Uma lixeira sem fundo:

O jogo das garrafas plásticas:

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Dia de provocar (light)

A eleição do Cristo Redentor como uma das sete maravilhas modernas só me afetou ontem, quando meu filho me apresentou a Estátua da Mãe Rússia, erguida em 1967 na cidade de Volgogrado, ex-Stalingrado. (Bernardo costuma viajar pelo mundo com o Google Earth). Logo pensei nas linhas retas e sem graça de nossa falsa maravilha, comparando-as com as de uma estátua muito maior, mais bonita e de significado mais concreto que o das linhas retas e sem graça do sólido “realismo socialista” de nosso Cristo. Do alto do Corcovado, temos uma vista deslumbrante de 360 graus, mas é melhor esquecer aquele cara de braços abertos sobre a Guanabara.

Então, além de ser muito mais bela, heroica e trabalhada, além da vantagem de não ter o significado rarefeito de um monumento religioso, a Mãe Rússia mede 85 metros contra os 30 do Cristo.

Vejam:

Sim, falta o Corcovado, mas sobra estátua. Ela foi construída em homenagem aos mortos da Batalha de Stalingrado.

As formiguinhas na foto acima são pessoas… E mais uma foto, esta tirada do parque que circunda a colina Mamayev, onde está localizada a estátua.

Mother Russia 10 x 0 Cristo Redentor. E não me venham com os 45 metros da Estátua da Liberdade (aquela mulher em posição de árbitro de futebol apresentando um cartão vermelho ao mundo), nem com os 67 metros do obelisco bonairense (um taxista me disse que era uma homenagem aos políticos argentinos — todos os veem, mas ninguém sabe para que servem).

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Glenn Gould no Quinteto para Piano Op. 57 de Shostakovich

Como diz o colega P.Q.P. Bach, é a música perfeita, irresistível. O 1º, 3º e 5º movimentos são curtos e rápidos, o 2º e 4º são longos e lentos. O prelúdio inicial estabelece três estilos distintos que voltarão a ser explorados adiante: um dramático, outro neo-clássico e o terceiro lírico. Todos os temas que serão ouvidos nos movimentos seguintes apresentam-se no prelúdio em forma embrionária. Segue-se uma rigorosa fuga puxada pelo primeiro violino e demais cordas até chegar ao piano. Sua melodia belíssima e lírica que é seguida por um scherzo frenético. É um choque a chegada de um intermezzo que traz de volta a seriedade à música. Apesar do título, este intermezzo é o momento mais sombrio do quinteto. O Finale, cujo início parece uma improvisação pura do pianista, fará uma recapitulação condensada do prelúdio inicial. O Quinteto para piano recebeu vários prêmios que não vale a pena referir aqui, mas o mais importante para Shostakovich foi a admiração que Béla Bartók dedicou a ele.

Os vídeos a seguir tiveram que ser montados… Encontrei os dois primeiros movimentos e o último com Glenn Gould. Ficaram faltando o terceiro e o quarto. O terceiro (Scherzo) que encontrei é certamente um bis de um concerto de super-estrelas. O time é formado por nada menos do que Martha Argerich, Misha Maisky, Joshua Bell, Henning Kraggerud e Yuri Bashmet. E o quarto movimento foi encontrado no registro de um concerto realizado na Universidade de Vermont, se não me engano. É uma colcha de retalhos, mas é perfeitamente possível ouvir a grandiosidade do Quinteto para Piano de Shosta.

Ou aqui.

Symphonia Quartet; Glenn Gould, piano.

Ou aqui.

Symphonia Quartet; Glenn Gould, piano.

Ou aqui.

Joshua Bell (violin), Henning Kraggerud (violin), Yuri Bashmet (viola), Mischa Maisky (cello), Martha Argerich (piano).

Ou aqui.

David Lamse and Rebecca Dorcy, Violins; Paul Roby, Viola; Kvork Parsamian, Cello; Barbara Podgurski, Piano.

Ou aqui.

Symphonia Quartet; Glenn Gould, piano.

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Nós Que Nos Amamos Tanto

X. e eu (ela começa):
— Hummm, resolveste pôr um perfume? Que perfume é este?
— É um que tá aí faz tempo.
— “Faz tempo” significa “antes da minha gestão”?
— Sim.
— Cheiro horrível.

Minha mãe, em dia de alguma lucidez, e eu:
— Mãe, desculpe, mas tu estás ficando surda. A gente tem que gritar prá tu entender.
— Olha, fui no otorrino e ele disse que estou muito bem.
— Me diz o nome deste otorrino.
— A tua irmã me disse mas eu não ouvi direito.

X. e eu:
— Lendo as notícias do Grêmio, querido?
— Sim, adoro a decadência. Isto aqui é melhor que Os Buddenbrook.

Casal ao qual não pedi autorização para identificar:
Ele: Um amigo me disse que existem quatro tipos de mulher. A primeira é do tipo que faz você se sentir um completo idiota… Eu não lembro das outras duas…
Ela: Mas dá 3!
Ele: Às vezes tu podias ser menos loira…
Ela: E às vezes sinto saudades do tempo em que tu não tomava antidepressivos…

Dias depois, a mesma dupla:
Ela: Tu sabe que meu cabelo é castanho claro…
Ele: Tu é loira, dizer que é castanho claro é um casuísmo que usas na hora das piadas. É loiro escuro, pronto. Tu me atraíste por ser loira.
Ela: Pelo que sinto, certamente não foi por minha capacidade, claro…
Ele: Há coisas que não são miscíveis, amor.

X. e eu, na cama:
— Quando eu ficar impotente, tomo Viagra.
— E para os neurônios?

X. e eu na cama, novamente:
— Vocês mulheres vivem 10 anos mais do que a gente.
— Hummm.
— Eu tenho 9 anos mais do que tu.
— Hummm, e daí?
— E daí que serás minha viúva por 19 anos.
— Para senão eu vou começar a chorar. É sério!

Bernardo, na secretária eletrônica do celular:
— Pai, tô te ligando para saber o resultado do jogo do Grêmio. Se bem que eles devem ter perdido. Já tô até feliz. (risadas) Só me diz de quanto. Um beijo.

X. e sua mãe:
— Mãe, por que tu me deste o nome de X.?
— Ora, porque eu gostava e tinha uma amiga cheia de vida e muito bonita chamada X.
— Sabe o que significa?
— Não.
— “Manca”.
— …
— Conheces a palavra claudicante?

Ela, ele e garçom num restaurante do interior da ex-Tchecoslováquia. Ela olha atentamente para o menu em tcheco. Por fim, aponta um prato:
— Cocó? – diz, enquanto mexe os cotovelos como asas.
— Muuuuuuuuuuuuu – responde o circunspecto garçom.

Bárbara e eu.
— Pai, quero fazer uma tatuagem.
— Sou contra.
— Mas é pequena, na parte interna do pulso. Só o contorno de um cavalo.
— Não fica vulgar?
— Vulgaridade é postura, pai. Tu estás aí há 52 anos e não te deste conta?

(Ela fez a tatuagem. Disse que quase morreu de dor. Ficou bonito.)

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Dias de matar processos

Eu nunca tinha colocado meu nome nos anais do Judiciário, porém, ultimamente, tenho sido figurinha fácil por lá. Até hoje, houve apenas três processos em que estive envolvido, todos eles bastante recentes. Pois o trio teve final coincidente nos últimos dez dias. Primeiro foi o de Leticia Wierzchowski — por iniciativa dela, entramos em acordo antes da audiência. Ela propôs que eu retirasse o conteúdo que ela considerou ofensivo e ela, o processo. Eu realmente lamento deletar posts que receberam tantos comentários, mas acho que lamentaria ainda mais a continuidade do processo e seus custos. Espero não precisar permanecer tão “financeiramente contido” em 2010. Se os últimos foram dias de matar processos, 2009 foi o ano de viver perigosamente, do ponto de vista financeiro. Mas falemos do calor insuportável de Porto Alegre no dia de hoje, por exemplo. Ou das derrotas de Flamengo e Inter! Melhor esquecer. Tudo, inclusive o calor e a derrota do Inter. Dois dias depois, acabou o processo de meu acidente automobilístico, assunto ao qual devo retornar muitas vezes, pois um juiz cochilando durante a audiência sempre é algo divertido de se descrever. Eram 14h, estava quente como hoje, mas eu estava bem interessado, sabem? E agora está encaminhada a finalização do imbroglio com minha ex. Mais algumas assinaturas e… Putz, que dia cansativo.

Amanhã, inicia a Feira do Livro. Previsão: 35 ºC. Gostaria de ficar lá no terraço do MARGS, bebendo cerveja. Aquele bar estará aberto durante a Feira, né? Quem quiser aderir me telefone. Vou estar sem filhos e mulher. Depois das 17h, certo?

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Outra conversa

Como qualquer humano, Guinga rende mais quando em companhia estimulante (aqui, item 4). O show de ontem, no belo Teatro do CIEE, que não conhecia, não foi algo de emocionar, mas teve arrebatadora perfeição técnica — sim, isso existe e é outro gênero de emoção. Não fosse o pedal do pé esquerdo do baterista emitir um miado de quem está precisando de um Jimo Penetril ou outro desengripante, teria sido perfeito. O quarteto de Zé Nogueira e o próprio foram impecáveis, o que é sua melhor qualidade e seu maior defeito. É óbvio que qualquer qualidade torna-se defeito quando utilizada ao paroxismo — inclusive quando esta é a discrição e a elegância — , ainda mais se considerarmos que o low profile não combina com absolutamente todas as músicas de Guinga apresentadas. Houve uma ou duas para as quais faltou um pouquinho de sujeira. Nada grave ou que não possa ser corrigido facilmente.

Graças ao pré-sal, o show custou R$ 10,00 e faz parte da série Circular BR 2009. Amanhã, esta turma estará no Teatro Paiol, em Curitiba. (O baixista Jorge Helder é o máximo e, por favor, cuidem o pé esquerdo do baterista. Se fizer um rangido, desengripem-no!).

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Bienal do Mercosul 2009 – Artes Plásticas é (ou são) assunto perigoso…

Fiz o passeio pela Bienal 2009 e… bem, o que dizer? Poderia me defender explicando que sou daltônico, porém Van Gogh também era e digamos que ele entendia da coisa. Outra consideração é que o que vi nada tem a ver com cor. E que há muitos, mas muitos filmes circulares e sem graça passando em salas jeitosinhas. Já me irritei muito com alguns artistas, e desta vez tomei a postura profilática de ir preparado para não me preocupar e amar a bomba. Pois não posso falar demais; afinal, acompanho de longe, muito longe, a produção de artes plásticas, sou um sujeito que lê menos do que gostaria e que passa 6 horas por dia ouvindo música erudita — agora ouço as Sonatas para Violino Solo , Op. 27 de Eugene Ysaÿe, fato que faço questão de ressaltar porque é música erudita razoavelmente moderna e da mais alta qualidade, o que provaria que ao menos meus ouvidos são contemporâneos pra caralho.

Chegando à Bienal, fiquei um tanto temeroso ao ver as pessoas que saíam dos armazens do cais do porto. Estavam apressadas e um tanto arregaladas, o que me fez pensar no que significaria aquele pasmo. Ou viram maravilhas ou tinham sofrido um esmagamento estético.

Então, iniciei minha racionalização. Tenho 52 anos, mas vou olhar para tudo com olhos inexperientes. Tinha que me desarmar a fim de não me tornar afirmativamente idiota (ver segunda réplica). Quando entrei, já tinha 16. É um fato indiscutível, apesar de surpreendente: eu já tive 16 anos.

(Sim, em 1973, havia muita novidade para ser julgada, talvez mais do que hoje. Pensem que o Pink Floyd estava lançando Dark Side e que eu era roqueiro, Picasso morrera em abril – estou em novembro de daquele ano -, Pinochet matara Allende há dois meses, a guerra do Vietname recém acabara, o grupo que mais vendia discos – LPs! – era o Led Zeppelin, a ditadura estava no ar, líamos Quarup de Antônio Callado (ainda acho que é excelente livro), Dali fazia declarações de amor a Franco, JL Borges estava alive and kicking (mais alive do que kicking), havia um jornalzinho chamado O Pasquim, etc. Não pense que cito isto para dizer que minha juventude foi melhor que a de hoje. É que os mortos ou finalizados têm uma aura meio fabulosa. Se Maurizio Pollini já tivesse morrido talvez já fosse o maior dos pianistas, como não morreu ainda, temos que aguentar as discussões).

Outra surpresa: viram?, eu lembro muito bem como era.

E outra: por um mecanismo que não conseguiria explicar, mas do qual tenho convicção epitelial, digo que a maioria de nós é mais preconceituosa nesta idade do que depois. Naquela época, eu andava de lá para cá com meus adesivos, tentando colar rótulos em coisas e pessoas. Depois, a gente desiste pois cada rótulo está associado a um contexto e o quem é revolucionário aqui é bombeiro ali e vice-versa.

Feliz ou infelizmente, a arte, mesmo a literatura, está virando coisa de especialista. Precisa de manual de instruções, como Stanley Kubrick defendeu uma vez. Ele achava que ficar pensando cinco anos sobre um filme para depois as pessoas darem-se conta de apenas 10% do que estava sendo mostrado era desmotivador. E ele nem conheceu Chico Fireman.

Hummm… Vamos direto às conclusões: achei fraquíssima a Bienal. Não entendi as charadas? Certamente não!

Edward Said escreveu que não existe mais a possibilidade de um discurso comum porque, em primeiro lugar, nossa formação é extremamente especializada e, depois, porque todo o aparato financeiro está voltado para a fragmentação do conhecimento. È vero. Então, a cultura parece que começa a dialogar apenas com seu meio de uma forma tão esquizofrênica que nenhum Led Zeppelin atual cheio de novidades poderá superar as vendas da Shakira bonitinha, chatinha e sem maiores novidades do que um bom traseiro. Este hipotético Led formará apenas um consideráravel círculo de iniciados assim como o Radiohead ou David Lynch possuem. E este será seu máximo. O mundo todo parece desejar fazer de Roberto Bolaño um cânone (inclusive eu) , mas acho que será um cânone de pouquíssimos leitores compreensivos.

Agora, reduza os parâmetros até a pequena literatura brasileira ou às pequenas artes plásticas que chegam à pequena e provinciana Porto Alegre.

É horrível de dizer mas o público comum ou o “povo” — ainda mais o nosso — está cada vez mais longe de entender algo um pouco mais complexo ou especializado. Os romances mais lidos têm a mesma estrutura dos de Balzac. A música mais ouvida é mais simples que a dos Beatles. A música erudita moderna é ainda um desafio para a maioria dos apaixonados por música erudita – e veja bem que neste caso já estamos na fatia mínima da fatia mínima. Então, para alguém ser tocado significativamente por uma obra de arte, há que ter conhecimento de uma rede cada vez mais intrincada de referências às quais poucos têm acesso.

Em resumo, creio que daqui há poucos anos, cada vez menos pessoas saberão que os méritos do primeiro movimento da Sonata Nº 2 de Ysaÿe estão no fato do autor ter realizado uma brilhante “desconstrução” de uma Sonata de Bach para o mesmo instrumento solo. Se o ouvinte não tiver isto em mente, babaus, pois apenas alguém com um referencial rico poderá entender e fruir. Quem não tiver, ou ficará quieto ou ficará feito um bobo criticando a estupidez daquilo que lhe é e sempre será irremediavelmente alheio.

É algo de nosso tempo, acho.

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O peso relativo das palavras no Judiciário

Digamos que as palavras tenham seus pesos determinados não por sua densidade ou consistência, nem por sua massa multiplicada pela aceleração da gravidade, mas pela quantidade de leitores atentos que elas possam obter durante sua vida útil. Peço aos meus sete leitores que comparem a “perenidade dos livros” com o número de pessoas paradas e atentas em frente a um dazibao. Se, após editado, uma palavra dentro de um livro obtiver 500 leitores que passarão os olhos por ela e a compreenderão, ela terá peso menor que outra, chinesa, que terá 10.000 leitores no jornal mural chinês e que amanhã será substituída por outra. Aqui, neste texto, não me interessa a beleza ou a razão, mas o número de leitores compreensivos — adjetivo que uso na acepção que Herbert Caro utilizava em nossas manhãs musicais de sábado na King`s Discos, onde compreensivo era o intérprete ou tradutor que demonstrava empatia para procurar sempre entender o autor. Deste modo, uma palavra dita no rádio para 50.000 ouvintes também teria peso superior a de qualquer palavra escrita por um bom e ignorado escritor brasileiro.

Curioso, este assunto me ocorreu quando estava na presença de um psiquiatra forense. Tive duas sessões com ele, cada uma de quase três horas. A finalidade era a de saber se eu poderia obter a guarda de minha filha, ou seja, a de saber se eu era louco ou não. Sua opinião foi muito benigna a meu respeito e, ao final da segunda sessão, ele me comentou que achara meu processo confuso e mal montado. Montado? Ele me explicou que num processo o mais importante é a montagem e o motivo era simples. Os juízes não liam os processos, apenas davam davam um “vistaço”. Vistaço? Ah, sim, folheavam os processos, liam os títulos, algumas frases de um ou outro item e decidiam. Como? Ora, através da experiência. Os juizes então liam os processos como lemos um livro que estamos detestando, mas do qual, meio de má vontade, queremos vagamente descobrir o final? Sim, só que eles não avaliam a qualidade, apenas têm pressa.

O ambiente psiquiátrico é dos mais civilizados que conheço. Peço desculpas a meus amigos terapeutas, mas aquilo é pura diversão para alguém que nunca precisou de tratamento. A gente vai lá e tem uma boa conversa com um sujeito especializado em conviver e manipular, fazendo-nos mudar de assunto ou penetrar em coisas que nem sempre apreciaríamos, mas que ali, bem, ali vale tudo. É como uma dança. O terapeuta faz uma forcinha para um lado sugerindo uma mudança de rumo ou ritmo e nós vamos atrás; se quisermos comandar, vamos ter de enganá-lo ou convencê-lo, tarefa bem complicada, pois ele tem interesses muito definidos e normalmente dá mais importância à nossa insistência em comandar do que ao conteúdo que desejamos introduzir. Sempre saí leve das poucas consultas que fiz, pois era agradável ser “levado” numa dança em que tudo o que não precisara fazer era pensar. Deixava-me ser manipulado e gostava. Mas aquilo que ouvira era demais! Por isso, mudei de posição na cadeira e comecei a questionar. A partir do momento em que ele dissera que eu não era doido varrido e não daria muito dinheiro às pessoas de sua profissão (sim, ele O disse), eu, bem, poderia me mostrar ao natural… Então, resumindo, o processo tem de ter bons títulos, que fossem sedutores ou escandalosos o suficiente para chamar a atenção do apressadinho? Sim, claro. E letras bem grandes? Evidentemente. E os textos deveriam ser curtos e grossos? You got it.

Naquele momento, eu descobri duas coisas: (1) que perderia um outro processo e (2) que qualquer advogado de inteligência mediana saberia que não adianta escrever laudas e laudas citando Pontes de Miranda, Ortega y Gasset e milhões de artigos perdidos na teia de fios em curto circuito do “sábio legislador”, quando o melhor seria a abertura de um processo twitter, que receberia inclusive a simpatia de um incompreensivo (ainda na acepção de Caro) juiz.

Cheguei em casa e liguei para meu advogado. Perguntei-lhe quantas páginas ele escrevera (um monte!), o tamanho da fonte (10, imaginem!) e o número de títulos de itens (poucos). Stendhal dizia ironicamente que sonhava escrever como um advogado, pretendia que seus livros saíssem direto do cartório para o prelo, pois admirava a exatidão jurídica — hoje nem lida… Ali, as palavras eram exploradas em seu preciso significado, as metáforas estavam varridas, mas Stendhal, o imenso, seco, esquecido e genial Henri-Marie Beyle, faleceu em 1842, estamos quase dois séculos adiante e, apesar de os advogados tentarem manter a utilização de palavras etimologicamente corretas… hoje escrevem para não serem lidos.

Então, quando anunciam como grande coisa a informatização do Poder Judiciário, com a eliminação daquelas montanhas de processos, só posso pensar que é um caminho naturalíssimo. Há milhões de processos mal analisados atravancando as salas e agora tudo ficará registrado, e não lido, em discos rígidos. Ah, mas os juízes terão acesso mais rápido aos textos? Pode ser, porém você tem de considerar o novo suporte.

Os monitores e as janelas têm características físicas que favorecem o Reino da Desatenção que é a Internet. Tudo no computador favorece o “scanning”, a busca de palavras-chave ou trechos de interesse. Há a ansiedade da informação, há a janela em background piscando ali embaixo, tudo é difuso. Como diz este interessante site, Manifesto contra a leitura desatenta, a leitura rápida é útil, mas só leitura rápida é fútil. Eu reformularia a frase do Fred, só que a rima iria para o saco (expressão impensável juridicamente — a que saco Vossa Senhoria se refere?). A leitura não será como a do músico que lê a partitura em clusters (conjuntos, pencas) de notas conhecidas e que as toca todas. A qualidade do “vistaço” será menor ainda nos vídeos, pois a ele associa-se a pressão das janelas abertas e do fazer tudo ao mesmo tempo agora.

Então, meus caros advogados, eu sugiro que vocês deem peso a suas palavras treinando no twitter. Ou que tuítem direto com os juízes. Claro que estou brincando. Mas acho mesmo que o sucesso do twitter deve-se à diluição da atenção provocada pelo suporte onde trafegam textos que são só mais ou menos lidos. 140 caracteres é um bom número para um “vistaço”.

Obviamente, tudo isso NÃO passou pela minha limitada cabeça enquanto estava sentado na frente do psiquiatra forense, até porque, ainda que estivesse arguindo, estava com resquícios daquele clima bom de dança. Todavia, fiz-lhe as perguntas decisivas, aquelas duas óbvias, as que não iriam calar. Como então eles decidem? Ora, pelo senso comum, sem atentar a detalhes. Essa era a resposta que temia ouvir e suas consequências nefastas dariam assunto para vinte posts. Poderia abrir um curso para advogados, pois o peso, a importância de suas palavras será diretamente proporcional à aderência, fingida ou não, ao senso comum. Quem estiver mais perto de nossa tradição cultural, de nossos costumes e do Programa Raul Gil irá vencer. Meu curso prometeria aos advogados que suas palavras teriam o insustentável peso de uma palavra de juiz. E fiz-lhe a outra pergunta. Juízes fazem psicanálise? Sentem-se culpados? Eu achei que ele apenas riria e já até olhava para um canto qualquer quando ele, rindo muito, cruzou as pernas e respondeu com uma frase avassaladora. Não precisam, a maioria vai à igreja.

Eu não era louco, mas me deu um desejo incrível de morder o pé do psiquiatra, que balançava satisfeito, disponível, bem na minha frente, divertido.

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A situação do Grêmio é estável


Inter 1 x 0 Grêmio. Jogo horroroso. D`Alessandro só joga GreNais…

(Imagem: Era uma vez no oeste, de Sergio Leone).

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2666, de Roberto Bolaño (2ª Parte – La parte de Amalfitano)

Benno Von Archimboldi? Esqueçam. Seu nome nem é citado. A segunda é a parte mais curta de 2666 e se a violência e a morte são os panos de fundo do romance, esta é a parte em que a morte domina sozinha. Domina a primeira metade do capítulo, onde o professor de filosofia Amalfitano dedica-se a evocar sua ex-mulher Lola, uma bicho-grilo das mais radicais que o deixa sozinho com a filha Rosa em Barcelona para ir atrás, ir atrás e ir atrás — como tantos personagens de Bolaño — de um poeta, enquanto o melancólico Amalfitano instala-se com a filha na cidade de Santa Teresa, na fronteira do México com os EUA. E domina também a segunda metade, em que ficamos incomodados pelos sintomas de uma loucura que começa a insinuar-se em Amalfitano, o qual ouve vozes, comete pequenas esquisitices, preocupa-se com a segurança de Rosa numa cidade de repetidos assassinatos e sonha, sonha muito.

O personagem Oscar Amalfitano tem na decadência física sua dimensão trágica. A descrição que Bolaño realiza ao descrever rapidamente suas aulas e seus diálogos com a “voz” é comovente. Também o aparecimento de um livro do qual absolutamente não lembrava — O Testamento Geometrico, do galego Rafael Dieste — e seu entorno são narrados de forma inalcançável por autores menos capazes, a grande maioria. Inspirado por Marcel Duchamp, Amalfitano pendura o livro no varal de sua casa, de forma que este possa aprender sobre a vida cotidiana de Santa Teresa e proteger sua filha, tudo isso dentro de uma série de livres associações que funcionam espetacularmente neste capítulo que é finalizado por mais um sonho. Aposto que a história de Amalfitano e de seu destino serão deixados assim mesmo, no máximo ele reaparecerá como personagem secundária. Afinal, estamos lendo Bolaño e cabe a nós dar continuidade ou nexo à superfetação de ficções.

E aqui está o final de A parte de Amalfitano (trad. portuguesa de Cristina Rodriguez e Artur Guerra, copiada daqui e “tropicalizada” (ho, ho, ho) por este abusivo resenhista:

… Amalfitano sonhou que via aparecer num pátio de mármore cor-de-rosa o último filósofo comunista do século XX. Falava em russo. Ou melhor dizendo: cantava uma canção em russo enquanto o seu corpanzil se deslocava, fazendo esses, até um conjunto de majólicas (azulejos pintados) listadas de vermelho intenso que sobressaía no plano regular do pátio como uma espécie de cratera ou latrina. (…) Quando o último filósofo do comunismo estava finalmente chegando à cratera ou à latrina, Amalfitano descobria estupefato que se tratava nem mais nem menos de Boris Yeltsin. É este o último filósofo do comunismo? Em que espécie de louco me estou a transformar se sou capaz de sonhar tais disparates? O sonho, contudo, estava em paz com o espírito de Amalfitano. Não era um pesadelo. Além disso, proporcionava-lhe uma espécie de bem-estar leve como uma pluma. Então Boris Yeltsin olhava para Amalfitano com curiosidade, como se fosse Amalfitano a irromper no seu sonho e não ele no sonho de Amalfitano. E lhe dizia: escuta as minhas palavras com atenção, camarada. Vou te explicar qual é a terceira perna da mesa humana. Eu vou te explicar. E depois me deixa em paz. A vida é procura e oferta, ou oferta e procura, tudo se limita a isso, mas assim não se pode viver. É necessária uma terceira perna para que a mesa não caia nas lixeiras da História, que por sua vez está permanentemente a se desmoronar nas lixeiras do vazio. Por isso toma nota. A equação é esta: oferta + procura + magia. E o que é a magia? Magia é épica e também é sexo, e bruma dionísiaca e jogo. E depois Yeltsin sentava-se na cratera ou latrina, mostrava a Amalfitano os dedos que lhe faltavam e falava da sua infância e dos Urais e da Sibéria e de um tigre branco que errava pelos infinitos espaços nevados. Seguidamente tirava uma garrafa de vodka da bolso e dizia:

— Acho que é hora de beber um copinho.

Obs.: A Livraria Cultura (link acima, na coluna do meio) tem 2666 na edição espanhola da Anagrama. Pelo que é, custa bem baratinho, R$ 71,34. Afinal, veio de um país onde as edições são enormes. A propósito, lançado em 26 de setembro em Portugal, 2666 já vendeu 23.000 exemplares. Pobre Brasil-sil-sil…

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Necessidade estética do formol, por Charlles Campos

Era notório que tinha duas das qualidades mais requeridas para a boa absorção social quando olhava seu reflexo nos espelhos e percebia-se passando incólume ao abrutalhamento das ocupações da sobrevivência diária. Tinha beleza distribuída em seus 1,75m de estatura perfeita, e sorte. Essa última também uma herança da inerente capacidade cavaleiresca de não se preocupar e a adstringência corporal que permitia a seu pai posicionar-se no limiar da porta do cartório de ofícios Hudberg & Sanders, no horário de expediente, diante a constatação muda de todos de que era uma espécie de tributário da perfeição natural para não exigir-se dele a necessidade da inteligência e da eficiência burocrática. Seu avô, Sólemon Hudberg, repudiara a decisão da filha de se casar com um tipo de homem tão inútil, mas seu amor paterno, mais que a corrente versão de manter as aparências, por final aceitara, trazendo o casal com o bebê para uma das propriedades da família, empregando o marido como escrevente de nível um no cartório. Mas sua condescendência não abarcava o neto, direcionado à Faculdade de Medicina; a pequena réplica excessivamente bela daquele intruso aceito com resignação, mostrando que a intervenção do avô o livrava da inutilidade, destinando-lhe às melhores escolas católicas, enfiando-lhe na cabeça o melhor do pensamento de todos os tempos, à medida que se tornava um rapaz brilhante e circunspecto. Seu avô, em toda ocasião, lhe colocava no colo e dizia sem preocupação para quem ouvisse: “Mas como saiu escarrado ao pai, como minha participação nisso não vingou nem no feitio das orelhas.”E contudo, o marido da filha não passava de um lindo animal doméstico; antes da velhice liberá-lo para admitir isso com o alívio do anúncio da tragédia não cumprida, o Sr. Sólemon Hudberg observava apreensivo como seu genro não possuía a menor fimbra de libido, a menor manifestação de lubricidade, como era imune ao erro e à tentação. Era uma beleza desperdiçada. Sua filha parecia saber disso, mantendo-se à altura daquele merecimento, dispensando-lhe um amor tão íntimo, que avizinhava-se em sua proteção à maternidade. Enquanto estava na faculdade de medicina, observava os corpos infundidos no formol, marmorizados numa inacessível salinidade mortuária; retirava-lhes de pesados baldes de ferro do meio de caldos químicos que transfundiam para fora os líquidos que lhes restavam dos tecidos, e os depositavam nas mesas de dissecação. O mestre ria da violência como o odor batia contra as narinas dos alunos, e dizia que iriam se acostumar rapidamente. A ele nunca lhe afligira. O formol retirava a autenticidade dos corpos, aquela representação adulterada da morte. Nas férias de verão soube que seu pai estava internado no Hospital para tratamento. Vê-lo magro,as faces encovadas, os lustrosos cabelos loiros estranhamente ressecados, deitado no leito, além do choque trouxe uma resposta que buscava desde que na infância descobriu se mover numa velocidade menor que a de todo mundo. Ao longo dos próximos meses foi sendo informado da degradação do pai, a forma do detalhe dos relatórios reportado com distanciamento impregnava um certo determinismo sistemático que o isentava da dor. Quando o prognóstico se cumpriu, o diretor honorário lhe dispensou por uma semana com o rosto da mais heráldica condolência, e pode ver a morte em toda sua frescura legítima na inexpugnável condição de matéria do pai, embrulhado em seda branca no hexágono estendido do caixão, com um terno negro de listas de giz que remetia àquele outro que um dia havia sido quase insuportavelmente belo. Teve que se retirar antes do sepultamento, pois incomodava-o enormemente a assimilação que os olhares lhe faziam da figura do pai. Beijou a mãe e o avô, este sinceramente resguardando uma dor que lhe fazia um amálgama por dentro, e saiu. Nunca mais voltou, tampouco para a faculdade de medicina. Pesava-lhe na cabeça a mão do conhecimento de como as providências diárias artificialmente construídas para mostrar segurança subsumiam sobre o fluxo daquilo que meramente determinava a falta absoluta de controle das coisas, sem punição ou glória, sem merecimento ou perda, sem juízos e valores. Sua função era somente existir.

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Quem acompanha este blog, sabe: ontem à tarde, nosso comentarista Charlles Campos foi acometido de um severo surto criativo e brindou-nos com a peça literária acima, a qual foi devidamente avaliada por nossa equipe de críticos residentes. Dentro da mais rigorosa sacrofobia, Marcos Nunes sugeriu ao autor experimentar uma prosa com mais alegria erótica, ao menos no padrão Thomas Mann.

Adepto de uma literatura concentrada, que nos leve após tênue resistência (detalhe importantíssimo), ao rico mundo pessoal do autor (parece sexo, né?), Charlles Campos escreveu em resposta duas pecinhas mais relaxadas às quais nomeio com simplicidade:

Zwei Variationen über ein Thema von Charlles Felder

Variatio 1 im Stil von Harold Robbins (dedicada a Victor Hugo Lisboa). A estranha pontuação do autor deve ser resultado da forte influência que Laurence Sterne preserva no interior de Goiás:

1._Filho, venha ligeiro. Teu pai morreu!

2.O aprendiz de médico atravessa em um dia e duas noites as estradas sinuosas entre os alpes suíços, com seu porsche negro, o vento secando as lágrimas de seu belo rosto, tão parecido ao do falecido pai.

3.Diante o cadáver do pai, arrumado com aprumo pelos caros especialistas funerários da Morgue`s Berna Foundation, o jovem médico percebe a grande gratuidade da vida, onde planos de controle de nada valem.

4.Ele pensa com seus botões:

5._Em vez de ser um playboy oportunista, vou me dedicar a apenas viver.

6.Mas, no fundo, nosso herói esperava ao menos encontrar o grande amor de sua vida, sincero e imortal.

7.Diz adeus a seu velho avô, o sábio patriarca da família, beija sua mãe e se manda.”

Final alternativo para o Marcos da alegria erótica:

“_Antes, porém, já que ser abençoado pela abstenção em prol da melhora da humanidade e cagar se reduz à mesma coisa, sendo que a última pelo menos tem a vantagem de poder-se ler a parte cultural da Veja e se deleitar animalescamente com o cheiro da própria bosta, vem cá coroa!

_Mas júnior, isto é um pecado mortal. Teu pai está na sala ao lado, pronto para receber Nosso Senhor. E, além do mais (uh!), eu SOU SUA MÃE!

_ Não seja cínica mulher. Por acaso está acima das máximas deterministas do velho Freud, onde já tá provado que tudo não pas…

_Cala a boca, fedelho, e come essa buceta logo.

A penetração é profunda e selvagem, em que os dois amantes tem que ajustar seus corpos para aproveitarem melhor o gozo proporcionado pelo apoio da pia batismal em que ele a colocara sentada. No momento em que o esperma sai caudaloso, com um grito reprimido para que o padre não fosse ali averiguar, a mãe segura um crucifixo que estava pendurado acima, na parede.

Meu Deuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuus!

O jovem a deixa semi-desmaiada no chão e sai, para se lamentar do grande vazio que é o mundo.

Variatio 2, mit Moral (dedicada a Ramiro Conceição):

O mulato João Tenório, faixa amarela do Clube da Capoeira, bonito que só com sua fileira de dentes geneticamente perfeitos, estava tendo aula de aperfeiçoamento do perigoso passo Salto do Macaco à beira mar de Porto Seguro, ao lado de uma tenda armada pela Rede Globo onde se apresentava o grupo Chiclete com Banana (que na hora cantava o lema incentivador da leitura “lê-lê, lê-lêlê lê lê-ô, lê-lê_lê-lê-ô-ô).

Súbito, Sebastião Remanso, dono da barraquinha de água de côco ali perto, lhe chama a atender o orelhão.

João Tenório cancela o sorriso ao ouvir do outro lado da linha a voz de sua mãe:

_Ô Nego, Ô Tê! Oxum acaba de levar teu pai!

Entre làgrimas, Tê pergunta a causa da desgraça á sua mãe que morava no Rio.

_ Bala perdida, igual a seu irmão ano passado. Vem ligeiro que o IML tá pra liberar teu pai.

João Tenório despede-se de sua mulher e seus treze filhos e embarca no trans-estadual para o Rio.

Diante o cadáver do pai, Tenório não vê sentido continuar na capoeira. Dá um beijo na mãe; beija o avô, aspirando a fumaça de arruda misturada a fumo de corda que sai do cachimbo do velho pai de santo, e se manda.

Anos depois reaparece acompanhado com a nova mulher dançarina, que lhe acolheu à porta na época de fome, famoso como guitarrista principal de uma banda de axé. No último dia dos pais interpretou uma versão de arrepiar no Programa do Gugu, de uma canção do Fábio Júnior.

Moral: tá pra se criar desgraça suficiente pra tornar um brasileiro filósofo.

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Retrato de um Casamento, de Nigel Nicholson

Very english, para o bem e principalmente para o mal. Cheguei a indicar Retrato de um Casamento, de Nigel Nicolson, a uma amiga. Estava no começo da leitura; arrependi-me. Este livro de 1973 foi traduzido com enorme sucesso no Brasil em 1976. Trata-se da biografia da aristocrata Vita Sackville-West escrita por seu filho Nigel, mas também é uma autobiografia. Explico melhor: é um livro em que dois longos capítulos são retirados do diário de Vita Sackville-West e três outros – também longos – são escritos por Nigel.

Mamãe Vita foi uma escritora de muitos livros e o filho Nigel tornou-se um político conservador inglês. Só que o político escreve muitíssimo melhor que a escritora. O primeiro capítulo de Nigel é maravilhoso. Então vem Vita e é uma tragédia! Tal fato diz tão mal da personagem principal que me foi impossível não achá-la ridícula. Pensava: “Então quem faz isto, também escreve aquelas expressões cheias de uma adjetivação obtusa?”. Blergh!

O livro trata basicamente do amor entre Vita e sua amiga Violet Trefusis, que escrevia muito melhor, a julgar pelas cartas que Nigel transcreve. Esta paixão magoa o marido homossexual Harold Nicolson, pois ele vê nela uma real ameaça de abandono. Ele não admite perdê-la, apesar de não ter interesse físico por Vita. É um estóico: não reclama, permanece gentil, prestativo e apaixonado. Very english, indeed.

Então esqueçamos os capítulos escritos por Vita e fiquemos com os três de Nigel. Dono de uma prosa elegante, ele narra os segredos sexuais e emocionais de sua mãe. É desconfortável e este é o grande ponto de interesse, na minha opinião. Nigel fala também do pai, Harold, e do fortíssimo e inabalável amor deste por Vita, que cresceu, recebeu retribuição platônica e se tornou cada vez mais importante com o passar dos anos. Era o porto seguro a que ambos regressavam após as aventuras de Harold com jovens rapazes e de Vita – uma delas com Virginia Woolf.

Para que a imagem de Vita saia ainda mais machucada do livro, o filho faz questão de salientar o profundo esnobismo de Vita e a seu profundo desprezo pelos pobres e plebeus. É o único momento em que ele parece perder o controle, falando abertamente mal da mãe. Francamente, que atitude inadequada, Nigel!

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Woody Allen disse:

O HUMOR está ligado ao desespero, à hostilidade, à ansiedade e à angústia. Não existe humor sem sofrimento mesmo nos cômicos mais superficiais.

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Não faz falcatrua com o tio

Fui vítima de um sequestro relâmpago em 2002. Não foi nada divertido. Eu estava chegando na residência de minha mãe quando vi um jovem vestido como qualquer pessoa de classe média aproximar-se da porta de meu carro. Veio numa velocidade inequívoca, deixando bem à mostra uma arma que apontava para algum lugar abaixo de minha cabeça, ou seja, a porta, pois eu estava sentado no carro, esperando que a porta automática abrisse. Fazendo o que sempre vira nos filmes, saí do carro com as mãos para o alto, em total silêncio. Ele me mandou sentar no banco de trás, onde logo recebi a companhia do mais agitado do grupo. Os bancos da frente foram ocupados pelo rapaz da arma e sua namorada. Eram 19h30, mais ou menos.

Mantive o silêncio que insiste em me acompanhar nas situações críticas e apenas notava vagamente que o motorista desejava dirigir rapidamente, mas que era inexperiente, muito inexperiente. Não parecia drogado, apenas dirigia mal. Já meu companheiro de banco parecia bastante alterado. De forma descontrolada, gritava palavrões e batia em minha cabeça com o cano do revólver que recebera do motorista. Ele apontava a arma para um local acima de meu ouvido direito — bem onde eu suponho que esteja meu cérebro — e batia ali com força. Eu não consigo refazer perfeitamente este período em minha memória. Acho que meu estado era mais de perplexidade e menos de medo, mas talvez isso seja uma fantasia posterior: meu estado devia ser de medo paralisante e só. Afinal de contas, eu nunca peguei um revólver e imagino que este seja uma coisa para ser manuseada com certo cuidado, como se maneja algo prestes a explodir. Não deve ser um instrumento para bater na cabeça de alguém, ainda mais com o cano apontado. Tratava de ficar o mais quieto possível ouvindo um monte de ofensas, quando o motorista mandou o sujeito parar de babaquice e ver se eu tinha dinheiro. Em resposta, o sujeito abriu minha pasta e logo achou a carteira. Tinha R$ 30,00. O cara ficou puto.

Antes que ele voltasse a se divertir com minha cabeça, resolvi falar:

— No bolso de trás da calça, tem R$ 1.700,00.

O casal no banco da frente comemorou, dizendo que o tiozinho era legal. Meu colega começou a dar risadinhas enquanto demonstrava enorme dificuldade para pegar o dinheiro, apesar de eu ter virado quase 90º a fim de que ele pegasse. Então, ele mandou que eu entregasse o dinheiro para ele. Não pensem que ando sempre com R$ 1.700,00. O que ocorrera é que eu achei que tinha dinheiro demais no caixa da firma e resolvi levar comigo. Era uma atitude rotineira para evitar, digamos, faxineiras mais curiosas. Disse para eles que não tinha dinheiro em caixa automática, que pegara tudo. O cara do meu lado duvidou aos berros, perguntando se eu tinha certeza absoluta daquilo. Confirmei e confirmei e confirmei. A menina do banco do acompanhante disse que era melhor assim pois

— fico muito “tensionada” nesses caixa automático.

Empreendemos um longo passeio aparentemente sem objetivo nenhum. O motorista dizia que o rádio do carro era uma bosta, que nem valia a pena roubar. Partiram para as avaliações: meu relógio era legal, o celular era outra bosta, a pasta era das caras e eles levariam, etc. E assim chegaram a conclusão que o saldo do sequestro seria R$ 1.730,00, minha pasta e o relógio. Apesar disso, ligaram o rádio na Atlântida, da RBS. A conversa era pouca e o motorista nos levou à periferia de Canoas, voltou a Porto Alegre, andou por umas vilas, etc. O que procuravam? Era algum plano para mim? Em certo momento, vi que o rapaz ia dobrar numa rua onde eu tinha visto rapidamente as luzes de um carro da Brigada Militar. Dei um grito:

— Não entra aí, tem um carro da Brigada!

Pode parecer paradoxal, mas achei que poderia haver algum gênero de tiroteio ou confronto e que eu seria um detalhe insignificante para ambos os lados. Além do mais, minha pequena experiência manda evitar autoridades como criminosos, brigadianos, juízes de direito e de futebol. Mais paradoxal ainda, sempre me entendi bem com policiais, os quais sempre foram razoáveis. Mas tergiverso. Minha atitude foi saudada pelos inquilinos (ou novos donos) de meu carro como um grande passo em minha vida como celerado.

— Porra, o tiozinho aprende rápido!
— Cacete, como é que ele viu?

Como já estava me tornando um ídolo, já conseguia pensar claramente que eles estavam procurando um lugar para me matar ou para utilizar meu inexpugnável ânus para seu prazer, algo assim. Como ninguém me impedia de falar, empreendi o mais patético dos discursos: tinha dois filhos pequenos (verdade), era separado (verdade), cuidava de uma mãe doente (verdade), era filho único (mentira…), trabalhava para todos eles (mentira) e que haveria muito sofrimento se alguma coisa me acontecesse (não sei); enfim, apelei. Então, subimos um morro de Porto Alegre que atende pelo delicado nome de Maria Degolada. O rapaz foi parando num local que, se não era um descampado, também não era desabitado. Então, a menina do banco da frente falou com veemência para o motorista:

— Não faz falcatrua com o tio! Ele é legal!

O cara olhou para ela e disse:

— Calma, …inha.

Me mandaram sair do carro. Saí lentamente, como se estivesse entre amigos, mas na verdade pensando que, se corresse, poderia levar um tiro (sabem aquele instinto que manda a gente NÃO correr de cachorros?, pois é, foi o que pensei indistintamente). Dei alguns passos e me chamaram. Quase me caguei. Era o motorista. O rapaz, com um sorriso, dizia para eu levar minha carteira vazia de dinheiro e meu celular de merda. Devia ter pedido dinheiro para o ônibus, talvez ele me desse. Me explicou que dava trabalho fazer os documentos que estavam na carteira e que tinha tirado a bateria do celular para eu ter não telefonar para meus amigos brigadianos. Peguei as coisas e caminhei devagar. Nunca mais os vi.

Depois de algumas quadras, notei que estava fedendo. Era o pior cheiro que já tinha sentido em mim. Era uma coisa animalesca, chegava a arder no nariz. Horrível. Caminhei, acho, por três horas. A sede era imensa. Quando cheguei à casa da minha mãe, ela dormia. Melhor assim. Devo ter ficado meia hora esperando a banheira encher, coisa que nunca fizera antes. Mergulhei na água pensando em meu azar e sorte, e no significado de “falcatrua” para aqueles caras. (Ouvi depois essa palavra ser usada no sentido de sacanagem).

No dia seguinte, às 8h em ponto, avisei o seguro sobre o carro e eles me mandaram fazer uma ocorrência. Fui trabalhar, não estava com nenhuma pressa de ir à polícia. Raciocinava confusamente que o problema era meu e que não tinha necessidade de ficar falando naquilo. Por volta das 10h30, um funcionário da seguradora me ligou, dizendo que meu carro estava na Rua Botafogo, estacionado em local proibido, com as janelas abertas. Meu rádio devia ser uma bosta mesmo, o resto também. Nunca fiz a ocorrência e nem liguei de volta para o seguro. Ninguém, além de meus filhos, soube da história. Naquela época, era doloroso demais contá-la.

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Telemann – Chacone do Quarteto Parisiense N° 12 com Il Giardino Armonico

Fiquei felicíssimo ao encontrar esta Chacone no YouTube. Eu a conhecia em versões mais rápidas, porém o grupo de Giovanni Antonini talvez tenha encontrado uma das formas mais bonitas de interpretá-la. Outro motivo de contentamento íntimo é o fato de este movimento — simples, obscuro, escondido lá no meio dos quartetos de Telemann — ser uma antiga preferência deste blogueiro. Tinha a fantasia de que era uma pequena jóia da qual pouquíssimos tinham conhecimento. Ontem, a fantasia foi desfeita pelo Giardino Armonico, que a usou num de seus vídeos promocionais. Bobagem, né? Mas fico todo orgulhoso nesta época de pequenas tragédias pessoais.

Ou aqui.

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Porque hoje é sábado, Charlotte Gainsbourg e Mélanie Laurent

Talvez o senso comum sugira que Charlotte Gainsbourg seja feia…

… e que Mélanie Laurent seja linda. Ok, eu até vejo isso.

Só que o tesão de algumas pessoas funciona de forma…

… talvez errática, talvez inesperada, quem sabe surpreendente…

… e elas passem a considerar tanto Charlotte como Mélanie …

… mulheres igualmente irresistíveis e altamente desejáveis.

Ontem, estávamos eu e o melhor blogueiro brasileiro em nossa habitual tertúlia literária no MSN.

Falávamos de mulheres, um assunto que atrapalha sistematicamente nossa erudita pauta.

E ele disse algo como: sou apaixonado ou sou fascinado ou fico mesmerizado ou …

… quero comer a Charlotte Gainsbourg. Não, minto, ele disse: …

com a Charlotte eu não penso em sacanagem. Penso primeiro em chamar pra tomar um vinho.

Depois é que vem a sacanagem. Claro, achar a Mélanie Laurent linda é fácil.

O problema é ver Anticristo e seguir achando Charlotte maravilhosa.

E nem é pela filiação. Garanto-lhes que nem eu nem o Ao Mirante pensamos …

… no pedigree quando olhamos para uma mulher. Para nós é tudo SRD, mesmo quando …

… a dona do queixão é filha de Jane Birkin. É que há o amor à perfeição …

… e o amor à imperfeição.

Vejam a foto acima e a foto abaixo.

Um vinho com a primeira e o despertar com a outra?

Ou as duas fazendo chuchotage uma em cada ouvido?

Ah, sei lá. Só sei que bebi algumas várias cervejas e são 1h25. Fico com ambas.

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Milton Ribeiro's OPSBlogs Gallery of World's Finest Arts I

Êxtase de Santa Teresa de Ávila, de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680).

Detalhe

Comentário de uma amiga: “Pedi pra vc postar o Êxtase pq pra mim é um exemplo puro de sacanagem sacra: se isso não for um orgasmo, eu não sei mais o que pode ser então. Cheguei à essa conclusão numa aula de teologia… tesão é uma dádiva dos céus. Aleluia, irmãos!”

E de outro amigo: “Rapaz, no Museu de Arte Erótica de Paris (ali no Monmartre, perto do Moulin Rouge, terceiro japonês à esquerda de quem sobe a rua) — ELE FALA COMO SE EU CONHECESSE PARIS… — tem uma escultura dessa mesma moça gozando, mas com os dedinhos dos pés articulados, uma coisa de louco. Muito bom. A Bíblia sempre nos proporcionou momentos apicais de pura safadeza.”.

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